quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Escritor moçambicano condecorado em Portugal

Escritor Carlos Paradona Rufino Roque será condecorado em Portugal

Boa nova para a literatura mo­çambicana! Como forma de reco­nhecer o vasto 
conjunto de obra e o percurso de Carlos Paradona Rufino Roque será condecorado 
em Portugal. A acção será levada a cabo pelo Círculo de Escrito­res Moçambicanos 
na Diáspora (CEMD). O evento terá lugar nos dias 24 e 25 de Junho de 2016 em 
Lisboa, durante o encontro anual de escritores moçambicanos na diáspora.

A condecoração de Carlos Pa­radona, como é apenas conheci­do nas lides literárias,
é pelo seu contributo na literatura moçam­bicana, na chamada Lusofonia e 
Universalmente até o ano que findou.
Promovido CEMD, o evento será marcado ainda pela reali­zação de uma feira do livro, 
de­bates, palestras e apresentação de livros, exposição de pintura, fotografia e escultura.
Fonte: Opais.sapo.mz

Afeganistão: empoderamento de mulheres é foco de seminário da ONU

Principais pontos foram  a promoção de uma maior participação na sociedade e soluções práticas para abordar os muitos desafios que elas enfrentam na vida pública; workshop ocorreu na capital do país, Cabul.



Foto: Unama
A promoção de uma maior participação das mulheres na sociedade no Afeganistão e soluções práticas para abordar desafios que elas enfrentam na vida pública foram os principais pontos de um workshop da ONU na capital do país, Cabul.
Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova York.
Cerca de 50 pessoas participaram no evento, incluindo representantes do governo da província, da Missão da ONU no país, Unama, e ativistas.
Educação e Saúde
Os participantes discutiram soluções para os problemas enfrentados por mulheres no âmbito dos distritos, como acesso à educação e aos serviços de saúde.
Também foram debatidas formas de aumentar o entendimento das mulheres sobre seu papel na sociedade e como sua participação pode ser ampliada.
Casamento Precoce
A diretora de uma escola secundária para meninas em Shakardara, Masoma Sakhi, afirmou que por conta de restrições tradicionais, como casamento precoce, muitas deixam seus estudos antes de completá-los.
Ela afirmou que é preciso aumentar a conscientização entre as famílias sobre a importância da educação.
O mandato da Unama prevê o apoio à "plena implementação de liberdades fundamentais e disposições de direitos humanos" da Constituição afegã e tratados internacionais dos quais o país é signatário, particularmente aqueles relacionados aos direitos das mulheres.
Fonte: radioonu

Pelotão etíope ameaça prolongar jejum brasileiro de vitórias na São Silvestre

A força dos etíopes desespera os jornalistas brasileiros

Ig/DA

Dawit Admasu ganhou em 2014 sem conhecer o percurso. Este ano, 
acredita que suas chances são ainda maiores

O Brasil não sabe o que é comemorar uma vitória na São Silvestre desde 2010, quando o brasiliense Marilson Gomes dos Santos cruzou a linha de chegada em primeiro lugar na Paulista. Este ano, as perspectivas não são das melhores. O pelotão africano não deixa nada a dever em relação ao do ano passado. Os atuais campeões, os etíopes Dawit Admasu e Ymer Ayalew, comparecem novamente.
A força dos etíopes desespera os jornalistas brasileiros, preocupados com a dificuldade de comunicação. Boa parte deles só se expressa na língua amárica, de origem semítica e uma das mais antigas do mundo, assim como o aramaico, que era falado por Jesus Cristo. No ano passado, Dawit, que fala inglês, se encarregou de trabalhar informalmente como intérprete para os conterrâneos.
Além dos velozes etíopes, estarão presentes no último dia do ano, na avenida Paulista, o queniano Stanley Biwott, campeão da Maratona de Nova York deste ano, Edwin Rotich, bicampeão da São Silvestre (12/13), Joseph Aperumoi, vice em 2012, Maurine Kipchumba, campeã em 2012, e Caroline Komen, campeã da Maratona de São Paulo deste ano.
O jovem Admasu disse que voltou ao Brasil para defender seu título. "Treinei bem e estou confiante, Mas sei também que não será nada fácil. Os adversários são bem fortes e terei de fazer o meu melhor para conseguir vencer. A vantagem é que agora conheço o percurso e isso fará muita diferença".
Mesmo credenciado pela vitória em Nova York, Biwott respeita as dificuldades da prova paulistana. "A São Silvestre é uma prova dura, com um percurso bem técnico e que tem reunido gente muito boa. Estou bem treinado e preparado para enfrentar os desafios do percurso e os adversários, mas sei que não será nada fácil".
Entre as mulheres, Ayalew, vencedora em 2008 e 2014, quer deixar São Paulo com seu terceiro título. "Vim atrás de mais uma vitória. Respeito todas minhas adversárias, mas quero vencer e vou fazer o máximo para conseguir isso. Adoro correr aqui e o público sempre me recebeu bem. Tenho certeza que terei esse apoio mais uma vez".
Fonte: Folhauol

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A Cantora do Milênio é Mulher, Negra, Brasileira e Feminista: Elza Soares

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Considerada “a melhor cantora do milênio” pela BBC, descrita como “uma mistura explosiva de Tina Turner e Celia Cruz” pela Time Out, e conhecida no mundo todo como A Rainha do Samba. Nascida na favela da Moça Bonita, passava a infância “rodando pião e brigando com os meninos”. Casou pela primeira vez aos 12 anos, teve seu primeiro filho aos 13, ficou viúva aos 21, e se tornou sensação internacional aos 30. Elza Soares não é apenas um ícone como artista, é também um ícone como pessoa, e um exemplo de superação. A vida não deu trégua pra essa mulher: teve que ser forte pra lidar com inúmeras dificuldades, e ainda assim, nunca deixou de subir no palco com um belo sorriso no rosto e contagiar a plateia com a alegria do samba.

