quarta-feira, 23 de abril de 2014

Tese de haitiano diz que ajuda internacional ao Haiti é 'grande mentira'



Antonino Perri
Autor do estudo afirma que o país está sendo recolonizado pelo capital estrangeiro
22/04/5014
Por Carlos Orsi, da Unicamp
"Não tem ninguém ajudando o Haiti. É o Haiti que está ajudando todo mundo", disse ao Jornal da Unicamp o haitiano Franck Seguy, que acaba de defender sua tese de doutorado "A catástrofe de janeiro de 2010, a 'Internacional Comunitária' e a recolonização do Haiti", no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, sob orientação do professor Ricardo Antunes.

"A ajuda internacional ao Haiti é a grande mentira que a mídia conta", disse o pesquisador. Em sua tese, ele sustenta que o catastrófico terremoto de janeiro de 2010, que deixou cerca de 300 mil mortos e 2,3 milhões de desabrigados, deu ao que ele chama de "Internacional Comunitária" - o conjunto de países hegemônicos e organizações a eles vinculadas, comumente chamados de comunidade internacional - a oportunidade de impor a recolonização do país. "Literalmente, o Haiti está se tornando uma colônia", disse ele. "Não uma colônia como antigamente, a colônia de uma metrópole, mas é uma colônia do capital transnacional".

O projeto de recolonização, afirma Seguy, já ficava claro no texto do "Plano de Ação para a Recuperação e o Desenvolvimento o Haiti" (PARDN), apresentado pelo governo haitiano dois meses depois do terremoto. "O governo haitiano escreveu um plano de reconstrução que ele apresenta aos seus parceiros da mal chamada comunidade internacional - não à sociedade civil haitiana. Só que quando analisei o plano para minha tese, descobri que é, na verdade, apenas uma atualização de um estudo realizado por um economista da Universidade de Oxford que se chama Paul Collier, que foi enviado ao Haiti pelo Secretário Geral da ONU, e que publicou o relatório dele em janeiro de 2009", explicou o pesquisador. "Quer dizer: o que está sendo implementado hoje no Haiti como 'reconstrução', na verdade, é um plano de antes do terremoto".

"O terremoto atingiu o Haiti na região onde fica a capital. O Haiti é dividido em departamentos. O departamento onde fica a capital, Porto Príncipe, se chama o Departamento Oeste. E esta região foi a que foi atingida, o Departamento Oeste e um pouco do Sudeste. Porém, tudo o que está acontecendo em torno da reconstrução do Haiti está acontecendo no Nordeste", relatou o pesquisador. "Do outro lado da ilha. O plano não está atendendo às necessidades criadas pelo terremoto. O plano está implementando as conclusões do estudo anterior ao terremoto, que é o Relatório Collier". Levantamento da agência de notícias Reuters dá conta de que, no início deste ano, ainda havia mais de 150 mil pessoas morando em tendas e abrigos improvisados em Porto Príncipe, e que não têm nem água limpa e nem sequer pias para lavar as mãos.

Uma das propostas de Collier é de que o Haiti se aproveite de uma série de leis dos Estados Unidos, que permitem que produtos manufaturados haitianos entrem no país sem pagar tarifas, para estabelecer uma série de zonas francas para a produção têxtil. Diz texto de Collier, citado na tese:

"No setor de vestuário, o custo principal é o da mão de obra. O Haiti sendo relativamente pouco regulamentado, o custo da mão de obra aguenta perfeitamente a concorrência com a China, que constitui a referência padrão. A mão de obra haitiana não somente é barata, também é de qualidade. Com efeito, dado que a indústria do vestuário já foi anteriormente muito mais desenvolvida do que o é atualmente ali, o Haiti dispõe neste setor de uma importante reserva de mão de obra experiente".

O foco do investimento supostamente enviado para a reconstrução do país, explica Seguy, vem sendo a zona franca de Caracol, no nordeste haitiano, onde está sendo implantado um parque industrial têxtil exportador. A tese afirma que o parque ocupa "250 hectares de terras cultivadas por famílias campesinas, que o governo expropriou". "No dia 11 de janeiro de 2011, ou seja, um dia antes do primeiro aniversário do terremoto, o governo haitiano havia assinado um acordo com a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, junto a representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a companhia de têxtil coreana, Sae-A Trading, em virtude do qual os 366 lares de agricultores que trabalhavam 250 hectares de terras das mais férteis do município precisavam ser expropriados para deixarem o lugar à construção de uma zona dita industrial", diz a tese. As famílias que tiveram suas terras desapropriadas ainda aguardam indenização.

Franck não acredita que a instalação de zonas industriais exportadoras como a Caracol possa levar ao desenvolvimento econômico do país. "O Haiti é visto como espaço para produzir, não como espaço para consumir. O trabalhador haitiano na zona franca, que produz as camisas, jeans ou tênis nunca vai consumir esses produtos. Por quê? Porque o salário dele, o salário do haitiano hoje, é de 200 gurdes (cerca de US$ 5) ao dia. Quer dizer, está se utilizando do Haiti para produzir, mas não se enxerga o Haiti, o trabalhador haitiano, como um consumidor".

Além disso, lembra ele, a industrialização está se dando por meio de produção têxtil, sem transferência de tecnologia e sem investimento firme do empresário, que em geral é estrangeiro. "A construção do espaço não é investimento do capitalista. O investimento para construir a fábrica é o dinheiro que vai para o Haiti em nome da ajuda ao povo haitiano. Se em alguma região do mundo a mão de obra for mais barata que a haitiana, a empresa não tem dificuldade em se mudar. O capitalista que está explorando a mão de obra haitiana não tem compromisso nenhum com o Haiti. Porque ele não tem nada a preservar ali".

O pesquisador não é otimista quanto à possibilidade de uma melhor inserção do Haiti na economia global: "A divisão internacional do trabalho já decidiu qual o papel do Haiti: fornecer mão de obra barata". Mais de 80% dos haitianos com curso superior deixam o país, disse ele. "Há dois fluxos migratórios: o que é chamado de cérebros, principalmente para o Canadá, e o outro, de trabalhadores manuais, para as ilhas da circunvizinhança do Haiti, e agora cada vez mais para o Brasil". Franck afirma que parte do fluxo de trabalhadores haitianos pouco qualificados em direção ao Brasil parece clandestino, mas que na verdade as rotas são bem organizadas, e conhecidas das autoridades. "Se não estivesse atendendo a interesses no Brasil, elas poderiam ser facilmente fechadas", declarou.

