segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Manoel de Barros Palavras e Poesias



Manoel de Barros

Caros amigos,

"Nasci para administrar o à-toa / o em vão / o inútil", avisa o poeta Manoel de Barros numa espécie de profissão de fé. Ele sabe que "o poema é antes de tudo um inutensílio". Por isso seu ofício é inventar palavras, invadir o arco-íris, surpreender formigas.

Nascido em Cuiabá-MT em 1916, o poeta estreou em 1937 com o volume Poemas Concebidos sem Pecado. De lá para cá, já publicou quase duas dezenas de títulos e, a partir dos anos 80, conquistou a consagração.

Os poemas de Manoel de Barros são marcados por uma sistemática irreverência com a lógica e o bom-comportamento das palavras. Em certos aspectos, seu trabalho guarda algum parentesco com o surrealismo.

Não, porém, aquele surrealismo dos manifestos europeus, mas uma poesia que rola no chão com os pequenos absurdos do dia-a-dia. Uma poesia marcadamente do interior, do Pantanal, que vive na proximidade de gente, bicho e planta. Uma poesia escrita por quem aprendeu sozinho que "uma árvore bem gorjeada passa a fazer parte dos pássaros que a gorjeiam".



Um abraço,

Carlos Machado



 
Administrador do inútil
Manoel de Barros


DESEJAR SER



8.
Nasci para administrar o à-toa
                                  o em vão
                                  o inútil.

Pertenço de fazer imagens.
Opero por semelhanças.
Retiro semelhanças de pessoas com árvores
                              de pessoas com rãs
                              de pessoas com pedras
                              etc etc.

Retiro semelhanças de árvores comigo.
Não tenho habilidade pra clarezas.
Preciso de obter sabedoria vegetal.
(Sabedoria vegetal é receber com naturalidade uma rã no talo.)
E quando esteja apropriado para pedra, terei também sabedoria mineral.
 
IX
O poema é antes de tudo um inutensílio.
Hora de iniciar algum
convém se vestir de roupa de trapo.
Há quem se jogue debaixo de carro
nos primeiros instantes.

Faz bem uma janela aberta.
Uma veia aberta.

Pra mim é uma coisa que serve de nada o poema
Enquanto vida houver

Ninguém é pai de um poema sem morrer
 
SEIS OU TREZE COISAS QUE EUAPRENDI SOZINHO
2.
Com cem anos de escória uma lata aprende a rezar.
Com cem anos de escombros um sapo vira árvore e cresce por cima das pedras até dar leite.
Insetos levam mais de cem anos para uma folha sê-los.
Uma pedra de arroio leva mais de cem anos para ter murmúrios.
Em seixal de cor seca estrelas pousam despidas.
Mariposas que pousam em osso de porco preferem melhor as cores tortas.
Com menos de três meses mosquitos completam a sua eternidade.
Um ente enfermo de árvore, com menos de cem anos, perde o contorno das folhas.
Aranha com olho de estame no lodo se despedra.
Quando chove nos braços da formiga o horizonte diminui.
Os cardos que vivem nos pedrouços têm a mesma sintaxe que os escorpiões de areia.
A jia, quando chove, tinge de azul o seu coaxo.
Lagartos empernam as pedras de preferência no inverno.
O vôo do jaburu é mais encorpado do que o vôo das horas.
Besouro só entra em amavios se encontra a fêmea dele vagando por escórias...
A quinze metros do arco-íris o sol é cheiroso.
Caracóis não aplicam saliva em vidros; mas, nos brejos, se embutem até o latejo.
Nas brisas vem sempre um silêncio de garças.
Mais alto que o escuro é o rumor dos peixes.
Uma árvore bem gorjeada, com poucos segundos, passa a fazer parte dos pássaros que a gorjeiam.
Quando a rã de cor palha está para ter 
 ela espicha os olhinhos para Deus.
De cada vinte calangos, enlanguescidos por estrelas, quinze perdem o rumo das grotas.
Todas estas informações têm soberba desimportância científica 
 como andar de costas.
 


http://www.algumapoesia.com.br/poesia/poesianet061.htm 

Poeta Manoel de Barros comemora 95 anos nesta segunda-feira









Nesta segunda-feira (19), é comemorado o 95º aniversário do poeta Manoel de Barros. Ele nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá. Mudou-se para Corumbá (MS), onde se fixou e chegou a ser considerado corumbaense. Atualmente mora em Campo Grande. 

