sexta-feira, 30 de agosto de 2013

MEC vai dar bolsas de estudo para alunos negros e indígenas

O Ministério da Educação anunciou na quinta-feira (29) que vai implementar uma cooperação internacional que inclui oferecer bolsas de intercâmbio para estudantes do Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), "notadamente negros e indígenas". O objetivo do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento é oferecer experiências em educação em ciência, tecnologia, inovação e formação de professores para "complementar a formação do estudante brasileiro".
Fonte: http://www.clicabrasilia.com.br/site/blogs/identidade/

Personalidades Negras – Martin Luther King



O pastor norte-americano Martin Luther King foi um grande defensor da resistência não violenta contra a opressão racial e, por este motivo, elevado à condição de líder do movimento em favor dos direitos civis das minorias. Por sua militância em defesa da vida, recebeu, em 1964, a mais alta honraria internacional concedida aos pacifistas: o Prêmio Nobel da Paz.
Luther King lutou por um tratamento igualitário e contribuiu para a melhoria da situação da comunidade negra mediante protestos pacíficos e discursos enérgicos sobre igualdade racial. Em 1955, organizou o famoso boicote ao transporte público em Montgomery (Alabama), em protesto contra a prisão de Rosa Parks, uma mulher negra que recusou lugar a uma passageira branca em um coletivo.
A ação, que durou 381 dias, representou uma grande vitória para o protesto pacifista, fazendo com que Luther King emergisse como líder altamente respeitado. Apesar do reconhecimento, foi preso, teve sua casa atacada e recebeu diversas ameaças contra a sua vida. Em abril de 1968, foi assassinado em Memphis, Tenessee, por um branco que havia escapado da prisão.
Discurso de Martin Luther King, Jr. em Washington, D.C., a capital dos Estados Unidos da América, em 28 de Agosto de 1963, após a Marcha para Washington.
Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.
Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença – nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.
Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.
Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!
Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.
Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.
“Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.
Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,
De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!”
E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.
E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.
Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.
Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.
Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.
Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.
Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.
Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.
Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.
Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.
E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:
“Livre afinal, livre afinal.
Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal.”
28 de agosto de 1963
Fonte: FCP

Personalidades Negras – Conceição Evaristo



Conceição Evaristo nasceu em 29 de dezembro de 1946 numa favela da zona sul de Belo Horizonte, Minas Gerais. Filha de uma lavadeira que, assim como Carolina Maria de Jesus, matinha um diário onde anotava as dificuldades de um cotidiano sofrido, Conceição cresceu rodeada por palavras. Teve que conciliar os estudos com o trabalho como empregada doméstica, até concluir o curso Normal, em 1971, já aos 25 anos.
Uma das principais expoentes da literatura Brasileira e Afro-brasileira atualmente, Conceição Evaristo tornou-se também uma escritora negra de projeção internacional, com livros traduzidos em outros idiomas. Publicou seu primeiro poema em 1990, no décimo terceiro volume dos Cadernos Negros, editado pelo grupo Quilombhoje, de São Paulo. Desde então, publicou diversos poemas e contos nos Cadernos, além de uma coletânea de poemas e dois romances.
A poeta traz em sua literatura profundas reflexões acerca das questões de raça e de gênero, com o objetivo claro de revelar a desigualdade velada em nossa sociedade, de recuperar uma memória sofrida da população afro-brasileira em toda sua riqueza e sua potencialidade de ação. É Uma mulher que tem cuidado de abrir espaços para outras mulheres negras se apresentarem no mundo da literatura.
Fonte: FCP

Personalidades Negras – Givânia Maria da Silva



Quilombola de Conceição das Crioulas, em Salgueiro, Givânia é descendente de mulheres que chegaram ao sertão pernambucano no século XVIII e marcaram a história da região com o trabalho de produção e fiação do algodão. Foi a primeira de sua comunidade a cursar a faculdade, graduando-se em Letras, apesar das dificuldades de morar na zona rural, com pouco dinheiro e enfrentando as mazelas do racismo.
Exemplo de superação, Givânia foi a primeira diretora da Escola Professor José Mendes, criada no quilombo de Conceição das Crioulas. Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação pela Universidade de Brasília, com concentração na área de relações raciais, ela luta pela visibilidade nacional e internacional na luta pela promoção da igualdade racial.
Uma das fundadoras da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Givânia é uma das principais representantes das comunidades tradicionais de quilombos. Reconhecida pelo Governo do Presidente Lula, assumiu a Secretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais (Subcom), na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), para a qual levou importante contribuição no sentido de gerir a política de promoção da igualdade racial.
Fonte: FCP

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Moçambique: Novo “eldorado” africano

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Esperança Bias - Ministra dos Recursos Minerais de Moçambique


Em busca de parcerias técnicas e formação profissional, a ministra dos Recursos Minerais de Moçambique visitou a Suécia, Noruega e Holanda.
Em Bruxelas explicou à euronews os planos de exploção de algumas das maiores jazidas de carvão e gás do mundo descobertas nos dois últimos anos.
Esperança Bias defende que há outras prioridades para além dos recursos energéticos. "Temos estado a priorizar, através de fundos de capacitação institucional, o treinamento de cada vez mais moçambicanos. Temos estado, através de projetos de responsabilidade social que as empresas fazem, temos estado a privilegiar a questão da água, que é fundamental, temos estado a privilegiar a questão da educação e temos estado a privilegiar a questão da saúde", explicou a ministra moçambicana.
O quarto país mais pobre do mundo, saído de uma guerra civil há 16 anos, é agora um eldorado que pode gerar entre 200 e 400 mil milhões de euros nas próximas décadas. Consciente dos riscos da corrupção interna e sobre exploração das multinacionais, o governo quer promover a transparência.
 Bias lembra que "já há uma provisão, dentro daquilo que é a lei das parcerias público-privadas e na lei dos grandes projetos e nas concepções empresariais, de que todos os contratos são públicos. Isto é um compromisso que o governo assumiu."
Com uma economia centrada na agricultura, pesca e crescente popularidade do eco-turismo, Moçambique cresce a uma taxa média de 7,5% por ano. Mas mais de 50% dos 20 milhões de habitantes ainda vivem abaixo do limiar da probreza.
Fonte: Euronews/Geledes

