domingo, 27 de março de 2016

Dia Mundial da Poesia, 21 de março. Homenagem a Solano Trindade.

Solano Trindade
(Recife, PE, 1908 – Rio de Janeiro, RJ, 1974)
 Francisco Solano Trindade nasceu em Recife, no bairro de São José, filho do sapateiro Manuel Abílio, mestiço de negro com branca, e da quituteira Dona Emerenciana, descendente de negros e indígenas. No Recife, Solano estudou até o segundo grau e chegou a participar, por um ano, do curso de desenho do Liceu de Artes e Ofícios. Quando ainda era bastante jovem, nasceu o amor de Solano pela poesia e ele começou a compor seus primeiros poemas em meados da década de 20. No início da década seguinte, o poeta foi um dos organizadores e idealizadores do I Congresso Afro-Brasileiro, realizado em 1934 na cidade de Recife e liderado por Gilberto Freyre. Solano também participou em 1937 do segundo congresso Afro-Brasileiro, realizado em Salvador.
No início da década de 40, o poeta segue para Belo Horizonte e depois para o Rio Grande do Sul, onde funda um grupo de arte popular em Pelotas. Pouco tempo depois, volta ao Recife e finalmente segue para a cidade do Rio de Janeiro, onde fixa residência em 1942. Na então Capital Federal, Solano publicou o seu livro “Poemas de uma Vida Simples” em 1944. Devido a um dos poemas do livro, “Tem Gente com Fome”, o poeta foi preso, perseguido e o livro apreendido, embora houvesse, de fato, muita gente passando fome no Brasil. Ainda em 1944, Solano prestigiou o primeiro concerto da Orquestra Afro-Brasileira, do amigo e maestro Abigail Moura e fundou, com Haroldo Costa, o Teatro Folclórico Brasileiro. No ano seguinte, ao lado do amigo Abdias do Nascimento, constituíram o Comitê Democrátrico Afro-brasileiro, que se estabeleceu como o braço político do Teatro Experimental do Negro, liderado por Abdias.
Embora participasse de muitas atividades junto ao TEN, no ano de 1950 Solano fundou, ao lado de sua esposa Margarida Trindade e do intelectual Édson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro (TPB), grupo com sede na UNE, cujo elenco era formado por operários, domésticas e estudantes e que tinha como temática e inspiração algumas das principais manifestações culturais brasileiras, como o bumba-meu-boi, os caboclinhos, o coco e a capoeira. O grupo adaptava para o teatro números de dança e música da cultura popular afro-brasileira e indígena. Cinco anos mais tarde, o poeta criou o grupo de dança Brasiliana, que realizou, com destaque, inúmeras apresentações no exterior.
Em finais da década de cinquenta, Solano resolve fixar as atividades do Teatro Popular Brasileiro na cidade de São Paulo, na tentativa de aproveitar a intensa vida cultural da cidade. Nessa expectativa, muda-se para a cidade de Embu, localizada na grande São Paulo, onde lança o seu livro “Cantares do Meu Povo”. Entre 1961 e 1970, Solano viveu em Embu das Artes. Enquanto esteve por lá, transformou o município em um verdadeiro centro cultural, para onde foram diversos artistas que passaram a viver de arte. Na cidade, o TPB viveu a sua melhor fase, sendo que as apresentações do grupo eram sempre muito concorridas.
Solano foi o grande criador da poesia “assumidamente negra”, segundo muitos críticos. Os livros lançados por ele foram: “Poemas de uma Vida Simples”, 1944, “Seis Tempos de Poesia”, 1958 e “Cantares ao meu Povo”, 1961. Como ator, participou dos filmes “Agulha no Palheiro” (1955), “Mistérios da Ilha de Vênus” (1960) e “O Santo Milagroso” (1966). Trabalhou também como artista plástico, pintando quadros a óleo, sendo que um quadro do artista hoje faz parte do acervo do Museu Afro Brasil.
O artista adoeceu no início da década de 70, sofrendo de pneumonia e arteriosclerose, foi internado em diversos hospitais, até vir a falecer no Rio de Janeiro, em 20 de fevereiro de 1974. Atualmente, sua filha Raquel Trindade e seus netos são os responsáveis pela continuidade da sua obra. A família vive em Embu das Artes, onde há um teatro popular com o nome de Solano Trindade, além de uma escola e uma rua que homenageiam o poeta. No Rio de Janeiro foi criado em 1975 o Centro Cultural Solano Trindade e no ano seguinte, em São Paulo, a Escola de Samba Vai-Vai desfilou pelo sambódromo homenageando a vida desta importante personalidade da nossa cultura.
Fontes e Referências
Camargo, Oswaldo de. Solano Trindade, Poeta do Povo. São Paulo: Editora Laboratório do curso de Editoração, 2009.
Trindade, Solano. Cantares ao meu Povo. São Paulo: Editora Fulgor, 1961.
Melo, Maurício de. O encontro da cultura popular e os meios de comunicação na obra de Solano Trindade – Os anos em Embu das Artes (1961 – 1970). Dissertação (mestrado) Universidade de São Paulo. São Paulo, 2009. 136 p.
Fonte do texto: Museu AfroBrasil http://goo.gl/XhR3S1