De acordo com a sua biografia, ele escreveu seu primeiro poema aos 19 anos, mas sua revelação poética ocorreu aos 13 anos de idade quando ainda estudava no Colégio São José dos Irmãos Maristas, no Rio de Janeiro, cidade onde residiu até terminar seu curso de Direito, em 1949. Como já foi dito, mais tarde tornou-se fazendeiro e assumiu de vez o Pantanal.

Seu primeiro livro foi publicado no Rio de Janeiro, há mais de sessenta anos, e se chamou "Poemas concebidos sem pecado". Foi feito artesanalmente por 20 amigos, numa tiragem de 20 exemplares e mais um, que ficou com ele.

Nos anos 80, Millôr Fernandes começou a mostrar ao público, em suas colunas nas revistas Veja e Isto é e no Jornal do Brasil, a poesia de Manoel de Barros. Outros fizeram o mesmo: Fausto Wolff, Antônio Houaiss, entre eles. Os intelectuais iniciaram, através de tanta recomendação, o conhecimento dos poemas que a Editora Civilização Brasileira publicou, em quase a sua totalidade, sob o título de "Gramática expositiva do chão".

Reconhecimento

Hoje o poeta é reconhecido nacional e internacionalmente como um dos mais originais do século e mais importantes do Brasil. Guimarães Rosa, que fez a maior revolução na prosa brasileira, comparou os textos de Manoel a um "doce de coco". Foi também comparado a São Francisco de Assis pelo filólogo Antonio Houaiss, "na humildade diante das coisas. (...) Sob a aparência surrealista, a poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões, oníricas num primeiro instante, logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético muito profundo. Tenho por sua obra a mais alta admiração e muito amor." 

Segundo o escritor João Antônio, a poesia de Manoel vai além: "Tem a força de um estampido em surdina. Carrega a alegria do choro." Millôr Fernandes afirmou que a obra do poeta é "'única, inaugural, apogeu do chão." E Geraldo Carneiro afirma: "Viva Manoel violer d'amores violador da última flor do Laço inculta e bela. Desde Guimarães Rosa a nossa língua não se submete a tamanha instabilidade semântica". Manoel, o tímido Nequinho, se diz encabulado com os elogios que "agradam seu coração".
Roberta Cáceres

sábado, 17 de dezembro de 2011

Morte da Diva Caboverdiana Cesária Évora


A cantora cabo-verdiana Cesária Évora, de 70 anos, morreu esta manhã, 17/12/11 no hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, Cabo Verde, onde se encontrava internada desde sexta-feira.
"Foi com profunda consternação que tomei conhecimento do falecimento de Cesária Évora. Dirijo antes de mais uma palavra de condolências e profundo pesar à sua família e amigos próximos, bem como ao Governo e povo cabo-verdiano", refere Pedro Passos Coelho na sua mensagem, à qual a agência Lusa teve acesso.
Segundo o primeiro-ministro português, "não é apenas Cabo Verde que chora o desaparecimento de Cesária, Portugal chora também com Cabo Verde".
"Cesária foi uma artífice ímpar e uma intérprete excecional das mais belas expressões da música cabo-verdiana. Com Cesária, a saudade (sôdade) ganhou uma nova profundidade enraizada nas mais belas prosas musicais que o mundo de expressão crioula e de raiz lusófona jamais conheceu", sustenta o líder do executivo português.
Na perspetiva de Pedro Passos Coelho, Cesária Évora, "foi também uma pessoa de bondade contagiante, que tocou corações e motivou tantos quantos tiveram a oportunidade de a conhecer mais de perto".
"Presto hoje homenagem a esta grande artista que levou a morna e Cabo Verde aos mais recônditos lugares do planeta. Grande amiga de Portugal, Cesária, conhecida como "Rainha da Morna", ficará nos nossos corações para sempre também como uma diva mundial, que deixa uma infinidade de admiradores e seguidores um pouco por todo o mundo. É também a World Music, cujo mais alto galardão recebeu em 2004, que fica mais pobre. O mundo acordou hoje um pouco mais pobre", refere o primeiro-ministro na sua mensagem.
por © 2011 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.