Por Aria Rita Do Revista Capitolina

Foi chamada de “vadia” pelo país, ao se envolver com o jogador de futebol Garrincha, que largou a esposa pra se casar com Elza. Era xingada de “bruxa” pelos amigos do marido, que não gostavam dela por proibi-lo de sair pra beber, tentando protegê-lo de seu alcoolismo. Em 1969, Garrincha dirigia bêbado, com Elza, sua filha Sara, e a mãe de Elza, Rosária Maria Gomes, no carro. Sofreram um acidente, e Dona Rosária faleceu. Mas a morte não era uma estranha pra Elza: a moça já havia perdido um marido e dois filhos, e, mais tarde, viria a perder outros três. Também sofreu com a morte do próprio Garrincha, que faleceu após um ano de divórcio, quando Elza ainda sentia muito carinho pelo ex-marido.

Nada é doce e suave quando se trata de Elza Soares. Desde sua expressão dura, emoldurada por seu afro volumoso coroado com flores ou um turbante, até sua voz metálica, suas feições felinas, seu sorriso largo e rasgado, sobrancelhas desenhadas altas e arqueadas, e sua eloquência curta e grossa, aquilo que Elza transmite mais que tudo é força. Hoje, tem 60 anos de carreira musical. Seu samba alegrou e inspirou três gerações, e continuará a alegrar e inspirar as próximas. Elza Soares é um clássico, e não apenas um daqueles clássicos antigos, tipo aquela galera que fez músicas geniais e se aposentam, ficando presas no passado. Ela é um clássico que provou que enquanto estiver viva vai continuar se adaptando às novas gerações e aos novos mundos, sempre dando um jeitinho de adaptar seu talento.

Abrindo o álbum, a belíssima faixa “Coração do Mar” é um poema de Oswald de Andrade cantado acapella, um ode a uma terra imaginária, “terra que ninguém conhece”. “É um navio humano / Quente e negreiro / Do mangue”. Conforme a voz de Elza desaparece, surge um quarteto de cordas anunciando a próxima faixa, e talvez a mais bela do álbum, que rendeu seu título: “A Mulher do Fim do Mundo”. Em contraponto às cordas, aparece a percussão típica do samba, acompanhada da voz ríspida de Elza: “Meu choro não é nada além de Carnaval / É lágrima de samba na ponta dos pés”.

Na chuva de confetes deixo a minha dor | Na avenida deixei lá | A pele preta e a minha voz | Na avenida deixei lá | A minha fala, minha opinião | A minha casa, minha solidão | Joguei do alto do terceiro andar |Quebrei a cara e me livrei do resto dessa vida | Na avenida, dura até o fim | Mulher do fim do mundo | Eu sou – e vou – até o fim cantar”

Eu fico arrepiada só de lembrar dessa música. É incrível como o trabalho de Elza pode soar tão familiar, tão tradicional, tão samba, e ainda assim, tão diferente e inovador. Sua voz nesse álbum, suja, pesada, carrega seus 60 anos de carreira, bem como seus 78 anos de dor – desde sua infância difícil até a recente morte de seu quinto filho. E ainda assim, Elza se mostra mais empoderada do que nunca, o que fica bem claro na terceira faixa do álbum: “Maria da Vila Matilde – Porque Se a da Penha é Brava, Imagine a da Vila Matilde”, faixa que mistura um samba sujo com rock.

Cadê meu celular? Eu vou ligar pro 180 | Vou entregar teu nome e explicar meu endereço | Aqui você não entra mais, eu digo que não te conheço… | Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”

Empoderamento de encher os olhos d’água, né? O melhor é o deboche que permeia essa faixa – Elza diz que quando o servidor público chegar ela oferece um cafezinho e mostra o roxo no seu braço, e que quando a mãe do agressor ligar, ”Eu capricho no esculacho / Digo que é mimado, que é cheio de dengo / Mal acostumado, tem nada no quengo”. Em entrevista, disse “Amor com pancada não existe. Mulher só deve gritar quando for de prazer”. E como coisa do destino, esse álbum foi lançado três semanas antes da prova do ENEM, cuja redação era justamente sobre a violência contra a mulher. Não é à toa que eu digo que a Elza é um clássico que continua relevante.

Seguem duas faixas agressivas e pós-apocalípticas: “Luz Vermelha” e “Pra Fuder”. A primeira é a descrição de um Rio de Janeiro após o fim do mundo, por onde Elza vaga, sobrevivente. A segunda é sobre uma experiência sexual em que Elza se sente como uma espécie de entidade nativa do fogo. Em entrevista para O Globo, Elza explica: “A mulher do fim do mundo é a que vai ficar. O fim do mundo é a eternidade. Sou espírita, dentro do espiritismo existe uma entidade que se chama Iansã. Ela é o fogo, a lava. Eu me vejo como essa entidade maravilhosa se incendiando, mas viva, viva eternamente”. Pra TV Carta, ainda completou: “Pra Fuder não é só sobre cama, não. É a mulher que bota pra fuder de verdade”.

Já tá sem fôlego depois de tanto samba (literalmente)? Pois segura esse tamborim aí que tem mais: a sexta faixa do CD é sobre “Benedita”, uma travesti traficante.

“Ele que surge naquela esquina | É bem mais que uma menina | Benedita é sua alcunha | E da muda não tem testemunha | Ela leva o cartucho na teta | Ela abre a navalha na boca | Ela tem uma dupla caceta | A traveca é tera chefona”

Talvez a faixa mais agressiva do álbum, ela transparece a realidade violenta da travesti no Brasil, e podemos sentir a adrenalina da perseguição policial às que traficam ou se prostituem. Ao longo da música, fica claro o porquê de Elza ter inserido essa faixa no álbum: ela se enxerga na travesti – violentada, injustiçada, forte, persistente e guerreira, Benedita é uma verdadeira “mulher do fim do mundo”, como a própria Elza. E Elza não simplesmente largou essa faixa e saiu correndo: em entrevistas sobre o álbum, quando questionada sobre a faixa, ela não deixa de falar sobre a situação da comunidade trans no nosso país, revoltada com a violência que sofremos. Rainha mesmo, né? Isso sim que é sororidade. Em entrevista à TV Carta, disse “A mulher não tomou ainda o conhecimento que uma mulher ajuda a outra, que a gente precisa ter mulheres do nosso lado. Precisamos de amigas.”