Tropas brasileiras

O Exército brasileiro chegou ao Haiti após o levante de 2004, que culminou com o exílio do então presidente Jean-Bertrand Aristide. O Brasil assumiu o comando militar da Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) em junho daquele ano. Franck é cético quanto à necessidade da presença de forças internacionais em seu país.

"Tiveram que vender a ideia de que o país estava em guerra e precisava ser pacificado. E desde que cheguei ao Brasil essa é a pergunta que me fazem: sobre a guerra do Haiti ou missão de paz no Haiti. Não, o Haiti nunca precisou de missão de paz, nunca teve guerra", disse. Além disso, o pesquisador lembra que o próprio nome da missão é de "Estabilização", não de paz. Ele compara a situação de desordem que levou à intervenção internacional no Haiti aos conflitos dentro das favelas do Rio de Janeiro. "Esses conflitos existem, e justificam muitas coisas, mas não dá para dizer que o Brasil esteja em guerra e precise ser pacificado", comparou.

Assim como o capital internacional se serve das zonas francas, o Brasil se serve do Haiti para ganhar projeção no cenário internacional, tentar comprovar sua capacidade a ocupar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e para treinar suas tropas, disse o pesquisador. "O Haiti serve para isso. É um campo de treinamento. Praticamente todos os soldados brasileiros que já foram para o Haiti estão, agora, sendo utilizados para controlar o Rio de Janeiro, porque a situação é muito parecida". O papel do Brasil no Haiti, disse ele, é de repressor dos movimentos sociais de contestação. "Em 2008 houve movimentos contra o encarecimento da cesta básica e, em 2009, muitos movimentos operários pelo reajuste do salário mínimo. Qual o papel do Exército brasileiro em tais ocasiões? Repressão. O papel do Brasil é o papel policial, de reprimir qualquer movimento contra esta ordem que se está caracterizando no Haiti".

Futuro
O Haiti é hoje um país sem soberania, afirma Franck, onde o governo nacional tem menos poder que um governador de Estado. "Se o Haiti fosse anexado aos EUA, seu governador teria mais autonomia que os dirigentes haitianos têm agora", disse ele. O pesquisador não vê uma saída para o país que passe pela "internacional comunitária", pelo governo nacional e as classes dominantes que colaboram com ela.

"A saída seria pelo outro lado, pelo lado dos movimentos sociais, das lutas sociais, só que este lado também está comprometido: porque hoje, o que existe de movimentos sociais no Haiti vive de financiamento estrangeiro, por meio das ONGs que se dizem ONGs de esquerda".

Franck desconfia das ONGs, mesmo das que se declaram de esquerda. O texto de sua tese traz uma crítica à "solidariedade de espetáculo" das organizações internacionais. Referindo-se ao apoio prestado pelas ONGs aos camponeses haitianos, ele escreve: "tanto as ONGs da sociedade civil quanto os movimentos sociais, até as organizações de bairros urbanos e o próprio movimento camponês contemporâneo, quando se organizam, o fazem com o intuito de se metamorfosear em instituições de gestão de projeto de desenvolvimento, em vez de colocar a questão agrária - questão fundamental - na agenda político-ideológica".

"A ONG pode até se dizer de esquerda, mas a ONG, de esquerda ou de direita, funciona à base de financiamento. E tem de prestar contas, periodicamente, ao financiador. O funcionário da ONG pode acreditar que é um militante, mas não pode ser um militante contra o capital. Porque ele é um funcionário que tem de prestar contas".
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/28233

sábado, 19 de abril de 2014

'Quero mostrar a China de verdade', diz autor censurado

Após a experiência, reagrupou o que viu, ouviu e apurou numa reportagem bombástica que deu origem a um livro de sucesso em seu país.

A publicação resultou na prisão dos principais líderes da máfia da agiotagem e lhe rendeu prestígio e prêmios, mas aborrecimentos com o mercado editorial local, que começou a censurar palavras e frases de suas obras.

João Batista
Murong Xuecun, pseudônimo de Hao Qun, durante evento na Bienal do Livro de Brasília
Murong Xuecun, pseudônimo de Hao Qun, durante evento na Bienal do Livro de Brasília

"Na China, todas as editoras, jornais, revistas, televisões pertencem ao governo. Tudo. O fato é que ninguém gosta de censura. A liberdade de imprensa é muito importante", disse ele em entrevista à Folha, durante a 2ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura, em Brasília.

Hoje colunista do "New York Times", ele lançou no seu livro de estreia no Brasil, "Deixe-me em Paz" (Geração Editorial), escrito há 12 anos. "Aqui tem democracia. Quando faço comparação com o meu país parece piada".

Quando, em 2010, foi impedido de discursar contra a censura ao receber um prêmio literário, não titubeou. Tomou a mesma decisão feita com todos os seus romances submetidos ao escrutínio dos censores: publicou o texto na internet sem corte.

Ele conta ter 8,5 milhões no Weibo, o Twitter chinês. O escritor será bolsista da Biblioteca Nacional de Nova York, num programa que beneficia escritores perseguidos em seus países de origem.

Nas tramas que edita sob pseudônimo na internet, desnuda o submundo dos homens de negócios, autoridades corruptas, sexo, bebedeira e violência. "Eu quero que os estrangeiros vejam a China de verdade", diz.

Em novembro do ano passado, por exemplo, Murong teve sua conta do Weibo cancelada pelo governo, numa ação da censura, que vem cancelando milhares de assinaturas do microblog.

"A política do novo presidente tem intensificado o controle sobre a internet, nos últimos anos mais 3.000 blogueiros foram preso na China", lamentou em debate na quarta, na Bienal. "Hoje, na China, só as vozes do governo podem falar, o povo não."

SENSAÇÕES

O chinês Murong Xuecun foi uma das sensações do encontro literário, ao lado da norte-americana de origem nigeriana Nnedi Okorafor.

Autores da África e da Ásia despertaram atenção do público para a realidade de seus países mas também para como a literatura que fazem serve a vocalizar os problemas.

