terça-feira, 30 de junho de 2015

Personalidades Negras – Luís Gama


Luís Gonzaga Pinto da Gama foi um dos principais abolicionistas da história do país. Nasceu em 21 de junho de 1830, em Salvador/BA, filho da africana livre, Luiza Mahin e de pai fidalgo branco de origem portuguesa e família rica no Brasil. Apesar de uma vida cheia de conturbações, Luís Gama foi poeta, advogado, jornalista e patrono da cadeira nº15 da Academia Paulista de Letras.
Aos 10 anos, Luís ficou sobre a guarda do pai, pois a mãe foi exilada por motivos políticos. O parentesco não evitou que o menino fosse vendido como escravo pelo próprio pai e levado para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo. Foi comprado pelo alferes Antônio Pereira Cardoso, proprietário de uma fazenda no município de Lorena. Em 1847, o jovem estudante Antônio Rodrigues do Prado Júnior conheceu Luís, então com 17 anos, e o ensinou a ler e a escrever. Tempos depois, Luís fugiu da fazenda, em seguida passou pelo Exército e em 1854 passou a se dedicar aos movimentos sociais.
Luís Gama inaugurou a imprensa humorística paulistana ao fundar, em 1864, o jornal “Diabo Coxo”. Poeta satírico, ocultou-se, por vezes, sob o pseudônimo de Afro, Getulino e Barrabás. Sua principal obra foi “Primeiras trovas burlescas de Getulino”, de 1859, onde se encontra a sátira “Quem sou eu?”, também conhecida como Bodarrada.
Autodidata, Luís Gama tornou-se advogado e iniciou suas atividades contra a escravidão, conseguindo libertar mais de 500 negros escravizados. É dele a frase: “O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa”. Embora atuasse principalmente em defesa dos negros acusados de crimes, ou para conceder-lhes alforria judicialmente, também atendia aos pobres de qualquer raça.
Luís Gama morreu em 24 de agosto de 1882, sem ver concretizada a Abolição, que aconteceu em 1888.
Fonte: Fundação Cultural Palmares

Personalidades Negras – João Cândido

Militar brasileiro, João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, nasceu em 24 de junho de 1880 em Encruzilhada, Rio Grande do Sul, numa família de ex-escravizados. Entrou para a Marinha do Brasil aos 14 anos, onde presenciou penalidades a chibatadas sobre seus companheiros, apesar de este tipo de castigo ter sido abolido em 1890.
No ano de 1910, liderada por João Cândido, a tripulação da embarcação Minas Gerais se revoltou contra seu comandante, que castigara um dos homens da tripulação com 25 chibatadas. O marinheiro passou a reivindicar o fim dos maus-tratos psicológicos e das punições corporais, liderando assim a Revolta da Chibata.
Outras reivindicações do movimento foram o aumento de salário, a redução da jornada de trabalho e a anistia dos revoltosos. A principal conquista da rebelião foi o compromisso do governo da época de acabar com a chibata na Marinha. João Cândido foi expulso da corporação ainda em 1910, sob acusação de ter favorecido os rebeldes. Faleceu no Rio de Janeiro aos 89 anos.
Fonte: FCP

Dilma e Obama podem assinar acordo para reduzir desmatamento

Brasil quer terminar com o desmatamento ilegal até o ano de 2025

domingo, 28 de junho de 2015

Unicef apoia radionovela sobre mudança de comportamento em Moçambique

De acordo com a agência, projeto Ouro Negro é avaliado em US$ 1 milhão; montante é plicado na pesquisa, produção e difusão da da produção que estreia a 6 de julho na Rádio Moçambique.
Ouri Pota da Rádio ONU em Maputo.
A radionovela Ouro Negro será transmitida em Moçambique a partir de 6 de julho de 2015. Foto: Unicef
O Fundo da ONU para a Infância apoia a radionovela Ouro Negro, a ser difundida a partir deste dia 6 de julho em Moçambique. A produção vai passar na emissora pública do país numa parceria para a mudança de comportamento.
A Rádio ONU em Maputo procurou saber detalhes que incluem o enredo da radionovela com o presidente do Conselho de Administração da Rádio Moçambique, Faruco Sadique.
Mudança
"Ouro Negro procura retratar um drama social, inspirado na vida de um grupo de fascinantes heróis. Pretende-se retratar o dia-a-dia das comunidades periurbanas/rurais, visando modelar e inspirar vários comportamentos sociais que marcam a diferença entre a vida e a morte, a felicidade e a dor, a prosperidade e a miséria. A radionovela foi desenhada para comunicar e atingir a mudança de comportamento".
Pesquisa
O especialista de comunicação para o desenvolvimento na agência da ONU Massimiliano Sani fala do apoio à produção.
"Na primeira época são 42 episódios que serão difundidos a partir de 6 julho a dezembro de 2015, no próximo ano 2016 serão difundidos 84 episódios, de fevereiro à novembro e mais 42 episódios 2017. Todo custo está avaliado em US$ 1 milhão. Um milhão que se distribuído em pesquisa previa, produção e difusão até 2017"
Realidade
Para Sani, a agência prevê a conquista de 1 milhão de ouvintes em cada ano, dai que o apoio não será apenas financeiro.
"A questão técnica em termos de pesquisas formativas para perceber qual a perceção das comunidades e converter estes aspetos para a produção das histórias. Toda esta componente social de para avaliar a perceção da comunidade, o nível de conhecimento, atitudes práticas da comunidade em relação aos temos principais e como esses elementos podem ser convertidas em histórias, é isso, em termos de input técnico que estamos a trazer para assegurar que as histórias sejam baseadas na realidade e que as mudanças seja trazidas através da mudança dos personagens principais da radionovela".
A cantora Neima Alfredo, que é embaixadora para Unicef em Moçambique elogiou a iniciativa. Além da possibilidade de entreter, ela fala da necessidade de acompanhar os temas a serem retratados na produção.
 Proteção
"Esta radionovela é importantíssima para difundir, inspirar na mudança do comportamento, pois, terá vários temas interessantes; na saúde materno infantil, nutrição, prevenção do HIV, educação e a proteção da criança. Eu estarei bem atenta para aplaudir e apreender bastante com esta radionovela. Parabéns a todos autores e bem-haja Ouro Negro"
Essas expectativas e desafios também fazem parte da Rádio Moçambique, que fala do efeito esperado em milhões de ouvintes.
Mudança
 "Trata-se da primeira radionovela de educação e entretenimento de longa duração em Moçambique, a qual pretende alcançar mais de 1 milhão de ouvintes dos 15 aos 35 anos de idade no primeiro ano de emissão, esperando-se que cheguemos aos 3 milhões de ouvintes no quarto ano de emissão".
Ouro Negro tem como objetivo criar debates que visam estimular a mudança de comportamento nas áreas da saúde, proteção da criança, educação, participação e boa governação.
A radionovela é resultado da parceria entre Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, Programa Mundial de Alimentação, PMA, Rádio Moçambique e Média Impact.
Fonte: radioonu

