quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Personalidades Negras – Leci Brandão

~

Leci Brandão da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1944 e atualmente é considerada umas das mais importantes intérpretes de samba da música popular brasileira.Começou sua carreira no início da década de 1970, tornando-se a primeira mulher a participar da ala de compositores da Mangueira e ao longo de sua carreira, gravou 20 álbuns e três compactos.
Atualmente, além de se dedicar à carreira musical, é membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Em fevereiro de 2010, Leci Brandão filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e foi eleita para ocupar o cargo de Deputada Estadual pelo estado de São Paulo. Sua defesa dá ênfase a negros, igualdade racial, combate ao racismo e a inclusão do samba na política cultural do Estado de São Paulo, entre outras propostas.
Ao lançar seu primeiro DVD, “Canções Afirmativas”, ela ressaltou sua luta pela igualdade. “Quando comecei minha carreira, pensei: ‘Vou fazer da minha arte um instrumento para requerer os direitos humanos’, e fiz. Ao ver o disco montado, antes de gravá-lo, tive a idéia do nome Canções Afirmativas, que é um título bem forte e sintetiza tudo o que fiz na minha trajetória”, disse.
Fonte: FCP

Personalidades Negras - Bell Hooks




Gloria Jean Watkins nasceu em Kentucky, EUA em 25 de setembro de 1952. É escritora e militante feminina. Adotou como pseudônimo o nome de sua avó (bell hooks) e prefere que seja escrito em minúsculo para que a atenção seja concentrada em sua mensagem ao invés de em si mesma. Seu trabalho enfoca principalmente o estudo de sistemas de dominação e opressão, particularmente aqueles associados a questões como raça, classe e gênero. Publicou mais de trinta livros e muitos artigos acadêmicos. Realiza palestras e participou de diversos documentários. Seu primeiro livro (Ain’t I a Woman: Black Women and Feminism) escreveu aos 19 anos. Estudou literatura inglesa na Universidade de Stanford, na Universidade de Wisconsin e na Universidade da Califórnia. Lecionou Estudos Afro-americanos na Universidade do Sul da Califórnia e na Universidade de Yale e Estudos da Mulheres no Oberlin College em Ohio. Bell hooks atualmente mora em Nova York e continua sua luta contra o racismo e o sexismo nos EUA. Fonte: WikipediaSite Biography e Site Encyclopedia of World Biography.

Falta capacitação para ensinar a cultura afro

tn 280 651 CULTURANEGRA 120313


Apesar da boa vontade dos professores, qualidade de iniciativas fica comprometida pela carência de profissionais que dominem o tema
Há dez anos, a Lei número 10.639 incluiu a obrigatoriedade de conteúdos referentes à cultura e história afro-brasileira no currículo da educação básica. Desde então, universidades e movimentos sociais têm se esforçado para suprir a falta de capacitação de professores na área e vencer a resistência de alguns educadores que ainda encaram com estranheza a proposta.
A legislação que alterou a Lei de Diretrizes e Bases não cria uma nova disciplina, mas explicita a necessidade de se trabalhar a temática, especialmente nas áreas de Educação Artística, Literatura e História. As escolas têm autonomia para incluir o assunto em outras disciplinas, mas, o obstáculo maior, segundo analistas, ainda é a escassez de subsídio para oferecer aos estudantes algo além do tradicional ensino sobre a escravidão no Brasil.
Segundo o professor de História Fabio Luciano Iachtechen, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil), aparentemente, há muita boa vontade na aplicação da lei, mas, como a mudança veio antes de qualquer preparo dos docentes, muitas iniciativas carecem da consistência adequada. “A lei veio antes de qualquer formação ou mesmo da disponibilidade de materiais didáticos, então, as tentativas vêm sendo feitas de uma forma um pouco atropelada”, diz.
Para Iachtechen, nota-se uma clara preocupação em responder à demanda por parte dos agentes envolvidos, mas especialmente no que diz respeito à história da África, há escassez de professores que dominem o tema com segurança. Mesmo a UFPR só abriu concurso em 2012 para a contratação de professores universitários com formação específica no tema. “Quem vai trabalhar esse conteúdo acaba tendo de ser autodidata”, lamenta o professor.
Resistência
Já o professor Paulo Vinicius Baptista da Silva, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFPR, considera que as resistências existentes à obrigatoriedade se devem mais a um apego ao modo como a história e a própria cultura nacional eram ensinadas décadas atrás, quando não era dado tanto destaque à herança étnica dos afrodescendentes. “Uma mudança na política curricular como essa não se muda com facilidade porque mexe numa tradição bastante arraigada.”
Ainda assim, Silva cita alguns avanços notáveis. Em 2010, ele trabalhou na articulação de projetos relacionados ao tema no Sul do Brasil. Na época, as escolas do Paraná teriam se destacado com uma quantidade de iniciativas sobre o tema superior às de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ele cita como exemplo o trabalho desenvolvido por professores no município de Pitanga, onde a população negra é menor do que a média do estado. “Ficamos surpresos ao visitar três escolas em que as gestoras dos projetos na área eram de origem ucraniana”, conta.
Fonte: Geledes

Inventário dos lugares de memória do tráfico de escravos está online

21208-navio_negreiro_geledes_1


 ‘Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil‘, organizado pelo Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense em parceria com o projeto da Unesco “Rota do Escravo: Resistência, Herança e Liberdade”, está disponível em PDF na página eletrônica da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).
O trabalho reúne cem lugares de memória e foi construído a partir da indicação e contribuição de diversos historiadores, antropólogos e geógrafos do país, após consultas e trocas de informações.
O inventário traz informações sobre os locais onde é possível lembrar a chegada dos africanos ou identificar as marcas de sua presença e intervenção, a partir de evidências documentais, escritas ou orais, da presença histórica e cultural dos africanos, com o objetivo de centrar o foco na ação e no legado dos recém-chegados.
Os organizadores acreditam que o avanço da pesquisa histórica sobre o tráfico e a escravidão no Brasil permitiu a reunião das 100 indicações, mas têm certeza que o Inventário está longe de se esgotar.
“Esse trabalho deve ser entendido como um ponto de partida para novas e futuras ações (nos âmbitos federal, estadual e municipal), tanto no campo da pesquisa histórica, como no do ensino, educação patrimonial, divulgação e desenvolvimento do turismo cultural dos Lugares de Memória do Tráfico e História dos Africanos Escravizados no Brasil”, afirma o representante do Projeto Rota do Escravo, Milton Guran, que se reuniu com a ministra Luiza Bairros (Igualdade Racial) no início deste mês de setembro.
Sobre a escravidão no Brasil, o inventário traz a seguinte explicação: ‘Escravizados em seu continente, entre os séculos XVI e XIX, muitas vezes em guerras internas entre os inúmeros reinos que existiam nas diversas regiões da África tocadas pelo tráfico, africanos de diferentes línguas e origens tornaram-se “escravos”, categoria jurídica de época, no Brasil. Aqui reorganizaram suas identidades, criando novos sentidos para suas referências africanas. Nos verbetes, utilizamos tanto o termo jurídico de época (escravo) quanto o adjetivo “escravizado”, que sublinha o caráter compulsório da instituição. Para referir às novas identidades africanas criadas nas Américas, respeitamos a diversidade de expressões utilizadas pelos especialistas consultados, refletindo diferentes cronologias, abordagens historiográficas e usos regionais’.
Leia mais:
“Agudás — de africanos no Brasil a ‘brasileiros’ na África”, do fotógrafo e antropólogo Milton Guran (Revista HCSM, v.7, n.2)
vol-_19_suplemento



Como viviam e morriam os escravos no Brasil?Treze artigos inéditos do suplemento Saúde e Escravidão da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos revelam como viviam, adoeciam, eram curados ou morriam os escravos e libertos.
“Brasil é um país de colonização mais africana do que europeia” – Segundo Luiz Felipe de Alencastro, o país recebeu quantidade de africanos oito vezes maior que portugueses até 1850
 Nota do blog:
Agradecemos a valiosa contribuição do leitor Andre Novellino Gouvêa, que chamou nossa atenção para a origem da imagem que ilustra esse post, replicado do site da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR. Aproveitamos para destacar que estamos abertos a contribuições de leitores que nos ajudem a aperfeiçoar nosso conteúdo. Segue abaixo mensagem do leitor:
“Prezados,
No artigo foi incluída uma foto, como se esta tivesse relação com o tráfico de escravos para o Brasil. Entretanto, esta foto na realidade foi tirada na África Oriental, depois que o tráfico de escravos já havia sido abolido no Brasil em 1850, e os escravos no navio seriam provavelmente destinados a serem vendidos em países árabes. Vocês podem ver a foto nesse arquivo digitalizado: clique aqui. Como se pode ver nesse arquivo, a foto é pertencente a esse álbum fotográfico: clique aqui. Tal álbum foi fotografado por um alemão na África Oriental entre as décadas de 1850 e 1890. Ou seja, nada tem a ver com tráfico de escravos para o Brasil, então faz pouco sentido incluir tal foto no artigo de vocês, como se ela fosse relacionada ao tráfico de escravos direcionado ao Brasil.
Cordialmente, Andre Novellino Gouvêa”