A faixa “Firmeza” é uma conversa descontraída entre jovens amigos que “se trombaram” na rua, provando o quão contemporânea Dona Elza realmente pode ser, simulando naturalmente um diálogo cheio de “qualés” e “firmezas”. “Beleza mano, fica com Deus / Quando der a gente se tromba, beleza? / Você é mermão muleque”. Em “Dança”, faixa mais tranquila que as cinco anteriores, que dialoga com o tango, Elza retorna a questões existenciais e espirituais. “Daria a minha vida a quem me desse o tempo / Soprava nesse vento a minha despedida / … / E se eu me levantar, ninguém vai saber / E o que me fez morrer, vai me fazer voltar”.

Se o álbum abriu com duas músicas belíssimas, ele também encerra com três faixas tão belas quanto. A instrumentação de “O Canal” tem forte influência da música africana, que acompanha o tema da letra: uma jornada espiritual. “Solto” é a única faixa sem distorções, fora o prelúdio acapella do álbum, “Coração do Mar”. Descreve o processo de morrer: a alma se desprendendo do corpo. E, finalmente, fechando o álbum com chave de ouro, “Comigo” começa num crescendo de ruídos e distorções, construindo a tensão do ouvinte. Ao chegar na metade da faixa, o ruído de repente cessa, e a voz de Elza surge novamente num acapella belo e singelo, que encerra o álbum:

Levo minha mãe comigo | Embora já se tenha ido | Levo minha mãe comigo | Talvez por sermos tão parecidos | Levo minha mãe comigo | De um modo que não sei dizer | Levo minha mãe comigo | Pois deu-me seu próprio ser”

O novo álbum de Elza é fogo, é melancolia, é sofrimento e é liberdade, como há de ser o samba, como é Elza Soares, e como é a mulher brasileira. Empodera, toca na ferida, é aquele tapa na cara que dói, mas nos faz acordar. Trata de racismo, de misoginia, de transfobia. A voz de Elza está rouca, rasgada, e sempre prestes a falhar, e exatamente por isso, mais bela do que nunca. É uma cicatriz que mostra a força que ela precisou pra enfrentar o que enfrentou, e é bela, como as marcas da idade no seu rosto. “Boto o passado todo num cantinho, guardadinho em mim, mas sabendo que o now está aqui. Ontem já foi, amanhã não sei. Então, tem que ser agora”.

Elza Soares é o olhar misterioso de Capitu, a casca grossa de Maria da Penha, o sorriso alegre de Carmen Miranda, o braço forte de Dandara, tudo junto. É daquelas mulheres que fazem História pra lembrar às mulheres do Brasil que esse país é nosso.

 Fonte: http://negrobelchior.cartacapital.com.br/

UM SOL GUERREIRO (Celinha)

(A todas as crianças negras assassinadas em Atlanta e a muitas outras crianças assassinadas
 todos os dias no ventre da humanidade) 

Já não ouço meu pranto
porque o choro emudeceu
nos meus lábios
O grito calou-se
em minha garganta
o sol da meia-noite
cegou-me os olhos...
Sou noite e noite só
O meu sangue espalhou-se
pelo espaço
E o céu coloriu-se de um tom avermelhado
como o crepúsculo
E eu cantei
Cantei porque agora a chuva
brotará da terra.
As sementes de todos os frutos
cairão sobre os nossos pés
E germinaremos juntos
Embora tu não possas mais
tocar as flores deste jardim, eu sei
Mas o teu solo é livre
Cante, menino,
cante uma canção que emudeça os prantos,
que repique os ataques
e ensurdeça os gritos
Porque amanhã não haverá mais
nenhum resto de esperança
não haverá mais um outro amanhecer,
pois certamente muito antes
de surgir um novo dia
um sol, guerreiro, há de raiar
à meia-noite, para despertar o teu sono,
Como uma nova alvorada.
Fonte: Cadernos Negros

Uganda acolhe mais de meio milhão de refugiados e candidatos a asilo

País torna-se o terceiro maior anfitrião em África; Acnur elogia generosidade e hospitalidade ao garantir mesmos direitos que os nacionais; maioria dos refugiados é do Sudão do Sul, do Burundi e da República Democrática do Congo.




Larson é refugiado burundês que estabeleceu o seu negócio no Uganda.

 Foto: Acnur/F.Noy.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque. 
O Uganda acolhe mais de meio milhão de refugiados e candidatos a asilo, considerado um recorde da história do país.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, disse que a maioria é composta por cidadãos Sudão do Sul, do Burundi e da República Democrática do Congo que fogem da violência e de abusos dos direitos humanos.
Políticas Progressistas
A marca de 511 mil pessoas abrigadas no país foi atingida no início de dezembro. Com o número, o Uganda torna-se a terceira maior nação de acolhimento de África depois da Etiópia, com 736 mil, e do Quénia com 594 mil.
O Acnur reconhece o Uganda pelas “políticas progressistas e a visão de futuro” em relação aos refugiados e aos candidatos a asilo.
No país, os recém-chegados têm direito a  pequenas áreas de terra em aldeias de integração na comunidade de acolhimento local, após receberem o estatuto de refugiado.
Dependência
A agência diz tratar-se de uma abordagem pioneira do Uganda, a qual reforça a coesão social e permite a convivência pacífica dos refugiados com as comunidades de acolhimento.
Os estrangeiros beneficiam dos mesmos serviços que os nacionais e têm o direito de trabalhar e de criar empresas. O Uganda dá liberdade de movimento aos refugiados, que recebem terras para reduzir a dependência de auxílio.
O governo ugandês também incluiu a gestão dos refugiados e da sua proteção no Plano Nacional de Desenvolvimento.
Parceiros
A representante do Acnur  no Uganda, Neimah Warsame, elogiou o país pelo que chamou de “generosidade excecional e hospitalidade” tendo apelado ao trabalho conjunto dos parceiros envolvidos na resposta aos refugiados.
O objetivo é que seja criada uma forma inovadora para proteger refugiados que ultrapasse a assistência de emergência e permita o desenvolvimento a longo prazo.
A crise no Burundi elevou para 17 mil o número de cidadãos deste país que chegaram este ano ao Uganda.
Fonte: radioonu

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

COP21: Indígenas querem acordo com artigo específico sobre seus direitos

Líderes dos povos nativos fazem carta aberta expressando visões sobre documento final que deve ser adotado esta semana; representante de ONG afirma que terras indígenas guardam 20% do carbono das florestas tropicais.



