segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Quando a censura cortou as luzes de um filme em Gramado

Páginas da "Folha da Tarde" (SP) e da "Folha da Manhã" (RS) sobre a sessão em Gramadoacervo pessoal
Páginas da "Folha da Tarde" (SP) e da "Folha da Manhã" (RS) sobre a sessão em Gramado

Quase 40 anos depois da primeira exibição do filme "25 - A Revolução de Moçambique" na Mostra de Cinema de São Paulo inaugural, em 1977, vêm-me à cabeça cenas da famosa sessão de estreia do filme no Brasil. Era plena ditadura, eu e Zé Celso Martinez Corrêa, os diretores do filme, estávamos exilados havia vários anos terminando o filme e não podíamos retornar. A nossa cópia 16 mm foi enviada clandestinamente da França para participar da Mostra a convite de seu diretor, Leon Cakoff.

A inesquecível e histórica projeção no Masp transcorreu sem o certificado de censura, mas com várias intervenções da plateia, que tomava totalmente os assentos e escadas. Durante a sessão, no escuro do cinema, houve amostras de tudo o que era proibido então: palavras de ordem contra a "dura", furores revolucionários –ritmados pelo receio de uma invasão ou de repressão oficial na sala do Masp.

Era a primeira vez na ditadura que se via e se ouvia uma revolução em língua portuguesa. A mensagem era clara: descolonização, libertação! Portugal, África, Brasil.

"25" foi a luz no fim do túnel. Como uma chave mágica, encetou a era da abertura política.

Sua chegada fez soprar um "vento" vindo das terras africanas, um respiro no sufoco dos anos de chumbo. Prenunciou a saída de cena dos militares, a volta dos exilados, o fim da censura e a democratização. No Rio, houve sessões também no MAM, com direito a várias intervenções da plateia.

O voto do público quase consagrou o filme como o melhor da primeira Mostra de São Paulo. O júri elegeu, praticamente empatado com "25", "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia", de Hector Babenco.

A recepção calorosa ao filme na Mostra forneceu a deixa para eu retornar da Europa e mostrar o trabalho Brasil afora.

No início de 1979, a convite do Festival de Gramado, o filme (ainda não liberado pela censura) foi mostrado numa sessão supertumultuada. O público e praticamente todos os cineastas brasileiros então presentes já estavam acomodados na sala quando apareceu um sujeito sombrio na cabine de projeção. O censor estava decidido a impedir a exibição.

Rapidamente desci da cabine e expliquei à plateia o que estava acontecendo. Indignado, o público decidiu pela exibição, mesmo sem autorização. O censor foi cercado pelos cineastas e, diante da confusão armada no saguão do festival, fugiu. A projeção teve então início.

Decorridos 20 minutos, a censura, com apoio de funcionários do hotel, fez nova investida. Conseguiu armar um blecaute no quadro elétrico geral, interrompendo a sessão. Seguiram-se brigas, tapas e bate-boca entre favoráveis e contrários ao prosseguimento. A direção do festival, temerosa de uma interdição, mas pressionada pelo público, decidiu restabelecer a energia, e a apresentação chegou a bom termo.

Na prática, tivemos que forçar a "abertura" em todas as cidades em que mostramos "25" e "O Parto", numa viagem que duraria dois anos e usaria toda e qualquer tela disponível, fosse em praças, ruas, teatros, auditórios, igrejas, ambulatórios ou até mesmo em boates.

Esse cinema mambembe e sempre improvisado partiu do Rio Grande do Sul, passou pelo Sudeste, espichou-se até o Nordeste e adentrou a Amazônia, percorrendo ao todo mais de 40 municípios que muitas vezes recebiam projeções de filmes pela primeira vez.

As peripécias da viagem estão reunidas no livro "Cinema Ambulante", que eu e Béatrice de Chavagnac publicamos pela editora Global em 1982.

Nota: "25" será exibido em SP, no Caixa Belas Artes, na mostra "África(s). Cinema e Revolução", que ocorre de 10 a 23/11.

CELSO LUCCAS, 64, diretor, fotógrafo e montador, conclui "O Condor e o Dragão", documentário sobre felicidade codirigido por Brasilia Mascarenhas e filmado no Butão e na Bolívia.
Fonte: Folhauol

No Dia da MPB, saiba mais sobre Chiquinha Gonzaga, pioneira da música nacional

Chiquinha Gonzaga – Acervo Edinha Diniz

Desde 2012, o Dia Nacional da Música Popular Brasileira tem dia fixo no calendário: 17 de outubro.

A data foi criada pela ex-presidente Dilma e foi escolhida por ser o aniversário de nascimento da primeira compositora popular brasileira: Chiquinha Gonzaga.
Chiquinha Gonzaga, a mulher ousada que sacudiu o Rio de Janeiro na segunda metade do século 19 com sua música, atendia pelo nome de Francisca Edwiges Neves Gonzaga. Nasceu em nasceu 1847 e é dela a música "Ó Abre Alas", que se tornou um hino do carnaval brasileiro. Era filha do rico militar José Basileu Neves Gonzaga e de Rosa Maria de Lima Gonzaga.

Suas músicas misturavam ritmos como o tango, o choro e a marcha e transitavam entre o erudito e o popular.

Sua passagem pela música nacional é também um marco na história das mulheres do país. Feminista, Chiquinha desafiou e transgrediu muitos costumes machistas na época em que viveu, e, ainda mais, é atualmente tida como uma das maiores compositoras e instrumentistas da música brasileira. Sua obra tem mais de 2000 composições.

Casou-se aos 13 anos com o oficial de marinha mercante Jacinto Ribeiro do Amaral, o qual nunca aceitou que sua esposa fosse a rodas boêmias, fato que tornou o casamento, imposto pelo pai de Chiquinha, rápido e cheio de brigas.
Aos 18 anos, Chiquinha deixou o marido e saiu de casa. Desfeito o casamento, ela se apaixonou por um engenheiro de estradas de ferro e os dois passaram a viver juntos, enquanto ele construía a estrada de ferro da Serra da Mantiqueira. 