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Personalidades Negras – Zezé Motta



Maria José Motta de Oliveira nasceu em Campos dos Goytacazes em 27 de junho de 1948. Começou a carreira de atriz em 1967 estrelando a peça Roda-viva, de Chico Buarque, sob a direção de José Celso Martinez. Em seguida, atuou em Fígaro Fígaro, Arena conta Zumbi, A vida escrachada de Joana Martine e Baby Stompanato, Orfeu negro, Godspell, entre outras.
Além de diversos trabalhos para televisão, como novelas e minisséries, Zezé Motta também desenvolveu uma carreira como cantora a partir de 1971.Mas, foi no cinema que Zezé Motta interpretou uma das personagens mais sedutoras do cinema brasileiro, a exuberante Xica da Silva, no filme homônimo de Cacá Diegues. O filme fez muito sucesso e a atuação de Zezé lhe rendeu vários prêmios de Melhor Atriz e o reconhecimento internacional.
Reconhecida como uma das mais importantes militantes do movimento negro brasileiro, Zezé Motta é uma referência no que se refere à expansão da cidadania social da população afro-brasileira.É presidente de honra do CIDAN (Centro de Informação e Documentação do Artista Negro) e já ocupou o cargo de superintendente da Igualdade Racial do governo do Rio de Janeiro. No I Grande Prêmio Brasil de Cinema (2000), recebeu um troféu-homenagem por sua trajetória e contribuição à cultura brasileira.
Fonte: FCP

Prorrogadas as inscrições para o Prêmio Curtas Histórias

Alunos da educação básica da rede pública de ensino poderão produzir vídeos sobre o tema “Africanidades Brasileiras”
Estão abertas até o dia 5 de novembro, as inscrições para o Prêmio Curta Histórias iniciativa Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI/MEC). Curta Histórias é uma premiação voltada aos alunos matriculados na educação básica da rede pública de ensino de todo o país. Este ano, o prêmio tem como tema de abertura “Africanidades Brasileiras”.
Parceria com a Fundação Vale, Fundação Telefônica, Associação Casa da Árvore, Sebrae e Unesco, a iniciativa visa incentivar novos talentos e estimular o desenvolvimento das atividades pedagógicas, audiovisuais de cunho cultural e educativo em escolas públicas brasileiras, com a valorização da Educação das Relações Étnico-Raciais e a implementação da Lei Federal nº 10.639/03 que completa 10 anos de vigência em 2013.
Realizar um festival de curtas-metragens em escolas públicas (estaduais e municipais) é uma forma de garantir a implementação da Lei 10.639/03 nos espaços escolares, bem como de fortalecer a luta contra a discriminação racial no Brasil.
Inscrições - Poderão participar, exclusivamente, alunos (as) da Educação Básica matriculados em instituições de ensino mantidas pela União, Distrito Federal, Poder Público estadual ou municipal, das capitais desde que as escolas tenham feito adesão até 2013, a um dos seguintes programas do Ministério da Educação:
  • Mais Educação
  • Ensino Médio Inovador
  • Alunos de Educação Básica da rede pública de ensino de todo o país, de escolas localizadas fora das capitais que estejam participando de um dos programas: a) Mais Educação – Macrocampo: Educomunicação, Comunicação e uso de Mídias, Cultura Digital e Cinema b) Ensino Médio Inovador – Macrocampo: Comunicação e uso de Mídias e Cultura Digital 4.  PROJOVEM URBANO.
Mais informações em www.curtahistórias.org ou pelo e-mail etnicoracial@mec.gov.br
Fonte: FCP

"Presidentes Africanos”: Instituto Lula exibe documentário



O Instituto Lula exibirá, na próxima quarta-feira (29), o primeiro documentário da série “Presidentes Africanos”, do jornalista e ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins. O evento faz parte do ciclo de debates “Conversas sobre África”, organizado em parceria com o Sindicato dos Bancários de São Paulo.

A reportagem que será exibida, com duração de 50 minutos, apresenta a situação geral do continente africano no século 21, enfatizando o processo de desenvolvimento econômico e os avanços na construção da paz e da democracia. A série completa tem 14 episódios, cada um baseado na história e no quadro atual de um país, a partir de entrevistas com seus líderes.

Depois que deixou o governo, Franklin Martins voltou suas atividades para o estudo da África, visitando vários países e acompanhando a evolução das situações políticas, econômicas e sociais de cada um deles. Após a exibição do filme, Martins participará de uma sessão de perguntas e respostas com os participantes do debate.

O evento será gratuito, sem necessidade de fazer inscrição prévia, na sede do Sindicato dos Bancários de São Paulo. O início está previsto para as 17h30. A série “Presidentes Africanos” já está sendo exibida ne televisão, nos canais Discovery Civilization e Band.

Serviço:

Data: 29 de outubro
Horário: 17h30
Local: Sindicato dos Bancários de SP, Rua São Bento, 413, Centro, ao lado da Estação São Bento do Metrô.

Antologia ‘Pretextos de Mulheres Negras’ reúne 22 escritoras contemporâneas

Pretextos Web

Livro organizado por Elizandra Souza e Carmen Faustino será lançado no próximo dia 31 em São Paulo, SP
Com a urgência poética de milhões de olhos surge, na literatura contemporânea, a antologia Pretextos de Mulheres Negras, que será lançada no próximo dia 31 de outubro em São Paulo (SP).
O volume de quase 140 páginas apresenta em cada uma das 22 autoras – 20 de São Paulo e as convidadas Queen Nzinga Maxweell (Costa Rica) e Tina Mucavele (Moçambique) – subjetividades e autorrepresentações, seja nos textos, nas imagens, nos perfis biográficos ou na forma como lutam por resistência, memória, pertencimento, ludicidade, corporeidade, musicalidade, religiosidade e outros valores presentes nas africanidades e na diáspora.
“Temos a intenção de religar os nossos vínculos ancestrais e também escrever a melodia dos nossos próprios ritmos”, anuncia a organizadora do livro, Elizandra Souza.
A obra é parte das ações do coletivo Mjiba, que fortalece o protagonismo da mulher negra em diferentes esferas e foi também inspirada no livro “Oro Obínrin – 1º Prêmio Literário e Ensaístico sobre a Condição da Mulher Negra”, publicado em 1998.  O volume é também uma homenagem a escritora Maria Tereza (em memória) e faz também referência às crianças do círculo de convivência das autoras.
Na apresentação, as palavras de Conceição Evaristo “gosto de escrever, na maioria das vezes dói, mas depois do texto escrito é provável apaziguar um pouco a dor, eu digo um pouco... gosto de dizer ainda que a escrita é pra mim o movimento de dança-canto que o meu corpo não executa é  a senha pela qual eu acesso o mundo” resumem o processo. “Este processo foi vivenciado pelas convidadas... somos a continuidade de mulheres negras e precisamos, como toda plantação, replantar e espalhar novas sementes”, pontua Elizandra Souza.
Sobre a obra e o coletivo Mjiba
A antologia teve a organização de Carmen Faustino e Elizandra Souza traz o projeto gráfico de Nina Vieira e ilustrações de capa e homenagem feitas por Renata Felinto. Já as fotografias das autoras foram clicadas por Chaia Dechen.
Durante o lançamento no próximo dia 31, o evento conta também com música de Camila Trindade e discotecagem da DJ Vivian Marques, além de recital com as autoras Carmen Faustino, Chaia Dechen, Debora Marçal, Elidivânia Souza, Elis Regina, Elizandra Souza, Flávia Rosa, Janaina Teodoro, Jenyffer Nascimento, Landy Freitas, Lids Ramos, Lu’z Ribeiro, Luciana Dias, Mel Duarte, Nayla Carvalho, Priscila Preta, Raquel Almeida, Rose Dorea, Tiely Queen e Tula Pilar.
As ações do coletivo Mjiba são inspiradas na palavra, que originária da língua chona, de Zimbabuê, onde as jovens mulheres revolucionárias enfrentaram as tropas britânicas e lutaram pela independência do país. Tocada pela história, a poeta Elizandra Souza publicou, de 2001 a 2005, o fanzine chamado Mjiba e desde 2004 realiza o evento ‘Mjiba em Ação’, quando homenageia a mulher negra próxima a data de 25 de julho.
Neste ano o projeto teve o apoio do programa VAI – Valorização de Iniciativas Culturais.
Serviço
Lançamento ‘Pretextos de Mulheres Negras’
Quando: 31 de outubro das 19h às 22h
Onde: Ação Educativa
Endereço: Rua General Jardim, 660, Vila Buarque, Centro – São Paulo (SP).
Informações: (11) 3151-2333 r. 153 /9825140-24/98651-2546