Entre outros convidados da festa literária, que segue até dia 21, estiveram o moçambicano Mia Couto —bastante assediado— e o angolano Gonçalo Tavares, além do cubano Leonardo Padura.

Movimentada —segundo organizadores até o meio da semana contava cerca de 250 mil visitantes—, a bienal teve grande estrela o uruguaio Eduardo Galeano. Tietado, o autor de "As Veias Abertas da América Latina" respondeu à recepção dizendo-se "sufocado de tanto carinho".

O orçamento de R$ 11 milhões não dotou o evento de infraestrutura suficiente. O público afluiu em massa, mas enfrentava problemas como a falta de estacionamento na Esplanada dos Ministérios, palco do evento, falta de água nos banheiros e despreparo de monitores. Um dos incômodos mais visíveis era o piso colado sobre a grama.
Fonte:  Folhauol

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Personalidades Negras – Cruz e Sousa



Nascido em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) em 1861, João Cruz e Sousa foi um dos precursores do simbolismo no Brasil. Filho de ex-escravizados, ficou sob a proteção dos antigos proprietários de seus pais, após estes serem alforriados. Apesar da educação refinada que recebeu teve que enfrentar o preconceito racial que era mais evidente em sua época.

Aprendeu francês, latim e grego, além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller, com quem aprendeu Matemática e Ciências Naturais. Em 1881, dirigiu o jornal abolicionista Tribuna Popular, no qual lutou contra a escravidão e o preconceito racial. Dois anos mais tarde, foi nomeado promotor público de Laguna (SC), no entanto, foi recusado logo em seguida por ser negro.

Em 1893, publicou suas obras Missal (poemas em prosa) e Broquéis (poesias), as quais são consideradas o marco inicial do Simbolismo brasileiro. A linguagem de Cruz e Sousa, herdada do Parnasianismo, é requintada, porém criativa, na medida em que dá ênfase à musicalidade dos versos por intermédio da exploração dos aspectos sonoros dos vocábulos.

Cruz e Sousa faleceu aos 36 anos, em 19 de março de 1898, vítima do agravamento no quadro de tuberculose.
Fonte: FCP



Paralelamente a mostra de artista francês acontece oficina sobre cultura afro-brasileira

Paralelamente à mostra “Nos Caminhos Afro”, que conta com fotografias em preto e branco do fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês Pierre Verger, acontece entre os dias 23 e 26 de abril no Museu de Arte Contemporânea (MARCO ) a Oficina de Cultura e História Afro-Brasileira . A exposição segue até o dia 1º de junho. Realizada pelo professor de antropologia visual da Universidade Federal da Bahia, Luis Nicolau Páres, a Oficina de Cultura e História Afro-Brasileira é gratuita. O curso reflete a história da cultura afro-brasileira e a importância da atuação de Verger para sua divulgação no Brasil e no mundo.  Serão quatro dias de aulas, no turno vespertino, com carga horária total de 16 horas. O público alvo da oficina são os professores da rede pública de ensino e demais interessados no tema. Tanto a mostra quanto a oficina na Capital marcam a terceira etapa de um projeto itinerante que percorrerá quatro cidades brasileiras até 30 de novembro de 2014.  Pierre Verger
Com maestria de quem faz da fotografia não apenas um ofício, mas uma expressão artística, Pierre Fatumbi Verger registrou cenas que convergem com o que há de mais genuíno no continente-mãe, com leveza de quem retrata a vida por vocação, enxergando beleza em atos do cotidiano despercebidos ao olhar comum.  As imagens da exposição “Nos Caminhos Afro” revelam singularidades, como Tambor de Mina, no Maranhão, Xangô, em Pernambuco, Candomblé, na Bahia, feiras, mercados e festas populares, um vasto leque sobre o cotidiano do povo negro. Qualidades tão africanas registradas em uma época na qual imperava uma cultura européia dominante e opressora. A obra em exibição é resultado da vivência pessoal como fotógrafo-viajante, que se tornou antropólogo não assumido.  De notável qualidade plástica, as fotografias narram a proximidade de povos de origem afrodescendente com o continente-matriz, a África. São registros sobre o cotidiano, a cultura e a religiosidade de descendentes de africanos no Brasil e em mais de 20 países, uma viagem no tempo com destino às sutilezas e às peculiaridades do universo interpretado pelo fotógrafo-viajante que realizou longas expedições de 1932 a 1970.  Embora nascido em uma família europeia burguesa, Verger optou por uma vida simples, diferente da sua origem. Longe de casa, dedicou-se integralmente à fotografia, à pesquisa e à religião de matriz africana, realizando ao longo da vida um trabalho fotográfico de grande importância, baseado no cotidiano e na cultura popular de povos dos cinco continentes. Como pesquisador, escreveu diversos livros sobre cultura afro-baiana e a diáspora, voltando seu olhar de pesquisador para o candomblé, foco de interesse da sua obra.  Serviço
As inscrições serão realizadas no site oficial da Fundação Pierre Verger: www.pierreverger.org. As vagas são limitadas. As aulas acontecem de 23 a 26 de abril, das 13h às 17h (de quarta a sexta-feira) e das 8h às 12h (sábado).


Fonte: Midiamax

terça-feira, 8 de abril de 2014

Serviços de inteligência monitoravam movimentos negros

Movimentos sociais e artísticos, como o Black Rio e o black são paulo, estavam na mira dos arapongas


José Carlos Vieira
Carlos Alexandre
Servicos Inteligencia


O alerta acima, acompanhado de dois carimbos de "confidencial" em cada uma das nove páginas do documento, foi dado pelo Centro de Informação e Segurança da Aeronáutica (Cisa-RJ), em 20 de outubro de 1976. Com o sugestivo título Racismo negro no Brasil, a pasta reflete a preocupação dos órgãos de segurança do governo comandado pelo general Ernesto Geisel com a infiltração de entidades subversivas nos movimentos populares. Os agentes da ditadura seguiam cada passo, registravam cada palavra dita por militantes, simpatizantes e intelectuais em favor da inclusão dos negros na sociedade brasileira.