Guiné-Bissau: comunidades rurais podem lidar melhor com eventual surto de ébola

Chefe interino da Missão da ONU para a Resposta de Emergência ao surto fez comparação com realidade na capital guineense; Peter Graaff  terminou visita ao país após registo de novos casos na Guiné Conacri.
Peter Graaff em visita à Guiné-Bissau. Foto: Unmeer
Amatijane Candé, da Rádio ONU em Bissau.
O chefe da Missão das Nações Unidas para a Resposta de Emergência ao Ébola, Unmeer, concluiu esta quinta-feira uma visita de dois dias a Guiné-Bissau.
Peter Graaff deslocou-se ao posto fronteiriço de Cuntabane com a Guiné Conacri, onde novos casos do vírus foram assinalados em Boké. O município situado junto à fronteira com a Guiné-Bissau.
Prevenção do Ébola
A visita oficial do também representante especial interino do secretário-geral da ONU visa inteirar-se dos atuais esforços de preparação e prevenção do ébola. O outro objetivo é traçar modalidades com o governo para que o país possa atrair mais apoios da Nações Unidas.
Falando a jornalistas no fim da visita, Peter Graaff falou da experiência vivida no sul da Guiné-Bissau. Graaff realçou o nível de preparação das comunidades rurais da zona visitada em relação aos riscos do ébola e disse estarem melhor preparados para lidar com o vírus do que os citadinos da capital.
Resposta
De acordo com o chefe da missão, estão reunidas as condições necessárias para uma resposta imediata, mas para ele o mais importante é o facto de as comunidades estarem cientes dos riscos. Para Graaff, o encerramento das fronteiras só tendia a piorar a situação, pois os viajantes sempre iriam arranjar alternativas.
O dirigente chegou ao país na quarta-feira e manteve um encontro de trabalho com o primeiro-ministro guineense, Domingos Simões Pereira. Os dois interlocutores abordaram questões ligadas com as medidas de preparação face aos riscos que pairam sobre o país.
Índice
Os contactos do representante incluíram também com a ministra guineense da Saúde, Valentina Mendes e o Centro de Isolamento e Tratamento do Ébola em Simão Mendes, maior centro hospitalar do país. Apesar da proximidade com as zonas afetadas pelo surto, nenhum caso da doença foi ainda registado na Guiné-Bissau.
A Organização Mundial de Saúde aponta 27,443 casos do ébola confirmados na Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria.
Fonte/: radioonu

Papa envia condolências a França, Tunísia e Kuwait

Pontífice condenou os ataques, que deixaram um morto na França, 26 vítimas no Kuwait e 38 na Tunísia

Ana Luísa Castro representante de Sergipe é eleita Miss Mundo Brasil 2015

A Miss Mundo Sergipe, Ana Luísa Castro, foi coroada, na noite deste sábado (27), a mais bela do país, em concurso realizado em Florianópolis.

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 Mundo Brasil 2015
no UOL
Ana Luísa concorreu com outras 36 candidatas, mas levou a melhor e virou a
 sucessora da bela Julia Gama, Miss Mundo Brasil 2014.

Já o top 5 feminino foi composto ainda por Distrito Federal (5º),
 Ilhabela (2º), Mato Grosso do Sul (3º) e Rio Grande do Sul (4º).