Quando a construção acabou e eles voltaram ao Rio de Janeiro, o confronto com uma sociedade que os conhecia e os condenava fez a relação durar pouco tempo.
Sozinha, deu aulas de piano para sustentar os filhos. Conheceu então o flautista Antônio da Silva Calado, que a introduziu nas festas e rodas de chorões. Num desses encontros com os músicos boêmios do Rio, em 1877, ela compôs, de improviso, a polca "Atraente", seu primeiro grande sucesso.

Foi também nesse período que Chiquinha Gonzaga, desejando entrar no teatro, musicou o libreto de Artur Azevedo "Viagem ao Parnaso", o qual foi recusado por vários empresários de teatro por ter sido feito por uma autora, uma mulher. Mas isso não a fez desistir. Escreveu e musicou a peça em um ato "Festa de São João", em 1883.

Chiquinha participava ativamente do movimento pela libertação dos escravos. Vendia de porta em porta suas partituras a fim de angariar fundos para a Confederação Libertadora (organização antiescravista). Com o dinheiro que conseguiu ao vender a partitura de sua música "Caramuru", Chiquinha Gonzaga comprou, em 1888, a alforria do escravo e músico José Flauta, antecipando-se poucos meses à Lei Áurea. Foi também uma participante ativa da campanha pela proclamação da República.

Teve problemas com o governo, afrontou muitas "opiniões" maldosas que a sociedade tinha a seu respeito e foi considerada subversiva.

Tudo isso a custa de sua genialidade e de seu espírito libertário. Foi ela quem pela primeira vez promoveu concertos em teatros onde não era permitido a apresentação de instrumentos como o violão. Chiquinha foi uma das pessoas responsáveis pela nacionalização da música brasileira num tempo em que tudo vinha da Europa

Morreu aos 87 anos, numa quinta-feira véspera de Carnaval, em meio aos preparativos para o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Fonte: Folhauol

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

'Ifigênia' é obra emblemática do feminismo latino-americano

foto de Teresa de la Parra em 1920.( Foto: Biblioteca Nacional, Caracas-Venezuela) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Foto: Biblioteca Nacional
 escritora Teresa de la Parra em 1920, quatro anos antes da publicação de 'Ifigênia'

"Ifigênia", de Teresa de la Parra –autora francesa, filha de venezuelanos– é um livro híbrido, composto de diferentes gêneros textuais, como a carta, o diário, o relato e a narrativa ficcional.

Publicado pela primeira vez em 1924, em Paris, recebeu o subtítulo "diário de uma jovem que escreveu porque estava entediada", numa nítida referência à condição da protagonista e narradora Maria Eugenia Alonso –venezuelana de família aristocrática, que, tendo vivido em Paris desde a infância, volta a Caracas doze anos depois.

Lá, confinada na grande e triste casa da avó, entre cheiros de jasmim e velas de cera, passa a lidar com uma realidade asfixiante, na qual o modelo de felicidade para as mulheres se resume ao matrimônio e à maternidade.

O romance, marcado pelo olhar irônico, e por vezes corrosivo, da narradora sobre o peso das convenções sociais e familiares do início do século 20, tornou-se não apenas um clássico da moderna literatura franco-venezuelana, como também uma obra emblemática do feminismo latino-americano.

E se, por suas ideias libertárias, causou controvérsias na Venezuela assim que foi publicado, não deixou também de ganhar uma surpreendente popularidade na França.

DIVISÕES

A primeira das quatro partes do livro apresenta-se na forma de uma longa carta escrita por Maria Eugenia a uma amiga, em que conta os detalhes de seu retorno a Caracas, desfia coisas vividas e lembradas, faz críticas incisivas à sociedade preconceituosa do tempo e revê acontecimentos históricos do país.

Já as partes que se seguem integram um diário peculiar que, para além do registro descritivo dos dias, salta para fora da moldura do cotidiano, de modo a extrair da experiência pessoal uma reflexão mais ampla sobre os embates de uma mulher com o seu próprio entorno.

Num jogo entre a primeira pessoa da narradora e os resumos em terceira pessoa que antecedem cada capítulo, o diário não se fecha conclusivamente na última parte, intitulada "Ifigênia"–nome mitológico associado à ideia de sacrifício e cujo significado é "poderosa desde o nascimento"–, mas deixa uma interrogação intrigante sobre os acontecimentos na vida da protagonista Maria Eugenia.

ENGENHOSA

O domínio da linguagem e dos artifícios narrativos é notável no livro, o que evidencia a engenhosidade de Teresa de la Parra, uma escritora que não tem medo de ousar.

Com destreza, ela maneja os limites entre verdade e mentira, realidade e ficção, presente e passado, sempre atenta aos detalhes e modulações do que é relatado ou descrito. Além disso, coloca-se na vanguarda política de seu tempo, ao condenar o que chama de "as nefastas influências" da colonização europeia, denunciar a dizimação dos índios e criticar os ranços do patriarcalismo latino-americano.

Em edição caprichada, "Ifigênia" conta com a tradução não menos primorosa de Tamara Sender, que também assina o posfácio. É um livro que vem preencher, em grande estilo, uma lacuna editorial no Brasil. E que, mesmo dos dias de hoje, permanece instigante e indispensável.

MARIA ESTHER MACIEL, professora de literatura comparada da UFMG, é autora de "Literatura e Animalidade" (Civilização Brasileira) 
Fonte: Folhauol

Queniano Ngugi wa Thiong'o lidera apostas para Nobel de Literatura

Divulgação/DivulgaçãoO escritor queninano Ngugi wa Thiong'o, que vem para a Flip 2015 Foto: Divulgacao ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
O escritor queninano Ngugi wa Thiong'o


É bom treinar esta pronúncia: gú-gue uá ti-uôn-go, com a língua entre os dentes no "ti". Aos 78 anos, o queniano Ngũgĩ wa Thiong'o pode ser o vencedor do Nobel de Literatura de 2016 —ao menos para os apostadores da Ladbrokes, a mais popular casa de apostas do Reino Unido.