Félix Santi líder do povo Sarayaku. Foto: COP21/Flickr

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York. 
O respeito aos direitos dos povos indígenas foi um dos destaques desta terça-feira na Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP21. Em Paris, o Fórum Internacional dos Povos Indígenas divulgou uma carta aberta aos ministros do mundo todo.
Os líderes indígenas declaram "forte apoio" a metas de redução de carbono que limitem o aumento da temperatura global a menos de 1.5° Celsius. Segundo eles, este nível é essencial para reduzir impactos da mudança climática e para a proteção do planeta.
Artigo
Os povos nativos do mundo todo também pedem que o acordo final da COP21 especifique, no artigo 2, a importância do respeito aos direitos dos povos indígenas.
O coordenador de estratégia de Conservação de Terras Indígenas da ONG The Nature Conservancy acaba de retornar de Paris. Já em Brasília, Helcio Souza explicou à Rádio ONU detalhes da participação dos indígenas na COP21.
Divisões
"Já houve um acordo entre os países, e o Brasil inclusive apoiou, de inserir na introdução do documento a menção ao respeito aos direitos dos indígenas na implementação do acordo. Mas o que os indígenas estão querendo é que isso não fique inserido só na introdução, mas que fique inserido dentro do artigo 2 do acordo. Há uma divisão entre os países com relação a este ponto, se mantém ou não este item dentro do artigo 2. A posição do governo brasileiro é aparentemente de não estar se opondo a manter no artigo 2, mas também não tem defendido isso, como outros países, como o Canadá."
Segundo o especialista, as terras indígenas guardam 20% do carbono das florestas tropicais do mundo, sendo o "estoque de carbono mais confiável" que existe.
Helcio Souza avalia que a última semana da COP21 começou com um clima de otimismo para a adoção de um acordo de combate à mudança climática. A conferência em Paris segue até sexta-feira.
Fonte: radioonu

Ban quer ação global para defender direitos humanos

Secretário-geral fez a declaração para marcar o Dia dos Direitos Humanos, esta quinta-feira, 10 de dezembro; ele reafirmou o compromisso da organização em proteger os direitos humanos como base dos trabalhos das Nações Unidas.


Dia dos Direitos Humanos



O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que "em meio a atrocidades em larga escala e abusos generalizados, o Dia dos Direitos Humanos deve mobilizar uma ação global em defesa desses princípios".
Edgard Júnior, da Rádio ONU em Nova York
.
Ban disse que no ano em que as Nações Unidas completam 70 anos, todos podem se inspirar na história do movimento moderno dos direitos humanos, que teve início a partir da Segunda Guerra Mundial.
Liberdades Fundamentais
O chefe da ONU citou as quatro liberdades fundamentais básicas identificadas, na época, pelo presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt.
Ban disse que são direitos naturais dos povos a liberdade de expressão, a liberdade religiosa ou de culto, a liberdade econômica e a liberdade contra o medo.
Para o secretário-geral, "os extraordinários desafios" atuais podem ser combatidos através desses princípios.
No caso da liberdade de expressão, Ban afirmou que ela é negada a milhões de pessoas que estão sob ameaça crescente. Ele disse que "todos devem defender, preservar e expandir as práticas democráticas e o espaço da sociedade civil". O chefe da ONU declarou que isso é essencial para uma estabilidade duradoura.
Respeito
O secretário-geral afirmou que a liberdade de culto ou religiosa "foi sequestrada pelos terroristas, traindo o espírito do que ela significa matando milhares de pessoas em seu nome".
Ele disse que muitos outros extremistas têm como alvo minorias religiosas e exploram o medo para ganhos políticos.
Para solucionar o problema, o chefe da ONU disse que "todos devem promover o respeito pela diversidade tendo como base a igualdade das pessoas".
Ao citar a liberdade econômica, Ban falou sobre a agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Ele declarou que o documento tem como objetivo erradicar a pobreza e dar condições para que as pessoas vivam com dignidade num planeta pacífico e saudável.
Medo
A última liberdade, contra o medo, Ban afirmou que milhões de refugiados e deslocados internos representam o resultado trágico do fracasso global em alcançar esse princípio.
O secretário-geral disse que essas pessoas estão fugindo de guerras, violência e injustiça através de continentes e oceanos, geralmente arriscando suas vidas nesse processo.
A resposta mundial, segundo Ban, deve ser através "da abertura e não do fechamento de portas". Para ele, os países devem garantir o direito de todos os que pedem asilo, sem qualquer tipo de discriminação.
Além disso, os migrantes que estão fugindo da pobreza e do desespero também devem ter seus direitos humanos fundamentais respeitados.
Ban reafirmou o compromisso da ONU na defesa dos direitos humanos como base de todo o trabalho feito pela organização. Ele explicou que esse "é o espírito da Iniciativa Direitos Humanos em Primeiro Lugar", que tem como meta prevenir e responder às violações em grande escala.
Fonte: radioonu

Silviano Santiago leva Prêmio Oceanos por livro sobre descobridor de Cazuza

Um dos maiores críticos literários em atividade no país foi o ganhador do Prêmio Oceanos 2015, primeira edição do troféu literário depois que ele deixou de se chamar Portugal Telecom.