Personalidades Negras – João Cândido Felisberto



Militar brasileiro, João Cândido Felisberto, o Almirante Negro, nasceu em 24 de junho de 1880 em Encruzilhada, Rio Grande do Sul, numa família de ex-escravos. Entrou para a Marinha do Brasil aos 14 anos, onde presenciou penalidades a chibatadas sobre seus companheiros, apesar de este tipo de castigo ter sido abolido em 1890.
No ano de 1910, liderada por João Cândido, a tripulação da embarcação Minas Gerais se revoltou contra seu comandante, que castigara um dos homens da tripulação com 25 chibatadas. O marinheiro passou a reivindicar o fim dos maus-tratos psicológicos e das punições corporais, liderando assim a Revolta da Chibata.
Outras reivindicações do movimento foram o aumento de salário, a redução da jornada de trabalho e a anistia dos revoltosos. A principal conquista da rebelião foi o compromisso do governo da época de acabar com a chibata na Marinha. João Cândido foi expulso da corporação ainda em 1910, sob acusação de ter favorecido os rebeldes. Faleceu no Rio de Janeiro aos 89 anos.
Fonte: Fundação Palmares

Personalidades Negras - Antonieta de Barros



Nascida em 11 de julho de 1901, Antonieta de Barros foi a primeira mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Educadora e jornalista atuante, teve que romper muitas barreiras para conquistar espaços que, em seu tempo, eram inusitados para as mulheres – e mais ainda para uma mulher negra.
Deu início às atividades como jornalista na década de 1920, criando e dirigindo em Florianópolis, onde nasceu, o jornal A Semana, mantido até 1927. Na mesma década, dirigiu o periódico Vida Ilhoa, na mesma cidade. Como educadora, fundou o Curso Antonieta de Barros, que dirigiu até a sua morte, em 1952, além de ter lecionado em outros três colégios.
Manteve intercâmbio com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e, na primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e receberem votos, filiou-se ao Partido Liberal Catarinense, que a elegeu deputada estadual. Tornou-se, desse modo, a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil, trabalhando em defesa dos diretos da mulher catarinense.
Fonte: Fundação Palmares

Lendas Africanas: A hora de partir

CONTO POPULAR DA GUINÉ-BISSAU – Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua. Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar. A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio. O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.
Fonte: http://lendasafricanas33c.blogspot.com.br

Lendas Africanas: CONTO POPULAR DA GUINÉ-BISSAU

CONTO POPULAR DA GUINÉ-BISSAU – Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua. Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar. A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio. O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.

Lendas Africanas: A criação da terra

No princípio, o Deus único criou o Sol e a Lua, que tinha a forma de cântaros, a sua primeira invenção. O Sol é branco e quente, rodeado por oito anéis de cobre vermelho, e a Lua, de forma idêntica tem anéis de cobre branco. As estrelas nasceram de pedras que Deus atirou para o espaço. Para criar a Terra, Deus espremeu um pedaço de barro e, tal como fizera com as estrelas, arremessou-o para o espaço, onde ele se achatou, com o Norte no topo e o restante espalhado em diferentes regiões, à semelhança do corpo humano quando está deitado de cara para cima.
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(Mito africano de origem Dogon reveladas por um velho cego, Ogotemmêli, escolhido pela tribo para contar aos seus amigos europeus os segredos da mitologia dos Dogons, relatado por Parrinder em África)

LEI 10.639 - Coleção História Geral da África em português - coleção completa

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8 volumes da edição completa.

Brasília: UNESCO, Secad/MEC, UFSCar, 2010.
Resumo: Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.
Download gratuito disponível em:

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

História e literatura afro-brasileira serão incluídas na educação básica do DF

A história e a cultura afro-brasileira e indígena, por força de resolução (artigo 19, inciso VI, da Resolução nº 1/2012-CEDF) da Secretaria de Educação do Distrito Federal, passarão a integrar os currículos nos ensinos fundamental e médio, ministradas no âmbito de todo o currículo escolar do DF. A medida foi publicada em diário oficial na segunda-feira (26). 
Fonte: blog igualdade e identidade