Feira Preta


17/12/2011 - 07h10

Feira de cultura negra é realizada neste fim de semana em SP

ALESSANDRO FIOCCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Divulgação
Modelo em frente a estande da feira
Modelo em frente a estande da edição 2010 da feira
Celebrando dez anos, a Feira Preta realiza edição nos dias 17 e 18 em São Paulo (SP). Considerada a maior feira voltada à cultura negra da América Latina, o evento contabiliza nesse período público de 90 mil pessoas.
O evento é vitrine para marcas e serviços exibirem seus produtos, além de abrigar programação cultural. Nos estandes, serão apresentados roupas, objetos de decoração, livros e outros, voltados para o público-alvo. "Uma marca de cabelo que queira expor, precisa ter cremes específicos ao tipo de fios dos negros", ilustra Adriana Barbosa, coordenadora do evento.
Ela diz que o mercado está em expansão. "O empreendedor percebe que existe um mercado e investe. Com isso, o consumidor passar a comprar produtos que o respeita."
A expectativa de público é de 16 mil pessoas. Os dois dias contam com shows, como o do saxofonista Gary Brown e do cantor Criolo. A relação completa pode ser conferida nosite do evento.
Serviço
Feira Preta
Onde: Centro de Exposições dos Imigrantes (rodovia dos Imigrantes, Km 1,5, São Paulo, SP)
Quando: 17 e 18/12, das 13h às 22h
Quanto: R$ 15 (estudante) ou R$ 30

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Poema - Conceição Evaristo



EU-MULHER
Uma gota de leite
me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inauguro a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo.
Antecipo.
Antes-vivo
Antes - agora - o que há de vir.
Eu fêmea-matriz.
Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo.
Conceição Evaristo
CONCEIÇÃO EVARISTO nasceu em Belo Horizonte/MG em 1946 e reside no Rio de Janeiro desde 1973. Formou-se em Letras (Português-Literaturas) pela UFRJ. É Mestre em Literatura Brasileira pela PUC/RJ e doutora em Literatura Comparada. Esteve como palestrante, em 1996, nas cidades de Viena e de Salzburgo/Áustria, falando sobre literatura afro-brasileira.

Lançamento do Baobá - Fundo para Equidade Racial

 Prezado(a) Senhor(a),


> Temos a honra de convidá-la(o) para o evento de Lançamento do Baobá - Fundo
> para Equidade Racial, uma iniciativa pioneira no Brasil para apoio a
> organizações que atuam com temáticas ligadas ao Enfrentamento ao Racismo e à
> Promoção da Igualdade Racial.

> O Fundo Baobá é uma associação sem fins lucrativos que tem por objetivo
> mobilizar pessoas e recursos financeiros para viabilizar projetos que
> promovam a equidade racial, em diversas áreas e temáticas. A organização
> surgiu a partir de uma parceria entre organizações da sociedade civil que
> atuam em prol da equidade racial no Brasil e a Fundação Kellogg, instituição
> que se destaca pela luta contra a discriminação racial em todo o mundo.