Fonte: 7 Fronteiras Comunicação 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Kabengele Munanga responde a Demétrio Magnoli

n17_01a_in

Em matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 14 maio de 2009 , intitulada "Monstros tristonhos", o geógrafo Demétrio Magnoli critica e acusa agressivamente as Universidades Federais de Santa Maria (UFSM) e de São Carlos (UFSCAR) e também a mim, Kabengele Munanga, Professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

As duas universidades são criticadas e acusadas por terem, segundo o geógrafo, criado "tribunais raciais" que rejeitam as matrículas de jovens mestiços que optam pelas cotas raciais. No caso da Universidade Federal de Santa Maria, trata-se apenas de Tatiana de Oliveira, cuja matrícula foi cancelada menos de um mês após o início do curso de Pedagogia.. No caso da Universidade Federal de São Carlos, trata-se do estudante Juan Felipe Gomes. O acusador acrescenta que um quarto dos candidatos aprovados na UFSCAR pelo sistema de cotas raciais neste ano de 2009 teve sua matrícula cancelada pelo "tribunal racial" dessa universidade.

A questão que se põe é saber se além desses estudantes, cujas matrículas foram canceladas, outros alunos mestiços ingressaram em cerca de 70 universidades públicas que aderiram à política de cotas. Se a resposta for afirmativa, os que tiveram sua matrícula cancelada constituem casos raros ou excepcionais que mereceriam a atenção não apenas de Demétrio Magnoli, mas também de todas as pessoas que defendem a justiça e a igualdade de tratamento.

Mas por que esses casos raros, que constituem uma exceção e não a regra, foram "injustiçados" pelas comissões de controle formadas nessas universidades para evitar fraudes, comissões que o sociólogo Demétrio rotula de "tribunais raciais"? Por que só eles? Por que não ocorreu o mesmo com os outros mestiços aprovados? Houve realmente injustiça racial ou erro humano na avaliação da identidade física dessas pessoas que foram simplesmente consideradas brancas e não mestiças apesar de sua autodeclaração? Os erros humanos, quando são detectados, devem ser corrigidos pelos próprios humanos, como o foi no caso dos estudantes gêmeos da UnB. As injustiças, flagrantes ou não, devem ser apuradas e julgadas pela própria justiça que, num estado democrático de direito como o Brasil, deverá prevalecer. Acho que os estudantes Tatiana de Oliveira e Juan Felipe Gomes, e tantos outros que o sociólogo menciona sem entretanto nomeá-los, devem procurar um advogado para defender seus direitos se estes tiverem sido efetivamente violados pelos chamados "tribunais raciais". Entendo que o geógrafo Demétrio tenha pena deles, considerando a sua sensibilidade humana.

Se realmente houve erro humano na verificação da identidade desses estudantes, a explicação não está na citação intencionalmente deturpada de algumas linhas extraídas de um texto introdutório de três páginas ao livro de Eneida de Almeida dos Reis, intitulado MULATO: negro-não-negro e/ou branco-não-branco, publicado pela Editora Altara, na Coleção Identidades, São Paulo, em 2002.

Veja como é interessante a estratégia de ataque do geógrafo Demétrio Magnoli. Ele escondeu de seus leitores o título do livro de Eneida de Almeida dos Reis, assim como a casa editora e a data de sua publicação para evitar que possíveis interessados pudessem ter acesso à obra para averiguar direta e pessoalmente o fundamento das acusações. De fato, ele não disse absolutamente nada sobre o conteúdo desse livro, e passa a impressão de ter lido apenas vinte linhas do total de três páginas da introdução, a partir das quais constrói seu ensaio e sua acusação. Com sua inteligência genuína, acho que ele poderia ter feito uma pequena síntese desse livro para seus leitores; se ele o tivesse mesmo lido, entenderia que nada inventei sobre a ambivalência genética do mestiço que não estivesse presente no próprio título da obra "Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco". Desde quando a palavra ambivalência é sinônimo de "monstro tristonho"? Estamos assistindo à invenção, pelo geógrafo, de novos verbetes dos dicionários da língua portuguesa?

O livro de Eneida de Almeida dos Reis resultou de uma pesquisa para dissertação de mestrado defendida na PUC de São Paulo sob a orientação de Antonio da Costa Ciampa, Professor do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia da PUC São Paulo. Ele foi convidado a fazer a apresentação do livro, na qualidade de professor orientador, e eu para escrever a introdução, na qualidade de ex-professor na disciplina "Teorias sobre o racismo e discursos antirracistas", ministrada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da USP. O livro se debruça sobre as peripécias e dificuldades vividas pelos indivíduos mestiços de brancos e negros, pejorativamente chamados mulatos, no processo de construção de sua identidade coletiva e individual, a partir de um estudo de caso clínico. É uma pena que nosso crítico acusador não tenha tido a coragem de apresentar a seus leitores o verdadeiro conteúdo desse livro, resultado de uma meticulosa pesquisa acadêmica, e não da minha fabulação.

Para entender porque essas pessoas mestiças foram consideradas brancas, apesar de terem declarado sua afrodescendência, é preciso voltar ao clássico "Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais", de Oracy Nogueira (São Paulo: T.A. Queiroz, 1985). Se o geógrafo Demétrio tivesse lido esse livro, acredito que teria entendido porque as pessoas brancas que possuem algumas gotas de sangue africano são consideradas pura e simplesmente negras nos Estados Unidos - apesar de exibirem uma fenotipia branca - e brancas no Brasil. Ensina Nogueira que a classificação racial brasileira é de marca ou de aparência, contrariamente à classificação anglo-saxônica que é de origem e se baseia na "pureza" do sangue. Do ponto de vista norteamericano, todos os brasileiros seriam, de acordo com as pesquisas do geneticista Sergio Danilo Pena, considerados negros ou ameríndios, pois todos possuem, em porcentagens variadas, marcadores genéticos africanos e ameríndios, além de europeus, sem dúvida. Quando essas pessoas fenotipicamente brancas e geneticamente mestiças se consideram ou são consideradas brancas no decorrer de suas vidas e assumem, repentinamente, a identidade afrodescendente para se beneficiar da política das cotas raciais, as suspeitas de fraude podem surgir. Creio que foi o que aconteceu com os alunos cujas matrículas foram canceladas na UFSM e na UFSCAR. Se não houver essa vigilância mínima, seria melhor não implementar a política de cotas raciais, porque qualquer brasileiro pode se declarar afrodescendente, partindo do pressuposto de que a África é o berço da humanidade..

Lembremo-nos de que no início dos debates sobre as cotas colocava-se a dificuldade de definir quem é negro no Brasil por causa da mestiçagem. Falsa dificuldade, porque a própria existência da discriminação racial antinegro é prova de que não é impossível identificá-lo. Senão, o policial de Guarulhos não teria assassinado o jovem dentista identificado como negro pelo cidadão branco assaltado, e os zeladores de todos os prédios do Brasil não teriam facilidade para orientar os visitantes negros a usar os elevadores de serviço. Por sua vez, as raras mulheres negras moradoras dos bairros de classe média não seriam constantemente convidadas pelas mulheres brancas, quando se encontram nos elevadores, para trabalhar como domésticas em suas casas. Existem casos duvidosos, como o dos alunos em questão, que mereceriam uma atenção desdobrada para não se cometer erros humanos, mas não houve dúvidas sobre a identidade da maioria dos estudantes negros e mestiços que ingressaram na universidade através das cotas.

