quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Pequena antologia de poetas afro-brasileiros



Lino Guedes
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Poeta paulista, nascido em Socorro em 1906. Morreu em 1951.
Autor de Canto do Cisne Negro, Ressurreição Negra,
Urucungo, Negro Preto Cor da Noite, Sorrisos do Cativeiro, etc.

A PRIMEIRA PALAVRA
Mas que revolução vai,
por todo esse povo bravo!
o negrinho envés de pai
ou mesmo mãe, disse - "ai"
como qualquer outro escravo.


Solano Trindade
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Poeta pernambucano, filho de um sapateiro, nascido
em 1908. Emigrou para São Paulo. Foi operário e colaborou
na imprensa. Trabalhou no cinema e manteve um grupo teatral
folclórico por vários anos. Escreveu Poemas de uma Vida
Simples e Cantares do Meu Povo

O CANTO DA LIBERDADE
Ouço um novo canto,
Que sai da boca,
de todas as raças,
Com infinidade de ritmos...
Canto que faz dançar,
Todos os corpos,
De formas,
E coloridos diferentes...
Canto que faz vibrar,
Todas as almas,
De crenças,
E idealismos desiguais...
Š o canto da liberdade,
Que está penetrando,
Em todos os ouvidos...


Abelardo Rodrigues
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Paulista. Nasceu em Monte Azul Paulista em 1952.
Operário de fábrica, bancário, jornalista.
Vive a maior parte de sua vida entre sua cidade natal,
São José dos Campos e São Paulo.
Autor de Memória da Noite, São José dos Campos (SP), 1978.

ESPERANÇAS
Respiro esta fumaça de novas idéias
com meus pés
meus dentes de desejos
minhas garras de sonhos

Quero transpassar as barreiras alvacentas
de velhas datas
enovelar-me entre espirais
de um novo amanhecer
buscando jazidas de esperanças
em jazigos libertos
uma cunha nos contra-fortes dos homens
já saudosos de velhos tempos

A dor reumática do poeta:
ferir ossos com palavras
revolver monturos mesquinhos de sangue
enrijecendo as juntas
vencer tormentas aquosas
no vazio da realidade
canto-angústia maior de sua mente.


Eduardo de Oliveira
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Paulista. Nascido em 1926. Professor, conferencista,
político. Autor de Banzo, 1965; Gestas Líricas da
Negritude, 1967; Evangelho da Solidão, 1970

BANZO
(Ao meu irmão Patrice Lumumba)


Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Trago em meu corpo a marca das chibatas
como rubros degraus feitos de carne
pelos quais as carretas do progresso
iam buscar as brenhas do futuro.
Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Eu vi nascer mil civilizações
erguidas pelos meus potentes braços;
mil chicotes abriram na minh'alma
um deserto de dor e de descrença
anunciando as tragédias de Lumumba.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Do fundo das senzalas de outros tempos
se levanta o clamor dos meus avós
que tiveram seus sonhos esmagados
sob o peso de cangas e libambos
amando, ao longe, o sol das liberdades.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Eu sinto a mesma angústia, o mesmo banzo
que encheram, tristes, os mares de outros séculos,
por isto é que ainda escuto o som do jongo
que fazia dançar os mil mocambos...
e que ainda hoje percutem nestas plagas.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Balouça sobre mim, sinistro pêndulo
que marca as incertezas do futuro
enquanto que me atiram nas enxergas
aqueles que ainda ontem exploravam
o suor, o sangue nosso e a nossa força.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Eu vi nascer mil civilizações
erguidas pelos meus potentes braços;
mil chicotes abriram na minh'alma
um deserto de dor e de descrença
anunciando as tragédias de Lumumba.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Do fundo das senzalas de outros tempos
se levanta o clamor dos meus avós
que tiveram seus sonhos esmagados
sob o peso de cangas e libambos
amando, ao longe, o sol das liberdades.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Eu sinto a mesma angústia, o mesmo banzo
que encheram, tristes, os mares de outros séculos,
por isto é que ainda escuto o som do jongo
que fazia dançar os mil mocambos...
e que ainda hoje percutem nestas plagas.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Balouça sobre mim, sinistro pêndulo
que marca as incertezas do futuro
enquanto que me atiram nas enxergas
aqueles que ainda ontem exploravam
o suor, o sangue nosso e a nossa força.

Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.


Fonte: 
http://www.brasileitalia.info/forum/topic.asp?TOPIC_ID=4015

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