Criação do Mundo Segundo a Tradição Bantu

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Segundo a história tradicional contada pelos mais idosos e categorizados Nganga (sacerdotes) de tribo bantu (Angola), que todos os povos negros descenderiam dos Bungu e estes diretamente do Nzambi (Deus Supremo da mitologia bantu).
Eis a história tal qual foi contada, da criação do Mundo e a ascendência divina destes povos. Nzambi, a quem também chamam Ndala Karitanga (Deus criador de si próprio), Nzambi ia Kalunga (Deus Supremo e Infinito) e Nzambi Ampungu (Deus Poderoso), depois de ter criado o Mundo e tudo quanto nele existe , criou uma mulher para que fosse sua esposa e para que, por seu intermédio, pudesse ter descendência humana, a fim de que esta povoasse a Terra e dominasse todos os animais selvagens, por ele criado.
Disse a sua esposa que passaria a chamar-se Ná Kalunga, em virtude da filha que iria dar a luz, se chamar Kalunga.
Com efeito, tal como Nzambi tinha anunciado, passados nove meses, nasceu sua filha.
Esta foi crescendo como qualquer criança normal, junto de seus divinos pais, na Sanzala dia Nzambi (aldeia de Deus).
Logo que sua filha atingiu a puberdade, Nzambi, informou Ná Kalunga, sua esposa, que tencionava mostrar para Kalunga, sua filha, tudo que havia criado e que após três meses retornaria.
Esta resolução não agradou à divina esposa que tentou opor-se a que sua filha o acompanhasse. Porém Nzambi lembrou-lhe que ela tinha sido por ele criada para lhe obedecer, visto que, além de seu marido, era também seu Deus.
Contrariada, mas impotente para obrigar Nzambi a desistir do seu intento, limitou-se a deixar ir à filha com o pai, enquanto ela ficou a chorar amargamente.
Logo que anoiteceu, Nzambi, instantaneamente, construiu uma Kuabata (palhoça), na qual instalou uma só cama. Ao ver único leito, a filha recusou-se a dormir com o pai e saiu, a chorar da cabana.
Ao ver a recusa da filha e não podendo convencê-la de outra forma, disse-lhe que se não viesse imediatamente para junto dele, seria devorada pelas feras que infestavam a floresta.
Transitada de medo pelo que acabava de ouvir, Kalunga entrou novamente na cabana, deitou-se junto de seu pai e com ele dormiu não só naquela noite, mas durante todo o tempo que durou a viagem.
Finda esta, regressaram a casa e, Ná Kalunga, tal como tinha previsto, verificou que a filha estava grávida do próprio pai. Enraivecida pelo fato e pelo desgosto, no meio das maiores blasfêmias, enforcou-se numa árvore, perante os olhos atônitos da filha e de Nzambi, que nada fez para evitar tal suicídio.
Desgostoso pela atitude da mulher, que não compreendeu os seus desígnios para povoar o Mundo que ele tinha criado, mostrando ser indigna de continuar a ser esposa daquele que lhe tinha dado o ser, em vez de lhe dar vida, novamente, a amaldiçoou e transformou-a num espírito maligno, a quem deu o nome de Mulungi Mujimo (ventre ruim da primeira mãe que existiu na Terra).
A partir dessa altura, Nzambi passou então a viver maritalmente com sua filha Kalunga, a qual depois da morte da mãe, passou a chamar-se também Ndala Karitanga e a ser a segunda divindade.
Algum tempo depois da morte de sua mãe, durante um sonho, teve uma visão que deixou apavorada.
Viu a mãe com a cabeça apoiada nas mãos, a olhá-la com rancor e a insultá-la, dizendo que ainda ia devorá-la, enquanto ela envergonhada, pedia perdão a mãe e dizia que de nada era culpada, posto que, seu pai a tal a tinha obrigado. No meio desta aflição, acordou e contou ao pai o pesadelo.
Este a sossegou, dizendo-lhe que nada receasse daquela que tinha sido sua mãe e que agora era espírito mal, pois nenhum mal lhe poderia fazer, mas apenas lhe pedir comida. Portanto, disse Nzambi, vamos dar-lhe.
Levantaram-se ambos e Nzambi preparou um pequeno montículo de terra, junto da porta casa simulando uma sepultura.
Disse ele então a filha, que fosse buscar carne e outra comida e a pusesse sobre aquela sepultura, proferindo, ao mesmo tempo, as seguintes palavras: Mam'é nzanga ua-ku-kurila.Halapuila kanda uiza kuri yami nawa: ny ngu-na-ku mono nawa, ngu n'eza ny ku ku cheha (minha mãe acabo de vir chorar-te; agora, não voltes a ter comigo outra vez, porque se volto a ver-te, venho matar-te). Nzambi(aldeia de Deus).
Chegado que foi o tempo, Kalunga deu à luz um filho ao qual Nzambi deu também, o nome de Ndala Karitanga, passando este a ser a terceira divindade.
Logo que o seu filho-neto cresceu e atingiu a adolescência, Nzambi ordenou-lhe que casasse com sua mãe Kalunga, para que esta concebesse dele muitos filhos de ambos os sexos, a fim de povoarem a Terra e dominarem todos os animais.
Cumprindo as ordens de Nzambi, sua filha e seu filho-neto casaram e tiveram um filho e uma filha. Quando estes chegaram à maioridade, Nzambi ordenou, então, que o primeiro casasse com sua mãe e a filha casasse com seu pai, dizendo que já não se justificava a primeira união que ele tinha ordenado, informando-os, ainda que depois daquelas uniões, as seguintes se fizessem sós entre primos.
Por fim, depois de lhes ter ensinado tudo o que deveriam fazer, para a que sua descendência crescesse e multiplicasse, para que lutasse contra as doenças e os feitiços que um dos descendentes do sexo feminino, viria a possuir, porque ele lhes legaria.
Disse, também, que viriam outros descendentes divinos e que após deixarem a vida terrena, cada um dentro de sua atribuição, iria supervisionar o mundo que ele havia criado.
Nzambi despediu-se de todos, chamando depois, o seu cão, que sempre o acompanhava, dirigiu-se para à Sanzala Kasembe diá Nzambi (Aldeia Encantada de Deus), e dali subiu para o espaço, levando consigo o cão.
Naquela altura as rochas estavam moles, por terem sido formadas a pouco tempo. Ainda hoje se podem observar as pegadas esculpidas, numa rocha ali existente, especialmente do pé direito de Nzambi, assim como da pata dianteira do seu cão, estas pegadas existem também em diversas outras rochas espalhadas por toda a África, incluindo Angola.(vide pré – história da Lunda do autor).
Foi, pois, dali, que o Nzambi subiu à TCHEUNDA TCHA NZAMBI (aldeia de deus), ou céu como nós lhe chamamos, onde se conserva, através dos séculos, para recompensar os bons e castigar os maus.
A pergunta feita a diferentes sacerdotes bantu, como é e quem foi que criou Nzambi, eles responderam que, sendo ele Ndala Karitanga, se deve ter criado a si mesmo e que tudo o mais é mistério que jamais alguém conseguiu ou conseguirá desvendar.
A resumida lenda que acabamos de expor, foi contada por dois velhos naturais da região do Sombo, conselho de Camissombo. Um chamava-se Tchinjamba Sá Fuca e o outro Sá Hongo, ambos já falecidos. O primeiro morreu no Luaco, o segundo faleceu na sua terra natal com cerca de 90 anos em 1994.
Comprovação feita pela Seção de Arqueologia e pré-história do Museu do Dundo-Angola, de que são originais e não forjadas por mãos humanas. Segundo as indicações dos nativos, a Sanzala Kasembe diá Nzambi, situa-se entre os rios Luembe e Kasai, junto da nascente do Mbanze. Dão-lhe estes nomes, por estar perto do Meue (estrangulamento) do Kasai.
Neste ponto, o rio tem apenas cerca de quatro metros de largura. Segundo a tradição oral, foi junto à nascente do Mbanze que se estabeleceram, primeiramente, os chefes e autoridades divinas, Ndumba ua Tembu, Muambumba, Muaxisenge e outros, quando fugiram à soberania do Muatianvua.
Foi naquele mesmo ponto que mais tarde, reuniram-se novamente, e ali planearam a separação e distribuição de terras que cada um deveria ocupar.
* Lenda é a narração escrita ou oral de caráter maravilhoso, na qual os fatos históricos são deformados pela imaginação popular ou pela imaginação poética *.
* Nzambi s.m. – Deus Criador. Autor da existência e de suas características dominantes – o bem e mal.
Conquanto seja o Ente supremo, não rege diretamente os destinos do Universo. No tocante ao nosso planeta, serve-se de intermediários a entidade espiritual. Em face das atribuições de que se revestem, assumem o caráter de semideuses. Por efeito desse privilégio, é a elas, pois, a quem os crentes se dirigem em suas emergências. Decorrentemente, a quem prestam culto.
Enquanto as entidades espirituais permanecem nas profundezas do globo. Nzambi paira em toda parte, sem lugar determinado. Pelo alheamento a que votou os problemas mundanos, só são invocados em última instância. Tal como noutros povos, também existem sinônimos para designá-lo, Kalunga, Lumbi lua Suku, etc.
Kalungangombe, o juiz dos mortos, tem o poder de suprimir a existência. Mas, se Nzambi não concordar com a decisão, o mortal continuará subsistindo. Portanto, intervém quando necessário.
* Extraído do Livro: Crenças, Adivinhação e Medicina Tradicionais dos TCHOKWE da Lunda que se encontra no Norte de Angola , África.
 Fonte/ Geledes

Estúdio anuncia filme sobre James Brown produzido por Mick Jagger

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O estúdio Universal Pictures e a produtora Imagine Entertainment deram sinal verde para o começo das filmagens do longa que vai contar a vida do músico James Brown, que será interpretado por Chadwick Boseman.