O documento, que traz a chancela da Agência Central do Serviço Nacional de Informações, o SNI, detalha o que se passava nas palestras e nos debates promovidos por associações culturais, responsáveis pelo trabalho de recrutar simpatizantes ligados à causa negra. "Nesta fase, os conferencistas preocupavam-se em não falar ostensivamente em política, mas condicionavam os ouvintes a aceitar a existência de um disfarçado racismo branco no Brasil." Eram nessas palestras, segundo relata o agente, que os militantes identificam as pessoas mais sensíveis às ideias do movimento. Posteriormente, elas eram convidadas a participar de grupos de estudo, em caráter reservado.




Obtido pelo Correio no Arquivo Nacional, o relato do araponga ligado ao serviço secreto da Aeronáutica é detalhado e cheio de minúcias, e cita os principais temas apresentados pelos militantes, tais como:
 » Qualquer movimento cultural não pode ser desvinculado do político, já que muitas manifestações culturais, principalmente a negra, é esmagada por uma força política branca que é adversa a qualquer outro motivo cultural de outra raça;
 » O problema do negro no Brasil é sociocultural, pois a sociedade dominante da época da escravidão até os dias de hoje é branca e não é do seu interesse que a cultura negra vigore;
» Os negros devem se conscientizar do que são, e se honrar dos seus antepassados que lutaram até morrer por uma liberdade, como foi o caso do Quilombo dos Palmares.


Em determinado trecho do documento, o informante faz uma ressalva ao apontar que os moderados, durante os debates, evitam falar claramente em política e problemas sociais. Mas a ação dos "radicais" é direta e, segundo ele, são inspirados nos panteras negras, dos Estados Unidos, e no culto a Idi Amim Dada, ditador de Uganda. O grupo preferia recrutar simpatizantes nos clubes de soul onde jovens com cabelos black power e roupas coloridas lotavam as pistas de dança ao som de músicas de James Brown, Tony Tornado e Gerson King Combo. "Até o presente momento, não foi possível configurar se os conjuntos musicais de soul estão envolvidos." Os grupos radicais, de acordo com o relato do serviço de inteligência, se autodenominavam "almas negras" e tinham o socialismo como base ideológica, além de possuírem algumas características que os identificavam:
» A saudação entre homens e mulheres é feita com um beijo na boca;
» O cumprimento entre os homens é idêntico ao usado pelos panteras negras (vários toques de mão);
» Em algumas reuniões, alguns negros fizeram saudação à moda comunista (braço levantado e mão fechada);
» Usam alguns termos especiais e chamam o branco de "mucala" (mukala, branco, grifo nosso) e vestem-se com roupas extravagantes.


Até hoje o produtor cultural Asfilófio de Oliveira Filho, o Filó, é um dos ícones do movimento black do Rio. Ao Correio, ele revela como era pressão sofrida pelo movimento negro nos anos 1970. De um lado, a ação dos agentes militares, do outro a conduta da esquerda, quase sempre desconfiada, apesar de interessada em cooptar militantes da causa negra. "A pressão era oculta, totalmente silenciosa. Eles (os arapongas) se infiltravam buscando entender o movimento e suas nuances. Acompanharam diversas vezes as lideranças em seu dia a dia. Eventos como Encontro dos Blacks no Portelão foram o grande marco para os agentes militares perceberem que nem tudo que eles pensavam era verdade. O momento era de efervescência. A esquerda questionava o Movimento Black Rio pela sua "tendência" ao imperialismo americano e a direita tinha medo de uma revolução negra. Na verdade, o objetivo final do movimento era construção de uma identidade e uma política cultural positiva."


Filó se recorda também quando ficou preso num quartel do Exército no bairro da Tijuca: "Lembro-me de ser questionado: 'Onde estava o milhão de dólares que os americanos deram para o movimento?' Em julho de 1976, eles deflagaram uma matéria encomendada num grande jornal carioca para desqualificar o movimento. Mas o legado deixado pelo Movimento Black Rio nos brindou com uma geração mais consciente e aberta na busca da sua identidade e na luta contra a discriminação racial."


Colaborou Edson Luiz
Panteras negras


Grupo revolucionário norte-americano, criado em meados dos 1960 para lutar pelos direitos da população negra. Seus integrantes pregavam ações armadas contra a opressão. Inicialmente, os ativistas agiam como patrulhas de guetos californianos e nova-iorquinos contra a violência policial (branca). O movimento se espalhou pelos Estados Unidos e chegou a ter mais de 2 mil integrantes. Enfrentamentos com a polícia levaram a tiroteios em Nova York e Chicago, e, entre 1966 e 1970, pelo menos 15 policiais e 34 "panteras" morreram em conflitos urbanos. No início dos anos 1980, a organização foi oificialmente dissolvida.


Fonte: Correio Braziliense





Projetos de países africanos com a Austrália vai lançar maior telescópio do mundo

Aparelho é cerca de cem vezes mais preciso que o maior telescópio de rádio atual
telescopio

O Ministro da Ciência e Tecnologia da África do Sul, Derek Hanekom, afirmou em um anúncio feito nessa semana, dia 27, que o telescópio Square Kilometre Array (SKA), maior do mundo, vai mudar as percepções sobre o continente africano. O anúncio foi feito um dia antes do lançamento da primeira antena percussora do SKA, a MeerKAT.


"Com a SKA, as coisas vão mudar em definitivo. A África vai deixar de ser somente uma beneficiária da tecnologia mundial para se tornar uma contribuinte no desenvolvimento, e esperamos que os cientistas do continente aproveitem muito", disse o ministro em Pretória, após encontro com outros representantes dos países africanos do projeto: Botsuana, Gana, Quênia, Madagascar, Maurício, Moçambique, Namíbia e Zâmbia.


A SKA será um mega telescópio, cerca de cem vezes mais preciso que o maior telescópio de rádio atual. O projeto incluirá 500 mil antenas espalhadas ao redor do sul da África e Austrália. A primeira fase do projeto será coordenada por África do Sul e Austrália, enquanto a segunda fase incluirá também os outros nove países africanos do encontro. A construção tem início previsto para 2017, com conclusão em 2024, com custo estimado aos países envolvidos de 1,5 bilhão de euros.