Silviano Santiago teve seu romance "Mil Rosas Roubadas" (Companhia das Letras) eleito o melhor livro do ano. O anúncio foi feito na noite desta terça (8), em cerimônia no Auditório Ibirapuera. Como prêmio, o autor levará R$ 100 mil.

O segundo lugar ficou com "Por Escrito" (Companhia das Letras), de Elvira Vigna. Os demais ganhadores foram, respectivamente: Alberto Mussa, por "A Primeira História do Mundo" (Record), e Glauco Mattoso, por "Saccola de Feira" (NVersos).

Eles receberão, nessa ordem, R$ 60 mil, R$ 40 mil e R$ 30 mil.
Danilo Verpa/Folhapress
PARATY, RJ - 31.07.2014 - 21H30 - PORQUE ERA ELE, PORQUE ERA EU - Silviano Santiago. Mesa com Mathieu Lindon e Silviano Santiago, com mediacao de Paulo Roberto Pires. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, ILUSTRADA)
Silviano Santiago em debate durante a Flip de 2014

No romance premiado com a primeira colocação, Silviano Santiago experimenta com o gênero biográfico ao contar a história e lidar com a perda do produtor musical Ezequiel Neves, morto em 2010, de quem foi amigo íntimo. O produtor era conhecido por ter descoberto Cazuza. 

"Dedico esse prêmio ao biógrafo que eu perdi", disse o autor, sobre o produtor Ezequiel Neves.

"Por Escrito", de Elvira Vigna, por sua vez, traz uma narrativa não linear conduzida pela protagonista, que tem como interlocutor o amante.

Já "A Primeira História do Mundo", de Alberto Mussa, faz parte da série de livros em que o escritor conta a história do Rio de Janeiro por meio de seus crimes. O romance trata do primeiro registro formal de um assassinato no país.

"Saccola de Feira", por sua vez, é uma coletânea de sonetos de Glauco Mattoso, com temas variados, indo da infância ao sexo. 

Ano passado, quando se chamava Portugal Telecom, o prêmio literário correu o risco de acabar, quando a empresa de mesmo nome foi vendida para uma telefônica francesa. A partir de então, o troféu literário foi assumido pelo Itaú Cultural.

Diferentemente dos outros anos, desta vez a curadoria e o júri do prêmio não dividiram os livros em categorias.

Elvira Vigna foi o segundo lugar, com "Por Escrito" (Companhia das Letras). O terceiro colocado foi Alberto Mussa, com "A Primeira História do Mundo" (Record). Glauco Mattoso ficou com o quarto lugar, com "Saccola de Feira" (NVersos) 
MAURÍCIO MEIRELES
Fonte: folhauol

Crítico não percebeu que filme abre mão de heróis e vilões

Inácio Araujo, na crítica "Thriller político peca em fraco retrato da realidade brasileira", estampa a fraca capacidade de "O Fim e os Meios" de dar conta da realidade brasileira. Por que será que ele identificou "a realidade brasileira" como tema? Como um filme pode dar conta de tamanha pretensão? 

Para mim, como cineasta, cabe ao cinema olhar o que não é visto. "O Fim e os Meios" nasce de um incômodo político com o país. O nosso desafio é perceber como se apresentam algumas de nossas endemias e formações. Para tal, elegemos estratégias.

A corrupção em nosso país virou epidérmica. Não interessa mais discutir suas razões; ela está impregnada na história, nos costumes, no dia a dia. Queremos perceber como ela age sobre nós.

Divulgação
Créditos: Divulgação Legenda: Cena do filme "O FIM E OS MEIOS" ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Os atores Marco Ricca e Cintia Rosa em cena do longa-metragem 'O Fim 
e os Meios', dirigido por Murilo Salles

Focamos num casal que, para resolver conflitos da relação, muda-se de cidade e objetivos de vida. Destacamos os meios, pois a democracia, a ética e a felicidade são construídas no dia a dia, em relações, no trabalho, em casa, com quem amamos. É nos meios onde acontecem nossas opções e decisões de vida. Não há um final salvador fora dessa construção política diária. Não existe um herói da pátria que possa nos livrar das mazelas. Quem constrói a história do Brasil somos nós, brasileiros.

Portanto, nossa decisão foi não trabalhar com heróis ou vilões, nem com grandes eventos políticos. O crítico não percebeu! Sua análise é esquemática e reducionista; aponta o publicitário como representante da mentira e a jornalista, da verdade. Nem a mais antiga dramaturgia trabalha com tamanho esquematismo. Aliás, banalizamos ao máximo os expedientes da corrupção e, assim, tiramos o foco das superestruturas.

O filme quer perceber que as endemias se dão na epiderme da vida. Como o ser humano vai se tornando aquilo que não quer ser. Nosso trabalho, em vez de submeter o público a uma análise racional e esquemática da corrupção, é fazê-lo experimentar com os personagens –tais como nós, bem intencionados e agindo por razões ditadas pelo coração– esse incômodo que se apossou do Brasil.

Com isso, acreditamos promover uma imersão sensorial que faça emergir os fantasmas do imaginário, herança da casa grande e da senzala, e suas acomodações cordiais. Talvez, assim, possamos perceber que o poder reina sobre aquilo que consegue interiorizar.
MURILO SALLES é cineasta. Dirigiu "O Fim e os Meios" e "Nome Próprio", entre outros. 

Fonte:folhauol

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Moçambique regista avanços a nível de politicas económicas

Visão é do economista Finn Tarp, que está em Maputo no âmbito do Forum Mozefo; o especialista da Universidade da ONU afirma que apesar dos avanços, a ausência de dados estatísticos dificulta as 
análises comparativas sobre as políticas econômicas.