O diretor do filme, ainda sem título, será Tate Taylor, conhecido por "Histórias Cruzadas", que concorreu ao Oscar de Melhor Filme em 2012. Mick Jagger, dos Rolling Stones, é um dos produtores do filme.

A vida do "rei do soul" será contada desde a infância pobre na Geórgia até se tornar um dos artistas mais famosos e influentes do rhythm and blues e autor de sucesso como "(Get up I feel like being a) sex machine", "Papa's got a brand new bag", "I got you (I feel good)" e "It's a man's man's man's world".
Até morrer, em 2006, aos 73 anos, Brown continuou tocando. O músico começou a cantar na cadeia com alguns companheiros de cela depois de ser preso por roubo aos 16 anos e vendeu mais de 500 milhões de álbuns nos 50 anos de carreira. Cada um dos álbuns que gravou entre 1960 e 1977 esteve na lista dos cem principais sucessos do ano.

James Brown cresceu nas ruas de Augusta, interior da Geórgia, e cantava e dançava para conseguir pagar um quarto de bordel. Ao sair da cadeia teve uma curta carreira semiprofissional como boxeador.

Ao sair do reformatório montou uma banda, The Famous Flames, que assinou contrato em 1956 com a Kings Records de Cincinnati e, quatro meses, depois "Please, please, please" se tornou a primeira música de R&B a vender mais de um milhão de cópias nos Estados Unidos.

O longa promete tocar em aspectos delicados como a longa luta contra vício em drogas, álcool e maus tratos que surgiram na década de 70 e o acompanharam pelo resto da vida.

Após a morte de seu filho em um acidente de trânsito, sua carreira entrou em decadência, e mesmo tendo alguns sucessos ocasionais, nunca deixou de trabalhar.

O ator que vai ter o desafio de interpretar James Brown é o jovem Chadwick Boseman, mais conhecido por participações em seriados como "Fringe" e "Lei & Ordem". Seu primeiro filme de repercussão foi "42: a história de uma lenda", no qual dividiu a tela com Harrison Ford.

Fonte: G1/ Geledes

Hoje, na História, 28 de agosto de 1963, há 50 anos acontecia Marcha em Washington DC




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Há 50 anos, no dia 28 de agosto de 1963, mais de 200 mil norte-americanos se juntaram à marcha na capital americana, Washington DC, exigindo justiça igual para todos os cidadãos perante à lei.

O fotojornalista americano Leonard Freed registrou o evento, e suas fotos estão no aclamado livro 'This is the Day: The March on Washington'.

Naquele dia, uma multidão inter-racial ouviu Martin Luther King fazer seu famoso discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho"), prevendo uma época em que a liberdade e a igualdade para todos se tornariam uma realidade nos Estados Unidos.

Em 1964, o Congresso americano aprovou a Lei dos Direitos Civis, que proíbe todas as formas de discriminação contra as minorias raciais, étnicas, nacionais e religiosas, e também a discriminação contra as mulheres.

Para marcar o 50º aniversário da marcha histórica, as fotos de Freed, junto ao trabalho de fotógrafos afro-americanos, estão em exposição na Biblioteca do Congresso e na Biblioteca do Memorial Martin Luther King, Jr., em Washington DC.
Fonte: Geledes

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero

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Estão abertas as inscrições para a 9º edição do 
Prêmio Construindo a Igualdade de Gênero. Este ano,
 as propostas de concursos de redações, artigos 
científicos e projetos pedagógicos escolares devem
 basear nas questões da igualdade de condições entre 
mulheres e homens. 

A escolha do tema é livre, porém, é recomendado que 
reflexões envolvendo formas de discriminação sexual, 
étnica, racial e por orientação, sejam consideradas durante 
a construção dos textos. 

Os docentes também podem participar do prêmio
 inscrevendo um projeto pedagógico sobre questões de 
discriminação entre mulheres e homens, raça ou orientação
 sexual. 

A iniciativa dos Projetos Pedagógicos visa ampliar
 e replicar boas experiências que existam ou serão
 realizadas nas escolas brasileiras, além de fomentar o
 envolvimento da comunidade escolar em torno do 
debate sobre a igualdade.

As propostas devem ser enviadas até o dia 30 de setembro. 
Para obter mais informações sobre o 
prêmio, acesse www.igualdadedegenero.cnpq.br

O Prêmio é organizado pela secretaria de Políticas para as 
Mulheres (SPM), Ministério da Educação (MEC), 
Ministério de Ciências Tecnologia e Inovação (MCTI)
 e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
 e Tecnológico (CNPq) e ONU Mulheres.


Coordenação de Comunicação Social do CNPq

Mia Couto aponta reinvenção do português como processo político




O escritor Mia Couto durante o encontro


Um dos mais celebrados autores de língua portuguesa na atualidade, o escritor moçambicano Mia Couto, vencedor do prêmio Camões e autor de livros como "Terra Sonâmbula", participou de encontro no último sábado no teatro Geo, em São Paulo.
Em quase duas horas de conversa, Couto falou sobre sua maneira de reinventar a língua portuguesa ao escrever, seu envolvimento com a luta pela independência de seu país, a relação dos africanos com o Brasil e os estereótipos que rondam a África e a literatura do continente.
No evento organizado pela Folha, o Fronteiras do Pensamento, a Companhia das Letras e a Livraria da Vila, Couto foi entrevistado por Raquel Cozer, repórter e colunista daFolha, e Eliane Brum, escritora e colunista da revista "Época".