Bem, o geógrafo Demétrio Magnoli leva ao extremo a acusação a mim dirigida quando me considera um dos "ícones do projeto da racialização oficial do Brasil". Grave acusação! Infelizmente, ele não deu nomes a outros ícones. Nomeou apenas um deles, cuja obra não leu, ou melhor, demonstra não ter lido. Mas por que só o meu nome mencionado? Porque sou o mais fraco, pelo fato de ser brasileiro naturalizado, ou o mais importante, por ter chegado ao ponto mais alto da carreira acadêmica? Isso parece incomodá-lo bastante! Um negro que chegou lá, ao topo da carreira acadêmica, numa das melhores universidades do país, mas nem por isso esse negro deixou de ser solidário, pois milita intelectualmente para que outros negros, índios e brancos pobres tenham as mesmas oportunidades.

De acordo com as conclusões assinaladas no livro de Eneida de Almeida dos Reis, muitos mestiços têm dificuldades para construir sua identidade por causa da ambivalência (Mulato: negro-não-negro e/ou branco-não-branco), dificuldades que eles teriam superado se tivessem política e ideologicamente assumido uma de suas heranças, ou seja, a sua negritude, que é o ponto nevrálgico de seu sofrimento psicológico. Se o sociólogo acusador tivesse lido este livro e refletido serenamente sobre suas conclusões, ele teria percebido que não alimento nenhum projeto ou plano de ação para suprimir a mestiçagem no Brasil. Isto só pode ser chamado de masturbação ideológica, e não de análise sociológica, nem geográfica! Como seria possível suprimir a mestiçagem, que é um fato fundamental da história da humanidade, desafiando as leis da genética e a vontade dos homens e das mulheres que sempre terão intercursos interraciais? Nem o autor do ensaio sobre as desigualdades das raças humanas, Arthur de Gobineau, chegou a acreditar nessa possibilidade. Se as leis segregacionistas do Sistema Jim Crow no Sul dos Estados Unidos e do Apartheid na África do Sul não conseguiram fazê-lo, os ícones da racialização oficial do Brasil, entre os quais nosso colega me situa, terão esse poder mágico e milagroso que ele lhes atribui?

Entrando na vida privada, gostaria que o sociólogo soubesse que tenho um filho e uma neta mestiços que não são monstros tristonhos como ele pensa, pois são educados para assumir sua negritude e evitar assim os graves problemas psicológicos apontados na obra de Eneida de Almeida Dos Reis, através da indefinida personagem Maria, (ver p.39-100). Como se pode dizer que os mestiços são geneticamente ambivalentes e que política e ideologicamente não podem permanecer nessa ambivalência e ser por isso taxado de charlatão acadêmico? Creio que se trata apenas de uma reflexão que decorre das conclusões do próprio livro e que de per si não constituiria nenhum charlatanismo. Não seria um contra-senso e um grave insulto à USP que esse "charlatão acadêmico" tenha chegado ao topo da carreira acadêmica? E que tenha orientado dezenas de doutores hoje professores nas grandes universidades brasileiras, como a USP, UNICAMP, UNESP, UFMG, UFF, UFRJ, Universidade Federal de Goiás, Universidade Federal de São Luiz do Maranhão, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Candido Mendes, PUC de Campinas, etc. Creio que, salvo o geógrafo Demétrio, os que me conhecem através de textos que escrevi, de minhas aulas e de minhas participações nos debates sociais e intelectuais no país e no exterior, não me atribuiriam esse triste retrato.

Disse ainda o geógrafo Demétrio que "do ponto mais alto da carreira universitária, o antropólogo professa a crença do racismo científico, velha de mais de um século, na existência biológica de raças humanas, vestindo-a curiosamente numa linguagem decalcada da ciência genética". Sinceramente, não entendo como Demétrio conseguiu tirar tanta água das pedras. Das 20 linhas extraídas, de maneira deturpada, de um texto de três páginas de introdução, ele conseguiu dizer coisas horríveis, como se tivesse lido tudo que escrevi durante minha trajetória intelectual sobre o racismo antinegro. A colonização da África, contrariamente às demais colonizações conhecidas na história da humanidade, foi justificada e legitimada por um corpus teórico-científico baseado nas idéias evolucionistas e racialistas produzidas na modernidade ocidental. Teria algum sentido para mim, que milito contra o racismo, professar o racismo científico para lutar contra o racismo à brasileira? Acho que nosso geógrafo quer me transformar num demente que não sou. As pessoas que leram seu texto no jornal O Estado de S. Paulo podem pensar que eu sou esse negro ex-colonizado que professa as mesmas idéias do racismo científico que postulou a inferioridade e a desumanidade dos africanos, incluída a dele mesmo. Como entender que meus alunos de Pós-graduação, a quem ensino há vinte anos "As teorias sobre o racismo e discursos antirracistas", uma disciplina freqüentada por alunos da USP, de outras universidades e outros estados, têm a coragem de ocupar um semestre inteiro para escutar profissões de fé em favor do racismo científico?

Se o geógrafo Demétrio quer saber mais sobre mim, ingressei na Faculdade em 1964, aos vinte e dois anos de idade. Tive aulas de Antropologia Física com um dos melhores biólogos e geneticistas franceses, Jean Hiernaux. Uma das primeiras coisas que ele me ensinou era que a raça não existe biologicamente. Através de suas aulas, li François Jacob, Nobel de Fisiologia (1965) e um dos primeiros franceses a decretar que a raça pura não existe biologicamente; e J.Ruffie, Albert Jacquard e tantos outros geneticistas antirracistas dessa época. Portanto, sei muito bem, e bem antes de Demétrio que o racismo não pode ter mais sustentação científica com base na noção das raças superiores e inferiores, que não existem biologicamente. Sei muito bem que o conteúdo da raça enquanto construção é social e político. Ou seja, a realidade da raça é social e política porque tivemos na história da humanidade povos e milhões de seres humanos que foram mortos e dominados com justificativa nas pretensas diferenças biológicas. Temos em nosso cotidiano, pessoas discriminadas em diversos setores da vida nacional porque apresentam cor da pele diferente. Nosso sistema educativo é eurocêntrico e nossos livros didáticos são repletos de preconceitos por causa das diferenças. Não sou um novato que ingressou ontem na universidade brasileira. No Brasil, fui introduzido ao pensamento racial nacional por grandes mestres, como João Baptista Borges Pereira, que foi meu orientador no doutoramento, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Oracy Nogueira, entre outros. Não sei onde estava Demétrio nessa época e em que ano ele descobriu que a raça não existe. Acho um exagero querer me dar lição de moral sobre coisas que eu conheço muito antes dele. Isto não quer dizer que ele não possa me ensinar temas pertinentes à geografia, como por exemplo, o que se pode ler em seu livro sobre a África do Sul - "Capitalismo e Apartheid", publicado pela Editora Contexto, São Paulo, 1998, que oferece algumas informações interessantes sobre a história do sistema do apartheid. Esse livro faz parte da bibliografia recomendada na disciplina ministrada na Graduação, não obstante algumas incorreções históricas nele contidas.

Um dos maiores problemas da nossa sociedade é o racismo, que, desde o fim do século passado, é construído com base em essencializações sócio-culturais e históricas, e não mais necessariamente com base na variante biológica ou na raça. Não se luta contra o racismo apenas com retórica e leis repressivas, não somente com políticas macrossociais ou universalistas, mas também, e, sobretudo, com políticas focadas ou específicas em benefício das vítimas do racismo numa sociedade onde este é ainda vivo. É neste sentido que faço parte do bloco dos intelectuais brancos e negros que defendem as políticas de ação afirmativa e de cotas para o acesso ao ensino superior e universitário. Na cabeça e no pensamento de Demétrio Magnoli, todos os que fazem parte desse bloco querem racializar o Brasil, e isso faz parte de um projeto e de um plano de ação. Que loucura!

Defendemos as cotas em busca da igualdade entre todos os brasileiros, brancos, índios e negros, como medidas corretivas às perdas acumuladas durante gerações e como políticas de inclusão numa sociedade onde as práticas racistas cotidianas presentes no sistema educativo e nas instituições aprofundam cada vez mais a fratura social. Cerca de 70 universidades públicas estaduais e federais que aderiram à política de cotas sem esperar a Lei ainda em tramitação no Senado entenderam a importância e a urgência dessa política. Acontece que essas universidades não são dirigidas por negros, mas por compatriotas brancos que entendem que não se trata do problema do negro, mas sim do problema da sociedade, do seu problema como cidadão brasileiro. Podemos dizer que todos esses brancos no comando das universidades querem também racializar o Brasil, suprimir os mestiços e incentivar os conflitos raciais? Afinal, podemos localizar os linchamentos e massacres raciais nos Estados onde se encontram as sedes das universidades que aderiram às cotas? Tudo não passa de fabulações dos que gostariam de manter o status quo e que inventam argumentos que horrorizam a sociedade. Quem está ganhando com as cotas? Apenas os alunos negros ou a sociedade como um todo? Quem ingressou através das cotas? Apenas os alunos negros e indígenas ou entraram também estudantes brancos da escola pública?