No encontro de quarta-feira (26), os nove países africanos assinaram um plano de estratégia e implementação da SKA que estipula os recursos de tempo, fundos e capital humano, que devem estar prontos e disponíveis em todos os países em 2015. "Encorajamos cada país do projeto a trabalhar em programas de desenvolvimento de capital humano e instrumentos para a criação de uma nova geração de pesquisadores, cientistas e engenheiros, habilidades técnicas e expertise para o sucesso do projeto da SKA e outros programas e iniciativas de astronomia e rádio", conforme o comunicado enviado após o encontro.


Fonte: Geledes

O Filme Hotel Ruanda - trabalho em sala de aula

hotel ruanda
A diversidade étnica no continente africano é um dos fatores responsáveis pelo desencadeamento de vários conflitos armados, no entanto, muitas dessas guerras no continente são consequências dos processos de colonização e descolonização dos países africanos, pois os colonizadores não respeitaram as diferenças culturais entre as diversas etnias, separando grupos que viviam em harmonia e, muitas vezes, colocando em mesmo território grupos rivais. Essa atitude contribuiu bastante para intensificar os problemas na África, após terem explorado a riqueza do continente, os europeus deixaram o território com graves problemas econômicos, sociais e uma série de conflitos separatistas e étnicos.
Um dos maiores exemplos de lutas entre diferentes grupos étnicos foi entre hutus e tutsis em Ruanda. Até a Primeira Guerra Mundial essa região pertencia à África Oriental Alemã. Em 1919, após a derrota dos alemães na guerra, os belgas assumiram o controle do território.


Durante o processo de colonização da Bélgica, os tutsis correspondiam a aproximadamente 15% da população de Ruanda. Mesmo sendo minoria, eles foram escolhidos pelo poder colonial para governar o país pelo fato de terem a cor da pele mais clara, o nariz mais fino e por serem mais altos. A maioria hutu (85%) ficou excluída do processo socioeconômico do país.


Porém, em 1959, os hutus se revoltaram com a condição em que estavam e assumiram o poder do país em 1961, nesse mesmo ano Ruanda adquiriu status de República, e, no ano seguinte, a Bélgica reconheceu sua independência e retirou suas tropas do país.


Nesse momento iniciou-se a perseguição aos tutsis, em 1963, tutsis exilados no Burundi organizaram um exército e voltaram para Ruanda, porém, foram massacrados pelos hutus. Outros massacres aconteceram até que, em 1973, através de um golpe de estado, o coronel Juvénal Habyarimana, de etnia hutu, assumiu a presidência do país. Os conflitos cessaram durante 20 anos.
Em abril de 1994, retornando de uma conferência na Tanzânia, os presidentes hutus de Ruanda e Burundi foram vítimas de um acidente aéreo. A morte desses líderes desencadeou a volta dos massacres.


Em Ruanda, estima-se que 13% da população tenha morrido no genocídio promovido em 1994 pelos hutus, sendo 90% desse total da minoria tutsi, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU).


Ao abordar o processo de descolonização dos países africanos e os conflitos étnicos no continente, a história de Ruanda pode ser utilizada como exemplo. Para que a aula se torne mais atrativa é interessante utilizar o filme Hotel Ruanda (encontrado em DVD).


Hotel Ruanda é um filme baseado na história real de Paul Rusesabagia, gerente de um hotel de uma empresa belga em Kigali, capital da Ruanda. Paul Rusesabagia pertence ao grupo étnico hutu, e em 1994, durante perseguição aos tutsis, Rusesabagia abrigou 1.200 tutsis no Hotel Ruanda, local em que trabalhava.


Num ato de extrema coragem e compaixão, Paul Rusesabagia fazia todos os esforços possíveis para proteger os tutsis do genocídio que matou mais de 1 milhão de pessoas. Com a ausência de tropas internacionais, os tutsis tinham apenas o hotel para se refugiarem, local protegido através de pagamento de suborno para a polícia, realizado por Paul Rusesabagia. O genocídio só foi amenizado com a formação de grupos de guerrilheiros tutsis.


Depois de abordado o contexto histórico e os alunos terem assistido ao filme Hotel Ruanda, solicite um trabalho destacando o processo de colonização e descolonização dos países africanos e sua influência nos conflitos armados na África, em seguida, com os trabalhos em mão, promova um debate entre os alunos abordando aspectos da pesquisa realizada e o filme.


Por Wagner de Cerqueira e Francisco
Graduado em Geografia
Equipe Brasil Escola
Fonte: Brasil Escola

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Toussaint Louverture

Toussaint louverture (1743 – 1803) líder da insurreição dos escravos de santo domingo







Antiga possessão da Espanha, devolvida à França em 1697, Santo Domingo representa nas vésperas da Revoluçã Francesa, dois terços da produção colonial francesa.
Mais de 30.000 plantadores dirigem cerca de 8.500 empresas e mais de 50.000 negros e mulatos livres exploram uma situação econômica na qual trabalham 500.000 escravos sem  nenhum direito e totalmente excluídos da prosperidade da colônia mais rica das Antilhas.
Ao proclamar o princípio da libertade e da igualdade, a Declaração dos Direitos Humanos e do Cidadão, nascida da Revolução Francesa, vai encontrar um eco na sociedade colonial com consequências incalculáveis. Na madrugada do 22 ao 23 de agosto de 1791, durante o famoso acontecimento do Bosque Caiman, se reúnem, sob o comando de responsáveis vodus, alguns milhares de escravos. Ali começou a rebelião dos escravos do Norte