Foto: Unicef

Moçambique está no bom caminho na luta contra a pobreza, mas trata-se de uma luta que envolve etapas. Esta é a avaliação do economista e professor da Universidade das Nações Unidas, Finn Tarp, em conversa com a Rádio ONU em Maputo.
Ouri Pota, da Rádio ONU em Maputo
"Para mim o mais importante em Moçambique é o ataque à pobreza, porque a pobreza é a causa da instabilidade. E é a causa de que de facto a paz em alguns lugares é um pouco fraca. Sem desenvolvimento e combate à pobreza, o desenvolvimento não vai ocorrer bem, a paz não existirá. Este é o ponto que eu penso ser chave. Moçambique pode atingir níveis altos de desenvolvimento mas requer um esforço focado em relação à cultura."
Avaliação
No combate a pobreza, o economista cita a importância dos dados estatísticos para a abordagem sobre a economia.
"É necessário de ter cuidado quando falamos de políticas económicas. É necessário para nós termos os dados e depois podemos começar avaliar e fazer comparação entre 1996, 2002, 2008 e 2014. É claro que, se a análise que sai do que as pessoas dizem não é correcto, podem chegar as conclusões incorrectas e isso não é justo."
Aposta no sector agrário é uma das soluções para o desenvolvimento em Moçambique, na avaliação de Finn Trap.
Investimento
" Há muitas pessoas ainda em pobreza e ainda há fome.O importante é assegurar que um camponês e a família podem de facto viver de uma maneira razoável. De uma maneira justa. Para isso requer investimento no setor agrário, requer sementes, mercado , infra-estrutura e que requer que a economia funcione e que haja posto de saúde onde as crianças podem ir quando estão doentes."
Finn Tarp tem 35 anos de experiência em pesquisa e docência na área económica. A sua experiência de campo abrange cerca de 20 anos de trabalho em mais de 35 países africanos com destaque a Moçambique, Suazilândia e Zimbábue. Sua área de pesquisa abrange  questões de estratégia de desenvolvimento e de ajuda externa com enfoque na pobreza, distribuição de rendimento, crescimento económico, políticas económicas e modelagem.
Fonte: radioonu

Calendário internacional da cultura negra



Dia 01
- O ofício da Baiana do Acarajé é tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Nacional (2004).
Dia 02
- Dia Nacional do Samba, uma das principais vertentes artísticas da cultura negra.
Dia 05
- Retrocesso: Constituição proíbe negros e leprosos de freqüentar escolas públicas no Brasil (1824).
Dia 10
- Aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).
Dia 20
- Lei nº 7437/85 Estabelece como contravenção penal o tratamento discriminatório no mercado de trabalho, por motivo de raça/cor (1985).
Fonte: FCP

domingo, 29 de novembro de 2015

Queridinha do público e autêntica, a previsão é de sol para Maju Coutinho

Maju Coutinho - sem tempo ruim - símbolo da nova informalidade do telejornalismo na tv aberta, a ex-professora Maju Coutinho conquistou espaço exercendo o que não parecia permitido a uma estrela televisiva: ser ela mesma#serafina92
Foto: Cassia Tabatini

Saudar o sol faz parte da rotina de Maria Júlia Coutinho, 37, e não é hábito adquirido depois que ela passou a entrar na casa de milhões de brasileiros informando a previsão do tempo. 

Há dez anos a jornalista não passa um dia sem exercitar a série de posturas da ioga, prática que adotou quando ainda era estudante de pedagogia na USP.
Sim, a moça do tempo do "Jornal Nacional" (Globo), o telejornal de maior audiência do país, já quis ser professora. E chegou a lecionar por dois anos, para crianças, em uma escola municipal de São Bernardo do Campo.

"Cursei magistério e me decidi pela pedagogia. Mas, antes do vestibular, fiz um teste vocacional e deu jornalismo. Prestei as duas opções e passei", lembra Maria Júlia. O resultado do teste não foi uma surpresa para quem, na infância, brincava de apresentadora do "JN".

De família de classe média baixa paulistana, sua escolha se deu primeiro pelo bolso: trancou a faculdade privada de jornalismo (Cásper Líbero) e optou pela gratuita, de pedagogia, e a carreira recém-iniciada no magistério. "Só pensei em garantir o salário."

No ano seguinte, conciliou as duas graduações e se "descobriu" no jornalismo. Pediu exoneração do trabalho e largou a pedagogia. "Não tinha traquejo, jogo de cintura em sala de aula. Mas a experiência me ensinou a ser didática."

Maria Júlia viveu com os pais até o último ano da faculdade em uma casa que eles construíram na Vila Matilde, zona leste paulistana. Hoje, mora com o marido, o publicitário Agostinho Moura, no Campo Belo, zona sul da cidade.

Professores da rede pública, seus pais se sacrificaram, nas suas palavras, para que ela e o irmão mais velho tivessem um aprendizado de qualidade em escolas pagas. "Meus pais sempre falaram: 'Podem te tirar todos seus bens, mas o conhecimento não se tira'."

Sua avó materna, empregada doméstica, também se dedicou muito para que a mãe de Maju estudasse. "Ela viu que o caminho para a filha avançar era a educação", diz, com a voz embargada. "Me ensinou a lutar por meus direitos."
Embora de família católica praticante, Maju estudou o antigo primeiro grau na Escola Brasileira Islâmica, na Vila Carrão. "Minha mãe sempre passava por lá. Um dia entrou, conheceu e sentiu que seríamos felizes ali. E ela tinha razão."

No colégio, conviveu com o diferente, sendo ela mesma uma criança que destoava das demais. "Havia mais um ou outro negro lá", recorda. "Tinha amiga prometida para casar, menina de véu. E no Ramadã a gente folgava."

MARIA E MAJU

Maria Júlia foi batizada assim em homenagem a uma tataravó materna, que todos diziam ser doce e determinada.

Foi no magistério no Anglo Latino, onde ganhou bolsa de estudo, que Maria, como até hoje seus pais a chamam, virou Maju. Na TV, Chico Pinheiro foi quem primeiro a tratou pela alcunha, no "Bom Dia Brasil". "Reclamaram que era muito informal, e ele falou: se ela não pode ser Maju, tenho que ser Francisco", lembra a jornalista.

