sábado, 31 de janeiro de 2015

A criação da terra - lenda Dogon

(Mito africano de origem Dogon reveladas por um velho cego, Ogotemmêli, escolhido pela tribo para contar aos seus amigos europeus os segredos da mitologia dos Dogons, relatado por Parrinder em África)

No princípio, o Deus único criou o Sol e a Lua, que tinha a forma de cântaros, a sua primeira invenção. O Sol é branco e quente, rodeado por oito anéis de cobre vermelho, e a Lua, de forma idêntica tem anéis de cobre branco. As estrelas nasceram de pedras que Deus atirou para o espaço. Para criar a Terra, Deus espremeu um pedaço de barro e, tal como fizera com as estrelas, arremessou-o para o espaço, onde ele se achatou, com o Norte no topo e o restante espalhado em diferentes regiões, à semelhança do corpo humano quando está deitado de cara para cima.

Fonte: http://lendasafricanas33c.blogspot.com.br/

OMS comemora menos de 100 casos de ebola esta semana na África Ocidental

“Um total de 99 casos confirmados foram notificados nos três países na semana do dia 25 de janeiro: 30 na Guiné, 4 na Libéria e 65 na Serra Leoa”, afirmou a Organização.
Voluntários no combate ao ebola caminham pela cidade de Monrovia, capital da Liberia. Foto: PNUD/Morgana Wingard.
Voluntários no combate ao ebola caminham pela cidade de Monrovia, capital da Liberia. Foto: PNUD/Morgana Wingard.
Esta semana, o número de novos casos de Ebola registrados na África Ocidental ficou abaixo de 100 pela primeira vez em sete meses. O recorde de baixa trouxe um novo foco à Organização Mundial de Saúde (OMS), que ao fazer o anúncio, nesta quinta-feira (29), indicou que seu objetivo agora é acabar com a epidemia.
“Para atingir este objetivo o mais rápido possível, os esforços têm passado da construção rápida de infra-estrutura para a garantia de capacidade na descoberta e gestão de novos casos e segurança dos enterros. E o envolvimento da comunidade deve ser explorado de forma tão eficaz quanto possível”, disse a mais recente relatório da OMS.
“Um total de 99 casos confirmados foram notificados nos três países na semana do dia 25 de janeiro: 30 na Guiné, 4 na Libéria e 65 na Serra Leoa”, afirmou a Organização.
Fonte: radioonu

Ava DuVernay, diretora de ‘Selma’, vai fazer filme sobre o furacão Katrina

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Ava DuVernay, diretora de ‘Selma’, vai fazer filme sobre o furacão Katrina 

Ava DuVernay, diretora de “Selma”, cinebiografia de Martin Luther King Jr. indicada ao Oscar de melhor filme, vai escrever, produzir e dirigir um longa metragem encenado durante a passagem do furacão Katrina, disse a empresa responsável pelo filme nesta segunda-feira (26).
David Oyelowo, que interpreta King em “Selma”, encontra-se em negociações para coproduzir e estrelar o filme, descrito pela Participant Media como “uma arrebatadora história de amor e complexo mistério de assassinato” encenado em 2005, quando o furacão atingiu a costa norte-americana do Golfo do México e inundou a cidade de Nova Orleans após o rompimento de seus diques.
DuVernay, a primeira norte-americana negra a ser indicada ao Globo de Ouro na categoria melhor direção, foi contratada pela Participant Media, empresa fundada em 2004 pelo bilionário e ex-presidente do site eBay Jeff Skoll com objetivo de criar produtos de entretenimento que inspirem a mudança social.
O anúncio ocorreu menos de duas semanas após a diretora ter ficado de fora dos nomeados para o Oscar de melhor direção, ausência que alimentou o debate sobre a falta de diversidade entre as indicações ao Oscar deste ano.
“Selma”, produção de US$ 20 milhões do estúdio Paramount Pictures, foi indicado ao Oscar de melhor filme. “Ava DuVernay tem se mostrado altamente capaz de trazer intimidade e urgência contemporânea a eventos épicos”, disse o vice-presidente-executivo da Participant, Jonathan King, em comunicado.
O Katrina não tem sido amplamente retratado no cinema, sobretudo em longas metragens.
Uma exceção é o documentário “Quando os diques se romperam”, do diretor Spike Lee, exibido pelo canal HBO em 2006.
DuVernay disse que a história “vai explorar as complexidades de relacionamentos íntimos em tempos de caos, enquanto vai examinar o próprio caos”.


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Disney apresenta Elena de Avalor, sua primeira princesa latina

elena-de-avalor
Personagem será protagonista de série de TV que estreia em 2016.
Objetivo é conquistar a audiência hispânica nos EUA e América Latina.

