terça-feira, 22 de agosto de 2017

O Caldo de Pedra - Contos Tradicionais

O Caldo de PedraUm frade andava no peditório. Chegou à porta de um lavrador, mas não lhe quiseram aí dar nada.
O frade estava a cair de fome e disse:
– Vou ver se faço um caldinho de pedra.
– E pegou numa pedra do chão, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, como se a ver se era boa para o caldo.
A gente da casa pôs-se a rir do frade e daquela lembrança. Diz o frade:
– Então nunca comeram caldo de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa.
Responderam-lhe:
– Sempre queremos ver isso. Foi o que o frade quis ouvir.
Depois de ter lavado a pedra, pediu:
– Se me emprestassem um pucarinho…
– Deram-lhe uma panela de barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
– Agora, se me deixassem estar a panelinha aí, ao pé das brasas…
Deixaram. Assim que a panela começou a chiar, disse ele:
– Com um bocadinho de unto é que o caldo ficava a primor!
Foram-lhe buscar um pedaço de unto. Ferveu, ferveu, e a gente da casa pasmada para o que via.
O frade provando o caldo:
– Está um nadinha insosso. Bem precisa de uma pedrinha de sal.
Também lhe deram o sal. Temperou, provou e disse:
– Agora é que, com uns olhinhos de couve, ficava que até os anjos o comeriam.
A dona da casa foi à horta e trouxe-lhe duas couves. O frade limpou-as e ripou-as com os dedos e deitou as folhas na panela. Quando os olhos já estavam aferventados, arriscou:
– Ai! um nadinha de chouriça é que lhe dava uma graça!…
– Trouxeram-lhe um naquinho de chouriço. Ele pô-lo na panela e, enquanto se cozia, tirou do alforge pão e arranjou-se para comer com vagar. O caldo cheirava bem que era um regalo.
Comeu e lambeu o beiço.
Depois de despejada a panela, ficou a pedra no fundo.
A gente da casa, que estava com os olhos nele, perguntou-lhe:
– Ó senhor frade, então e a pedra?
– A pedra… lavo-a e levo-a comigo para outra vez.
Fonte: http://www.minerva.uevora.pt/pre1ciclo/contost.htm

Chissano espera que a votação seja uma festa para os angolanos



O antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, desejou hoje que as eleições gerais marcadas para o próximo dia 23 de Agosto em Angola sejam uma festa para o povo angolano, para que possam sair todos "mais irmãos do que nunca".
"É isso que nós gostaríamos de ver, mas como se trata de eleições e é África, vamos observar com toda a atenção, para então dizermos o que estamos a prever agora com maior acuidade e certeza. Então vamos observar com atenção, com toda a imparcialidade", disse Chissano  aos jornalistas, em Luanda, no final da audiência com o presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), André da Silva Neto.
Considerando-se suspeito por ser moçambicano e "amigo de Angola", Joaquim Chissano disse que desde a sua chegada ao país tem ouvido "boas coisas do processo eleitoral".
"Os preparativos estão no bom caminho, a campanha eleitoral aconteceu a contento, sem distúrbios de maior e vi que também os órgãos eleitorais estão bem organizados", observou o antigo presidente de Moçambique.
Presente a convite do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, para a observação do acto eleitoral, Joaquim Chissano disse ter ficado "maravilhado" com os meios tecnológicos disponíveis nestas eleições.
"Nada vai depender da mão dos homens, porque a tecnologia está a funcionar, aparentemente, por aquilo que eu vi muito bem, mas também o presidente da CNE confirmou-me que não teve nenhum sobressalto quanto a esse ponto", salientou.
Sobre a decisão de José Eduardo dos Santos de não concorrer a estas eleições, Joaquim Chissano felicitou o Presidente angolano, também por uma transição que lhe parece "pacífica e com o apoio de todo o povo angolano".
"E pelo que vejo em Angola, posso dizer que merece esses louvores. Porque transformou um país arruinado pela guerra para um país que vai para a prosperidade. Introduzindo a tempo, as reformas necessárias, por exemplo a diversificação da economia e há muita coisa que se vê a olho nu", realçou.
"O Presidente José Eduardo dos Santos tomou a decisão que tomou, porque achou que chegou o momento correcto, o momento favorável para todo o angolano, para ele se retirar da vida política. E fiz o mesmo, também o fiz quando estava convicto que tinha chegado o momento em que podia faze-lo", ajuntou.
Angola realiza na quarta-feira as suas quartas eleições, as primeiras em que não é candidato José Eduardo dos Santos, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, desde 1975, ano da independência do país. 
fonte: SAPO on line notícias