Versão tecnológica de 'Mogli' conta com parte da equipe de 'Avatar'

Jon Favreau é um dos cineastas mais simpáticos de Hollywood. Sempre disposto a conversar, esconde por trás do jeito bonachão um grande talento e uma enorme ambição. Ele participou do movimento do cinema independente dos anos 1990 ao assinar o roteiro e protagonizar "Swingers: Curtindo a Noite" (1996), reinventou-se como diretor de grandes espetáculos para a família em "Um Duende em Nova York" (2003) e, em "Homem de Ferro" (2008), criou o modelo do que é o universo Marvel, hoje a franquia mais poderosa da indústria.

Agora, prestes a completar 50 anos, o cineasta encarou o maior desafio de sua carreira: a adaptação de "Mogli - O Menino Lobo", inspirado no fenômeno da Disney de mesmo nome, de 1967. O desenho, por sua vez, é baseado no clássico da literatura infantil "O Livro da Selva", de Rudyard Kipling (1865-1936).

Manuela Eichner/Zé Vicente
Ilustração de Manuela Eichner para a matéria sobre o novo filme da Disney Mogli.Serafina de março de 2016

"Mogli - O Menino Lobo", o desenho, foi o último produzido pessoalmente por Walt Disney, que morreu em 1966, sem ver o resultado final. Foi um enorme sucesso no mundo inteiro, e rendeu o que equivaleria hoje a US$ 650 milhões.

Por tudo isso, Favreau não quis apenas adaptar o livro ou o filme, mas transformar a história do menino criado por lobos em uma obra-prima da tecnologia, na qual apenas o protagonista, o ator mirim Neel Sethi, é de carne e osso.

Como os bichos falam na trama, a criação deles exigiu uma série de técnicas, a começar pelo uso de imagens reais de animais. Depois, os atores e dubladores entraram em estúdio, ligados a centenas de pontos colados à face e ao corpo, para a chamada "captura de performance". A técnica colhe olhares, movimentos dos lábios, respiração e gestos.

Tudo gravado com câmeras especiais, a laser. Entraram em cena, então, os efeitos especiais digitais, que completaram os detalhes de cada tomada. Por fim, foi gravada a atuação do garoto, com câmeras 3D. "'Avatar' é o meu modelo", conta o diretor. "Usamos as mesmas câmeras, o mesmo supervisor de efeitos visuais e outros membros da equipe."

A evolução almejada por Jon Favreau é nítida nas sequências exibidas para um pequeno grupo de jornalistas do mundo inteiro, do qual Serafina participou.
Na sequência inicial, a pantera Baguera (voz de Ben Kingsley) explica a Mogli (Sethi) que a selva indiana está sofrendo com uma grande seca e, por isso, todos os animais estão concentrados na Pedra da Paz, um lago que serve como fonte de sobrevivência local.

O nível de realismo é quebrado com a aparição magistral e ameaçadora do tigre Shere Khan (voz de Idris Elba): "Não busquei o tigre realista de 'As Aventuras de Pi' em Khan porque acho que precisávamos ter um elemento de fantasia na adaptação", conta o cineasta.