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Fonte: Geledes

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Nilma Lino Gomes celebra independência de Moçambique

Ministra da Igualdade Racial representa governo nas comemorações pelos 40 anos de independência do país africano no dia 25 de junho
Ministra Nilma Lino Gomes representará a presidenta Dilma Rousseff nas comemorações
Divulgação/Portal Planalto
A ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes, representará a presidenta Dilma Rousseff nas comemorações dos 40 anos da Independência de Moçambique, celebrada em 25 de junho. A festa oficial será realizada na capital, Maputo, na quarta (24) e quinta-feira (25), com a presença do presidente Filipe Nyusi e de vários Chefes de Estado.
Em função de compromissos já assumidos, a presidenta Dilma Rousseff enviou mensagem ao presidente Nyusi lamentando não poder participar das celebrações. Dilma destacou que a data da independência moçambicana tem inegável valor histórico, não apenas para Moçambique, mas também para o Brasil.
A presidenta lembrou que foi no mesmo ano da independência, 1975, que os dois países estabeleceram relações diplomáticas, e afirmou que Moçambique é hoje um dos principais parceiros do continente africano, com quem o Brasil mantém acordos bilaterais em diversos setores, desde a cooperação técnica ao diálogo econômico, comercial e cultural.
Entre os dias 28 de maio e 3 de junho, a ministra Nilma Lino Gomes foi a Moçambique em viagem oficial. Ela reuniu-se com ministros de Estado cujas pastas já possuem acordos de cooperação assinados com a Secretaria e outros Ministérios brasileiros. A iniciativa está entre as prioridades da Seppir, que pretende fortalecer as relações com outros países, sobretudo do continente africano e que têm o português como língua oficial.
Sobre as comemorações
No dia 7 de abril, o presidente Nyusi lançou oficialmente as celebrações pela data, no Distrito de Mueda, Província de Cabo Delgado. Lá, ocorreu um dos últimos episódios de resistência à dominação colonial, antes do início da luta armada pela libertação do país. Na ocasião, Nyusi convidou toda a população de Moçambique a refletir sobre o futuro, tendo como foco os valores comuns e a superação dos desafios que assegurem o desenvolvimento.
"Façamos do 40º aniversário da nossa independência um momento de reafirmação da nossa soberania e renovação do nosso compromisso coletivo de continuar a construir um país unido e próspero", disse.
Em Mueda, teve início a  "Marcha da Chama da Unidade Nacional", que está percorrendo todas as Províncias até chegar à Praça da Independência, em Maputo. Na quinta-feira de manhã haverá uma cerimônia em homenagem aos soldados que lutaram pela Independência. Ao meio dia, será realizada a cerimônia principal, com a presença de toda a população, no Estádio da Machava. No fim do dia, haverá uma recepção para os convidados, na Ponta Vermelha.
Fonte:

As marcas do português brasileiro

Poética da diáspora - Carolina de Jesus

terça-feira, 16 de junho de 2015

Menina de 11 anos é apedrejada por ser adepta do Candomblé

A suspeita é de que religiosos tenham agredido a menor

A Polícia Civil está em busca de imagens e testemunhas que possam ajudar a identificar os suspeitos de terem apedrejado uma menina de 11 anos adepta do Candomblé, por intolerância religiosa, na zona norte do Rio, no último domingo (13). O caso foi registrado ontem (15) na 38ª Delegacia de Polícia de Irajá, e a vítima, que está em casa, já foi ouvida e encaminhada para o exame de corpo de delito.
A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) destacou um advogado para acompanhar o caso e vai organizar um ato contra a intolerância no bairro em que ocorreu a agressão, Vila da Penha, na sexta-feira (12).
Membro da comissão, o babalaô Ivanir dos Santos conversou com a família da adolescente e disse que a menina foi atingida na cabeça por uma pedrada, que só não provocou mais ferimentos porque teria batido primeiro em um poste.
"Ela estava andando com um grupo de pessoas e um grupo de evangélicos, que estava do outro lado da rua, começou a demonizá-los e a xingá-los. Não se contentando com isso, jogou uma pedra", disse Ivanir. Segundo o babalaô, a família disse que os agressores "estavam arrumados" e tinham bíblias e acusaram os praticantes de Candomblé de serem "demoníacos".
O babalaô defende que líderes evangélicos venham a público repudiar a agressão e colaborem com as investigações. "Isso é ruim para uma religião. Eu sei que a grande maioria dos evangélicos não é assim e cabe a eles ajudarem a identificar esses agressores. Eram pessoas da igreja, pessoas que estavam com bíblia".
Segundo nota da Polícia Civil, o caso foi registrado como lesão corporal, no Artigo 20 da Lei 7.716 (praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional).
Para a coordenadora Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Rio de Janeiro, Leniete Couto, a agressão contra os adeptos das religiões de matriz africana também é reflexo do racismo na sociedade brasileira. "Há uma distorção histórica de colocar a cultura negra no sentido global, tanto a pessoa física quanto seus costumes sempre em um lugar de não existência ou em um lugar negativo. Não se respeita as religiões de matriz africana porque se diz que são do mal, que são ruins, e com isso vem a invisibilidade e a negação da existência dessas pessoas. A invisibilidade cria um desconhecimento da história que faz com que as pessoas sejam rejeitadas e apedrejadas por ignorância e também por racismo".
Fonte: midiamax

Países multam cantadas de rua em até R$ 160 mil; veja leis

O famoso "fiu fiu" em locais públicos e outras cantadas não são elogios à quem são dirigidos. Trata-se de uma forma de assédio sexual que passa despercebida uma vez que está travestida de ‘flerte’.