Na terça (11), a menos de 48 horas do anúncio oficial da Academia Sueca, que ocorre na quinta (13), o autor do romance "Um Grão de Trigo" estava no topo das apostas, com 4/1 —o que significa que, caso ele ganhe o Nobel, quem apostou 1 libra em seu nome recebe 4 de lucro.

Com uma prosa pautada pelo embate entre a identidade de seu povo e a cultura imposta pela colonização britânica, o queniano é um dos nomes recorrentes nas listas de apostas —assim como o segundo mais bem cotado, o japonês Haruki Murakami, de 67 anos, autor de best-sellers como a trilogia "1Q84" e "Minha Querida Sputnik".

Conhecido pela agilidade na narrativa, Murakami liderava a especulação na Ladbrokes até uma semana atrás. Agora, seu nome paga 5/1.

O terceiro mais bem cotado é o sírio Adonis, um dos maiores nomes da poesia contemporânea. Seus escritos buscam um diálogo entre a tradição da literatura árabe e a modernidade da poética europeia. Apostas em seu nome pagam 6/1.

ROLAM OS DADOS

Apesar do frisson que a especulação causa no período anterior ao anúncio da Academia Sueca, Alex Donohue, porta-voz da Ladbrokes, afirma que, em comparação com outras áreas de aposta, é baixa a popularidade do Nobel.

"Recebemos cem vezes mais apostas só na partida entre Inglaterra e Malta do que no prêmio literário", disse na sexta (7), véspera do jogo entre as duas equipes pelas eliminatórias da Copa do Mundo da Rússia. Entretanto, ele não informa números exatos.

O valor médio das apostas, contudo, é maior no Nobel: 10 libras, contra 7 em futebol.

Brasileiros, porém, não podem fazer uma fezinha: jogos de azar são ilegais no país, e por isso sites como Ladbrokers não aceitam apostas daqui.

Além disso, o histórico de acertos em apostas é desfavorável. Donohue diz que os apostadores acertaram o vencedor quatro vezes em 11 anos —em 2008, com o francês J.M.G. Le Clézio; 2009, com a romena Herta Müller; 2011, com o sueco Tomas Tranströmer; e 2015, com a bielorrussa Svetlana Aleksiévitch.

A bielorrussa, aliás, foi uma surpresa no ano passado. Até poucos dias antes do anúncio, ela não era cogitada na Ladbrokes —e nem em círculos de literatos. 

Parte da obra de Aleksiévitch foi editada no Brasil. "Negociamos poucos dias depois do anúncio", diz Otávio Marques da Costa, publisher da Companhia das Letras.

Desde então, a escritora vendeu no país 11.000 exemplares de "Vozes de Tchernóbil" e outros 9.000 de "A Guerra Não Tem Rosto de Mulher".
RODOLFO VIANA
DE SÃO PAULO
Fonte: Folhauol

terça-feira, 31 de maio de 2016

Autores negros se reúnem na UnB

Discriminação racial é um dos focos das discussões de encontro na próxima quarta-feira (1º), no Instituto de Letras

No dia 1º de junho, a Universidade de Brasília sedia a III Jornada Literária de Autoria Negra: Percursos Contemporâneos. Onze autores nacionais estarão reunidos no auditório do Instituto de Letras (IL) para discutir, com professores e estudantes, questões relacionadas ao racismo e ao discurso da “democracia racial” no Brasil.
O Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea (Gelbc), responsável pelo encontro, propõe um espaço de diálogo entre a Universidade e escritores negros para abordar questões que envolvem perspectivas, linguagem, gênero, edição e recepção desta produção. A imagem do negro e a sua representação nos veículos de comunicação de massa também serão objetos de discussão.

Entre os escritores convidados estão o paulista Allan da Rosa (vencedor do prêmio Funarte em Arte Negra, de 2014) e a brasiliense Meimei Bastos, estudante de Artes Cênicas da Universidade de Brasília e educadora. Durante a jornada, haverá o lançamento da 38ª edição do livro Cadernos Negros, além de outras publicações dos autores participantes do encontro.

Serviço:
Data: 1º/6/2016, a partir das 8h30
Local: Auditório do IL, campus Darcy Ribeiro

Confiando nos contos de fadas,
todas as noites antes de dormir eram cem escovadas.
Como doía escovar o cabelo seco.
Trecho do poema Genealogia, da escritora Mel Adún

Fonte: http://www.noticias.unb.br/

Tocha Olímpica é recebida com muita festa em União dos Palmares



Milhares de pessoas acompanharam na manhã desta segunda-feira, 30, a chegada da Tocha Olímpica em União dos Palmares. O símbolo dos Jogos Olímpicos foi recebido com muita festa e apresentações culturais, ao longo do percurso.
A chama foi conduzida por onze pessoas num trajeto de 2,5 km pelas principais ruas e avenidas da cidade. “É uma emoção muito grande participar desse momento, estou emocionado demais, pois o pobre só aparece em coisa ruim na televisão, e eu estou aqui representando minha terra”, disse Cícero do carro de confeito, último condutor da Tocha na cidade.
Após a celebração na cidade, a Tocha seguiu para a Serra da Barriga, onde está localizado o Parque Memorial Quilombo dos Palmares. No solo sagrado, a chama foi recebida por centenas de religiosos de matrizes africana, comunidades quilombolas, um grupo de afoxé e autoridades.
Na Serra, a tocha foi conduzida pelo professor Francisco Viana, a iyalorixá Mãe Neide Oyá d’Oxum, Mãe Miriam e Pai Célio. “Estou emocionada e feliz por esse momento especial aqui neste solo de guerreiros”, disse Mãe Neide.
O prefeito Eduardo Pedroza, destacou a importância do evento para o município. “A vinda da Tocha a União dos Palmares mostra a nossa importância cultural para o mundo, sinto-me muito feliz por todo esse evento ter dado certo”, disse.
João Paulo Farias
Assessoria de Comunicação
Prefeitura Municipal de União dos Palmares