O filme acompanha Mogli em uma jornada rumo à aldeia dos homens, ciceroneado pela pantera Baguera. O garoto ainda encontra e se conecta com o urso Balu (Bill Murray), com a serpente Kaa (Scarlett Johansson) e com o macaco Rei Louie (Christopher Walken), levemente alterado nesta adaptação. "Não existem orangotangos na Índia, espécie do Rei Louie do livro e do desenho. Quebramos a cabeça para encontrar algo e acabamos descobrindo o Gigantopithecus, já extinto e próximo dos orangotangos, que viveu na Índia", afirma.

Alcançar o grau de realismo desejado no longa-metragem não foi fácil. "Passei dois anos trancado numa torre até que criamos a primeira imagem: um animal virando o rosto. Pensei que nunca conseguiríamos fazer o filme", diz.

Em novembro de 2013, quando topou o desafio de misturar efeitos especiais com uma criança real, o diretor sabia que teria um filme para entregar. Mas não esperava que seriam três. "Primeiro, fizemos uma versão animada da história. Em seguida, uma segunda, para a captura de performance; então, finalmente, filmamos o menino."

Mogli é interpretado por Neel Sethi, um garoto de 12 anos de ascendência indiana, nascido em Nova York e escolhido em testes com mais de 2.000 concorrentes. Ele começou a filmar em 2014, aos dez anos, em um estúdio de Los Angeles, em frente a um enorme cenário azul que seria substituído por efeitos especiais na pós-produção.

Favreau o dirigia observando o monitor –já com as imagens animadas da selva e dos bichos inseridas. Assim, conseguiu controlar iluminação, jogos de câmeras e cenas de ação. "É muito complexo. Precisava estar perfeito, uma cena ruim levaria o filme todo esgoto abaixo."

A ideia do diretor era misturar truques das antigas com alta tecnologia, para deixar o público confuso em relação ao que está na tela. A mesma sensação foi provocada em Fravreau ao assistir ao longa "Gravidade" (2013), de Alfonso Cuarón. "Vi com meu filho e ele ficava me perguntando como haviam feito aquilo. Normalmente, sei dizer, mas esse filme me deixou perdido", afirma. "Fizemos algo parecido, utilizamos ferramentas para melhorar tudo o que já vimos no cinema em termos de efeitos especiais."

Mas o diretor sabe que o esforço não vale se o espectador não se conectar com a alma de "Mogli", com estreia prevista para 14 de abril. "Uma das razões de não termos ido para uma floresta de verdade é porque não conseguiria recriar a magia da animação de 1967. O desenho ainda é um marco por causa dos personagens e das músicas. Quis preservar isso", lembra o diretor.

Tanto que fez Bill Murray cantar e chamou Richard Sherman, compositor das canções do original e de obras como "Mary Poppins" (1964), para ajudar nas novas músicas. "É preciso honrar a memória das pessoas que cresceram com a animação", diz Favreau. 

POR RODRIGO SALEM
DE LOS ANGELES
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2016/04/1754132-versao-super-tecnologica-de-mogli-conta-com-parte-da-equipe-de-avatar.shtml

Brasileira faz retratos para catalogar todas as cores da humanidade

A artista Angélica Dass gosta de dizer que nasceu numa família cheia de cores. Sua avó tem pele de porcelana e cabelo de algodão, enquanto sua mãe tem um tom de canela com mel e seu pai, de chocolate amargo. "Sou como uma dessas barras com pouca porcentagem de cacau, mais doce", brinca a carioca radicada em Madri há dez anos.

Se as cores nunca foram problema dentro de casa, Dass percebeu logo cedo que o mesmo não se aplicava da porta para fora. "O Brasil é um dos piores lugares do planeta para nascer negro. Há um racismo institucionalizado e escondido", afirma Angélica, 37, após dar uma palestra que emocionou a audiência e ser aplaudida de pé no TED, um evento de ideias inovadoras que ocorreu em Vancouver, em fevereiro.


Os tons da pele são o centro de seu projeto mais ambicioso, Humanae, para o qual já fotografou mais de 3.000 pessoas em 13 países.

A jornada foi iniciada em 2012 e não tem data para acabar. A missão? Catalogar todas as cores da humanidade. "Quero captar as nossas cores de verdade, no lugar de sermos etiquetados como branco, preto, amarelo, vermelho, associados a raças. É como um jogo para questionar nossos códigos", diz a carioca, que retratou de ricos nos EUA a refugiados na Europa e pobres na Índia, passando por estudantes suíços e brasileiros que vivem em favelas.