Como esse tipo de assédio em locais públicos não é criminalizado na maioria dos países, grande parte das vítimas não denuncia os ataques que sofre. Uma pesquisa divulgada pela campanha "Chega de Fiu Fiu", em 2014, mostrou que das cerca de oito mil mulheres entrevistadas, 99,6% já foram assediadas e 48% dos assédios foram verbais.
Contra essa forma de assédio sexual, alguns países pelo mundo estão mudando a legislação nacional e adotando medidas que criminalizam as ‘cantadas’ em locais públicos e punem os agressores.


Multas que variam de acordo com o grau do assédio e a detenção são algumas das medidas adotadas com mais frequência para punir os agressores. O objetivo é minimizar e acabar com a intimidação nas ruas - seja ela verbal ou por meio de contato físico com conotação pejorativa.


Saiba quais as leis e medidas que alguns países que criminalizaram o assédio sexual adotaram.


Bélgica
A Bélgica foi o primeiro país europeu a considerar qualquer tipo de intimidação sexual em local público uma ofensa criminal. O país aprovou uma lei que criminaliza as cantadas de rua e incluiu uma multa que vai de R$ 151 a R$ 3 mil aos agressores. A nova legislação passou a vigorar no começo deste mês.


Argentina
A Argentina tem três projetos de lei em andamento no Congresso e na Legislatura de Buenos Aires que propõem multa e prisão para aqueles que assediarem mulheres em espaços públicos. Entre as punições estão multas que variam de R$34 a R$2.400 ou prestação de dois a dez dias de trabalho comunitário.


França
Em 2012, a França aprovou uma lei mais rígida contra o assédio sexual. A nova legislação elaborada no governo de François Hollande criminaliza o assédio em público e pode levar a 2 anos de prisão e a até 30 mil euros de multa (R$107 mil). As penas podem aumentar em casos com agravantes, como quando as vítimas são menores de 15 anos. Nesses casos, a pena sobe para 3 anos e a a multa para 45 mil euros (R$ 160 mil).

Peru
O Peru é um dos primeiros paises da América Latina a criminalizar o assédio sexual em locais públicos e a aprovar lei que prevê punição dos agressores. A lei prevê penas de 3 anos a 12 anos de prisão de acordo com o grau da violência. A pena é de 1 ano a 3 anos para aqueles que obriguem a vítima a tocar outra pessoa de forma indevida e com conotação sexual; 5 anos se houver uso de violência; 7 anos de prisão se o agente for docente, auxiliar ou exerça alguma atividade acadêmica; até 10 anos se realizado contra uma criança menor de sete anos; e 12 anos em caso de dano físico ou mental da vítima.

Egito
Em 2014, o Egito também adotou nova lei que pune e criminaliza o assédio sexual – que inclui qualquer sugestão ou sinal de cunho sexual ou pornográfico através de atos ou palavras. Na nova legislação aprovada pelo presidente interino Adly Mansour, os agressores podem ser condenados com penas que variam de 6 meses a 5 anos. Apesar do avanço, muitas críticas foram levantadas apontando as deficiências do decreto que exige que a vítima tenha testemunhas para confirmar que o ataque aconteceu.
Enquanto os países acima citados tipificam, em suas legislações, as várias formas de assédio sexual em locais públicos que são criminalizadas e devem ser punidas, incluindo as 'cantadas' como uma delas, outro grupo de países, que também prevêem a criminalização do assédio em locais públicos, propõe leis mais genéricas.

O Brasil, a Índia e o Reino Unido são alguns desses países. Apesar de oferecem leis contra o assédio sexual em locais públicos, eles não especificam quais 'práticas' se encaixam na definição de assédio. A legislação indiana, por exemplo, traz uma definição mais ampla sobre o que é considerado estupro, mas não faz considerações sobre as cantadas. Confira.

Índia
Em 2013, o parlamento indiano aprovou lei mais rígida contra crimes sexuais. O assédio sexual, que antes não era penalizado, agora é punível com 3 anos a 7 anos de prisão e o tempo pode aumentar quando a vítima for menor de 18 anos.  A principal mudança na nova legislação está na pena para casos de estupro, que passa a ter condenação mínima de 20 anos e máxima de prisão perpétua em casos de morte da vítima ou quando a vítima é deixada em estado vegetativo em função do ataque.

Reino Unido
O governo do Reino Unido anunciou, em junho, que irá tratar as denúncias de estupro e assédio sexual com a mesma severidade de ameaças terroristas. De acordo com um relatório britânico, cerca de 80% das vítimas não denunciam os ataques. O mesmo documento faz 46 recomendações sobre o assunto, incluindo mudanças na legislação sobre os assédios. O primeiro-ministro David Cameron deve fornecer mais recursos para ajudar na assistência às vítimas e na investigação dos casos.

Brasil
No Brasil, o assédio sexual é crime punível por lei desde 2001. A legislação, que define como assédio qualquer situação em que alguém for constrangido "com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual", prevê detenção de 1 a 2 anos para quem praticar o ato e, desde 2009, a pena pode ser aumentada em até um terço quando a vítima for menor de 18 anos. Em 2014, a presidente Dilma Roussef sancionou projeto de lei que configura como crime 

hediondo o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes.