Eleito por Obama o melhor de 2015, livro 'Destinos e Fúrias' chega ao Brasil

Em 2008, embalada pelas promessas eleitorais do candidato democrata Barack Obama, Lauren Groff, 37, foi de porta em porta na vizinhança onde mora, em Gainesville, no Estado americano da Flórida, pregar sua palavra. Sete anos depois, ela entrou em parafuso quando o agora presidente dos Estados Unidos elegeu seu terceiro romance como o melhor de 2015 na revista "People".

"Descobri pelo Twitter. Não soube como reagir, chorei, contei para o meu marido, saímos e compramos champanhe", conta a autora à Folha.

Em "Destinos e Fúrias", ela narra a vida de Lancelot e Mathilde. Grandiloquente, a começar pelo nome, Lotto, como é apelidado, é alto, bonito, solar, com a altivez dos bem-nascidos. Ela, também bela, é sisuda, magnética e algo escabrosa.

Divulgação
A escritora norte-americana Lauren Groff em foto de 2010
A escritora norte-americana Lauren Groff em foto de 2010

O livro é dividido em duas partes. A primeira, sob as lentes de Lotto, é uma ode à união extraordinária entre o jovem dramaturgo e sua mulher benevolente. A segunda, sob olhar de Mathilde, um rasgar violento das costuras do suposto idílio conjugal.

"Casar foi a melhor decisão que já tomei, mas sou ambivalente quanto à instituição em si, enraizada na misoginia e no papel social subserviente atribuído à mulher", afirma Lauren. "A versão simplista de um casamento é muito falsa e prejudicial. É mais fácil tomar o cônjuge como certo, não se perguntar quem ele é, no que se transformou. Caso alguém faça isso, planta-se uma crise."

DESTINOS

Como as moiras da mitologia grega, Lauren é a tecelã inflexível do destino de seus personagens, ditando glórias e infortúnios ao elaborar, entrelaçar e interromper o fio de suas vidas. "É cruel, mas os deuses são cruéis", brinca.

Ela se inspira na escrita da britânica Virginia Woolf em "Ao Farol", com lampejos agourentos do futuro dos personagens, separados da ação por colchetes.
Prenúncios à parte, uma mesma corrente sanguínea corre pelos dois polos da obra: a herança shakesperiana. Lotto casa arquétipos do bardo e velhos signos da mitologia grega para construir sua carreira como dramaturgo, enquanto Mathilde parece confortável em seu papel de Lady Macbeth, orquestrando as escolhas do marido.

A autora é mais comedida em sua adoração. "Não sou tão fã dele quanto Lotto é, mas Shakespeare aborda uma psicologia profunda dos personagens, algo que até hoje é muito difícil de fazer. Quando encontro essa dificuldade, regresso a ele em busca de aspectos mais ricos da experiência humana."

Ao dar voz a Mathilde na metade final do romance, Lauren flerta com a literatura "pulp", revelando uma anti-heroína lúgubre, com passado tortuoso e fúria escondida por trás de sorrisos educados e bons modos.

Lotto é alheio aos esqueletos no armário da mulher, que vê na ignorância dele uma bênção. Mathilde só se indispõe quando o marido, incapaz de reconhecer o papel dela em alavancar seu sucesso no teatro, defende a superioridade criativa masculina –um episódio tirado da vida da autora.

"Certa vez, eu sentei para conversar com um escritor muito famoso, a quem não posso nomear, que certamente se vê como feminista. Havia uísque envolvido, e ele dissertou sobre como os homens são criadores intelectuais, e as mulheres, criadoras físicas, por darem à luz. Fiquei tão embasbacada que não consegui refutá-lo na hora, fui para casa, deitei na cama e olhei para o teto por horas, pensando em argumentos para demoli-lo", relembra Lauren.

Destinos e Fúrias
Lauren Groff
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Poucas são as vezes em que Mathilde deixa transparecer sua frustração com o marido. Quando o conflito se instala, não ameaça a fidelidade e a devoção do casal. "É uma ironia trágica, mas a maioria dos livros sobre casamento são, na verdade, sobre infidelidade, e eu cansei disso", argumenta.
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Leia trecho do livro:
Duas pessoas vinham pela praia. Ela era loura e estilosa em um biquíni verde, embora fosse maio no Maine, e frio. Ele era alto, vívido; cintilava nele uma luz que captava o olhar e o prendia. Eles se chamavam Lotto e Mathilde.

Por um minuto observaram uma poça formada pela água do mar, repleta de criaturas espinhosas, que levantou espirais de areia ao desaparecer. Então ele segurou com as mãos o rosto dela e beijou seus lábios pálidos. Seria capaz de morrer de felicidade naquele momento. Em um devaneio, viu o mar subindo para tragá-los, descarnando-os com a língua e fazendo os ossos deles rolarem pelos molares de corais que habitam as profundezas. Se ela estivesse ao seu lado, pensou, ele flutuaria à deriva, cantarolando.

Bem, ele era jovem, vinte e dois anos, e eles haviam se casado em segredo naquela manhã. A extravagância, sob tais circunstâncias, era perdoável.
Os dedos dela descendo pelas costas dele lhe queimavam a pele. Ela o empurrou para trás, conduzindo-o para cima de uma duna coberta de vegetação, depois para baixo novamente, onde a parede de areia bloqueava o vento, onde se sentiam mais aquecidos.
MARIA CLARA MOREIRA
Fonte: Folhauol

Pelas palavras e pelo silêncio, Raduan Nassar é um gigante

O que faz um autor de poucos livros e que equiparou a criação literária à de galinhas ser considerado, com pouca chance de controvérsia, o maior escritor brasileiro vivo? Não um prêmio, é certo, ainda essas distinções só venham a confirmá-lo. A grandeza de Raduan Nassar é tal que não carece do autor ou de ninguém como relações públicas —algo difícil de conceber hoje.