Formada em belas-artes pela UFRJ, ela se mudou para Madri após fazer um estágio em um museu espanhol e conhecer seu futuro marido, um físico "com pele de lagosta queimada ao sol".

A ideia do Humanae surgiu quando começou a ser perseguida pela pergunta sobre qual seria a cor de seus filhos. Em um exercício pessoal, resolveu fotografar sua família e a ela mesma. A mãe de Angélica é descendente de índios e seu pai, negro, foi adotado por uma família de brancos no Rio.

Depois, a artista passou a registrar seus amigos, logo passando para desconhecidos. Em pouco tempo, estava sendo convidada para expor os resultados em museus e praças públicas do mundo, como aconteceu em São Paulo, em 2013, numa praça do centro da cidade.

"Uma das coisas mais bonitas que me aconteceu foi uma mulher de 60 anos, ao olhar as fotos que eu coloquei na porta de uma ONG no Rio. Ela dizia: 'Tô entendendo o que você tá falando. É que, se cortar aqui na pele, vai ser tudo igual, vai ser tudo vermelho."

MODUS OPERANDI

O processo fotográfico é simples e, segundo ela, transcorre quase como uma terapia. Angélica monta um estúdio temporário e cada retratado passa 15 minutos com ela. As fotos seguem um padrão, com as pessoas sempre de frente, encarando a lente, diante de um fundo branco. Na sequência, a artista "tira" um pedacinho da cor do nariz e a usa para "pintar" o fundo. Por fim, é colocada sob a imagem o número da cor de referência –retirada da paleta industrial Pantone, espécie de Bíblia das cores.
"Toda vez que tiro uma foto, sinto que estou na frente de um terapeuta. Todas as frustrações, medos e solidão que senti viram amor." Ao passar por países tão diferentes, a artista percebeu que a discriminação racial tem um ponto em comum. "Infelizmente, o mais claro é o bom, e o mais escuro, o ruim."

Questionada sobre os países mais "coloridos" que visitou, cita de cara o Brasil. "É um país muito especial", diz, lembrando que, no entanto, ainda há muito o que fazer para acabar com a discriminação. "Não acho que seja um tema que as pessoas estejam muito dispostas a discutir. Acham que esse preconceito não existe, mas é uma coisa diária da qual sempre sou lembrada quando vou ao Brasil. Estou louca? Acho que não." 

POR FERNANDA EZABELLA
DE VANCOUVER

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2016/04/1753007-brasileira-faz-retratos-para-catalogar-todas-as-cores-da-humanidade.shtml

terça-feira, 1 de março de 2016

Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil

Foi criada no início de 2016 pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil para fazer um resgate histórico do período escravocrata brasileiro e discutir formas de reparação. O presidente nacional da OAB, Humberto Adami, afirmou que a ideia é revelar fatos que foram apagados da história do país.
Os trabalhos serão executados não só pelas regionais da OAB (que coordenarão comissões estaduais), mas também por meio de parcerias com universidades, movimentos sociais, jornalistas, advogados, juízes, governos, membros do Ministério Público, etc.
A Comissão já consta com uma pesquisa prévia. Segundo o relator, Wilson Prudente (procurador do trabalho no RJ e doutor em ciência política), os crimes cometidos contra a população negra nesse período são imprescritíveis e podem ser atribuídos a pelo menos 3 grupos: o reino de Portugal (atualmente representado pelo governo de Portugal), a Igreja Católica (representada, hoje em dia, pelo Estado do Vaticano) e o Império do Brasil (atualmente representado pelo governo brasileiro).
A pergunta que serviu de mote para a pesquisa que levou à constituição da Comissão foi: quais foram, como foram e por quem foram cometidos os crimes que tornaram realidade a da escravidão negra no Brasil?
Os sequestros, torturas e toda sorte de violência e violação de direitos que os negros escravizados sofreram foram subsumidos nos crimes de escravidão, crimes contra a humanidade e crimes de genocídio. Esses crimes foram praticados por uma extensa rede criminosa, integrada por inúmeros grupos, dentre os quais destacam-se os três supracitados.
Para Humberto Adami, a sociedade brasileira tem uma questão racial mal resolvida, um exemplo disso seria que, embora o racismo e a injúria racial sejam crimes e possam gerar penas de 1 a 3 anos de prisão, a lei não tem sido aplicada corretamente pelos tribunais brasileiros, pois não existe praticamente nenhum racista preso no Brasil.
“É preciso adotar uma revisão para que isso possa ser modificado e essa uma das propostas de ratificação completa da Convenção de Combate à Discriminação Racial da ONU.” -  afirma o presidente nacional da OAB.
Outros exemplos revelam-se nos dados sobre homicídios de jovens negros, quantidade de negros no ensino superior, principalmente na pós-graduação e quantidade de negros em cargos de poder e decisão nas empresas.
O Mapa da Violência, publicado em 2015, mostra que a morte de pessoas brancas por arma de fogo diminuiu 23% em 9 anos, enquanto que a quantidade de vítimas negras aumentou 14% no mesmo período. Entre 2003 e 2012, foram 320 mil negros vítimas de armas de fogo no país.
Para obter mais informações, acesse a Rádio Justiça, que prepara 5 matérias especiais sobre os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil.
Fonte: FCP