Mapa da Ihla de Santo Domingo
Mapa da Ihla de Santo Domingo
Em novembro, o negro Toussaint, descendente de um Rei da África em Allada, nascido em 1743 na plantação Breda e libertado em 1776, se une ao movimento e, mandando uma tropa de 3.000 homens, começa sua ação militar ao lado do exército espanhol contra França.
Não podendo reprimir a insurreição dos escravos e obrigado a defender as fronteiras da colônia atacadas pelos espanhois e ingleses, o Comisário Sonthonax proclama, no dia 29  agosto 1793, a abolição da escravatura na colônia de Santo Domingo. Essa decisão é confirmada no dia 4  fevereiro 1794 pela Convenção Nacional em Paris, sendo a abolição oficial da escravatura proclamada em todas as colônias.
Toussaint Louverture
Toussaint Louverture
Esta decisão provoca a reintegração de Toussaint Louverture às armas francesas. Em algumas semanas vence aos espanhóis e, em otubro 1795, é nomeado general do exército francês e, em 1797, general en chefe dos exércitos da Ilha. Em 1798, os ingleses vencidos se retiram e o tratado assinado entre Toussaint Louverture e a Inglaterra é, como o disse Aime Césaire,  « o primeiro ato da independência do Haiti ».
No mês de Janeiro 1801, Toussaint Louverture manda as tropas ocuparem a parte espanhola da Ilha e promulga uma Constitução que da à colônia de Santo Domingo autonomia e na qual se eleva ao cargo de governador vitalício
.
Na metrópole, a pressão do movimento escravagista incita ao regresso à antiga ordem. A paz com Inglaterra permite a Bonaparte o envio de um corpo expedicionário de 25.000 soldados dirigido por seu sogro, o general Leclerc, com o objetivo de eradicar o poder negro estabelecido por Toussaint Louverture.
A chegada da frota em janeiro 1802 e o anúncio do restabelecimento da escravidão em maio provocam a resistência total. Começa uma guerra dramática e destrutora na Ilha. Convidado a uma convenção pela paz e anistia, Toussaint Louverture é retido prisioneiro. Embarca no « Heros » rumo à França. Chega ao porto de Brest no dia 9 de julho e é mandado ao Castelo de Joux . Ali entra em sua cela no dia 23 de agosto. Nunca mais reencontrará a liberdade.
Na ilha o desaparecimento de Toussaint não leva à calma. A situação das tropas francesas vai piorando e a febre - mais do que a guerilha - provoca baixas terríveis no corpo expedicionário. A aliança dos chefes negros acelera o desastre das tropas francesas que acabam por capitular no dia 19 de novembro em Vertieres, deixando Santo Domingo para sempre.
Os chefes negros substituem o nome de Santo Domingo pelo nome caribenho de Haiti e, no dia 29 de novembro 1803 « em nome dos Negros e homens de cor, é proclamada a independência de Santo Domingo. Devolvidos a nossa liberdade primitiva, asseguramos nós mesmos nossos direitos, juramos de não obedecer à nenhuma força da Terra… ». A independência é confirmada o dia 1 de Janeiro 1804.
Assim nasceram: a primeira e única insurreição vitoriosa de escravos; a primeira colônia indígena independente e a primeira República Negra da Historia da humanidade. Como celebrou Aimé Césaire, foi no Haiti onde « pela primeira vez, a negritude se pôs em pé ».
Toussaint Louverture não viu se cumprir este glorioso fim. Foi o vencedor póstumo. Debilitado pela enfermidade e isolado na sua cela em Joux, morreu o dia 7 de abril 1803.

Napoleão I conheceu sua primeira derrota em Santo Domingo. Em 1817, no Memorial de Santa Helena, reconheceu seu erro: « o assunto de Santo Domingo foi uma estupidez minha. Foi o maior erro que cometi em administração. Deviria ter tratado os chefes Negros como as autoridades de uma província e deixado, como Vice-Rei, Toussaint Louverture”. Apreciável homenagem do "Napoleão Branco", chamado de " Napoleão Negro" pelo famoso escritor Chateaubriand.

Cela onde  morreu Toussaint Louverture
Cela onde  morreu Toussaint Louverture

sexta-feira, 4 de abril de 2014

MAMA AFRICA LEG PT


Secretário Executivo da CPLP pede calma após morte do ex-presidente da Guiné-Bissau

Da Redação
Com Lusa
Flag_of_Guinea-Bissau.svgO secretário executivo da CPLP apelou aos guineenses que mantenham a calma após a morte do ex-presidente da Guiné-Bissau Kumba Ialá e que vão a votos “com a consciência tranquila e o dever cumprido”.
“Encorajamos os guineenses a manterem a calma e irem a votos com a consciência tranquila e dever cumprido”, disse Murade Murargy à Lusa após receber na sede da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Lisboa, o ministro da saúde de Moçambique, Alexandre Jaime Manguele, em 04 de abril.
Lamentando a morte do ex-chefe de Estado guineense, Murargy reiterou que “o povo guineense tem de manter a calma para levar a cabo este processo eleitoral de forma muito civilizada e ordeira”.
“Ele era uma peça importante no processo, se estivesse vivo havia de manter a mesma serenidade” dos restantes atores políticos da Guiné-Bissau, afirmou.
A Guiné-Bissau vive um período de campanha eleitoral com vista às eleições gerais de 13 de abril, sucessivas adiadas desde o ano passado, que será o primeiro ato eleitoral desde o golpe de Estado de abril de 2012.
O ex-Presidente da Guiné-Bissau Kumba Ialá morreu neste dia 04, aos 61 anos, devido a problemas de saúde. O corpo encontra-se na morgue do hospital militar de Bissau, vigiado por militares.
De etnia balanta, o político guineense fundou o Partido da Renovação Social em 1992, a segunda maior força política do país, e foi Presidente da República entre 2000 e 2003, tendo sido deposto por um golpe militar.
Kumba Ialá, que fez 61 anos a 15 de março de 2014, renunciou à vida ativa política a 01 de janeiro deste ano, alegando “haver um tempo para tudo”, decidindo apoiar o candidato independente às presidenciais Nuno Nabian.
ONU
O Conselho de Segurança das Nações Unidas considera que as eleições na Guiné-Bissau estão “no bom caminho” mas ameaçou com sanções para quem interfira no escrutínio, em particular os militares.
Numa nota de imprensa, o Conselho de Segurança “lembrou a sua prontidão em considerar novas medidas, caso sejam necessárias, incluindo sanções específicas para indivíduos civis e militares que enfraqueçam os esforços para restabelecer a ordem constitucional”.
“Uma grande preocupação é saber se os militares, em particular o general António Indjai, se vai abster de interferir” no processo eleitoral, refere uma nota de imprensa enviada à Lusa, depois de uma reunião do Conselho de Segurança com o vice-secretário geral para os assuntos políticos, Jeffrey Feltman.
O atual chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, António Indjai, é procurado pelas autoridades dos Estados Unidos da América (EUA) por alegado envolvimento em tráfico de drogas internacional.
O general refuta as acusações que surgiram depois de, a 4 de abril de 2013, uma brigada de combate ao tráfico de droga dos EUA ter capturado Bubo Na Tchuto, antigo chefe da marinha guineense, acusando-o de tráfico de estupefacientes.
Segundo as informações prestadas aos membros do Conselho de Segurança, o general tem assegurado que vai garantir a realização das eleições, mas, de acordo com a avaliação da própria ONU, há indicações de que “ele está ansioso com a possibilidade de o PAIGC vencer” o escrutínio.
Os membros do Conselho de Segurança mostraram-se também preocupados com alguns casos de violência política nas últimas semanas, nomeadamente com o espancamento de um candidato a deputado em instalações militares.
Pedindo que todos os atores nacionais “atuem segundo a lei e as normas internacionais durante a eleição e os períodos de transição”, a nota refere que “o levantar de restrições internacionais e o apoio e assistência internacional” dependem do sucesso das eleições.
O recenseamento eleitoral na Guiné-Bissau ficou concluído em fevereiro, com o registo de 775,508 eleitores, cerca de 95% do universo potencial de eleitores.
Fonte: http://mundolusiada.com.br/cplp/secretario-executivo-da-cplp-pede-calma-apos-morte-do-ex-presidente-da-guine-bissau/