Fonte: Midiamax

Poesia Moçambicana


Tânia Tomé

 Cantora, poeta e compositora moçambicana,TâniaTomé (1981), ingressa na vida artística aos 7 anos, ao vencer o prêmio de melhor voz no Concurso de Música organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Moçambique. Aos 13 anos, participa do seu primeiro sarau, onde canta, declama e toca ao piano poemas de José Craveirinha, em espetáculo que inclui a presença do homenageado. Com 17 anos, entra para a Universidade Católica Portuguesa, no curso de Economia. Em 2002, adere ao Movimento Humanista, e faz algumas atuações em Portugal para angariar fundos para as crianças desfavorecidas de Moçambique.
         Um ano mais tarde, ganha o Prêmio de Mérito da Fundação Mario Soares de Portugal pelo bom desempenho acadêmico e por conciliar estudos e atividades artístico-sociais. Em 2004, é coautora da antologia Um abraço quente da Lusofonia, com outros jovens poetas representantes de cada país da CPLP. Nesse mesmo ano, faz parte do CD intitulado Encontro (Iniciativa dos Leigos da Boa Nova), cuja totalidade dos lucros se destina a apoiar os projetos em favor das crianças e jovens de Angola e Moçambique. Regressa a Moçambique, e contribui para diversos movimentos artísticos e culturais, a destacar Movimento 100 crítica, Clave de Soul e Amigos do Livro. Faz-se então Membro da Associação dos Escritores Moçambicanos, da Associação dos Músicos Moçambicanos e dos Poetas del Mundo.
         Em 2006, produz e apresenla, ao lado do músico Julio Silva, um programa cultural na Televisão de  Moçambique (TVM). Em 2008, realiza e produz o espetáculo "Poesia em Moçambique", em tributo a José Craveirinha, onde todas as artes interagem para tornar vivo o poema. Introduz o conceito de Showesia (neologismo criado por ela) em Moçambique, com o qual se faz espetáculo de poesia com urna banda de músicos, ao lado da qual Tânia canta e recita poemas, havendo teatro da poesia, dança da poesia, entre outros. Em 2009, lança o primeiro DVD de poesia em Moçambique, com base no espetáculo "Poesia em Moçambique". Em seguida, lança oficialmente a página webwww.showesia.com, e faz parte do Poetry África em Maputo, representando Moçambique, repetindo atuação e representação no Festival Internacional Poetry África na África do Sul.
         Faz parte da antologia Worid Poetry Almanac 2009 (Com 190 poetas oriundos de 100 países). Participa do primeiro ano de comemoração de Celebração da língua e Cultura Portuguesa da CPLP em Moçambique, ao lado de Mia Couto e Calane da Silva. Participa do livro The bilingual anthology on african poetry (China). Atualmente preside a associaçãoShowesia com objetivo de resgatar o patrimônio cultural através de uma plataforma de interação entre o tradicional e o tecnológico/ocidental e de uma network cultural mundial.

Tânia Tomé
Agarra-me o sol por trás
(e outros escritos e melodias)

Organização/Prefácio de Floriano Martins.
Artista convidado Eduardo Eloy.
São Paulo: Escrituras, 2010.  127 p.  (Coleção Ponte Velha)  
ISBN  978-85-7531-388-6
www.escrituras.com.br

Sons em uníssono
A mão que me lê
ganha no espelho
a pupila
de uma luz imensa
no fundo da concha.
É o que se me vê(m) além
da cotilédone da pele:
sons ruidosos
em uníssono.

Sermente

E se Paul Celan
me entrasse
aqui, no futuro verso
eu seria a flor
tu serias a morte
e não te escreveria
neste desejo
incerto
de morrer-te
como murcha a flor
para ser semente

Se o meu pescador pescasse

Se o meu pescador me pescasse
pelo arpão me agarrasse os versos
um a um, sem pressa
a melhor palavra do mar...

Mas em que lugar da asa
a palavra poderia ser mais bela?
Com que cheiro? Com que sabor?
Onde seria o lugar do sol
Com que cor? Com que brilho?

E sei que hei de escolher
depressa mas devagar
a palavra mais carnuda para comer
E vou comer intensamente
Com toda forca dos meus (d)entes
na ponta dos dedos
as palavras que não me calo
E um peixe com asas
Há de nascer
E há de pescar-me no alto
o pescador
Espero


Encantoema
Pois ha urna verdade,
é a verdade do poema.
Urna verdade que não existe
e que não importa.
O que importa és tu
e és tu que existes
no peixe que sonhas.

Encantamente

Uma confusão de dedos
procurando as mãos
da menina
— Onde estão, mãe,
as minhas asinhas da loucura?

A palavra

A palavra quer deitar-se
sozinha, reflexa
contemplar devagar
o sol morre ao silêncio
Não há pressa, não há medo
A palavra quer morrer
quantas vezes for preciso


Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/




Comunicadores comunitários de Salvador podem participar de intercâmbio em Atlanta-EUA