Leia a seguir os principais trechos da conversa.
*
Língua portuguesa
Hoje o português é a língua nacional dos moçambicanos, mas a maior parte deles tem outra língua materna. É uma língua em constante movimento, e isso para um escritor é muito sedutor. Essa reinvenção da língua ocorre como um processo social.
João Guimarães Rosa foi uma grande influência. Era como um sinal verde que na literatura se pudesse fazer esse processo de reinvenção da língua. É a reinvenção da nação como linguagem. E Guimarães dá conta desse Brasil ameaçado pelo moderno. É uma coisa que vivemos em Moçambique. A linguagem vira campo de resistência.
Força das mulheres
É como se as personagens femininas se impusessem em minha obra. Mesmo sendo de uma geração em que era preciso dar provas de ser homem, eu venci o medo de encontrar essa mulher em mim.
Eu escutava as histórias que as mulheres contavam sentado fazendo o dever de casa no chão da cozinha. Eu me fiz escritor ali. Via as suas saias passando, ondulando. As mulheres produziram em mim essas memórias.
Imagem da África
O Brasil tem uma ideia muito mistificada da África. A gente imagina que, por ser negro, um brasileiro teria mais intimidade com a África, mas isso é uma bobagem.
Essa visão reducionista e simplificada também é uma coisa que os próprios africanos adotaram. Muitos deles traduziram uma África que os próprios europeus criaram.
Não houve a África do bom selvagem, em que todos viviam em harmonia até a chegada dos colonizadores. Houve uma mão de dentro até na escravatura, cumplicidades entre africanos e europeus.
Quando [os escritores] saímos do estereótipo da África com seus bichos e feiticeiros, enfrentamos outros preconceitos. Mas a África tem de fazer esse esforço.
Prosa e poesia
Sou mais poeta quando escrevo prosa do que quando escrevo poesia. Quando vejo algo que me espanta, escrevo até num guardanapo, em notas de dinheiro, em coisas que nem posso dizer. Tem de haver uma urgência naquilo.
Teor político
Minha literatura é política porque quero dizer coisas com a intenção de produzir um mundo melhor. Fiz parte de uma geração que lutou pela independência e venceu. Tem esse sentimento épico.
Fonte: folhauol.com.br

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Resenha do documentário “Encontro com Milton Santos – O mundo global visto do lado de cá”

No filme “Encontro com Milton Santos – O mundo global visto do lado de cá”, é feito um recorte singular sobre a globalização, a sociedade de consumo, as divisões que esta sociedade se encontra, o território, os efeitos famigerados da globalização, as crises que esta promove, as barreiras físicas e simbólicas postas pelo capitalismo como efeito da globalização, o papel da mídia e as revanches organizadas por suas maiores vítimas.
A crise se estabelece e Milton Santos faz este alerta quando afirma que: “O consumo é o grande fundamentalismo”. E é sagaz quando apresenta as três vertentes da globalização no mundo; a globalização como é posta, a globalização da perversidade e o mundo por uma outra globalização.
No decorrer do documentário é apresentada uma série de acontecimentos no mundo inteiro que focam a atenção nas causas que esta sociedade capitalista centraliza, a fim de obter benefícios próprios em detrimento da desorganização do território, da apropriação de bens comuns e do uso privado de riquezas mundiais por parte de uma minoria. Apropriações indevidas que geraram tensões por tentar deter grandes bens nas mãos de pequenos grupos, enquanto se assolava o estado de miséria e a sociedade crônica para todo o resto.
A tentativa de privatização da água potável em Cochabamba, Bolívia em 2000 e o 3º Fórum Mundial da Água em Kioto, Japão em 2003, foram eventos que chamaram a atenção do mundo para os efeitos da famigerada globalização frente à sociedade capitalista na qual vivemos.
Em meio à crise financeira , ao estado de caos que se encontra, tem-se o crescimento crônico do desemprego, a fome e o desabrigo que cada vez mais se alastra. Os baixos salários, o estado de mendicância e miséria em que as pessoas são postas, crescem diretamente proporcional ao que chamamos do segundo efeito da globalização, ou globalização da perversidade, em que a pobreza é vista com naturalidade.
Enquanto isto, a sociedade se divide em dois grandes grupos; “o grupo dos que não comem e o grupo dos que não dormem com receio do grupo dos que não comem.” (José de Castro). E Milton Santos ainda afirma que “produzimos mais comida do que consumimos”. E esta sociedade subdividida permanece criando barreiras de segregação. Sejam estas barreiras físicas – Muralha da China e Muro de Berlim – ou barreiras simbólicas – que é a que a Europa mantém contra os estrangeiros e clandestinos, a fronteira entre o México e o EEUU, onde a migração não é desejada.
Adiante os acontecimentos tem a mídia como a fábula da globalização, que assume o papel de intermediação diante desta, pois controla a interpretação do que acontece no mundo, em que não há produção excessiva de notícias, e sim de ruídos.
Contudo, a revanche é feita. Os grupos que são massacrados e postos à margem deste processo atroz de desenvolvimento global ganham força com seus movimentos e buscam reverter a ordem de tudo que está posto. A África e a América Latina são os gigantes despertando para os problemas que lhe são causados, e que não se promovem por quem lá habita e sim pelos grandes “olheiros” e investidores de mercado que ambicionam ganhar espaço para depois explorá-lo. E não há melhor modo de fazer isto, senão criando confrontos entre os grupos para adquirirem espaços de dominação.
Com o despertar destes grandes pólos de desenvolvimento, os espaços cada vez mais são tomados e causam incômodo. Daí tem os olhares do norte x os olhares do sul, que propicia a observação da diferenças de pólos econômicos em blocos capitalistas distintos; os que produzem e os que consomem. Numa fala mais íntima do que possa representar os grupos que tem e os grupos que não tem moeda de consumo numa sociedade que impera a globalização da perversidade.
E Milton Santos afirma que: “Não há cidadania no Brasil. A classe média não requer direitos, e sim privilégios.” O estado de cidadania nos é roubado pelo jogo de interesse no qual esta classe promove. Mas Milton Santos é perspicaz ao frisar que estas ações não são promovidas de modo estanque pelo Estado, e afirma que: “As fontes criadoras de diferenças e desigualdades são mais fortes que as ações do Estado. Para isto, é necessário um Estado socializante.”
Diante deste Estado socializante a ser construído há também uma sociedade e Milton Santos é muito feliz quando diz que esta sociedade na qual vivemos ainda é um ensaio; ela nunca existiu. 

Poemas da Ciência de Voar - Eduardo White

Uma mão relampeja na casa da escrita.
Faísca Troveja.
Procura um claro instante para a aparição.
Pode-se vê-la correr pelo dorso do papel,
deitada do seu lado ou do seu modo rastejante,
pode-se vê-la provando o ruminante delírio das palavras,
a sua rasante arrumação,
e leva vozes aquela mão em cada delicada passagem,
rítmica, latejante
ou um nervo animal que faz lembrar
a textura pedestre do papel.
Mas a mão voa, explosiva,
e não cai nem agoniza no espaço vibrante onde se comunica.
Voar é um fervoroso recolhimento.
E no que é quase a medida elementar do esquecimento
a escrita navega
num estuário de silêncio.
Escrever é uma droga antiga,
uma bebedeira que queima com lentidão
a cabeça,
traz as luzes desde as vísceras,
o sangue a ferver nas vias tubulantes,
traz a natureza estimulante das paisagens
que temos dentro.”