Quando Maria Júlia estreou no "Jornal Nacional", em abril, houve muitos pedidos, via redes sociais, para o âncora e editor William Bonner —que ela ainda não conhece pessoalmente— a usar o apelido. Concessão feita, Maju se tornava nome conhecido pelo país, e o "JN" passava a ficar menos carrancudo.

Sua chegada ao jornal foi parte essencial desse processo de informalidade, com a meteorologia ganhando linguagem mais coloquial.

A previsão do tempo entrou na vida profissional de Maju em 2013, quando ela voltava das férias e recebeu o convite para ir para o estúdio dos telejornais da Globo em SP. Nos seis anos anteriores, havia trabalhado como repórter.

A vaga no maior canal do país foi conquistada com o clássico e-mail "segue meu currículo", recebido por uma editora indicada por um amigo.

Na época, Maju trabalhava havia quatro anos na TV Cultura, onde foi repórter e chegou a apresentar algumas vezes o "Jornal da Cultura".

Há dois anos como "garota do tempo", com reuniões diárias com meteorologistas, Maria Júlia acha que conseguiu diminuir o preconceito em relação à sua função. "Nos EUA e em outros países é uma editoria valorizada, você aborda turismo, agricultura etc. Aqui, acham que é só se maquiar e falar a temperatura. É um trabalho de reportagem", diz.

Por ora, ela não pretende trocar o jornalismo pelo entretenimento. Neste ano, especulou-se que Maju poderia apresentar um telejornal ou entrar para o "Fantástico". "Nunca recebi nenhuma proposta, mas estou aberta a novos desafios."
Nesta semana, ela participa da Conferência do Clima de Paris (COP-21), a convite da ONU e da Organização Mundial de Meteorologia. A jornalista acompanhará alguns debates.

SEM CHAPA

"Nossa, é outra pessoa. Não sou eu", ria Maria Júlia, ao ver no computador as imagens feitas para Serafina, na manhã de um sábado de novembro.

Em seu primeiro ensaio de moda, causou-lhe estranhamento, além das roupas estampadas e de grifes estrangeiras, o cabelo, naturalmente encaracolado e sempre solto, preso em um coque.

Orgulhosa das madeixas crespas, Maju confessa ter caído na tentação da chapinha na adolescência por dificuldade de aceitar o cabelo, alvo de piadas na escola. "Meus pais trabalharam muito essa questão, diziam que não tinha nada de errado comigo."

Os fios deixaram ser retos quando ela se deparou com uma modelo cheia de trancinhas na capa da revista "Raça" e resolveu adotar o visual.

Em julho, Maju voltou a ouvir que seu cabelo servia "para limpar panela" numa série de ataques racistas postados no Facebook do "Jornal Nacional". A ação ganhou investigação do Ministério Público de SP, que segue no trabalho de identificação dos autores das injúrias.

Se pudesse escolher a punição para essas pessoas, Maju as faria trabalhar por um dia em instituições de combate ao racismo. "Para elas ouvirem relatos de quem sofre preconceito. A coisa mais educativa é conviver com o diferente." As agressões virtuais não a incomodaram tanto quanto a repercussão do ocorrido. "Enche o saco falar sempre desse assunto."

O mesmo desconforto foi relatado a ela pela atriz Taís Araújo, outra vítima recente de ataques racistas na internet. As duas saíram para jantar no dia do ensaio para a Serafina, após Maju assistir à performance de Taís e Lázaro Ramos na peça "O Topo da Montanha".

"A Taís disse que teve o mesmo sentimento que eu. Aquilo lá, sinceramente, não foi algo que me tocou, porque desde que você se entende por negro aqui, sabe que tem preconceito, ouve na escola", afirma. "Apesar de achar um absurdo, não pega mais na alma de quem já leva há tanto tempo essas porradas."

As ofensas proferidas contra a jornalista geraram uma forte campanha de apoio nas redes sociais, com o nome e a hashtag #SomosTodosMaju.

Houve quem criticasse a mobilização, caso do rapper Parteum, que fez um texto lembrando outros casos de racismo, ocorridos com pessoas pobres e não famosas, que não ganharam repercussão. Ele terminava dizendo "Vocês não são todos Maju".

Ela não concorda com essa percepção. "É claro que sei que eu e a menina da periferia devemos ter o mesmo tratamento. Mas quando uma pessoa pública é alvo de ataques, isso serve de mobilização. A família de uma vítima de preconceito pode falar: 'Não é só com você'. A menina da periferia vai ver que tem direito tanto quanto eu, a Taís..."

Para a jornalista, os negros no Brasil precisam cada vez mais tornarem-se visíveis para combater o racismo. "À medida que a gente não é mais invisível, que não faça só papéis de empregada [na dramaturgia], que faça a diferença em diversas áreas, as pessoas vão se acostumando", afirma.

Nessa lógica da visibilidade, a televisão, diz, precisa ter maior presença negra. "Ainda há muitos como câmeras, faxineiras. Precisamos ampliar essa participação", diz a jornalista, que não é integrante de movimentos raciais.

"Ser ativista é algo sério, exige dedicação", fala. "Acho que já levanto bandeira porque estou no ar no 'JN'. Estou lá numa posição que não é servindo cafezinho, de igual para igual."
LÍGIA MESQUITA
Fonte: Serafina/folhauol

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Criança aprende com os pais a ter atitudes racistas, diz escritora

Entre as árvores e bichos africanos, vivem seres fantásticos: um crocodilo terrível e violento que assusta bichos e homens, uma deusa das águas que é pescada por um ribeirinho, um macaco que vai à Lua e encontra um tambor por lá...
Histórias e mitos da África foram reunidos no novo livro da escritora Silvana Salerno, 63, "África - Contos do Rio, da Selva e da Savana". Tudo começou em 1975, quando a autora se formou em jornalismo e partiu para uma jornada por diversos países do continente, onde teve contato com a rica cultura oral.
Na obra, a literatura divide espaço com o jornalismo, principalmente na forma de um glossário no final, que explica paisagens, povos e animais que aparecem nas histórias –todas de regiões de onde vieram os africanos enviados ao Brasil como escravos.
Leia entrevista com a autora abaixo.