O Consulado Geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto Mídia Étnica, abriu inscrições para o programa de Intercâmbio em Comunicação Comunitária, entre as cidades de Salvador e Atlanta, nos EUA. Serão escolhidos dois jovens que atuam como comunicadores comunitários em Salvador e dois de Atlanta para um intercâmbio de uma semana, com despesas cobertas pelo Consulado (passagens aéreas; hospedagem em casa de família; alimentação; seguro saúde; e solicitação de visto). A inscrição é on line e gratuita e vai até o dia 25 de junho.
Veja o formulário abaixo ou acesse: www.correionago.com.br
O foco principal são jovens que desenvolvem trabalho de produção de conteúdo sobre a realidade das periferias das cidades e as veiculam nas mídias sociais e veículos comunitários. Não é necessária a fluência em inglês, mas é fundamental que o jovem tenha interesse no aprendizado da língua inglesa. A seleção será feita por uma comissão formada por profissionais de comunicação de veículos da cidade e representantes do Consulado, por meio de análise dos formulários e, posteriormente, entrevistas com os candidatos.
Os comunicadores comunitários norte-americanos visitarão Salvador, durante uma semana, em setembro de 2015, e os colegas soteropolitanos terão a oportunidade de conhecer a cidade norte-americana no início de outubro, também por uma semana. O programa foi criado com o objetivo de promover uma troca de experiências entre jovens que atuam na comunicação comunitária dos dois países e visa fortalecer os laços entre pessoas no Brasil e nos EUA. Assim, os participantes deverão produzir conteúdo para seus meios de comunicação e redes sociais sobre suas experiências no intercâmbio.
Visitas – O intercâmbio dará aos participantes a oportunidade de visitar e conhecer comunidades de baixa renda em outro país e fazer reportagens através de mídias sociais e eletrônicas. Os comunicadores comunitários baianos visitarão veículos de imprensa tradicional e comunitária de Atlanta, conversarão com ativistas que militam na pela igualdade racial, ONGs e conhecerão a cidade, que concentra uma das maiores populações afrodescendentes dos EUA. A visita dos jornalistas americanos a Salvador será semelhante, com fortes aspectos culturais e sociais da cidade, além de uma imersão na mídia tradicional e comunitária da capital baiana.
O Consulado Geral dos EUA no Rio de Janeiro também fornecerá intérpretes, que acompanharão os participantes nas duas fases do programa. Após o intercâmbio, os participantes farão parte da comunidade de ex-intercambistas da Missão Diplomática dos EUA no Brasil. Espera-se também que os laços criados por estes jovens ultrapassem as duas fases do intercâmbio e que eles se mantenham em contato.
Atlanta
Critérios de seleção:
Pré-requisitos:
– Ser morador de comunidade de baixa renda;
– Ter experiência em comunicação comunitária;
– Ter interesse no aprendizado da língua inglesa;
– Ter interesse em conhecer comunidades de perfil semelhante nos EUA;

Após o intercâmbio, os participantes farão uma apresentação sobre a viagem aos representantes do Consulado Geral dos EUA no Rio de Janeiro.
FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO
Para se inscrever, acesse o http://goo.gl/forms/iXFN385hV1 e responda às perguntas do processo seletivo. Para outras informações, acesse o portal Correio Nagô (www.correionago.com.br) ou entre em contato com o Instituto Mídia Étnica, pelo e-mail: redecorreionago@gmail.com
Fonte: Correio Nagô

segunda-feira, 15 de junho de 2015

O que leva um branco a se dizer negro?

Rachel Dolezal, quando era criança, em foto divulgada por sua mãe, e atualmente

Essa é a pergunta que os Estados Unidos tentam responder há dois dias.
Rachel Dolezal é a presidenta local da organização pelos direitos dos afro-americanos NAACP (Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor) no Estado de Washington. Desde a adolescência mostrou-se interessada nos direitos das minorias, estudou em Mississippi e fez um mestrado na Universidade Howard, onde predominam os alunos de minorias. Atualmente também é professora de estudos afro-americanos e pertence a uma comissão policial de sua cidade. Quando solicitou esse trabalho, definiu-se como branca, negra e nativa americana.
no El Pais por Cristina F. Pereda

Mas se olharmos uma fotografia tirada quando ela era criança, enquanto crescia em Montana, Dolezal é uma jovem loira, de olhos azuis. “É nossa filha biológica e somos caucasianos, isso é um fato”, disse seu pai. Com essas declarações, os progenitores de Dolezal – de ascendência checa e alemã – acenderam a chama de um complexo debate que deixou todo um país coçando a cabeça enquanto procura respostas para um fenômeno com escassos precedentes: uma pessoa branca que diz ser negra.

Na atualidade, Dolezal tem o cabelo enrolado, sua pele é mais morena e usou desde cachos retos de uma cabeleira afro até um elegante coque de tranças no alto da cabeça. Tentou enganar alguém? Pensaria que se não fosse negra não poderia presidir a organização com mais experiência na luta pelos direitos dos afro-americanos? É só a aparência física que determina se uma pessoa é branca ou negra? Ou é sua experiência? Dolezal é a única que pode decidir sua identidade ou também importa como seus pais se definem?

Perguntada neste sábado por vários jornalistas se é branca ou negra, Dolezal respondeu simplesmente “não entendo a pergunta”, antes de se afastar dos microfones. Também declarou que se for dar explicações, será para sua organização e não “para uma comunidade que não acho que vá entender as definições de raça e identidade”. Por enquanto, a NAACP afirma que a raça de uma pessoa não a qualifica nem desqualifica para liderar a organização e respalda publicamente a trajetória dela.