Du Bois e o Pan-africanismo



O sociólogo, historiador e ativista William Edward Burghardt Du Bois, nascido em 23 de fevereiro de 1868, no estado de Massachusetts (EUA), foi, ao longo da primeira metade do século XX, um dos principais nomes da luta pela justiça social e contra o racismo e é, até hoje, celebrado como o pai do movimento de tomada de consciência pelo povo negro da constante violência e violação de direitos a que era submetida.
Em 1895, concluiu o doutorado em História pela Universidade de Harvard, tornando-se o primeiro afro-americano a receber o título de doutor nessa instituição.
No ano de 1905, Du Bois, juntamente com outros ativistas afro-americanos (dentre os quais: Fredrick L. McGhee, Jesse Max Barber e William Monroe Trotter), fundou o Movimento Niágara, cujas principais bandeiras eram a luta pelos plenos direitos civis e o aumento da representação política dos negros nos Estados Unidos. Para o grupo, não bastava garantir oportunidades básicas de educação e sustento, mas sim que os afro-americanos precisavam de chances reais para obter uma formação avançada e desenvolver sua liderança.
Du Bois foi um ferrenho crítico das legislações segregacionistas (Leis de Jim Crow, que afetavam também asiáticos e outras minorias) e das práticas racistas que existiam em seu tempo, a exemplo dos linchamentos sofridos por mulheres e homens negros.
Esse grande líder fundou, escreveu e editou importantes publicações criadas com o intuito de propagar as ideias e ideais da luta pela igualdade de direitos entre brancos e negros a outros afro-americanos. Alguns dos principais periódicos com os quais colaborou foram Moon Illustrated WeeklyThe Horizon: a Journal of the Color Line The Crisis.
Em 1909, participou da fundação do NAACP (National Association for the Advancement of Colored People). Ao longo de 25 anos, foi diretor de pesquisa e publicidade, membro do corpo de diretores e editor da The Crisis, revista mensal da associação.
Inspirado por Sylvester Willians, um advogado de Trinidad, que, em 1900, organizara a Primeira Conferência Pan-africana, na cidade de Londres (Inglaterra), com o objetivo de inaugurar um movimento capaz de gerar um sentimento de solidariedade com relação às populações negras das colônias, em 1919, Du Bois realizou em Paris (França) o I Congresso Pan-Africano.
Du Bois liderou as quatro edições subsequentes do Congresso Pan-africano (Londres – 1921 e 1923,  Nova Iorque – 1927 e Manchester – 1945). Foi eleito presidente do V Congresso com o apoio de novas lideranças como George Padmore e Kwame Nkrumah, que encabeçaram o movimento de independência de Gana e Trinidad, respectivamente.
Nos últimos anos de vida, Du Bois morou em Gana, onde, a pedido de Nkrumah, agora presidente, iniciou pesquisa para confecção da primeira Enciclopédia Africana.
Du Bois, que já era considerado um dos precursores e pedra angular do movimento negro internacional, morreu em 27 de agosto de 1963, na capital ganesa, Acra, exatamente um dia antes da Grande Marcha de Washington, liderada por Martin Luther King. No ano seguinte, o governo dos Estados Unidos promulgava o Civil Rights Act, garantindo direitos iguais a brancos e negros.