O que está em cena em sua obra é a tensão entre uma apologia da destruição da verdade e a defesa feroz da própria fala. Nisso reside uma afirmação categórica, realizada de forma violenta, de uma virilidade à beira do colapso e potencializada tanto pela intensidade quanto pela precariedade.

Moacyr Lopes Jr./Folhapress
O escritor Raduan Nassar


Esse protagonismo do corpo tem dois pilares. O primeiro, a relação de distanciamento dos textos com seu contexto histórico. Sua ficção considera um embate mais amplo: o de vontades de poder que se manifestam pela linguagem.
"Menina a Caminho" bebe na infância de Raduan, mas o texto não só não o explicita como cria, na descrição do armazém, parentesco com a Tebas de Sófocles. Um copo de cólera opõe, aparentemente durante a ditadura, a jornalista da cidade ao chacareiro, mas dessa ambientação há apenas indícios. Em "Lavoura", a origem mediterrânea da família é citada, mas a falta de referentes termina por lhe conferir um forte tom mítico. Isso não significa que a obra seja alheia a seu tempo, mas sim que opta por via mais indireta entre realidade e ficção, que leva em conta o fato de as questões humanas esconderem, sob a máscara da linguagem e o disfarce do cinismo, a luta pelo poder e o controle dos corpos.

O segundo pilar da obra de Raduan é o erotismo. Para o chacareiro, associar a verdade dogmática à mulher significa dotar esse inimigo conceitual de um corpo material, apto portanto a estabelecer relações tanto de poder quanto de prazer. É na imposição de uma fala que o vigor sexual pode ser reencontrado: a fricção dos discursos é tão ou mais erótica que a das peles. Em "Lavoura", André recusa uma ordem na qual o corpo seja levado em conta apenas como instrumento do trabalho. Assim, subverter sua função e votá-lo ao dispêndio e à infertilidade passa a ser também um ato político. Como a linguagem só pode ser portadora de verdades provisórias, as narrativas de Raduan se abrem a um recomeço que perpetua o sofrimento e transforma os narradores em Tântalo ou Sísifo. Enfim, Raduan Nassar: tanto pelas palavras como pelo silêncio, um gigante.

ESTEVÃO AZEVEDO é escritor e mestre em literatura brasileira pela USP, especializado na obra de Raduan Nassar 
Fonte: Folhauol

Artista faz autorretratos nus em palcos da violência escravagista nos EUA

Gorda e negra, a fotógrafa norte-americana Nona Faustine equilibra seu corpo nu em branquíssimos sapatos de salto alto para produzir autorretratos em locações nova-iorquinas que, há cerca de 200 anos, foram palco da violência escravagista.

"Por alguns instantes, eu me planto em uma cortina do tempo, destruindo dimensões, evocando a memória e o espírito daqueles que construíram a cidade de Nova York, chorando por eles e celebrando-os como seres humanos", diz Faustine, autora da série "White Shoes", em entrevista à Folha.

Pesquisando a região do Brooklyn, onde nasceu nos anos 1970 –ela prefere não dizer a idade–, e Nova York em geral, a artista revela locais em que as marcas da escravidão hoje passam despercebidas.

Nona Faustine
Foto: Divulgação

Um deles é Wall Street, centro do mercado financeiro. Ali funcionou, no período colonial, um mercado de escravos. Já os prédios da prefeitura e da Suprema Corte foram erguidos sobre o que foi um cemitério de escravos. "Para a construção dos edifícios, colocaram oito metros de terra sobre as tumbas, mas os corpos foram deixados no local."

Após participar de exibições coletivas no ano passado, as fortes imagens que produziu foram apresentadas no início de 2016, em Nova York, em sua primeira individual. "[As mostras] São uma chance de abrirmos portas para discutir os traumas e a injustiça da escravidão nos EUA."

Espécie de guerrilheira da arte, Faustine usa a irmã, Channon, para compor suas imagens. "Depois, entro no cenário, e ela bate as fotos sob minha direção", afirma a fotógrafa, que atualmente participa de uma exposição coletiva na galeria de arte do College of Staten Island.

Folha - O que é a série "White Shoes"?

Nona Faustine - São autorretratos nus em diversos locais que remetem para os 250 anos da história oculta da escravidão em Nova York, lugares desconhecidos ou esquecidos, enterrados sob o asfalto em que caminhamos todos os dias.
Vestindo apenas esses simbólicos scarpins brancos, eu documento locais em que a história se mostra de forma tangível. Conjunto memórias, atuando ao mesmo tempo em protesto contra a escravidão e em solidariedade a essas pessoas cujos nomes foram esquecidos e cuja contribuição até hoje não é reconhecida.
Por alguns instantes, eu me planto em uma cortina do tempo, destruindo dimensões, evocando a memória e o espírito daqueles que construíram a cidade de Nova York, chorando por eles e celebrando-os como seres humanos.

Por que ficar nua nas fotos?

A nudez fala sobre a história de opressão e racismo, sobre a forma como o corpo dos negros foi usado e explorado durante a escravidão. Fala sobre a história de mulheres negras expostas como figuras de circo, como Saartjie Baartman, mais conhecida como Venus Hottentot. Fala sobre a brutalidade contra a mulher negra, a opressão e a violência que ainda hoje existem no mundo inteiro.
Há muitas questões envolvendo o corpo feminino, negro e gordo, incluindo sua presença –ou falta de presença– na mídia e nas artes. A nudez é essencial para expor esses pontos.

Qual o significado dos sapatos brancos?