Fernando Nuno/Divulgação
Retrato da escritora Silvana Salerno, que lança livro com contos africanos
Retrato da escritora Silvana Salerno, que lança livro com contos africanos

Como foi sua viagem à África?
Silvana Salerno - A primeira foi em 1975. Tinha acabado de me formar em jornalismo na USP e fui só com uma passagem de ida para Dacar [capital do Senegal]. De lá, fomos para a Gâmbia e para o Marrocos, sempre participando da vida das pessoas, indo à casa delas, comendo junto.
Todos adoravam saber que éramos brasileiros. Eram os anos 1970, a seleção brasileira estava no auge. Todo mundo conhecia o Pelé.
O que foi mais marcante?
A comida. Lembro que na casa dos mais pobre, na dos mais ricos ou mesmo nos restaurantes, todos comiam com as mãos. Era muito interessante. As refeições vinham em grandes bacias coletivas, como se fossem grandes travessas. Depois, no Senegal, me impressionei com a semelhança com as comunidades indígenas do Brasil. As mulheres trabalhando no campo, os homens caçando e pescando.
Foi quando teve contato com as histórias do livro?
Com algumas, como a do tambor africano. Depois voltei mais quatro vezes. Quando decidi fazer o livro e reunir as histórias, fui a Paris. Lá visitei bibliotecas e livrarias especializadas em obras africanas, onde coletei muitos contos. Voltei ao Brasil com 35 livros na bagagem. Meu luxo sempre foi viajar. Em vez de reformar a casa ou comprar coisas, ia conhecer novos lugares.
O que as histórias do livro têm em comum?
São textos que trazem uma mensagem, mas sem serem didáticos. Eles não têm adjetivos, não são como muitos contos da literatura infantil inglesa, por exemplo, cuja principal função é fazer a criança escovar os dentes ou não ter medo do escuro. Sou totalmente contra isso.
Não é papel da literatura ensinar?
Literatura é ficção. Ela ensina sem dizer que ensina. Literatura não é livro didático. Ela sempre deixa uma mensagem, mas sem dizer. É assim com Tolstói, Machado de Assis e os grandes escritores. É assim com esses contos africanos também. Eles não são didáticos, não trazem um fundo de moral.
A África que você imaginava antes de conhecer o continente era muito diferente da que encontrou ao desembarcar no Senegal?
Foi meu aniversário de 23 anos em Dacar. Não foi um choque, até porque eu não imaginava nada. Fomos com uma mochila só, com roupas, um casaco de lã, um chinelo. A vontade era mais a de sair do Brasil por um período, porque a gente vivia em uma ditadura.
O maior choque foi ver que os povos da África negra, que vieram para o Brasil na época da escravidão, tinham quase todos se transformado em muçulmanos. Aquela cultura dos iorubás, por exemplo, era raro de encontrar. A população tinha trocado as tradições para rezar para Meca. Mas era uma época em que todas essas questões relacionadas ao terrorismo ainda não existiam.
Conhecer a cultura africana era exceção nos anos 1970? Hoje as pessoas conhecem mais sobre o continente?
Quando fizemos a primeira viagem, lemos muito sobre a África e estudamos suas culturas. Tínhamos ido para a Bahia para ver de perto algumas coisas. Hoje o conhecimento aumentou muito, está mais acessível. Mas a mesma internet que possibilitou isso entrega um conteúdo ainda muito básico. É tudo muito raso.
Mas há mais livros disponíveis sobre a África, não?
Certamente, há muito mais filmes e livros. Nos anos 1970, ainda convivíamos com a censura, com a guerra de Angola. Era difícil conhecer autores e receber notícias de lá. Hoje escritores africanos vêm a todo momento ao Brasil, há um intercâmbio maior. É só ver o Mia Couto, por exemplo, que sempre participa de eventos no país.
O mesmo raciocínio se aplica à produção de livros para crianças? A lei 10.639, que obriga o ensino de história e cultura afro-brasileira, impulsionou a publicação de livros infantis sobre esses temas?
É difícil que as escolas abram espaço para a África. O MEC [Ministério da Educação] quer que as escolas estudem o tema, mas muitas têm a grade horária cheia e não conseguem ter espaço para isso.
O que não pode acontecer é substituir o ensino da história ocidental pelo ensino da história africana, por exemplo. Uma cultura não invalida a outra. O pensamento ocidental europeu é a base do nosso pensamento. Se você subtrai isso, você entende menos sobre o mundo. A ideia é sempre somar, nunca subtrair.
Existe racismo no Brasil?
Existe, mas a gente não dá conta. Até a década de 1960, havia muitos professores e profissionais de classe média negros ou mulatos. A integração social era maior. Só que alguma coisa aconteceu, e os negros foram excluídos economica e socialmente. Eles saíram dos empregos que ocupavam, saíram até das escolas. Isso fez com que o racismo aumentasse. O negro tem raiva por ser excluído; o branco não convive com o diferente. Isso gera uma situação de conflito.
Isso é replicado na infância?
A criança é como um mata-borrão. Ela é moldada de acordo com o comportamento da casa, dos pais. A criança aprende vendo. Não adianta pedir que ela coma alimentos saudáveis, mas só comer porcaria em casa. Não adianta pedir para ela ser respeitosa, mas ter atitudes discriminatórias.
E qual é o papel da literatura nisso?
É trazer conhecimento e arte. Com mais conhecimento, você se torna mais aberto, fica mais tolerante, aceita melhor as diferenças. Mas não precisa ser didático para fazer isso.
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Divulgação
"ÁFRICA - CONTOS DO RIO, DA SELVA E DA SAVANA"
AUTORA Silvana Salerno
EDITORA Girassol
PREÇO R$ 59,90
INDICAÇÃO a partir de 8 anos
LANÇAMENTO neste sábado (28), a partir das 15h, na Livraria da Vila (r. Fradique Coutinho, 915, São Paulo) 
Fonte: Folhauol

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