quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Poesia africana





MARCELINO DOS SANTOS


Marcelino dos Santos (Lumbo, 20 de Maio de 1929) é um político e poeta moçambicano. Foi membro fundador da Frente de Libertação de Moçambique, onde chegou a vice-presidente. Depois da independência de Moçambique, Marcelino dos Santos foi o primeiro Ministro da Planificação e Desenvolvimento, cargo que deixou em 1977 com a constituição do primeiro parlamento do país (nessa altura designado “Assembleia Popular”), do qual foi presidente até à realização das primeiras eleições multipartidárias, em 1994.

Com os pseudónimos Kalungano e Lilinho Micaia tem poemas seus publicados no Brado Africano e em duas antologias publicadas pela Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa. Com o seu nome oficial, tem um único livro publicado pela Associação dos Escritores Moçambicanos, em 1987, intitulado “Canto do Amor Natural".




NAMPIALI

Verde carmim azul e violeta
 e nós
marchando no planalto

Em baixo
o vale
e as machambas de Nachinhoco

Mais longe
nas encostas do Nampiali
as árvores
verde carmim azul e violeta
enchem os nossos olhos

É já o por do sol

Vamos marchando
e as vozes vão cantando

         “somos soldados
         da FRELIMOOO...”

Verde carmim azul e violeta
e nós
marchando no planalto
seguindo sempre para além

verde carmim azul e violeta

Aqui os portugueses foram esmagados

Aqui os portugueses não voltarão

Agora nascem os campos de produção

Nós
marchando no planalto
seguindo sempre para a frente
e as vozes cantando

         “Decididos
         Nós lutaremos...”

Nós
marchando no planalto
seguindo para além

e sempre nos nossos olhos
as cores suaves e doces
de verde carmim azul e violeta
na paisagem quente
da terra livre de Moçambique


SONHO DE MÃE NEGRA

Mãe negra
Embala o seu filho
E esquece
Que o milho já a terra secou
Que o amendoim ontem acabou.

Ela sonha mundos maravilhosos
Onde o seu filho irá à escola
À escola onde estudam os homens  

Mãe negra
Embala o seu filho
E esquece
Os seus irmãos construindo vilas e cidades
Cimentando-as com o seu sangue
Ela sonha mundos maravilhosos
Onde o seu filho correria na estrada
Na estrada onde passam os homens

Mãe negra
Embala o seu filho
E escutando
A voz que vem do longe
Trazida pelos ventos

Ela sonha mundos maravilhosos
Mundos maravilhosos
Onde o seu filho poderá viver.


É PRECISO PLANTAR

 É preciso plantar
mamã
é preciso plantar

é preciso plantar
nas estrelas
e sobre o mar

nos teus pés nus e pelos caminhos

é preciso plantar

nas esperanças proibidas
e sobre as nossas mãos abertas

na noite presente
e no futuro a criar

por toda a parte
mamã

é preciso plantar

a razão
dos corpos destruídos
e da terra ensanguentada
da voz que agoniza
e do coro de braços que se erguem

por toda a parte
por toda a parte
por toda a parte mamã

por toda a parte
é preciso plantar
a certeza
do amanhã feliz
nas caricias do teu coração
onde os olhos de cada menino
renovam a esperança

sim mamã
é preciso
é preciso plantar

pelos caminhos da liberdade

a nova árvore
da Independência Nacional.



TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de XOSÉ LOIS GARCÍA


NAMPIALI

Verde carmín azul y violeta
y nosotros
marchando por la alta llanura

Abajo
el Valle
y las heredades de Nachinhoco

Más lejos
en las laderas del Nampiali

los árboles
verdes carmín azul y violeta
llenas nuestros ojos

Y ya al ponerse el sol
Vamos marchando
y las voces van cantando

         “somo soldados
         del FREMIMOOO...”

Verde carmín azul y violeta
y nosotros
marchando por la alta llanura
siempre hacie más allá.

verde carmín azul y violeta

Aquí los portugueses fueron aplastados

Aquí los portugueses no volverán

Ahora ncen los campos de producción

Nosotros
marchando por la alta montaña
siguiendo siempre hacia adelante
y las voces cantando

         “Decididos
         Nosotros lucharemos...”

Nosotros
marchando por la alta montaña
hacia más allá

y siempre em nuestros ojos
los colores suaves y dulces
de verde carmín azul y violeta
en el paisaje caliente
de la tierra Libre de Mozambique


Poemas publicados originalmente en la revista HORA DE POESIA, n. 19-20, Barcelona, sin fecha. Ejemplar cedido para la Biblioteca Nacional de Brasilia por Aricy Cuvello, y la reproducción con la debida anuência del traductor.

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