Ocorre-me agora
a pupila minúscula de uma criança.
A sua engenharia
desde o corpo na guerreira pequenez
ao dedo provador da boca.
Ocorre-me esta criança
este monge da franqueza em seu templo de inocência.
Amo-a. Vivo-a.
Voar é poder amar uma criança.
Sonhar-lhe o peso no colo, as mãos acariciantes
sobre a palma da alma.
Voar é tardar a boca
na rosa do rosto de uma criança.
Pronunciar-lhe a ternura,
a seda fresca e pura
da sua infância.
Voar é adormecer o homem
na mão sonhadora
de uma criança.

Eduardo White Nasceu em Quelimane/Moçambique, em 1963. 

Obras publicadas: Amar sobre o Índico (1984); Homoíne (1987); O país de mim (1989); Poemas da ciência de voar e da engenharia de ser ave (1992); Os materiais do amor; O desafio à tristeza (1996); Janela para oriente (1999). Eduardo White é possivelmente a maior expressão da poesia africana de Língua Portuguesa da atualidade. Moderníssimo, kafkiano, os seus textos apontam para uma leitura poética metalinguística, ou seja, em que os poemas, ao engendrarem a si mesmos, contam, paralelamente, a história de seu povo (amores, sofrimentos, opressões, miséria, estigmas das guerras, etc.) e a história da própria linguagem literária.

 50 anos após marcha de King, igualdade nos EUA continua distante

Os presidentes da American Express, Merck e Xerox são
 negros. Os prefeitos de Washington, Denver e Filadélfia, de maioria branca, também o são, tal como o governador de Massachusetts.

Também são negros cerca de 10% dos deputados e senadores do Congresso americano, pouco abaixo da porcentagem da população negra no país, que é de cerca de 13% (no Brasil, o equivalente seria se quase 40% do Congresso brasileiro fosse de negros ou mulatos). E o ocupante da Casa Branca é, desde 2009, Barack Obama.
Nesta quarta-feira 21/08, os EUA celebram os 50 anos da Marcha sobre Washington, quando o jovem pastor Martin Luther King (1929-68) fez seu mais famoso discurso, "Eu tenho um sonho", diante de 250 mil pessoas.

Estarão presentes em um evento Obama e os ex-presidentes Bill Clinton e Jimmy Carter. Ontem, milhares de pessoas se reuniram no mesmo local, aos pés do Memorial de Lincoln, num ato cívico para marcar a data.

A marcha de Luther King foi a maior cobrança por direitos civis --dez meses depois, o presidente Lyndon Johnson assinou lei que, na prática, proibiria segregação em locais públicos e privados e, em 1965, a lei de direito ao voto, que derrubou artimanhas que dificultavam registro de negros como eleitores.

Em 1964, Luther King, aos 35 anos, seria o mais jovem premiado com o Nobel da Paz. Em 2008, com a eleição de Obama, analistas se apressaram a anunciar que o país vivia uma fase pós-racial. Apesar do salto econômico, político e cultural da minoria negra, a disparidade com a maioria branca (63% da população) continua grande.

Em 1955, 60% dos negros no país viviam abaixo da linha da pobreza (hoje o mesmo número é de negros de classe média). Naquele ano, a costureira Rosa Parks se negou a ceder seu lugar a um passageiro branco em um ônibus segregado em Montgomery, Alabama, e foi presa --o que detonou a luta dos movimentos civis.

Apenas 4% dos negros tinham diploma superior então (hoje 38% dos negros chegam à universidade). Em 1967, quando finalmente a Corte Suprema invalidou leis estaduais que proibiam o casamento inter-racial, o número de casais mistos era minúsculo --hoje, 24% dos homens negros são casados com mulheres de outras raças.
A discriminação na Justiça ainda é acentuada. 

Proporcionalmente, o número de presos negros é seis vezes maior que o de brancos. Apesar de o uso de maconha ser similar entre jovens brancos e negros, estes têm um índice quatro vezes maior de detenção pelo uso da droga.

Mesmo com o sucesso de ações afirmativas em incluir mais negros nas universidades, o sistema escolar ainda é financiado localmente --bairros brancos têm escolas melhores (e mais ricas) que as comunidades negras.

A desagregação familiar é bastante maior: 72% dos bebês negros são nascidos fora do casamento (entre os brancos, 29%). Mais da metade será criada apenas pela mãe.
O próprio Obama criticou hábitos enraizados na minoria. "Em muitos lugares, quando um jovem negro tem um livro ente as mãos, seus amigos dizem que ele está 'se fazendo de branco'.

Essa é uma atitude derrotista", criticou ele, que, recentemente atacou o sistema legal do país pela absolvição de um hispânico que matou o adolescente negro Trayvon Martin, 17, achando que fosse ladrão.

Os negros continuam liderando em popularidade na música e nos esportes --Beyoncé, Jay Z e Kanye West são os astros mais populares do país e o seriado de maior audiência da TV aberta, "Scandal", é estrelado pela atriz negra Kerri Washington.

Mas a percepção do racismo ainda é bem diferente: 46% dos negros acham que há muito racismo; entre os brancos, só 16% concordam.

O simbolismo do poder está se adaptando. Ao chegar à Presidência, Obama devolveu o busto do ex-primeiro-ministro Winston Churchill, emprestado pelo governo britânico após o 11 de Setembro.

Em seu lugar, pôs bustos de Lincoln (em cuja Presidência se aboliu a escravidão, em 1865) e Luther King.

Fonte: Folha/Raça Brasil

O papel da mulher e a sexualidade em Kirikou e a Feiticeira

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Por CELUY ROBERTA HUNDZINSKI* - O diálogo cultural africano, travado na obra Kirikou e a Feiticeira, de Michel Ocelot, pode ser interpretado numa dimensão mais ampla, no tempo e no espaço, estendendo-se até nossos dias e a todos os continentes. Nas personagens principais, podemos observar as conseqüências dos atos masculinos incutidos nas mulheres. Temos duas visões divergentes (da mãe de Kirikou e da feiticeira Karabá) que, porém, apontam para o mesmo objetivo: a afirmação feminina enquanto indivíduo livre e independente.
Considerando a visão de Michelle Perrot, em sua obra "Les femmes et les silences de l'Histoire" [1], observamos que a História das mulheres foi sempre contada sob o ponto de vista do homem. O que se tem de menos influenciada é a oralidade privada, domínio em que as mulheres sempre puderam interferir e o fizeram de maneira marcante junto aos filhos e às crianças em geral [2]. "A memória das mulheres é verbo. Ela está ligada à oralidade das sociedades tradicionais que lhes confiavam a missão de narradoras da comunidade do vilarejo." (PERROT, 1998, p. 17). [3]
Constataremos isso na mãe de Kirikou, primeira personagem da qual falaremos. Algumas vezes definida como dócil, silenciosa e, justamente por isso, fraca é, na verdade, a mulher que define todo o enredo, a que produz o Herói, não somente por tê-lo gerado, mas pela maneira como se refere a ele.
Desde o momento do parto, a mãe ordenou que ele nascesse e se lavasse sozinho, dando mostras de que o Herói, para sê-lo, precisa ser independente. A própria independência que ela adquirira, mesmo fazendo parte de uma sociedade com papéis estritamente bem definidos entre o homem e a mulher. Daí, podemos extrair, também, que vivendo sozinha e seu marido tendo sido "roubado" pela feiticeira, ela desenvolveu atitudes ditas "masculinas", como a administração de sua tenda, de seu filho, sem interferências diretamente externas.
Poderíamos dizer que ela não se preocupava com a opinião alheia. O modo com que pensava e agia demonstrava a inteligência e a sapiência obtida pela experiência de vida. Era preciso sobreviver, tornar-se uma Heroína, com todas as características de uma mulher forte, contrariamente ao que se observa, por leigos, num primeiro olhar.