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Programação cultural intensa marca aniversários da Palmares e da UnB

Uma série de eventos marcam os aniversários de 29 anos da Fundação Cultural Palmares, comemorado no dia 22 de agosto, e dos 55 anos da Universidade de Brasília (UnB), celebrado em 21 de abril. Com programação intensa, que começa em 21 de agosto e prossegue até 30 de novembro, a parceria recebe o nome de Interconexões, título que valoriza os laços entre as duas instituições. O objetivo é, a partir de debates, sensibilizar o público do projeto sobre questões relacionadas à população negra.
A programação começa com a abertura oficial, no dia 21, às 14h, no Anfiteatro da Saúde, no Campus Darcy Ribeiro da UnB. A cerimônia contará com a presença do presidente da Fundação Cultural Palmares, Erivaldo Oliveira, além de representantes da Universidade de Brasília, do Ministério da Cultura (MinC), da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e da professora Edileuza Penha de Souza, doutora em Educação pela UnB e especialista em Cinema. Na ocasião, haverá a abertura do I Encontro de Cineastas e Produtoras Negras, com a exibição do filme Alma no Olho, de Zózimo Bulbul e uma mesa de debates.
Para o presidente da Fundação Cultural Palmares, Erivaldo Oliveira, o  Interconexões vem de encontro às missões institucionais tanto da UnB quanto da Fundação. “A UnB busca produzir conhecimento, gerar pensamento crítico, organizar e articular os saberes, formar cidadãos, profissionais e lideranças intelectuais. Já a Palmares tem como objetivo primordial desenvolver uma política cultural igualitária e inclusiva, para valorizar as manifestações culturais e artísticas negras brasileiras como patrimônios nacionais”, compara Erivaldo.
Segundo o presidente da Palmares, o projeto, que celebra o aniversário de duas entidades tão importantes, coloca em cena uma série de questões essenciais. “Queremos contribuir para a inclusão social e cultural da população afrodescendente e valorizar as matrizes que deram e dão subsídios à cultura brasileira. Mais do que isso: desejamos combater as condutas resultantes de preconceito, discriminação e de toda e qualquer atitude de hostilidade em relação a determinados grupos”, destaca Erivaldo Oliveira.
Por mais de três meses, virão à tona discussões sobre temas como combate ao racismo, ao preconceito, à discriminação e à intolerância religiosa, promoção da igualdade, difusão e preservação da cultura negra, exercício dos direitos e garantias individuais e coletivas dos afro-brasileiros, além do reconhecimento e respeito às identidades culturais dessa população.
Nas diversas mesas programadas, entrarão na pauta assuntos como O papel da Mulher no Mercado de Cinematográfico, As diversas Violências sofridas pelos Jovens Negros que ingressam nas Universidades pelo Sistema de Cotas Raciais, Literatura Negra Contemporânea - Mesa de Debate com Escritores e Escritoras, Respeito à Diversidade Religiosa e Música Negra.
Cinema negro
Dentre os destaques do Interconexões está o I Encontro de Cineastas e Produtoras Negras – Mostra de Cinema Negro, Debate e Sessões, de 21 a 25 de agosto, no Anfiteatro da Saúde, no Campus Darcy Ribeiro da UnB. Um dos filmes exibidos será Alma no Olho, de Zózimo Bulbul (1937-2013), de 1973. Ator, diretor, produtor e roteirista, Bulbul trabalhou com nomes importantes do Cinema Novo, como Glauber Rocha, Cacá Diegues e Leon Hirszman. Também atuou como primeiro negro protagonista de uma telenovela brasileira, ao lado de Leila Diniz, em Vidas em Conflito, no ano de 1969.
Estado, Racismo e Violências
No dia 22 de agosto, uma das questões mais importantes ligadas ao povo negro entrará em debate com a realização do seminário Estado, Racismo e Violências, das 9h às 17h,    no Instituto de Biologia, na UnB. O evento contará com presença de representantes do MEC, de alunos e de Universidades que implantaram o Sistema de Cotas, além de especialistas que debatem sobre o tema.
A programação de palestras inicia às 10h30, com o tema Racismo Institucional e Universidade, a cargo de Evandro Piza, doutor em Direito pela UnB. Às 14h, o professor titular do Departamento de Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Julio Cesar Tavares, falará sobre Vidas Negras Importam: de que valem Mentes Negras?e o Professor Valter da Mata, mestre em Psicologia Social e Presidente do Conselho Regional de Psicologia da Bahia, dará uma palestra sobre Persistência da Raça nas Interações Sociais.
Literatura
Dentro do Interconexões, ainda vai acontecer o encontro Literatura Negra Contemporânea – Mesa de Debate com Escritores e Escritoras, em 23 de agosto, no Beijódromo, no ICC Sul, na UnB. Vale destacar que a Fundação Palmares tem apostado na divulgação da literatura com temática afro-brasileira, inclusive com recente participação na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP).
Em 2016, foram reconhecidos cinco trabalhos com esta perspectiva por meio do Prêmio Oliveira Silveira. Para 2017, a Palmares prepara a segunda edição do prêmio, agora com foco na literatura infanto-juvenil, e planeja a criação de um selo editorial para publicar clássicos afro-brasileiros fora de catálogo e autores contemporâneos.
Respeito à Diversidade Religiosa
O Interconexões ainda terá o seminário Muitos Caminhos – Um Único Encontro, em 24 de outubro. Vários líderes religiosos foram convidados para apresentarem, dentro de suas convicções religiosas,  que independentemente dos caminhos escolhidos é possível a convivência pacífica e o respeito à diversidade.
Música Negra
Na programação, acontecerá ainda a Batalha Hip Hop do Conhecimento, que usa o rap como instrumento para discutir temas ligados à educação, cultura e política, em 30 de novembro. Na UnB, o evento é realizado todas as quartas-feiras pelos alunos na Escadaria do Ceubinho.
Fonte: FCP