Concluindo, penso que existe um debate na sociedade que envolve pensamentos, filosofias e representações do mundo, ideologias e formações diferentes. Esse pluralismo é socialmente saudável, na medida em que pode contribuir para a conscientização de seus membros sobre seus problemas e auxiliar a quem de direito, o legislador e o executivo, na tomada de decisões esclarecidas. Este debate se resume a duas abordagens dualistas. A primeira compreende todos aqueles que se inscrevem na ótica essencialista, segundo a qual a humanidade é uma natureza ou uma essência e como tal possui uma identidade genérica que faz de todo ser humano um animal racional diferente dos demais animais. Eles afirmam que existe uma natureza comum a todos os seres humanos em virtude da qual todos têm os mesmos direitos, independentemente de suas diferenças de idade, sexo, raça, etnias, cultura, religião, etc. Trata-se de uma defesa clara do universalismo ou do humanismo abstrato, concebido como democrático. Considerando a categoria raça como uma ficção, eles advogam o abandono deste conceito e sua substituição pelos conceitos mais cômodos, como o de etnia. De fato, eles se opõem ao reconhecimento público das diferenças entre brancos e não brancos. Aqui temos um antirracismo de igualdade que defende os argumentos opostos ao antirracismo de diferença. As melhores políticas públicas, capazes de resolver as mazelas e as desigualdades da sociedade, deveriam ser somente macro-sociais ou universalistas. Qualquer proposta de ação afirmativa vinda do Estado que introduza as diferenças para lutar contra as desigualdades, é considerada, nessa abordagem, como um reconhecimento oficial das raças e, conseqüentemente, como uma racialização do Brasil, cuja característica dominante é a mestiçagem. Ou, em outras palavras, as políticas de reconhecimento das diferenças poderão incentivar os conflitos raciais que, segundo dizem, nunca existiram. Assim sendo, a política de cotas é uma ameaça à mistura racial, ao ideal da paz consolidada pelo mito de democracia racial, etc. Eu pergunto se alguém pode se tornar racista pelo simples fato de assumir sua branquitude, amarelitude ou negritude? Como se identifica então o geógrafo Demétrio: branco, negro, mestiço ou Demétrio indefinido? Pelo que me consta, ele se identifica como branco, mas não aceita que os negros e seus descendentes mestiços se identifiquem como tais e lutem por seus direitos num país onde são as grandes vítimas do racismo. A menos que ele negue a existência das práticas racistas no cotidiano brasileiro, e as diferenças de cor, sexo, classe e religiões que exigiriam políticas diferenciadas.

A segunda abordagem reúne todos aqueles que se inscrevem na postura nominalista ou construcionista, ou seja, os que se contrapõem ao humanismo abstrato e ao universalismo, rejeitando uma única visão do mundo em que não se integram as diferenças. Eles entendem o racismo como produção do imaginário destinado a funcionar como uma realidade a partir de uma dupla visão do outro diferente, isto é, do seu corpo mistificado e de sua cultura também mistificada. O outro existe primeiramente por seu corpo antes de se tornar uma realidade social.

Neste sentido, se a raça não existe biologicamente, histórica e socialmente ela é dada, pois no passado e no presente ela produz e produziu vítimas. Apesar do racismo não ter mais fundamento científico, tal como no século XIX, e não se amparar hoje em nenhuma legitimidade racional, essa realidade social da raça que continua a passar pelos corpos das pessoas não pode ser ignorada.

Grosso modo, eis as duas abordagens essenciais que dividem intelectuais, estudiosos, midiáticos, ativistas e políticos, não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Ambas produzem lógicas e argumentos inteligíveis e coerentes, numa visão que eu considero maniqueísta. Poderão as duas abordagens se cruzar em algum ponto em vez de se manter indefinidamente paralelas? Essa posição maniqueísta reflete a própria estrutura opressora do racismo, na medida em que os cidadãos se sentem forçados a escolher a todo momento entre a negação e a afirmação da diferença. A melhor abordagem seria aquela que combina a aceitação da identidade humana genérica com a aceitação da identidade da diferença. Para ser um cidadão do mundo, é preciso ser, antes de mais nada, um cidadão de algum lugar, observou Milton Santos num de seus textos. A cegueira para com a cor é uma estratégia falha para se lidar com a luta antirracista, pois não permite a autodefinição dos oprimidos e institui os valores do grupo dominante e, conseqüentemente, ignora a realidade da discriminação cotidiana. A estratégia que obriga a tornar as diferenças salientes em todas as circunstâncias obriga a negar as semelhanças e impõe expectativas restringentes.

Se a questão fundamental é como combinar a semelhança com a diferença para podermos viver harmoniosamente, sendo iguais e diferentes, por que não podemos também combinar as políticas universalistas com as políticas diferencialistas? Diante do abismo em matéria de educação superior, entre brancos e negros, brancos e índios, e levando-se em conta outros indicadores socioeconômicos provenientes dos estudos estatísticos do IBGE e do IPEA, os demais índices do Desenvolvimento Humano provenientes dos estudos do PNUD, as políticas de ação afirmativa se impõem com urgência, sem que se abra mão das políticas macrossociais.

Não conheço nenhum defensor das cotas que se oponha à melhoria do ensino público. Pelo contrário, os que criticam as cotas e as políticas diferencialistas se opõem categoricamente a qualquer política de diferença por considerá-las a favor da racialização do Brasil. As leis para a regularização dos territórios e das terras das comunidades quilombolas, de acordo com o artigo 68 da Constituição, as leis 10639/03 e 11645/08 que tornam obrigatório o ensino da história da África, do negro no Brasil e dos povos indígenas; as políticas de saúde para doenças específicas da população negra como a anemia falciforme, etc., tudo isso é considerado como racialização do Brasil, e virou motivo de piada.

Convido o geógrafo Demétrio Magnoli a ler o que escrevi sobre o negro no Brasil antes de se lançar desesperadamente em críticas insensatas e graves acusações. Se porventura ele identificar algum traço de defesa do racismo científico em meus textos, se encontrar algum projeto ou plano de ação para suprimir os mestiços e racializar o Brasil, já que ele me acusa de ícone desse projeto, ele poderia me processar na justiça brasileira, em vez de inventar fábulas que não condizem com minha tradicionalmente pública e costumeira postura.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Personalidade negra - Solano Trindade



Sou Negro

Sou negro meus
avós foram queimados pelo sol da África
minh`alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gongôs e agogôs
Contaram-me que meus avós
vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor de engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu
Depois meu avô brigou como um danado
nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu
o pau comeu
Não foi um pai João
humilde e manso
Mesmo vovó
não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês
ela se destacou
Na minh`alma ficou
o samba
o batuque
o bamboleio
e o desejo de libertação



“Solano Trindade nasceu no Recife, em 1908, e morreu em São Paulo, em 1974. Foi poeta, ativista político e homem de teatro. Participou dos históricos congressos afro-brasileiros realizados em 1934 e em 1937, respectivamente, em Recife e em Salvador.

Criador da Frente Negra de Pernambuco e do Centro de Cultura Afro-Brasileira, estruturou em Pelotas, RS, um grupo de arte popular já existente, transformando-o, em 1943, no Teatro Popular Brasileiro. No Rio de Janeiro, participou da fundação do TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO. Ao mesmo tempo, destacou-se como grande nome da poesia de temática e vivência negras no Brasil.

Além disso, fundou em Embu, SP, um importante centro de arte popular. Segundo Souza, 2004, sua produção, elogiada por intelectuais estabelecidos, como Otto Maria Carpeaux, Roger Bastide e Sérgio Milliet, reconfigurou a história e a memória dos afro-brasileiros.

Recuperando eventos e trajetórias que negam os estereótipos de passividade e submissão, esforçou-se em contribuir, com sua poesia, para a difusão de fatos históricos ou já esquecidos, ou mostrados através de outra perspectiva nos livros de História do Brasil.