Veja também: Plano de aula - Kiriku e a Feiticeira

Assim, a personagem identifica-se com as mulheres do dia-a-dia, ditas "comuns", que cuidam da casa, preparam a comida, educam os filhos com sabedoria, calma, interiorizando os acontecimentos para que deles tirem a lição de vida. Sensatas e decididas. Mulheres abandonadas pelos cônjuges, viúvas, sozinhas ou, ainda, as "viúvas de maridos vivos". [4] Todas que, de uma forma ou de outra, não entregam-se às adversidades, mas as controlam para que sejam vencedoras.
Até na hora do nascimento de Kirikou, ou do instante em que pensou que ele morreu, o semblante da mãe era sereno e firme. Além disso, a primeira pessoa de quem ela falou para o filho foi de Karabá, a feiticeira, mostrando que não temia os inimigos e insinuando que ele era o "enviado" para salvar a aldeia. A idéia geral é que ele tem uma missão, podemos compará-la à de Jesus [5], onde a reação materna não difere muito da de Maria, no intuito de passar a idéia de que as mães devem, sempre, usar de sensatez, sabedoria e aceitação, sem esquecer, ainda, a preciosidade do silêncio.
Kirikou, logo após a vir ao mundo, questionou a mãe sobre seus familiares, todos homens, não interessou-se pelas mulheres, já instigando o conflito da obra: os homens que partem combater a feiticeira, são "comidos" por ela e nunca mais retornam aos seus lares.
A fortaleza e a capacidade de conduzir da mãe são inabaláveis, foi ela quem o informou sobre tudo o que acontecia na aldeia (transmissão da cultura geral pela oralidade) e quem lhe mostrou os problemas, como a fonte maldita. Ela o levou consigo, na ocasião da entrega do ouro à feiticeira, e não interferiu quando ele questionou a "Venerada", ainda que outras mulheres os reprovassem. Mesmo no momento em que ela estava inclinada, por terra, defronte ao poder, demonstrou, por seu porte e movimentos, um ar superior em sabedoria. Indicou, também, o caminho que devia ser traçado até e além dos domínios de Karabá.
As mulheres do vilarejo não tinham mais esperança e mostravam-se rendidas [6], somente a mãe de Kirikou não se deixava levar, no entanto, sugeriu isso em silêncio, revelando-se tão grande e imponente quanto a "Poderosa".
Observamos, claramente, no decorrer da obra, o sentido sexual translúcido nas ações. Antes de partirem para entregarem as riquezas, o bebê pede à mãe para ir junto, ao que ela responde: "– Você já é como os homens: quer ver Karabá, a feiticeira." Demonstrando ser algo, estritamente, normal. Anteriormente, ele fora ao encontro de seu tio, com a intenção de ajudá-lo. A mãe, evidenciando que isso já estava traçado (porque ele é um homem) e querendo fazer valer o livre arbítrio, não o impediu.
Não obstante, quando o pequeno encontrou o tio, último homem da aldeia, que caminhava para encontrar-se com Karabá, escutou a afirmação de que o que iria acontecer não era algo para as crianças. É possível interpretarmos esse acontecimento como o ato sexual, que é o que se pode entender nas entrelinhas de todo o texto. Kirikou mostrou ter compreendido isso quando, face ao monstro da fonte, pensou em pedir ajuda ao tio, mas reconsiderou sua idéia, afirmando que ele não podia passar pela "porta estreita" para entrar na gruta, porque ele era grande, isso devia ser feito por alguém que é pequeno. Evidentemente, só uma criança livre de desejos poderia vencer o mal.
É num momento de repouso do menino que a mãe instigou uma reflexão sobre a maldade e o poder, fazendo com que o filho conhecesse a idéia estrutural e política da sociedade e da humanidade, em que, normalmente, o mais poderoso oprime fazendo com que os outros sofram.
Diante deste contexto, era preciso um coração puro, uma criança, para não ceder aos encantos de tal dama. [7] A mãe acreditou na capacidade de Kirikou, em sua astúcia, pois, além de tudo, ela o fizera assim e sabia que a união de um coração imaculado e da sabedoria dos anciãos (no caso, seu avô) podia fazer "milagres". Foi, justamente, o portador de tal sabedoria que veio desmistificar a personagem de Karabá, possivelmente, porque ele havia ultrapassado a idade onde os desejos carnais falam mais forte, podendo, desta forma, ver as coisas de maneira clara, tais quais elas são. Mesmo quando afirmou que ela era malvada, houve uma explicação para o fato.
Outro tipo de mulher, apresentado na obra, é a que se diz esperta, mas não se mostra muito inteligente. Essa personagem aparece sempre dando opiniões incabíveis, maus conselhos, reclamando, ou tentando enganar, como no caso da recolhida do ouro. Entretanto, foi ela quem anunciou a boa nova de que a água voltou, confirmando a característica de quem fala muito: nem sempre fala coisas sábias ou aproveitáveis, mas está, constantemente, bem informado para poder passar adiante.
Tal personagem apresentou-se no primeiro lugar da fila, no momento de entregar o ouro para a feiticeira, contrariamente à mãe do Herói, posicionada em último lugar. Essa imagem simboliza a humildade, vista como fonte de sabedoria, contra a falsidade de quem está enganando mas não quer ser desvelada. "Assim, pois, os últimos serão primeiros e os primeiros serão últimos." (Bíblia Sagrada, Mat. 20, 16).
Finalmente, o terceiro tipo de mulher, é Karabá. Qualificada, nas falas, como esplêndida, venerada e honrada, porém, mostrando-se autoritária, ditadora e malvada. Quanto ao físico, era bonita e vaidosa, cheia de ornamentos. Exatamente as características atribuídas às prostitutas, que devem estar sempre belas; são descritas, pelos amantes, como esplêndidas e honradas, mas pela sociedade em geral (ou mesmo por eles, quando encontram-se em público), são tachadas de malvadas por "roubarem" os homens das mulheres, e de "autoritárias" porque fazem deles "o quem bem querem".