"Ser escritora nunca foi uma ambição", diz poeta Bruna Beber

Os escritores Bruna Beber & milton hatoum posam para ensaio da Serafina de julho de 2017 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Foto: Bob Wolfenson
Os escritores Bruna Beber e Milton Hatoum posam para ensaio da Serafina de julho de 2017.

Quando Bruna Beber, 33, era adolescente e fazia testes vocacionais, artista constava entre as profissões que poderiam sair como resultado.
Mas a caxiense escrevia porque gostava de escrever. E, aos 22 anos, lançou seu primeiro livro. Passada uma década, é considerada uma das autoras em maior ascensão na literatura brasileira. Lançou há semanas "Ladainha", que recebeu cinco estrelas da crítica da Folha.
A pedido da Serafina, Beber se encontrou com Milton Hatoum, um dos maiores escritores vivos, e respondeu a perguntas sobre seu ofício.
Leia abaixo a entrevista com a poeta.
Em que você está trabalhando neste exato momento?
Estou finalizando um processo de tradução de livros clássicos norte-americanos infantis de poesia que comecei há oito meses. Foram sete livros ao todo, que começarão a ser publicados ao longo desse ano. Ao mesmo tempo, traduzi também um longo poema clássico europeu do século 19 que deve sair em breve.
Teve algum romance, conto ou poema que te levou a querer escrever? Qual, quando e, se já conseguiu diagnosticar, por quê?
Isso acontece com frequência, pois me sinto sempre recomeçando, tomando novo fôlego para escrever. Não para criar, porque não gosto da palavra criar, prefiro a palavra fazer. Uma vez li uma entrevista da Miranda July em que ela dizia que quando a gente encontra uma grande arte, se sente compelido a fazer (ou tentar fazer) algo em resposta. Lembro de quase todos os meus grandes encontros com livros, poemas e músicas, mas vou me concentrar nos decisivos de formação, dos 15 aos 20 anos:
1)"Angústia", do Graciliano Ramos. Ali eu senti a mordida, a mais fatal e intratável, dói até hoje;
2) "As Impurezas do Branco", do Drummond;
3) A imbatível dupla "Memórias sentimentais de João Miramar" & "Serafim Ponte Grande", do Oswald;
4) "Agora é que são elas", do Leminski;
5) "Tanto faz", do Reinaldo Moraes; e o poema "As árvores", do Arnaldo Antunes, que virou música com o Jorge Ben Jor.
Qual foi o momento em que você olhou no espelho e pensou: sou artista?
Comecei a escrever muito cedo, assim que aprendi a ler e a escrever, mas só fui tomar consciência de que escrevia e de que escrever era algo diferente do que os meus amigos faziam, quando comecei a mostrar a eles as coisas que havia escrito, na adolescência. No contexto em que cresci, ser artista nunca foi uma possibilidade, não existia esse tipo de questionamento. Na escola, na hora do teste vocacional, ninguém recebe o resultado "artista". Então, eu sempre escrevi, mas ser escritora nunca foi uma ambição. Até publicar o meu primeiro livro, aos 22 anos, eu nunca havia pensado que um dia publicaria um livro. Eu não conhecia pessoas da minha idade que publicavam livros, eu não sabia nem o que precisava ser