Muitas pessoas se fizeram “passar” por brancas ao longo da história dos EUA. Segundo um estudo da Universidade de Yale, cerca de um em cada cinco afro-americanos. Mas o caso inverso é menos frequente e faz com que, se quisermos abordar também essa conversa, não tenhamos os recursos – pessoais, sociais e até linguísticos – para responder, sem grandes dificuldades, às perguntas que são colocadas.
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“A razão pela qual sua história é tão fascinante é que expõe de maneira inquietante que nossa raça é uma atuação”, escreve Steven W. Thrasher no The Guardian. “Apesar das distintas maneiras em que se percebe nossa raça, todas se baseiam no mito de que nossas diferenças existem e são perceptíveis”. Dolezal estaria contribuindo, talvez sem querer, para questionar o uso da identidade racial no contexto da justiça social e econômica.

Esse debate coloca a questão, por exemplo, de que se aceitamos que Dolezal “mentiu” sobre sua raça, assumimos também que a identidade racional não é pessoal, mas social. Isso quer dizer que uma pessoa deve justificar quando afirma ser branca ou negra? A resposta é mais complexa do que parece e obriga a reconhecer o que é a identidade racial e por que pesa tanto em um país como os EUA.
Um dos pontos-chave foi explicado por uma historiadora de Princeton ao The New York Times. Na época da segregação, as leis de Jim Crow estabeleceram a “regra da gota de sangue”. Se uma pessoa tivesse uma única gota de seus ancestrais afro-americanos, por mais distantes que fossem, e por mais branca que fosse sua pele, seria classificada como negra, discriminada e despojada de direitos como o de votar antes de 1965. Uma lei racista serviria, portanto, para aceitar que, embora pareça branca, Dolezal é negra.

Segundo os dados revelados por meios norte-americanos, a protagonista desse debate está divorciada de um homem negro, com quem tem um filho de 13 anos. Também cresceu com quatro irmãos adotivos negros e a briga pela custódia de um deles é o que teria levado seus pais a declarar que a jovem mente sobre sua identidade. Deixando as disputas familiares de lado, essa experiência pessoal, cuja interpretação não corresponde a ninguém mais que a ela, poderia ter ajudado a que se identificasse como negra.

Mas nos EUA é difícil desvincular essa identidade de um passado de escravidão e discriminação com reverberações tão recentes como os últimos escândalos de violência policial. Por isso muitos afro-americanos denunciaram nas redes que, a não ser que uma pessoa compartilhe essa experiência – não só a cor da pele –, não deveria dizer que é negra.

E assim chegamos ao segundo ponto desse debate. A experiência pessoal de milhões de afro-americanos é uma na qual a cor de sua pele, sua história e a de seus antepassados fechou as portas para oportunidades e direitos que desfrutaram, e continuam desfrutando, os norte-americanos brancos. Eles não podem dizer que sua raça é outra, enquanto que Dolezal, que alega ter sido vítima de ameaças e ataques de ódio por parte de grupos supremacistas, poderia voltar a se identificar como branca e, supostamente, sentir-se protegida do racismo.

A Unesco declarou, em 1950, que raça, em termos biológicos, só existe uma, a humana. Depois de consultar com psicólogos, biólogos, sociólogos e antropólogos, descreveu qualquer outra conotação em torno à cor de nossa pele como um “mito”. Nesse caso, o escândalo sobre Dolezal nos obriga a responder por que continuamos diferenciando as pessoas em função da cor de sua pele e a admitir que muitas disparidades socioeconômicas que sobrevivem hoje nos EUA desapareceram das leis, mas não da realidade.

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A alta modernidade de Machado de Assis

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Em 1895, Sigmund Freud publicou em Viena Estudos sobre a histeria, e em 1899, aquele que seria considerado o livro inaugural de sua topografia psíquica (baseada na ponta do “iceberg” do ego emerso do profundo oceano do inconsciente), A interpretação dos sonhos. Entre as duas datas, saía no Brasil, em 1896, Várias estórias, de Machado de Assis, contendo alguns dos melhores contos já escritos em língua portuguesa. E entre eles, aquele que provavelmente é a obra-prima insuperável do conto brasileiro, “O cônego ou a metafísica do estilo”.
por Luis Dolhnikoff, do Hedra

Mas o que tem a ver Freud com Machado, além da coincidência das datas? Nada. Porém, invertendo-se a frase – o que tem a ver Machado com Freud –, a resposta seria… nada, se não fosse quase tudo. Ao menos, no caso de “O cônego”.

Não haveria tempo hábil para Machado ler uma obra publicada em Viena em 1895 e escrever e publicar um livro por ela influenciada em 1896. Quanto à data de 1899, apesar de Machado ser conhecido como o “bruxo do Cosme Velho”, isto se deve ao poder quase miraculoso de seu estilo, não a reais capacidades mágicas, como viajar no tempo. Portanto, a topografia psicocerebral descrita no conto de Machado só pode ser atribuída ao zeitgeist, ao “espírito da época”, em que as primeiras pesquisas e teorias a respeito – incluindo as do próprio Freud – estamos sendo feitas. Ainda assim, o pequeno e imenso conto de Machado é quase inexplicável em sua radical modernidade.

Uma modernidade múltipla, baseada no uso da metalinguagem, na topografia da mente e no humor linguístico, entre outros.