Temida, robotiza os homens, fazendo deles objetos que obedecem. Kirikou podia afrontá-la, pois sabia que, sendo pequeno, seria capaz de entrar onde nenhuma outra pessoa poderia. Ademais, ele não a temia estando ciente de que quanto mais o povo tinha medo, mais ela tornava-se poderosa. Não se pode dizer que ele é uma criança, mas que se fez assim para cumprir seu desígnio. Como prova, temos sua transformação no final da história.
Se considerarmos o fundo sexual da temática, podemos afirmar que ela não gostava das crianças porque sabia que seu poder sobre elas era limitado; da mesma forma, detestava as mulheres, pois julgavam-na atrapalhando suas relações com os homens. Desprezava os seres masculinos, por lhe terem "feito mal": temos, aí, a idéia implícita de que fora violentada. Os homens "fincaram-lhe um espinho" que a fazia sofrer imensamente, ao ponto dela não ter coragem de pedir para alguém arrancá-lo. Dificuldade comparável às que os seres humanos têm para tocar nas feridas emocionais.
O avô explicou que ela não era uma feiticeira, mas alguém que tem uma reação provocada por uma ação. Essa reação não era boa porque a ação também não fora. A partir do momento em que ela se livrou do sofrimento, pôde voltar a ter bons sentimentos, uma mulher livre, sem problemas com o sexo oposto.
Para que isso acontecesse, temos um ponto importante a considerar: a cólera de Karabá diante do roubo das jóias implicou na decisão de primeiro recuperá-las, para depois preocupar-se com Kirikou. Esse ato deu forças à futilidade, à vaidade e à avareza, sentimentos que a emboscaram.
Ao livrar-se do mal, ela gritou, com tal intensidade que se fez escutar na aldeia. Esse grito representa o de todas que foram, de um jeito ou de outro, oprimidas pelos homens, violentadas, que carregaram, durante anos, um espinho nas costas, revoltando-se, às vezes, mas sem ter a coragem de dar o verdadeiro grito de liberdade. Aquele que veio romper o silêncio das mulheres e transformar a opressão, o ódio, em amor. Elucidando a vitória, ainda que depois de muita angústia.
Foi, nesse momento, que Karabá encarnou a verdadeira feiticeira, ela não tinha poderes sobrenaturais, todavia, o feitiço era o amor e, através dele, por um beijo, transformou Kirikou em um homem. Antes, contudo, ela resistiu, dizendo que sendo ou não feiticeira, não seria empregada de ninguém. O apaixonado contestou dizendo que não faria dela uma empregada, e ela retruca falando que todos os homens dizem isso antes de casar. O menino a convenceu de que era diferente dos outros homens e cresceu, indicando, nada mais, nada menos, que perdeu sua virgindade e que, pelo amor, pôde curá-la da dor, ensinando-lhe como é uma relação sadia entre sexos opostos. Como recompensa ou, simplesmente, conseqüência deste amor que fez as flores desabrocharem, ela "cuidou" dele, ornando-o, e ele a apresentou aos seus.
O último conflito foi a aceitação na comunidade, da mesma forma que é difícil para uma prostituta, ou qualquer mulher que fuja dos padrões estabelecidos pela sociedade, ser aceita. As pessoas não reconheceram o filho da aldeia e a mãe retomou seu papel vindo identificá-lo. A decisão do final feliz foi dela. As outras mulheres demonstraram sua revolta tentando matar Karabá e, somente, pararam quando viram os homens se aproximando. Elas recuperaram o que estava perdido. Os "filhos pródigos" voltaram para casa favorecendo o retorno da paz.
Concluiremos dizendo que as mulheres tiveram um papel fundamental durante toda a obra e, sobretudo, no início e no final da narração, fazendo com que as ações fossem, sutilmente, propiciadas por elas. Mãe e feiticeira foram o segmento uma da outra, completaram-se. Kirikou foi, meramente, o laço entre as duas e foi isso que o transformou em Herói. Ele libertou todos os outros homens porque "conquistou" para si, Karabá.
Referências
Bíblia Sagrada. Ed. Ave-Maria, 131ª Edição, São Paulo, 1999.
HUNDZINSKI DAMASIO, Celuy Roberta. "Identidade, Igualdade, Diferença – o olhar da história" In: Revista Espaço Acadêmico, n° 79, dezembro de 2007.
HUNDZINSKI DAMASIO, Celuy Roberta. "Mulheres Fazendo a História" In: Revista Espaço Acadêmico, n° 58, março de 2006.
OCELOT, Michel. Kiriku e a Feiticeira. Ed. Paulinas Multimídia. Cultifilmes França/Bélgica, São Paulo, 2002
PERROT, Michelle. Les femmes ou les silences de l'histoire. Paris, Flammarion, 1998.
* CELUY ROBERTA HUNDZINSKI é DEA em Filosofia pela Universidade Paris X – Nanterre; Master II na Sorbonne; Tradutora e Assistente de Educação. Publicado na REA, nº 82, março de 2008, disponível em http://www.espacoacademico.com.br/082/82damasio.htm
[1] A resenha deste livro, intitulada Mulheres Fazendo a História, pode ser encontrada na Revista Espaço Acadêmico – n° 58 – março de 2006. Também pode ser consultado o texto Identidade, Igualdade, Diferença – o olhar da historia na REA – n° 79 – dezembro 2007.
[2] Daí a origem da fama da mulher como "faladeira" ou, até mesmo, "fofoqueira".
[3] Tradução nossa.
[4] Esposas daqueles maridos que existem mas nunca estão presentes.
[5] Essa semelhança com a história bíblica confirma-se mais ao final do filme, quando o pequeno engana a serpente "vencendo-a".
[6] Uma mulher, no episódio da canoa, deixa a faca cair (é Kirikou quem a pega pra ir salvar as crianças). As mulheres, em cenas similares, sempre mostram-se inertes diante das maldades.
[7] Podemos observar, também, que o velho habitante da aldeia, apesar de temeroso, não está sujeito à Karabá, provando mais uma vez que este "feitiço" pode ser traduzido como "sexo", excluindo crianças e idosos.
Fonte: Espaço Acadêmico/ABPN

Mulheres Pretas

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