feito para publicar um livro. Até que descobri e aconteceu, e então eu não tinha a menor noção do que viria depois, eu não esperava por nada, eu só queria publicar um livro e não sabia nem qual era o significado disso. Cinco livros depois, eu entendo um pouco mais, mas sei que nunca vou compreender de todo, não é a minha busca. A minha busca é fazer. Enfim, eu acho que isso tudo aconteceu porque antes mesmo de existir um planejamento, um cálculo, um contexto propício, um momento preciso, existia desde sempre, desde que me peguei ainda criança completamente encantada pelas palavras, existia um imenso e secreto desejo de fazer, de dizer, então eu sempre fui fiel a essa convocação que logo cedo senti, que me moveu e que eu nunca abandonei. Hoje a poesia é o meu principal ofício, que eu assumi não faz muito tempo, e que só virou ofício porque sempre foi e será um caminho.
Tem algum momento em que olhe no espelho e pense: não sou artista? Quando?
Repondo concluindo o textão acima: finalmente eu não me questiono mais sobre isso. Mas, até aceitar que "sim, eu faço um trabalho artístico". E depois "sim, eu faço um trabalho artístico mas como vou viver disso?". Passando por "sim, essa é a coisa que mais gosto de fazer, então eu tenho que dar um jeito dessa coisa ser o meu principal ofício". Culminou em "sim, eu faço um trabalho artístico, escrever é o que eu mais gosto de fazer, eu vou tentar fazer isso a maior parte do meu tempo, mas tem vezes que não vai dar e tudo bem, paciência". Hoje, que me entreguei totalmente a esse caminho, me sinto sempre em risco, uma formiga em risco. E gosto disso. Não reclamo de ser meu próprio patrão e também minha própria contadora, meu próprio office boy, minha própria produtora, até porque controlo o meu tempo. Então estou sempre trabalhando e resolvendo burocracias, cansada e sempre descansando, para nunca ter vontade de parar, porque essa inquietação às vezes é tão intensa que chega a ser paralisante.
Qual é seu conselho para alguém que quer ser escritor?
O óbvio: ler, ler, ler. Ir atrás das grandes e pequenas obras, ir atrás do risco, de todo tipo de arte. Escrever muito e reescrever muito mais. Sentar e fazer, como qualquer atividade, toda dedicação é recomendável. Já o resultado disso tudo é imprevisível, afinal nunca houve nem haverá garantias para ninguém. No mais, pessoalmente, aceitar a solidão e amá-la, cantar, caminhar, conversar e viajar sempre que possível.
Qual foi o melhor conselho que recebeu quanto ao ofício?
Quem não arrisca não petisca!
Que palavra define sua relação com a arte hoje?
Fazer.
Qual definia quando começou?
Solidão.
Se não fosse artista, seria o quê?
Dona de bar.
Há algo que todos deveriam ler?
Um livro chamado "Seis Mil Anos de Pão - A Civilização Humana Através de seu Principal Alimento", do historiador alemão Heinrich E. Jacob. Mudou a minha percepção, é uma espécie de livro sagrado, mas no lugar de Deus (ou como prefira chamar) está o pão. 

CHICO FELITTI
Fonte: Folhauol

Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...