Assim, escreveu: “Eu canto Palmares/ sem inveja de Virgílio, de Homero/ e de Camões ...” Em 1949, teria pronunciado, na sede carioca do Instituto dos Arquitetos do Brasil, conforme anúncio no jornal Quilombo, conferência sobre poesia negra no Brasil, na qual abordaria o problema dos ‘brancos que fazem poesia negra’ e dos poetas negros não comprometidos nem identificados com esse tipo de criação poética.

Obras publicadas:

Poemas d’uma vida simples (1944)
Seis tempos de poesia (1958)
Cantares ao meu povo (1961), com 2ª edição aumentada em 1981
Além de 20 poemas in: Veredas, revista de letras da Universidade de São Paulo, nº 1, setembro de 1979.”

Fonte: Dicionário Literário Afro-Brasileiro - Nei Lopes

Instituto cobra cumprimento de lei para educação étnico-racial no STF

cultura_afro

Após completar uma década de aprovação, a Lei nº 10.639 não conseguiu garantir que o ensino de história e cultura afro-brasileira faça parte dos currículos da educação básica e da formação dos professores do País. O descumprimento das exigências da lei, agora, se tornará tema de ação a ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

O Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) vai protocolar um mandado de segurança no tribunal na manhã desta sexta-feira. Na ação, os representantes do instituto pedem suspensão da abertura de novos cursos de graduação e licenciatura destinados a formar profissionais em educação nas instituições públicas; suspensão de repasse de recursos financeiros reservados aos programas de formação para esse tema e mudanças nos critérios de avaliação dos cursos.

Entre os muitos alvos da ação, estão a presidenta Dilma Rousseff; o ministro, o secretário-executivo e o de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação; o presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE); o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep); o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); o presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE); o ministro da Controladoria-Geral da União, o procurador federal dos Direitos do Cidadão; reitores de 44 universidades federais e o advogado-Geral da União.

No papel: Só 11% da verba de projetos educacionais para igualdade racial foi usada

“Estamos cobrando judicialmente tudo o que eles não fizeram antes e encaminhamos a ação para o Supremo Tribunal Federal por conta de um ato omissivo da presidenta da República. Todo o trabalho de pesquisa feito pelo Iara mostra que a implementação da lei é um faz de conta”, afirma Humberto Adami, advogado que representa o instituto.

O advogado explica que o Iara fez um levantamento sobre a situação da aplicação da lei nas escolas e universidades. Há projetos isolados sobre o ensino da história e cultura africanas e afro-brasileiras nas escolas; as universidades não têm disciplinas específicas para tratar o tema na formação dos professores – quando há, não é obrigatória – e as verbas destinadas ao financiamento dos programas da área são pouco utilizadas.

Pedidos “esquecidos”

Antes de decidir entrar com a ação no STF, o instituto pediu providências administrativas ao Ministério da Educação, em novembro do ano passado, “propondo representação por descumprimento da obrigatoriedade do estudo da história da África e dos afro-brasileiros, em relação aos órgãos responsáveis pela formação inicial, continuada, controle, fiscalização e avaliação das Políticas Públicas na estrutura da Educação”.

Sem resposta após 60 dias, o mesmo pedido foi feito à presidenta Dilma Rousseff. Adami diz que, baseado no descumprimento da lei, os autores da ação pediam o mesmo que consta agora no processo judicial: suspensão da abertura de novos cursos de graduação que formam professores; reavaliação dos cursos para diminuir os conceitos de qualidade das instituições que não oferecem a disciplina; suspensão de repasse dos recursos financeiros aos programas de formação e punir os responsáveis por não fiscalizar o cumprimento da lei.

Sete anos de cotas: UnB já formou mais de 1 mil universitários pelas cotas

“Com a omissão da presidenta, vamos propor essa ação. Houve muita verba pública destinada à implementação dessa lei. Foram realizados cursinhos, seminários, festas. Mas, de fato, não se modificou a resistência ao conhecimento da cultura afro-brasileira e do estudo da história dos africanos no Brasil”, afirma ele.

Segundo Adami, a lei provocou mudanças nas escolas – mesmo que não tão numerosas – mas não nas universidades. “É difícil cobrar da escola, que muitas vezes consegue fazer medidas pontuais e que dependem do esforço de muitas pessoas, se as universidades que formam estão do mesmo jeito”, avalia.

Para negros: STF julga constitucionais as cotas raciais em universidades

Não existe prazo para que os ministros do STF julguem a ação. Mas, para Adami, discutir o tema na Suprema Corte será de grande valia. Na opinião do advogado, uma geração de jovens está sendo prejudicada com a falta do conteúdo debatida nas salas de aulas da educação básica e das universidades.
Fonte: Último Segundo/ABPN

V CISP - ENCONTRO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA AFRICANA (UFBA)



Fonte: Correio nago

OEA debaterá tratamento dado por Brasil a haitianos

oea1

As condições precárias dos imigrantes haitianos no abrigo de Brasileia, no Acre, serão discutidas em audiência da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA em Washington, na quinta-feira que vem.
Por: PATRÍCIA CAMPOS MELLO
A partir de um pedido da ONG Conectas e da Pastoral do Migrante, os integrantes da comissão irão debater a condição dos cerca de 800 haitianos que vivem no abrigo e as dificuldades enfrentadas por eles na rota ilegal de imigração em diversos países e na obtenção de vistos humanitários junto ao Brasil.
"Estivemos no abrigo em agosto e havia 800 pessoas em um local projetado para abrigar 200, grande parte com diarreia, dividindo oito latrinas, dez chuveiros e nenhum sabonete, num calor de 40ºC", diz João Paulo Charleaux, coordenador de comunicação da Conectas. "Estão torturando as pessoas para desencorajar a vinda."
A situação dos haitianos, assim, poderá gerar um constrangimento internacional para o Brasil.
O secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, nega que as condições sejam precárias. "Situação grave é a dos imigrantes do norte da África, que morrem afogados tentando chegar na Europa e, quando conseguem chegar, são tratados como criminosos", disse.
Segundo ele, o Acre já gastou R$ 3 milhões com os imigrantes, e a União, outros R$ 3 milhões. "Estamos fazendo o que é possível; é um acolhimento austero, mas digno." Ele admite que há pouca disposição para melhorar o abrigo."Tenho certeza de que, se elevarmos o padrão, isso vai ser um chamariz para os imigrantes haitianos, vai consolidar esta rota ilegal, e não queremos isso", disse. "Não queremos que o Acre vire corredor de criminalidade."
Desde o terremoto de 2010, que agravou a situação humanitária no Haiti, já entraram no Brasil cerca de 20 mil cidadãos daquele país. Pelo abrigo de Brasileia, já passaram 11 mil vindos de forma irregular. Outros cerca de 3.500 obtiveram visto humanitário. Cerca de 5.800 obtiveram aval de residência permanente.
O governo brasileiro criou um visto humanitário para os haitianos em 2012 e, depois, eliminou a cota máxima de cem vistos por mês e a exigência de um documento obtido na embaixada brasileira em Porto Príncipe. Agora é possível obter o visto em outras embaixadas brasileiras.
Mas, segundo a Conectas, a imigração por vias irregulares continua por haver dificuldades.
Os haitianos chegam a pagar US$ 5.000 (R$ 11 mil) a "coiotes" (atravessadores). A rota rumo ao Brasil mais usada começa na República Dominicana, passa por Panamá e Equador e, depois, via terrestre, por Peru e Bolívia.
Procurado, o Ministério da Justiça não se pronunciou.
Após a audiência, a comissão pode debater se o caso merece atenção.
A audiência é regional, com representantes de todos os países envolvidos. O secretário do Acre disse que irá.
"Não há hostilidade dos acrianos em relação aos haitianos, mas também não há mais solidariedade."
Fonte: geledes

domingo, 27 de outubro de 2013

Alguma vez um negro inventou alguma coisa?