Eles representam o patriarcado branco do qual as pessoas de cor não conseguem escapar, o ideal de beleza ocidental ao qual as negras não podem aspirar. Basicamente, representam as relações entre europeus e africanos e a assimilação forçada.

Qual sua imagem predileta?

Cada uma é muito especial para mim. Wall Street era a que mais me assustava, antes de produzir as fotos. A cena é literalmente no meio da rua, não há como se esconder. Fiquei completamente exposta, totalmente vulnerável. Eu não sabia se conseguiria fazer as fotos sem ser presa ou atropelada.
Mas consegui: fiquei no ponto em que escravos eram leiloados há 250 anos, e tive um momento de reflexão profunda. Sentir o pulsar da cidade, enquanto os carros passavam por mim, de pé sobre um banquinho, foi uma experiência que nunca esquecerei.

Como as pessoas reagiram?

As pessoas geralmente davam uma olhadinha e seguiam em frente. Os nova-iorquinos não se surpreendem facilmente. Nós estamos acostumados com filmagens e shows televisivos nas ruas, mas somos curiosos. Em Wall Street, eu fiquei parada no meio do tráfego, com os carros passando ao meu lado. Nenhum motorista buzinou nem gritou comigo. Fiquei chocada! 
RODOLFO LUCENA
DE SÃO PAULO
Fonte: Folhauol

terça-feira, 3 de maio de 2016

Dilma diz que, mesmo com crise política, Rio 2016 será a 'mais bem-sucedida Olimpíada'

“Sabemos das dificuldades políticas que existem em nosso país hoje. Conhecemos a instabilidade política. O Brasil será capaz de, mesmo convivendo com um período difícil, muito difícil, verdadeiramente crítico da nossa história e da história da democracia do nosso país, conviver porque criamos todas as condições para isso com a melhor recepção de todos os atletas e de todos os visitantes estrangeiros”, afirmou.
De acordo com a presidente, a edição deste ano deve ser ‘a mais bem-sucedida’ dentre todas da história. “Está pronto e nós trabalhamos para isso. Praticamente, todas as instalações esportivas nos centros olímpicos da Barra e de Deodoro estão prontas. Todos os 39 eventos-testes realizados até agora foram bem-sucedidos”, disse.

‘Nada a temer’

Na segunda-feira (2), o presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Thomas Bach, havia declarado que ‘não há o que temer’ em relação aos jogos e a eventuais protestos que possam atrapalhar o andamento do evento. Ele afirmou que o povo brasileiro entende o significado do ‘espírito olímpico’.
A chama olímpica chegou durante esta manhã a Brasília, num voo em que estavam presentes o próprio Bach, além de executivos de empresas patrocinadoras do evento, membros do Comitê Organizador e atletas da delegação olímpica brasileira.
Fonte: midiamax

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Paul McCartney encontra mulheres que inspiraram a canção 'Blackbird'

Paul McCartney se encontrou no sábado (30) com duas mulheres que inspiraram a composição de "Blackbird", faixa do álbum "White Album", de 1968, e um dos maiores clássicos dos Beatles.

Elas fizeram parte do processo de integração racial da escola Little Rock's Central, no Estado norte-americano do Arkansas, em 1957. O episódio marcou o ingresso de negros na instituição, que antes só recebia alunos brancos.

Divulgada por Paul em sua conta no Instagram, a reunião com Elizabeth Eckford e Thelma Mothershed Wair ocorreu na noite em que ele se apresentava na cidade de North Little Rocky.

Na legenda, escreveu: "Incrível encontro com duas pioneiras pelos direitos civis e inspiração para 'Blackbird'."

Foto: Divulgação
Paul McCartney com Elizabeth Eckford e Thelma Mothershed Wair – Reprodução/Twitter/Paul McCartney

O ex-Beatle afirmou que na época acompanhava da Inglaterra o movimento e desejava escrever uma mensagem de apoio. 

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada

Grupo de pesquisadores da UnB 'traduz' poesias para sistema braille

Notas musicais e tamanhos de fonte ajudam a indicar tom e intensidade.
Obra de Mallarmé abre projeto e deve ser lançada no segundo semestre.

Muher com deficiência visual lê livro em Braille em biblioteca de Taguatinga, no Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)
Mulher com deficiência visual lê livro em Braille em biblioteca de Taguatinga, no Distrito Federal (Foto: Raquel Morais/G1)Projeto desenvolvido por dois professores e uma aluna de doutorado da Universidade de Brasília (UnB) pretende converter clássicos da poesia mundial para o sistema braille, utilizado por pessoas com deficiência visual. Chamada de "Poesia Sensorial", a iniciativa pretende oferecer os textos na web em arquivos acessíveis para usuários de todo o país.
A poesia escolhida para iniciar o projeto foi "Un coup de dés jamais n'abolira le hasard" ("Um lance de dados jamais vai abolir o acaso", em tradução livre), do escritor francês Stéphane Mallarmé. O texto é um exemplo de poema tipográfico, em que o formato dos versos e a disposição na página também compõem parte da mensagem.
"Nossa proposta é fazer as pessoas cegas recitarem e cantarem as poesias", afirma o professor de Tradução Eclair Almeida, um dos responsáveis pela iniciativa. Ele diz que o projeto buscou inspiração no "Musibraille", criado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para ensinar noções de música aos deficientes visuais.
Ritmo e tom
Para dar ritmo à leitura e simbolizar os diferentes tipos de letras usados no poema visual, a transcrição para o braille incluiu notas musicais e cinco tamanhos de fontes. Com esses dados, o deficiente visual poderá recitar o texto em voz alta, sem perder as dicas oferecidas pela visão. O livro deve ser lançado no segundo semestre deste ano.
O projeto é capitaneado por Almeida em parceria com o professor Augusto Rodrigues e a doutoranda Josina Nunes. O suporte técnico para as transcrições em braille é dado pela mestranda Carolina Dias Pinheiro, que converte as letras para o sistema tátil. Além das poesias, o projeto pretende incluir romances, partituras musicais e outros gêneros de texto.
Com a ideia, o grupo de pesquisa espera garantir o acesso dos cegos às mesmas obras de arte que, hoje, estão disponíveis para apreciadores com visão regular. Entre os próximos "escolhidos" pelo Poesia Sensorial, estão os textos do poeta americano E. E. Cummings e do filósofo francês Paul Valéry.
Fonte: G1 DF

GDF fecha parceria com Moçambique para melhoria de ações comunitárias

Viúva de Mandela e ativista política Graça Machel compareceu à cerimônia.
Objetivo é aumentar eficiência no trato com movimentos sociais dos países.