> A cerimônia de lançamento do Fundo Baobá será realizada no Auditório II do
> Museu Nacional de Brasília (Setor Cultural Sul, lote 2 - Esplanada dos
> Mnistérios), no dia 05 de dezembro de 2011, às 18:30, e contará com a
> presença de executivos e membros do Conselho Diretor da Fundação Kellogg,
> além de autoridades brasileiras e representações de diferentes segmentos da
> luta pela equidade racial.
> Solicitamos a gentileza de confirmar sua participação no referido evento,
> por meio do endereço eletrônico: baoba@neuronio.com.br ou pelo telefone (11)
> 2122-4267 - ramal 1, com Bruna Vilas Bôas até o meio-dia do dia 05 de
> dezembro. 
> Cordialmente,

> Athayde Motta
> Diretor Executivo do Fundo Baobá

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Literatura e afrodescendência no Brasil - lançamento

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica, 4 vol. Editora UFMG

LANÇAMENTO: 28 de novembro, segunda-feira, 18:00

AUDITÓRIO MACHADO DE ASSIS - BIBLIOTECA NACIONAL

(entrada pela Rua México)

 

HOMENAGEM: Abdias Nascimento

 
CONVIDADOS ESPECIAIS

 

Ana Cruz, Cidinha da Silva, Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Cyana Leahy, Domício Proença Filho, Éle Semog, Francisco Maciel, Joel Rufino dos Santos, Júlio Emílio Braz, Leda Martins, Lia Vieira, Mãe Beata de Yemonjá, Martinho da Vila, Muniz Sodré, Nei Lopes, Paulo Lins, Rogério Andrade Barbosa, Salgado Maranhão.
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terça-feira, 22 de novembro de 2011

Seminário: A Constitucionalidade das Cota Raciais no Ensino Superior

Repassando o convite do prof. Sales Augusto/UnB
Prezadas e prezados amigos e professores,

Boa tarde!
Como vão, tudo bem? Espero que todos e todas estejam bem.
Encaminho anexada uma informação sobre o seminário "A Constitucionalidade das Cotas Raciais no Ensino Superior. A ADPF 186 no STF", que será realizado no Auditório Joaquim Nabuco do prédio da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), no dia  24 de novembro de 2011, a partir das 19:00 hs. Este seminário será coordenado pelo Ministro do TST e prof. da UnB, Dr. Carlos Alberto Reis de Paula, e pela Procuradora federal e professora Dra. Dora Lúcio de Lima Bertúlio.

Espero que vocês não somente possam ir a este evento, mas também o divulgue amplamente em suas redes.

Forte abraço a todos e todas,
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Especialista em "História da Expansão Portuguesa na Costa Oriental Africana; História de Moçambique; História Social e Política do Império no Antigo Regime" na USP

Eugénia Rodrigues, africanista do IICT de Lisboa 
Estará entre nós nos dias 24 e 25 de novembro Eugénia Rodrigues, africanista do IICT de Lisboa, especialista em "História da Expansão Portuguesa na Costa Oriental Africana; História de Moçambique; História Social e Política do Império no Antigo Regime". Estudiosa de diversas temáticas relativas a história dos portugueses e dos africanos na região centro-oriental (Moçambique), Eugénia tem uma produção significativa, com pesquisas sobre a sociedade luso-africana dos prazos, a questão de gênero nesta sociedade, embaixadas e diplomacia, escravidão africana, os achikundas etc., etc. Investiga atualmente temas ligados aos saberes endógenos relacionados às doenças e às curas e aos diálogos entre europeus e africanos com relação à matéria médica.

Presidirá duas atividades:

A primeira no dia 24 de novembro, 5a. feira, às 17:00 horas, na Sala de Vídeo do Departamento de História, com a palestra:
Moçambique o e Índico: a circulação de saberes e de práticas de cura 
A segunda a se realizar no dia 25 de novembro, 6a. feira, às 14:30 horas, na Sala de Vídeo do Departamento de História, um encontro com os pesquisadores vinculados ao núcleo que desejem discutir com ela suas pesquisas

Negritud: Conference Call for Papers// CONVOCATORIA







Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...