Londres.- A resposta inevitável deve ser não, nunca, sempre e quando você acredite na ‘história oficial'. No entanto, os fatos contam uma história diferente.
Um homem negro, por exemplo, inventou esses semáforos sem os que o mundo não pode andar e o pai da medicina não foi Hipócrates, mas Imotep, um multifacético gênio negro que viveu dois mil anos antes do médico grego. É que os europeus ainda se negam a reconhecer que o mundo não estava à espera na escuridão para que levassem a luz. A história da África já era antiga quando a Europa começou a andar.
Um mestre de ensino secundário da Gana, que visitou recentemente Londres, não poda acreditar que um homem negro tivesse inventado os semáforos. "O que?!", perguntou com absoluta incredulidade. "Como pode um homem negro ter inventado os semáforos?!"
Bem, você pode imaginar a classe de educação que este mestre de ensino secundário ensinou e continua a ensinar a seus estudantes, não por malícia, mas por pura ignorância. Que tipo de educação recebem os africanos? Todos pensam, igual que este professor ganês, que os negros ‘não podem' inventar nada, mas que compram as invenções dos outros.
Um novo livro de texto, "Cientistas e inventores negros", publicado recentemente em Londres por BIS Publications, descarta totalmente a idéia que as pessoas negras não têm criatividade. Escrito em conjunto por Ava Henry y Michael Williams (ambos diretores da filial de Londres da BIS Publications), o livro está pensado para ser usado por crianças de entre 7 e 16 anos.
"Nós esperamos que os pais e mestres ajudem as crianças nesta tarefa de conhecimento e descoberta", dizem os autores. As pessoas negras estão encontrando cada vez mais difícil entender por que, inclusive na era da abertura e liberalismo caracterizada pela Internet, continuam a negar o reconhecimento devido a inventores e cientistas negros.
E isto acontece apesar de que há documentação que prova que várias invenções importantes para o mundo têm sido obra da criatividade dos negros.