Governador do DF, Rodrigo Rollemberg, e ativista política Graça Machel em assinatura de acordo pela paz (Foto: Dênio Simões/GDF)
Governador do DF, Rodrigo Rollemberg, e ativista política Graça Machel em assinatura de acordo pela paz (Foto: Dênio Simões/GDF)O governo do Distrito Federal assinou nesta segunda-feira (2) uma parceria com a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), uma organização privada sem fins lucrativos que busca o desenvolvimento social de Moçambique. O evento contou com a participação da presidente da entidade, Graça Machel, viúva dos ex-presidentes da África do Sul Nelson Mandela e de Moçambique Samora Machel.
A cooperação entre os dois países acontecerá em projetos técnicos, científicos e educacionais. O objetivo é trocar informações sobre os métodos mais efetivos para abordar a comunidade e os movimentos sociais, de modo a preservar a segurança. Detalhes da parceria ainda devem ser firmados, sem prazo definido.
“Qualquer política de segurança que tenha sucesso, ela precisa ter apoio da sociedade e de movimentos sociais”, disse o governador Rodrigo Rollemberg. “A doutora Graça Machel e sua instituição têm uma experiência muito grande no sentido de mobilizar a comunidade na construção de uma cultura de paz.”
Graça é reconhecida mundialmente por sua atuação em prol dos direitos humanos de mulheres, recém-nascidos e crianças, com participação em conselhos das Nações Unidas sobre o tema. Nesta terça (3), a ativista política deve participar de cerimônia pela paz durante o percurso da tocha olímpica, que passará o dia em Brasília.
Além de Graça e Rollemberg, o acordo também foi assinado pela primeira-dama, Márcia Rollemberg, pela secretária de Segurança Pública, Márcia de Alencar, pelos comandantes da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros e pelos embaixadores da África do Sul e de Moçambique no Brasil.
Gabriel LuizDo G1 DFFonte: G1 DF

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Primeiros do Brasil a disputar Olimpíada no badminton saíram de favelas do Rio

O Brasil definiu nesta quinta-feira (28) os dois atletas que irão representar o país nos Jogos Olímpicos pela primeira vez no badminton. E ambos saíram de um mesmo projeto social, na favela da Chacrinha, zona oeste do Rio.
Ygor Coelho, na simples masculina, e Lohaynny Vicente, na simples feminina, ambos de 19 anos, serão os primeiros atletas do badminton do Brasil a disputarem o megaevento esportivo. Os dois foram confirmados nesta quinta pela Confederação Brasileira de Badminton (CBBd), em entrevista em Campinas (SP).
Ygor é filho de Sebastião Dias de Oliveira, 50, fundador (em 1998) do projeto social que revelou os, agora, dois atletas olímpicos do Brasil. Lohaynny morava na favela do Chapadão (de onde saiu após o pai ter sido assassinado –chefiava o tráfico) antes de ir ao encontro de outra comunidade no Rio.
Atualmente, a Associação Miratus de Badminton tem atletas no topo de quase todos os rankings nacionais e já conquistou mais de 60 medalhas internacionais. O projeto tem 16 atletas beneficiados pela bolsa-atleta federal.
"Ser o primeiro brasileiro a disputar os Jogos Olímpicos no badminton é fantástico. Tudo o que eu abri mão durante quatro anos valeu a pena. Morei sozinho, deixei minha família, amigos em busca de um sonho. Estou orgulhoso e mais ainda por ter conseguido a vaga pelo ranking, sem precisar do convite pelo fato de o Brasil ser o país sede. Devo muito ao meu pai, que sempre me apoiou, e ao técnico Marco Vasconcelos, que me treinou e com ele tive grandes resultados", afirmou Ygor nesta quinta.
João Pires/Foto Jump/Divulgação
Ygor Coelho será o primeiro atleta do badminton do Brasil a disputar os Jogos Olímpicos
Ygor Coelho será o primeiro atleta do badminton do Brasil a disputar os Jogos Olímpicos
Eu não esperava me classificar. A confirmação da vaga veio no último minuto. Ser a primeira atleta do Brasil a participar dos Jogos Olímpicos no badminton é uma emoção muito grande. Agora vem a expectativa do começo dos Jogos Olímpicos e a realização do sonho de todo atleta", disse Lohaynny, que disputou a vaga olímpica com Fabiana Silva.Por ser o país sede dos Jogos, o Brasil ganhou o direito de ter um representante na simples masculina e outro na simples feminina. Mas, hoje, Ygor é o 62º no ranking mundial e 29º no ranking olímpico. Lohaynny é a 67ª no ranking mundial e a 35ª no ranking olímpico. Ao todo, 76 atletas vão disputar as chaves de simples nos Jogos do Rio, sendo 38 no masculino e 38 no feminino.
"É uma satisfação muito grande participarmos pela primeira vez dos Jogos Olímpicos classificados pelo ranking, sem precisar do convite. O Brasil vai jogar a competição não porque é sede, mas porque tem competência e foi melhor do que outros. Jogaríamos os Jogos Olímpicos mesmo que fosse em outro país. É uma meta que tínhamos e cumprimos", declarou o superintendente de gestão esportiva da CBBd, José Roberto Santini Campos.
O período de classificação olímpica se encerra neste domingo (1º de maio). No dia 5 de maio, a Federação Mundial de Badminton (BWF) divulga o ranking final dos atletas classificados para os Jogos Olímpicos.
Ygor e Lohaynny terão alguns dias de férias e se representam em 16 de maio. A preparação terá início no Centro de Treinamento em Campinas. No fim de maio, Ygor vai para a Dinamarca e Lohaynny e o técnico Marco Vasconcelos vão para a Ilha da Madeira, em Portugal. No dia 5 de junho, Ygor se junta aos dois em Portugal até o dia 23 de junho. De lá, os três partem para os Estados Unidos e Canadá para a disputa de duas competições. Logo depois, voltam para a fase final de treinamentos em Campinas até a entrada na Vila Olímpica em 4 de agosto.
João Pires/Foto Jump/Divulgação
Lohaynny Vicente será a primeira atleta do badminton do Brasil a disputar os Jogos Olímpicos
Lohaynny Vicente será a primeira atleta do badminton do Brasil a disputar os Jogos Olímpicos