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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Jornalistas debatem racismo na mídia, durante encontro em Maceió

YVETTE MOURA

Jornalistas debatem racismo na mídia, durante encontro em Maceió
Evento é parte da programação do 36º Congresso Nacional dos Jornalistas
O 1º Encontro Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Enjira) abriu, na manhã desta quarta-feira (2) a programação do 36º Congresso Nacional dos Jornalistas, que acontece até o próximo domingo, no Centro de Convenções de Maceió, reunindo cerca de 500 profissionais de todo o Brasil.
Com foco na construção da igualdade racial na mídia e o papel dos jornalistas nesse processo, o encontro trouxe a tona questões como a visibilidade da cultura e das demandas relacionadas à população negra, além da troca de experiência sobre a abertura de espaços para o jornalismo especializado nas questões de gênero, como o Portal Áfricas e cadernos especiais na mídia impressa.
Para alimentar o debate, o encontro contou com a participação de profissionais do mais altogabarito na mídia étnica nacional, a exemplo de Cleidiana Ramos, repórter especial do jornal A Tarde (BA), especializada em questões de identidade e religiosidade afro-brasileira; o jornalista Washington Andrade, diretor-geral do Portal Áfricas; e Rosane Borges, doutora em Ciências da Comunicação, coordenadora do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra.
Durante uma hora eles discorreram sobre questões como o tabu de falar no racismo na imprensa brasileira; das relações diferenciadas da informação com o público negro; da importância de fomentar o debate sobre etnia e raça na mídia brasileira, entre outros assuntos.
Na opinião de Rosane Borges, falar de racismo no Brasil é como olhar diretamente para o sol, pois é algo que cega imediatamente as pessoas. “É algo muito presente e que nos negamos a encarar. O que precisamos é trabalhar para promover a igualdade social e a mídia possui um papel fundamental nisso”, disse ela.
O evento contou com a participação de integrantes das Comissões de Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojiras) de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Alagoas, Paraíba e Bahia, além do Núcleo de Jornalistas Afrobrasileiros do Rio Grande do Sul, que agregam profissionais engajados na discussão da temática, além de representantesdos demais sindicatos da categoria em outros Estados do Brasil.
Na avaliação do presidente da FENAJ, Celso Schröder, foi uma grande honra ter o ENJIRA abrindo o Congresso Nacional dos Jornalistas. “Isto era uma coisa que nós devíamos ao jornalismo brasileiro. Este é um assunto que deve ser extremamente debatido em todas as redações pelo Brasil afora”, afirmou.
Valdice Gomes, presidenta do Sindjornal e coordenadora da Comissão Nacional de Jornalistas pela Igualdade Racial (Conajira) da FENAJ, falou da grande emoção em ver o primeiro Enjira acontecer Alagoas. “Não é de hoje que lutamos por isso, pois sabemos do quanto é fundamental implementar ações voltadas à igualdade racial em todas as esferas da comunicação social”, disse ela.
O Congresso dos Jornalistas é um evento promovido pela FENAJ, este ano realizado pelo Sindicato dos Jornalistas de Alagoas, com patrocínio do Governo de Alagoas, Prefeitura de Maceió, Sebrae, Petrobras, Federação da Indústria do Estado de Alagoas e Governo Federal, por meio da Caixa Econômica Federal, Ministério do Esporte e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).
 Fonte: -racismo-na-mi36congressojornalistas.com/jornalistas-debatemdia-durante-encontro-em-maceio/