No passado

Escrevendo sobre as invenções e as descobertas africanas, Count C. Volney, o renomado historiador francês, escreveu: "Pessoas agora esquecidas descobriram, enquanto outros eram ainda bárbaros, os elementos das artes e da ciência.
Uma raça de homens agora rejeitada pela sociedade por sua pele escura e seu cabelo enroscado cimentou no estudo das leis da natureza esses sistemas civis e religiosos que ainda governam o universo".
Ao que o Dr. John Henrik Clarke, um historiador afro-americano, acrescenta: "Primeiro, as distorções devem ser admitidas. O fato lamentável é que a maioria do que nós chamamos agora de história mundial é só a história do primeiro e segundo florescimento da Europa. Os europeus ainda não reconhecem que o mundo não estava à espera deles na escuridão para que trouxessem luz. A história da África já era antiga quando a Europa nasceu".
O Dr. Clarke é apoiado pelo estudioso e explorador alemão Leo Frobenius, que escreveu em sua principal obra, Und Afrika Sprach, publicada em 1910: "Nessa porção do globo, o anglo-saxão Henry Morton Stanley lhes deu nome de ‘escuros' e ‘escuríssimos'...
Mas antes das invasões estrangeiras, os africanos não viviam em grupos pequenos, mas em comunidades de 20 mil ou 30 mil habitantes, cujas estradas estavam escoltadas por esplêndidas avenidas de palmeiras, plantadas a intervalos regulares e de uma maneira ordenada".
O trabalho de Frobenius inclusive foi melhorado por Thomas Hodgkins, um historiador britânico que escreveu depois: "Quando as pessoas falam, como ainda algumas vezes o fazem, sobre a África do sul do Saara como um continente sem história, o que eles realmente dizem é que essa porção da África tem uma história da que nós, os ocidentais, somos deploravelmente ignorantes...
Um deve admitir que ainda somos vítimas de uma mentalidade colonial: encontramos difícil de compreender que os africanos possuíssem sua própria civilização durante muitos séculos antes de que os europeus, começando pelos portugueses ao final do s. XV, concebessem a idéia de tentar vender-lhes a nossa".
A maioria dos historiadores aceita agora que os antigos impérios africanos da Gana, Mali e Songhay* tinham desenvolvido sociedade científicas.
Em Uma História do Desenvolvimento Intelectual da Europa, publicada em 1864, J. W. Draper escreveu sobre o desenvolvimento social e artístico imensamente superior dos mouros (os negros), que bem poderiam ter visto com arrogante desprezo as moradas dos governantes da Alemanha, França e Inglaterra, que naquele tempo apenas eram melhores do que seus estábulos".
Recentemente, o jornalista britânico de TV Jon Snow, que se fez de um nome como jornalista na África na década de 1970, ficou assombrado ao encontrar numa biblioteca em Tombuctu (Mali), pilhas de livros fechados "faz mais de 500 anos" (suas próprias palavras em câmera).
"Nós (os europeus) gostamos de pensar que foi nossa cultura a que levou os livros a África, mas aqui em minhas mãos está a evidência que demonstra o contrário. Eles nos deram os livros", disse Snow, enquanto revisava um deles. Os documentos demonstram que as primeiras universidades da Europa foram fundadas muito depois da Universidade de Sankore, em Tombuctu, cujos professores eram todos africanos.
O Antigo Egito
Até no antigo Egito, que era essencialmente um império negro cuja grande glória tem se atribuído com malícia aos árabes, os negros foram os que iniciaram o caminho das ciências.
Sir J. G. Wilkinson admitiu em seu livro Os Antigos Egípcios (1854) "que os antigos egípcios possuíram um considerável conhecimento da química e do uso do óxidos metálicos, como ficou evidenciado nas cores aplicadas a suas peças de vidro e porcelana; e eles, inclusive, estavam familiarizados com os efeitos dos ácidos sobre as cores eram capazes de lograr matizes nas tinturas das telas utilizando métodos semelhantes aos que nós empregamos em nossos trabalhos sobre o algodão".
Em seu livro Antigo Egito: a Luz do Mundo (1907), Gerald Massy admitiu que Imotep, o multifacético gênio negro, foi o verdadeiro "pai da medicina" e não, como se sustenta de forma errada, o médico grego Hipócrates. Imotep era um antigo egípcio que viveu aproximadamente em 2300 antes de Cristo.
Os documentos mostram que tanto a Grécia quanto a Roma tomaram seus conhecimentos de medicina dele. Ele era venerado em Roma como o "Príncipe da Paz na forma de um homem negro". Também foi um arquiteto adiantado a seu tempo e serviu como primeiro ministro do rei Zoser.
Hipócrates, o chamado ‘pai da medicina', viveu dois mil anos depois de Imotep. No entanto, ainda o juramento tomado aos médicos da era moderna observa um código de ética médica baseado em Hipócrates e não em Imotep.
Esta rejeição ou falta de reconhecimento das invenções e descobertas dos negros a razão pela que pessoas como o professor ganês podem dizer que os negros não inventaram nada. Invenções tais como o papel, a elaboração de sapatos, as bebidas alcoólicas, os cosméticos, as bibliotecas, a arquitetura e muitos mais têm sido obra de pessoas negras muito antes do florescimento da Europa.
Arthur Weigall (Personalidades da Antiguidade, publicado em 1928) admite que Akenaton, o monarca negro do antigo Egito, foi a primeira pessoa em predicar a crença num Deus todo-poderoso, todo amor.
"Nos primeiros anos de seu reinado -escreve Weigall- quando ainda era um rapaz, Akenaton promulgou uma doutrina que estava em seu aspecto exterior um culto dedooder invisível e intangível, chamado Aton.
Fazia-se visível para a humanidade na luz do sul, geradora de vida, mas em seu significado mais profundo, simplesmente era a crença num único Deus, todo-poderoso, pai de todas as criaturas viventes e por quem todas as coisas tinham sua razão de ser".
Sobre Akenaton, J. A. Rogers ("Os grandes homens de cor do mundo") escreveu: "Séculos antes do rei Davi, ele escreveu salmos tão bonitos como aqueles do monarca judeu. TTrezentosanos antes de Mohamed (chamado em Ocidente Maomé), ele ensinou a doutrina de um só Deus. Três mil anos antes de Darwin, ele se deu conta da unidade que atravessa todas as coisas vivas".
Quando Akenaton predicava sua crença num só Deus todo-poderoso, era considerado um herético. Assim, a crença moderna num Deus onipotente, tão cara para cristão, judeus e muçulmanos, na verdade é uma consequência do pensamento de Akenaton, cujas origens são muito anteriores à era judaico-cristã.
Na era romana, um homem negro, agora esquecido, Tiro (nascido para o 103 antes de Cristo) foi o inventor da escrita taquigráfica. Vários historiadores têm lembrado de Tiro como o secretário de Marco Túlio Cicerão. Cicerão amava ditar suas cartas a Tiro, que as escrevia em método taquigráfico. Quantos séculos passaram desde o ano 63 antes de Cristo até 1837 de nossa era, quando o inglês Isaac Pitman ‘inventou' sua taquigrafia?
Outro historiador, Charles Rollin, conta que os egípcios, a raiz das inundações provocadas pelo Nilo, estavam obrigadas a medir frequentemente seu país e para esse propósito idealizaram um método que deu origem à geometria. Esse método passou do Egito para a Grécia, e se crê que foi Thales de Mileto quem o levou numa de suas viagens.
E se algo faltava para assombro do mestre ganês, Esopo, que viveu no século 6 antes de Cristo, também era negro. Segundo Planudes o Grande, no século 14, um frei a quem devemos a forma atual das fábulas de Esopo, o descreveu "com lábios grossos e pele negra". A influência de Esopo no pensamento e a moral ocidental é profunda. Platão, Sócrates, Aristófanes, Shakespeare, La Fontaine e outros grandes pensadores se inspiraram em sua sabedoria.
A Era Moderna
Sem dúvida, a invenção de um negro mais visível da era moderna são os semáforos. Garret Morgan, um afro-americano (nascido em Kentucky, EUA, em 4 de março de 1877), inventou o sistema automático de sinais de trânsito em 1923, e depois vendeu os direitos à corporação General Electric por 40 mil dólares.
Morgan, o sétimo de 11 irmãos, só tinham uma educação escolar elementar, mas era extremadamente inteligente. Começou sua vida de trabalhador como técnico de máquinas de coser e rapidamente inventou um sistema para aperfeiçoar as máquinas, que vendeu em 1901 em menos de 50 dólares.
Morgan também inventou a primeira máscara de gás em 1912, pela que obteve uma patente do governo norte-americano. Seguidamente criou uma companhia para fabricar as máscaras. O negócio inicialmente foi bom, sobretudo durante a I Guerra Mundial, mas quando seus clientes descobriram que ele era negro, as vendagens começaram a diminuir.
Morgan tentou enganar seus clientes racistas inventando um creme que se aplicava para alisar o cabelo e passar por índio da reserva Walpole, no Canadá. Morreu em 1963, aos 86 anos. Outro dos grandes inventores negros foi Elijah McCoy. Tinha nascido em 2 de maio de 1843 em Colchester, Ontario, Canadá. Seus pais tinham escapado da escravidão da América do Sul e foram morar no Canadá com suas 12 crianças.
Sendo jovem Elijah foi bom para a mecânica. Depois de estudar em Edimburgo (Escócia), regressou ao Canadá, mas não podia encontrar trabalho. Terminou nos Estados Unidos, onde conseguiu emprego como operário ferroviário em Detroit, Michigan. Era o encarregado de engordurar as maquinarias.
McCoy decidiu desenvolver um sistema para engordurar que não fizesse parar o funcionamento das máquinas e em 1872 inventou um sistema de gotejamento para máquinas de vapor que permitiu engordurá-las durante a marcha.
Em 1929, quando McCoy morreu, tinha mais de 50 patentes a seu nome, inclusive, uma mesa de ferro e um rociador de grama. Seu dispositivo para engordurar as máquinas de vapor cimentou a revolução industrial do século 20.
De volta a casa na África, o cientista ganês, Raphael E. Armattoe (1913-1953), candidato ao Prêmio Nobel de Medicina em 1948, encontrou a cura para a doença do verme da água da Guiné com sua droga Abochi na década de 1940. Ele também fez uma extensa investigação sobre as diferentes espécies de ervas e raízes africanas de uso medicinal.
Os inventores negros do EUA
Só nos Estados Unidos, milhares de inventores e cientistas negros têm contribuído enormemente ao desenvolvimento nacional, além do mundial, sem nenhum reconhecimento. Esta é uma pequena mostra de inventores negros dos Estados Unidos na era moderna:
Em medicina, Charles R. Drew foi o pioneiro no desenvolvimento do banco de sangue. Em 1940, seu trabalho com o plasma e armazenagem abriu o caminho para o desenvolvimento dos bancos de sangue nos Estados Unidos. Em 1935, o Dr. William Hinton publicou o primeiro manual médico escrito por um afro-americano, baseado em sua investigação da sífilis.
O físico Lloyd Quarteman jogou um papel transcendental na equipe científica norte-americana que desenvolveu o primeiro reator nuclear na década de 1930 e iniciou a era atômica no mundo. Outro físico, Roberto E. Shurney, desenvolveu os pneumáticos de malha de arame para o robô da Apolo XV que tocou a superfície da lua em 1972.
George Washington Carver, um gênio agrícola, desenvolveu novos métodos de cultivo que salvaram a economia do sul dos Estados Unidos na década de 1920. Em 1927 fez imensas melhoras ao processo de fabricação de pinturas e colorantes. Também investigou ampliamente a terra e as doenças das plantas e desenvolveu 325 produtos derivados do amendoim, entre eles tintas, alimentos e produtos cosméticos.
Jan Ernst Matzeliger (1852-1889) inventou a ‘máquina sem fim' que impactou grandemente na indústria dos sapatos do mundo. Obteve uma patente do governo em 1883. após vendeu os direitos à firma Consolidated Hand Method Lasting Machine Co. Quando morreu, em 1889, tinha outras 37 patentes a seu nome. Foi honrado pelos Estados Unidos em 1992 com um selo de correios com seu retrato.
Dr. Ernest E. Just (1883-1941) estudou a fertilização e a estrutura celular do ovo antes da I Guerra Mundial. Ele deu ao mundo a primeira visão da arquitetura humana ao explicar como trabalham as células.
Granville T. Woods (1856-1910) inventou um novo transmissor do telefone que revolucionou a qualidade e distância à que podia viajar o som. A companhia de telefones Bell comprou a patente de Woods, cujo trabalho mais memorável foi a melhora que logrou para os trens.
Primeiramente, ele inventou o "sistema de telegrafia ferroviário", que permitiu enviar mensagens de trem a trem, mas em 1888 melhorou seu invento com um sistema que permitiu eletrificar os trens. Mais? A lista é inesgotável. Vejamos alguns outros inventores negros.
Richard Spikes desenvolveu a caixa de câmbios automáticos para os automóveis em 1932. George Carruthers, um astro-físico da NASA, desenvolveu a câmera remota ultravioleta que se usou na missão da Apolo XVI e que permitiu ao mundo ter uma visão das crateras da lua na década de 1960. Sua combinação de telescópio e câmera é ainda usada nas missões dos transbordadores.
Em 1986, a Dra. Patricia E. Bath, uma oftalmologista, inventou um dispositivo laser que tem se usado desde então na cirurgia de cataratas.
Em 1989 o Dr. Philip Emeagwali, um imigrante nigeriano nos Estados Unidos, realizou o cálculo de computador mais rápido do mundo, uma assombrosa operação de 3,1 bilhões de cálculos por segundo. Seu aporte tem mudado a maneira de estudar o aquecimento global e as condições do tempo e também tem ajudado a determinar como o petróleo flui sob a terra.
Dr. Daniel Hale Williams foi primeiro em realizar, em 1893, uma operação de coração num homem. O químico Percy L. Julian, "um dos maiores cientistas do século 20", segundo a revista Ébano, abriu o caminho para o desenvolvimento do tratamento do mal de Alzheimer e do glaucoma com seus experimentos em 1933.
"Sua investigação na síntese da fisostigmina, uma droga para tratar o glaucoma, determinou que melhora a memória dos pacientes do mal de Alzheimer e serviu como antídoto do gás nervoso", segundo Ébano.
Benjamim Banniker foi o primeiro inventor afro-americano notável. Ele fez o primeiro relógio nos Estados Unidos e experimentou em astrologia. Depois, foi assistente do francês La Flan, que planejou a cidade de Washington.
Quando La Flan deixou o país desencantado com os norte-americanos, Banniker recordou os planos e virou o verdadeiro responsável do desenho da cidade, uma das poucas dos Estados Unidos com ruas suficientemente amplas como para permitir o passo de dez automóveis ao mesmo tempo.
*Os songhay foram um povo negro-africano da beira do rio Níger meio, mistura entre tuareg e fulbe. No século 7 ou 8 criaram um império com capital em Kukya e depois em Gao (1010). Controlavam as rotas das caravanas do Saara central, que levavam a Tumbuctu o ouro do Sudão e regressavam com sal das salinas de Tombuctu, no norte do Saara. Em 1591 o império foi destruído pelos marroquinos.
*Este artigo foi elaborado por Cientistas
Negros e Inventores e editado no Reino
Unido por BIS Publications
Fonte: Geledes

Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...