Pan-africanismo
Embora possuindo o mote de unificar os povos da África, retalhados por fronteiras insensíveis à realidade da região e de suas sociedades, consequência da Conferência de Berlim (1885), que dividiu o continente em zonas de influência das potencias europeias, os ideais do pan-africanismo surgiram primeiro entre os negros afro-americanos.
O I Congresso Pan-africano ocorreu em 19 de fevereiro de 1919, na cidade de Paris e teve como principal resolução a adoção de um Código de Proteção Internacional aos Indígenas da África, que lhes garantisse o direito à terra, à educação e ao trabalho livre.
Ao longo do século XX, os objetivos do pan-africanismo tiveram sua dimensão e complexidade amplificadas, tornando-se cada vez mais ambiciosos e radicais. No IV Congresso (Nova Iorque, 1927), por exemplo, o comunicador e ativista jamaicano Marcus Garvey pregava o retorno dos negros à África, empreendimento que, de fato, ajudou a concretizar.
Enquanto isso, no V Congresso (Manchester, 1945), ganhava notoriedade outro líder natural de Trinidad, George Padmore, que lançou e aprovou manifesto que proclamava: “Resolvemos ser livres… Povos colonizados e subjugados do mundo, uni-vos.”
O Pan-africanismo influenciou a geração que constituiria os futuros líderes da África independente, dentre eles: Jomo Kenyatta (Quênia), Peter Abrahams (África do Sul), Hailé Sellasié (Etiópia), Namdi Azikiwe (Nigéria), Julius Nyerere (Tanzânia), Kenneth Kaunda (Zâmbia) e Kwame Nkrumah (Gana).
Os encontros seguintes, em Kumasi (1953) e Acra (1958), testemunharam a ruptura do movimento em duas correntes, as quais divergiam quanto aos rumos políticos a serem tomados após a efetivação do processo de descolonização do continente africano. De um lado, o grupo Casablanca, liderado pelos presidentes Kwame Nkrumah (Gana) e Gamal Abdel Nasser (Egito), de viés maximalista, defendia o fim da divisão geopolítica imposta pela Conferência de Berlim (1885), em prol da unificação da África em uma só nação, o que garantiria posição de centralidade no cenário político, econômico e militar mundial. Do outro, o grupo Monrovia, liderado pelos presidentes da Costa do Marfim, Félix Houphouet Boigny, e do Senegal, Léopold Sédar Senghor, e partidários de um pan-africanismo minimalista, entendia as fronteiras herdadas da colonização como intocáveis. Para representar os interesses do continente, esse grupo deu origem à Organização da Unidade Africana (OUA).
Não obstante, sua história nos remeter ao início do século passado, o sonho pan-africano de provocar a emergência de um sentimento de solidariedade e a consciência de uma origem comum entre os negros de todo o mundo continua a reverberar na atualidade, seja nas formas de organização política das nações africanas (em 2001, a União Africana veio a substituir a OUA), seja na linguagem utilizada pelos negros estadunidenses, os quais tratam-se uns aos outros pelo termo “irmão”, seja por meio da cultura Hip Hop ou através de reflexões acadêmicas que explicitam essa influência, como pode ser visto no livro Atlântico Negro: modernidade e dupla consciência, de Paul Gilroy.
Fonte: FCP