‘Consumo étnico’ aquece negócios entre empreendedores negros

Especializada em penteados afro, Chris tem público masculino forte 
que curte dreads e tranças
Cris Olivette
A fundadora da Cia. das Tranças, Chris Oliveira, era produtora de moda antes de criar um salão especializado em cabelo de pessoas negras. “Não gostava do atendimento que recebia nos salões e passei a cuidar sozinha de meu cabelo.”
O resultado foi tão bom que as pessoas começaram a elogiar e a perguntar quem cuidava de seus cachos. “No início, fiz alguns cabelos por hobby. Nesse processo, vi que muitas pessoas tinham a mesma infelicidade que eu, por não encontrar bons salões. Usei as críticas a meu favor e criei um salão como sempre sonhei encontrar.”
Após 12 anos, Chris comanda uma equipe com 13 profissionais. “Há dois anos cuido só dagestão da empresa, e tem sido ótimo porque nesse período o negócio cresceu 50%.” Ela diz que 80% de seu público é de mulheres. “Em relação a dreads e tranças, tenho um público masculino forte.” Chris diz que não são só negros que buscam penteados afro. “Recebemos japonesas, loiras, mas é claro que negros representam 80%.”
A atividade de Chris, engrossa o estudo que aponta crescimento de 29% no empreendedorismo entre negros, ocorrido em uma década. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios (PNAD), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que considerou o período entre 2001 a 2011. Segundo o estudo, o empreendedorismo entre negros passou de 43% para 49%.
consultor de marketing do Sebrae-SP Marcelo Sinelli pondera, entretanto, que o que cresceu muito, na verdade, foi o número de pessoas que se declaram negras. “Para o IBGE, o critério que define se uma pessoa é negra ou não é a autodeclaração. É provável, que muitos já fossem empreendedores, mas não se declaravam negros.”
Sinelli diz que as transformações ocorridas na sociedade brasileira nos últimos 20 anos contribuíram para a mudança de postura. “Está tudo atrelado. O crescimento do orgulho de ser negro, a ascensão social das classes C e D, e o aumento do acesso à informação abriram uma série de oportunidades, estimulando negócios específicos, que podemos chamar de consumo étnico.”
Ana Paula (à esq.) e Cristina investem na cultura africana
A sócia da Xongani, Ana Paula Xongani (foto na capa), está entre os que privilegiam o consumo étnico. “Assim como outros negócios voltados ao público negro, a Xongani nasceu para cobrir uma lacuna. Não havia no mercado acessórios que valorizassem a cultura africana.”
Cristina, sócia e mãe de Ana Paula, afirma que a profissionalização da marca veio a partir da demanda. “Tudo foi concebido para atender as necessidades das mulheres da família. Com o tempo, recebemos encomendas e o negócio cresceu.”
Hoje, após quatro anos de mercado, a Xongani produz 26 itens como sapatilhas, brincos, pulseiras e turbantes. “No ano passado, lançamos nosso primeiro modelo de vestido de noiva afro-brasileira. Nosso principal diferencial está nos tecidos, importados da África”, diz Ana.
Além de vender pelo e-commerce, a marca vai aonde o publico está. “Participamos de grandes eventos realizados em todo o País como o Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros, Feira Preta, Afrolatinidades, Rua do Samba, Festa de São Benedito e Feijoada da Mãe Preta. Também visitamos eventos na periferia de São Paulo.”
Uma das precursoras desse movimento de valorização de produtos específicos para a população negra foi a fundadora da Muene Cosméticos, Maria do Carmo Valério, de 81 anos. “Foi muito difícil ajustar as fórmulas porque o Ph da pele negra é diferente. Tive de mudar várias vezes de químico.” No mercado há 25 anos, a Muene comercializa 121 itens, tendo como carro-chefe o pancake, com nove tonalidades.
Araújo (centro), criou agência especializada em modelos 
negros há 14 anos. Hoje, seu book tem 200 nomes
Antes de fundar a agência HDA Model, Helder Dias Araújo era professor de passarela e coreógrafo na Bahia. “Vim para São Paulo praticamente sem dinheiro. Trabalhei três anos em uma agência. Quando ela fechou, vi que não havia na cidade uma agência especializada em modelos negros. Agarrei essa oportunidade. Hoje, 14 anos depois, capacito e formo profissionais. Nosso book contém mais de 200 modelos.”
Ele conta que o curso de modelo tem 33 matérias como etiqueta, teatro, passarela, nutrição, maquiagem e postura. “Na metade do curso, que dura seis meses, eles participam de uma banca que avalia quem está tendo um bom aproveitamento e deve concluir a formação.”
Helder afirma que os aspirantes a modelo passam por avaliação e são indagados sobre os estudos. “É fundamental que o modelo continue estudando. Essa carreira é efêmera e muitas vezes ingrata. Eles precisam ter os pés no chão.”
O empresário diz que o mercado para modelos negros está crescendo. “Mas acredito que não foi o mercado que se abriu e sim, foi o negro que se conscientizou e está buscando seu espaço. Os negros perceberam, enfim, que a grande ferramenta é a educação, com ela é possível ir aonde quiser.”
Adriana, fundadora da Feira Preta
Militância empreendedora impulsiona negócios
Formada em gestão de eventos e com especialização em arte e cultura, Adriana Barbosa é uma empreendedora engajada. Desde 2002, realiza anualmente a Feira Preta. “Criei a feira pela necessidade de haver um evento com esse recorte racial de segmentação, levando em conta não apenas o viés da militância mas sobretudo pela oportunidade de negócio. Não existia nenhuma feira com essa abordagem que reunisse produtos e cultura”, afirma.
Adriana conta que o evento começou com 40 expositores e hoje são 100 participantes de todo o País. “Em 2005, criei o Instituto Feira Preta que organiza ações culturais, festival de música, seminário de boas práticas em economia criativa e o curso Preta Qualifica, que capacita empreendedores que participam da feira, em áreas como formulação de preços e atendimento ao público.”
O treinamento é feito em parceria com o Sebrae. Mas o instituto também organiza capacitação ligada à área de cultura, que aborda assuntos como elaboração de projetos, captação de recursos e estratégia de comunicação. “O objetivo é dar aos artistas um olhar de gestão sobre sua própria obra.”
Segundo Adriana, existe um potencial grande a ser explorado nesse nicho. “A preocupação é saber se quem produz compreende as particularidades desse público, cada vez mais exigente, e se tem escala para atender a demanda crescente.”
A empresária conta que a terceirização de algumas etapas de seus negócios é feita por meio de redes que agrupam profissionais negros. “Uma delas é a Kultafro. Hoje, 70% das minhas produções são feitas por profissionais e empreendedores negros. Adotamos o conceito americano Black Money, para fazer circular dinheiro dentro da comunidade negra.”
A diretora comercial da loja de bonecas Preta Pretinha, Joyce Venâncio, se inspirou em um sonho de infância para criar o negócio. “Quando minhas irmãs e eu éramos pequenas, queríamos ter bonecas negras e nossa avó fez bonecas com tecido marrom para nós”, diz Joyce. Em 2000, as irmãs se uniram para criar a loja que oferece, além de bonecas, brinquedos educativos, fantoches e bonecos de madeira.
“Não quisemos segregar produzindo só bonecas negras, elas são maioria, mas também temos orientais, muçulmanas, russas etc.” Joyce afirma que, com o tempo, viu que era necessário criar bonecas com enfoque na inclusão. “Hoje, temos bonecas cadeirantes, albinas e obesas, entre outras, que são muito usadas em aulas sobre inclusão.” Em 2010, elas também fundaram o Instituto Preta Pretinha, que promove oficinas e inclusão de pessoas carentes.
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/sua-oportunidade/consumo-etico-aquece-negocios-entre-empreendedores-negros/

Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...