1º medalhista olímpico do atletismo brasileiro: José Telles

Divulgação José Telles da Conceição, nascido em 23 de maio de 1931 no bairro do Méier, Rio de Janeiro, conquistou a primeira medalha olímpica do atletismo brasileiro, quando levou o bronze no salto em altura, em Helsinque, em 1952.
De família humilde (seus pais vieram de Santo Amaro da Purificação – BA), o grande sonho de Telles quando criança era ser engenheiro. Mas foi no atletismo que construiu sua carreira e marcou a história do atletismo brasileiro como o primeiro nome da modalidade a subir no pódio olímpico.
A sua carreira começou ainda no período escolar, onde em uma competição de atletismo venceu quase todas as provas que disputou e, por ironia do destino, só não ganhou a prova de salto em altura.
Após esse excelente desempenho, foi convidado para treinar no Vasco em 1946, aos 15 anos de idade, e ganhou destaque no clube logo que chegou, no salto em altura e nas provas de pista. Os excelentes aparelhos que ficavam na antiga pista localizada no entorno do campo em São Januário, fez Telles descobrir também que era versátil. Tal característica o fez tornar-se um grande atleta de pentatlo.
Porém, apesar do talento e do excelente porte físico, José Telles não gostava de treinar, o que prejudicava o seu desempenho. Isso foi determinante em sua saída do Vasco, já que o clube matinha um controle rígido de seus atletas. Essa saída não agradou a Telles, que então foi treinar no clube rival, o Flamengo. Lá ganhou o apelido de “homem-equipe”, por causa do grande número de provas em que competia e vencia.
Telles tinha tanto velocidade horizontal quanto vertical. Corria 100 metros, 200 metros, fazia 110 metros com barreira, salto em distância, salto triplo, salto em altura e encarava até o decatlo.
Nos anos 1950, a técnica do salto em altura era diferente, era feito de frente e as pernas iam antes do tronco (salto tesoura), um estilo considerado rudimentar. E foi com esse salto que Telles consagrou-se e escreveu seu nome na história dos esportes olímpicos e do atletismo brasileiro.
Nos Jogos Olímpicos de Helsinque (Finlândia), em 1952, ele saltou 1,98m na primeira tentativa e ganhou a medalha de bronze para o Brasil. Foi uma marca excepcional para a época, homologada como o novo recorde sul-americano. O sueco Gosta Svenson igualou a marca 1,98m, mas na terceira tentativa, perdendo a medalha para o brasileiro. O ouro ficou com o americano Walt Davis com 2,04m e a prata com outro americano, Ken Wiesner com 2,01m.
Aos 21 anos, José Telles conquistou a primeira medalha olímpica do atletismo brasileiro, feito que foi ofuscado pela medalha de ouro conquistada por Adhemar Ferreira da Silva no salto triplo, que lhe conferiu os recordes olímpico e mundial.
Em 1954, Telles alcançou a marca de 2 metros no salto em altura, em São Paulo, estabelecendo um recorde nacional que foi superando somente 19 anos depois, quando Irajá Chedid Cecy saltou 2,01m, em Brasília. Ainda em 1954, Telles recebeu o troféu Helms, um dos mais importantes prêmios esportivos da época, como melhor atleta da América do Sul.
Em 1955, nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, Telles ganhou medalhas tanto nos 200 metros quanto no salto em altura, ambas de bronze. Em 1956, nos Jogos Olímpicos de Melbourne (Austrália), foi finalista dos 200 metros e chegou em 6° lugar.
José Telles ainda jogou basquete e futebol, comprovando suas qualidades de atleta completo, e chegou a participar das Olimpíadas de Roma em 1960. Em 1963, na abertura dos Jogos Pan-americanos de São Paulo, carregou a tocha e foi o responsável pelo acendimento da pira pan-americana.
Telles transformou-se no maior recordista do atletismo nacional, estabelecendo 21 recordes em cinco provas diferentes. Terminou a sua carreira em 1966 e então passou a atuar como consultor da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), precursora da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
O primeiro medalhista do atletismo brasileiro morreu em 18 de outubro de 1974, assassinado a tiros dentro de seu carro, em uma praia do Rio de Janeiro.
Em sua homenagem, a CBAt instituiu a medalha Medalha José Telles da Conceição. Essa medalha é concedida aos atletas que subiram ao pódio em competições mundiais. A primeira medalha foi entregue à Telles, que deu nome ao prêmio, sendo representado pela viúva, Dona Cely.
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Os dados para essa matéria foram levantados de vários sítios eletrônicos relevantes, porém foi encontrado um documentário (De Olaria a Helsinque, a história de um salto) produzido pelo canal esportivo ESPN, onde existem alguns dados conflitantes, como data e local de nascimento, primeiras competições, entre outros. 
Mateus Santana
Fonte: Fundação Cultural Palmares


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