Calendário Internacional da Cultura Negra


Dia 19- Acontece a Revolta do Queimado, principal movimento de luta contra a escravidão do estado do Espírito Santo/ES (1849).
Dia 21- Dia Internacional de Luta contra a Discriminação Racial. O dia foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em memória das vítimas do massacre de Sharpevile, África do Sul.
Fonte: FCP

Grupo cria clube para debater obras literárias de mulheres no DF

Clube Leia Mulheres Brasília durante reunião para discutir o livro Hibisco Roxo (Foto: Mariana de Ávila/Arquivo pessoal)
G1Arquivo Pessoal (Mariana de Ávila)

Inspirado na ideia da escritora britânica Joanna Walsh, que em 2014 mobilizou usuários do twitter com a hashtag #readwomen2014, o projeto "Leia Mulheres" é um clube de leitura que debate as produções femininas e o papel da mulher na literatura. Em Brasília, as reuniões mensais têm atraído cada vez mais participantes regulares e "curtidas" em redes sociais.
 Apesar de serem engajadas em questões feministas, elas repararam que quase não liam livros escritos por mulheres. Foi quando tiveram a ideia de fazer do hashtag #readwomen um clube de leitura presencial e periódico.O projeto foi criado em São Paulo a partir do gosto em comum pela leitura de três amigas, a jornalista Juliana Leuenroth, a consultora de marketing Juliana Gomes e a transcritora Michelle Henriques.
“Quisemos trazer essa ideia de ler mais autoras para São Paulo, mas com um viés mais pessoal. Quisemos sair do virtual, promover discussões cara a cara”, diz Juliana Gomes. A consultora afirma que o projeto logo foi para o Rio de Janeiro e para Curitiba, onde já haviam amigos interessados em participar.  “As pessoas passaram a conhecer mais o Leia depois da Festa Literária de Paraty, a Flip."

Durante a feira, o clube discutiu o livro “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector, com participação de 50 pessoas. “Foi ótimo porque repercutiu bastante nas nossas redes sociais e mais pessoas ficaram interessadas”, afirma Juliana Gomes. O projeto está presente em diversas cidades, como São Luís, Fortaleza, Recife e Belo Horizonte, e chegou a Brasília em setembro do ano passado.
Muitas vezes é difícil achar gente que gosta de conversar sobre livros. Eu tinha essa dificuldade, lia obras incríveis e não tinha com quem conversar sobre, trocar ideias"
Fernanda Calvet, integrante do 'Leia Mulheres' de Brasília
A responsável pela vinda do programa para a capital foi a jornalista Mariana de Ávila. “Primeiramente, eu vi no twitter algo sobre o grupo e comecei a pesquisar. Achei a página do Facebook do Leia Mulheres de São Paulo e entrei em contato com as organizadoras”, diz.

Mariana afirma que teve ajuda do grupo de São Paulo nos primeiros encontros, mas que o clube do DF tem identidade própria. “Escolhemos os livros independentemente das outras cidades, por meio de votação ao final das reuniões.”

Segundo a jornalista, o número de participantes cresce a cada edição. “Quando discutimos ‘As meninas’, livro da brasileira Lygia Fagundes Telles, cerca de 20 pessoas compareceram. Dá para perceber que as pessoas estão se interessando mais.”

Entre os livros já discutidos na capital estão “Cinderela Chinesa”, de Adeline Yen Mah, “Hibisco Roxo”, de Chimamanda Ngozi Adichie, “O sol é para todos”, de Harper Lee, “A Redoma de vidro”, de Sylvia Plath, “As meninas”, de Lygia Fagundes Telles e "Precisamos falar sobre o Kevin", de Lionel Shriver.
Participantes durante discussão no auditório da Livraria Cultura (Foto: Douglas Rodrigues/Arquivo pessoal)Pa (Foto: Douglas Rodrigues/Arquivo pessoal)
“O livro de que mais gostei foi ‘O sol é para todos’, da Harper Lee. Ele é maravilhoso, nos traz uma lição de bondade, respeito e tolerância”, diz Fernanda Calvet, uma das participantes mais assíduas dos encontros.

Ela afirma que o projeto é uma oportunidade de conhecer pessoas que se interessam pelos mesmos assuntos. “Muitas vezes é difícil achar gente que gosta de conversar sobre livros. Eu tinha essa dificuldade, lia obras incríveis e não tinha com quem conversar sobre, trocar ideias.”
O grupo é aberto para todos, homens são muito bem-vindos. Inclusive, há sempre participantes do sexo masculino nos nossos encontros"
Mariana de Ávila, idealizadora do projeto no DF
Homens no clube
As mulheres são a maioria dentro do projeto, mas também há homens que participam dos debates. “O grupo é aberto para todos, homens são muito bem-vindos. Inclusive, há sempre participantes do sexo masculino nos nossos encontros”, afirma Mariana.

Wendel Lopes é um deles. Ele diz que o Leia Mulheres é um ótimo espaço para falar sobre o protagonismo feminino. “O grupo proporciona reflexão sobre a mulher na literatura nacional e internacional. Há excelentes autoras que são esquecidas pelo público, mas que são promovidas nessas reuniões.”

O clube se reúne toda segunda quinta-feira do mês, às 20 h, na Livraria Cultura do Casa Park. O livro escolhido para março é "Orgulho e preconceito", de Jane Austen.
Fonte: G1 DF

Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...