“Enquanto o cônego cuida em cousas estranhas, eles [o substantivo e o adjetivo] prosseguem em busca um do outro, sem que ele saiba nem suspeite nada. Agora, porém, o caminho é escuro. Passamos da consciência para a inconsciência onde se faz a elaboração confusa das ideias, onde as reminiscências dormem ou cochilam. Aqui pulula a vida sem formas, os germens e os detritos, os rudimentos e os sedimentos; é o desvão imenso do espírito. Aqui caíram eles, à procura um do outro, chamando e suspirando. Dê-me a leitora a mão, agarre-se o leitor a mim, e escorreguemos também. Vasto mundo incógnito. [Eles] rompem por entre embriões e ruínas. Grupos de ideias, deduzindo-se à maneira de silogismos, perdem-se no tumulto de reminiscências da infância e do seminário. Outras ideias, grávidas de ideias, arrastam-se pesadamente, amparadas por outras ideias virgens. Cousas e homens amalgamam-se; Platão traz os óculos de um escrivão da câmara eclesiástica; mandarins de todas as classes distribuem moedas etruscas e chilenas, livros ingleses e rosas pálidas; tão pálidas, que não parecem as mesmas que a mãe do cônego plantou quando ele era criança. Memórias pias e familiares cruzam-se e confundem-se. Cá estão as vozes remotas da primeira missa; cá estão as cantigas da roça que ele ouvia cantar às pretas, em casa; farrapos de sensações esvaídas, aqui um medo, ali um gosto, acolá um fastio de cousas que vieram cada uma por sua vez, e que ora jazem na grande unidade impalpável e obscura.”

Faltou dizer, sobre esse texto imenso em sua exiguidade (quatro páginas ou menos, a depender da edição), que os personagens principais são um substantivo e um adjetivo, que se procuram ora na consciência, ora no inconsciente de um padre que tenta fechar a frase de um sermão (quando ele se distrai do trabalho).

“Matias vai escrevendo, ora devagar, ora depressa. As tiras saem-lhe das mãos, animadas e polidas. Algumas trazem poucas emendas ou nenhumas. De repente, indo escrever um adjetivo, suspende-se; escreve outro e risca-o; mais outro, que não tem melhor fortuna. Aqui é o centro do idílio. Subamos à cabeça do cônego.

Upa! Cá estamos. Custou-te, não, leitor amigo? É para que não acredites nas pessoas que vão ao Corcovado, e dizem que ali a impressão da altura é tal, que o homem fica sendo cousa nenhuma. Opinião pânica e falsa, falsa como Judas e outros diamantes. Não creias tu nisso, leitor amado. Nem Corcovados, nem Himalaias valem muita cousa ao pé da tua cabeça, que os mede. Cá estamos. Olha bem que é a cabeça do cônego. Temos à escolha um ou outro dos hemisférios cerebrais; mas vamos por este, que é onde nascem os substantivos. Os adjetivos nascem no da esquerda. Descoberta minha, que ainda assim não é a principal, mas a base dela, como se vai ver. Sim, meu senhor, os adjetivos nascem de um lado, e os substantivos de outro, e toda a sorte de vocábulos está assim dividida por motivo da diferença sexual…

— Sexual?

Sim, minha senhora, sexual. As palavras têm sexo. Estou acabando a minha grande memória psico-léxico-lógica, em que exponho e demonstro esta descoberta. Palavra tem sexo.

— Mas, então, amam-se umas às outras?

Amam-se umas às outras. E casam-se. O casamento delas é o que chamamos estilo. Senhora minha, confesse que não entendeu nada.

— Confesso que não.

Pois entre aqui também na cabeça do cônego. Estão justamente a suspirar deste lado. Sabe quem é que suspira? É o substantivo de há pouco, o tal que o cônego escreveu no papel, quando suspendeu a pena. Chama por certo adjetivo, que lhe não aparece: ‘Vem do Líbano, vem…’ E fala assim, pois está em cabeça de padre; se fosse de qualquer pessoa do século, a linguagem seria a de Romeu: ‘Julieta é o sol… ergue-te, lindo sol.’ Mas em cérebro eclesiástico, a linguagem é a das Escrituras. Ao cabo, que importam fórmulas? Namorados de Verona ou de Judá falam todos o mesmo idioma, como acontece com o thaler ou o dólar, o florim ou a libra que é tudo o mesmo dinheiro. Portanto, vamos lá por essas circunvoluções do cérebro eclesiástico, atrás do substantivo que procura o adjetivo.”
“Vem do Líbano, vem…”: trata-se do conhecido estribilho de O Cântico dos cânticos de Salomão, seguido de uma referência a Shakespeare, que Machado então aproxima, numa síncope quase pop, do mercado financeiro. É quase irresistível, a este respeito, dizer que pouco antes que ele citara James Joyce, não fosse, mais uma vez, a absoluta impossibilidade temporal. Joyce: “Onde as mãos do homem nunca pôs os pés”. Machado: “Nem Corcovados, nem Himalaias valem muita cousa ao pé da tua cabeça, que os mede”.

Ao menos, sem afrontar a irreversibilidade da seta do tempo, podemos afirmar que este conto de Machado certamente influenciou o argentino Júlio Cortázar, além de Borges, para inciar uma longuíssima lista. Muito menos conhecido do outras grandes obras de sua pena, como O Alienista“O cônego ou a metafícia do estilo”representa, provavelmente, o cume altíssimo de sua contística, ou, para falar como o próprio, o Everest de uma obra feita toda ela das mais elevadas altitudes literárias.


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