O estúdio Disney apresentou na quinta-feira (29) a personagem Elena de Avalor, sua primeira princesa latina, que protagonizará uma série a partir de 2016.
A nova princesa tem como objetivo conquistar a audiência hispânica da Disney nos Estados Unidos e América Latina.
“Elena é uma adolescente segura de si e boa, que vem de um reino encantado de conto de fadas inspirado no folclore e nas culturas latinas”, anunciou a empresa em um comunicado.
A nova personagem terá sua primeira aparição em 2016 em um episódio especial do desenho “Princesinha Sofia (Sofia the First)”, exibido no canal Disney Junior.
“O que mais nos emociona é ter a oportunidade de contar histórias incríveis influenciadas pela cultura e as tradições das família de origem latina”, afirmou Nancy Kanter, diretora geral da Disney Junior Worldwide. A empresa informou que a nova série será exibida em 25 idiomas para 154 países.
Elena de Avalor, de 16 anos, será acompanhada em suas aventuras por sua família: os avós Tito e Cici, a irmã Isabel, o amigo Mateo e o duque Esteban, conselheiro real.
Fonte:
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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Presença africana - Alda Lara

Presença Africana
E apesar de todo,
ainda sou a mesma!
Livre esguia,
filha eterna de quanta rebeldia
me sagrou,
Mãe-África!
Mãe forte da floresta e do deserto,
ainda sou, a Irmã-Mulher
de tudo o que em ti vibra
puro e incerto...

A dos coqueiros,
de cabeleiras verdes
e corpos arrojados
sobre o azul...
A do dendêm
nascendo dos abraços das palmeiras...

A do sol bom, mordendo
chão das Ingombotas...
A das acácias rubras,
salpicando de sangue as avenidas,
longas e floridas...

Sim!, ainda sou a mesma.
A do amor transbordando
pelos carregadores do cais
suados e confusos,
pelos bairros imundos e dormentes
(Rua 11! ... Rua 11...)
pelos meninos
de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias,
de tronco nu e musculoso,
a raça escreve a prumo,
a força deste dia...

E eu revendo ainda, e sempre, nela,
aquela
longa história inconsequente...

Minha terra...
Minha, eternamente ...

Terra das acácias, dos dongos,
dos colios baloiçando, mansamente...
Terra!
Ainda sou a mesma.

Ainda sou a que num canto novo
pura e livre
me levanto,
ao aceno do teu povo!

Conheça o filme sobre Martin Luther King indicado ao Oscar

Foto I o Tempo

Foto I o Tempo
Redação Portal Correio Nagô

O filme Selma, que conta a história do pastor e ativista afro-americano Martin Luther King, foi indicado ontem (15) ao mais cobiçado troféu do mundo do cinema. O longa-metragem retrata as manifestações pacifistas organizadas pelo militante em 1965 que tinham como objetivo garantir para os afro-americanos o direito ao voto. Interpretada por John Legend e Commom, Glory, música do filme Selma, também, recebeu a indicação de melhor canção original no Oscar deste ano.
Em artigo intitulado como Oscar 2015: a festa do homem branco, publicado na revista Carta Capital, Clarice Cardoso criticou as seleções feitas pela Academia de Hollywood. A jornalista fala sobre a não indicação de homens negros e mulheres para a premiação em categorias como melhor ator, melhor diretora, por exemplo. “Entre os oito filmes competindo pelo título de melhor do ano, sete são dirigidos por homens brancos, menos um: Selma, de Ava DuVernay, que é uma mulher negra e não figura na lista de concorrentes ao prêmio de diretor. Note-se que, no domingo 11, ela havia sido celebrada como a primeira afro-americana indicada na categoria no Globo de Ouro. Poderia passar como mais uma das incongruências do prêmio, mas é algo em que é difícil crer”, diz.
Segundo o Estadão, a indústria cinematográfica de Hollywood está sendo vista como uma corporação que não tem interesse em “promover a diversidade”. De acordo com informações publicadas no veículo, “no final de 2014, emails trocados entre executivos da Sony [produtoras de filmes] sugeriam ‘insensibilidade’ à questão”. Ao jornal Los Angeles Times, o professor da UCLA Darnell Hunt comentou sobre o fato de todos os indicados deste ano ser homens brancos. “A Academia é esmagadoramente branca, masculina e a maioria dos membros tem mais de 60 anos. Há certo gosto e cultura por lá, e um tipo particular de contar histórias que não é muito inclusivo de diferentes pontos de vista”, opina.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, vai exibir Selma na Casa Branca. Segundo informações divulgadas pelo site Veja, “a sessão será exclusiva a um pequeno grupo, incluindo membros do elenco e da equipe de produção do filme e do rapper Common”.
A 87ª cerimônia de entrega das estatuetas de ouro ocorre no dia 22 de fevereiro em Hollywood, e terá como apresentador o ator Neil Patrick Harris. O evento será transmitido no Brasil pelo canal pago TNT, a partir das 20h30.
Fonte: correionago

Nesta terça-feira, 27 de janeiro, evento no Rio de Janeiro relembra as vítimas do Holocausto

No dia 27 de janeiro de 2015, o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), em parceira com a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e a Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ), organizam uma cerimônia para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
(Divulgação/ONU)
No dia 27 de janeiro de 2015, o Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio), em parceira com a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e a Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ), organizam uma cerimônia para marcar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.
O evento será realizado no Palácio Itamaraty do Rio de Janeiro, às 19h00, e contará com a presença de autoridades federais, estaduais e municipais e de líderes comunitários e religiosos. Membros do corpo diplomático e diplomatas franceses participarão de homenagem aos mortos nos recentes ataques terroristas em Paris. Estarão presentes também sobreviventes do Holocausto e representantes de outras comunidades vítimas do nazismo.
O Dia Internacional, instituído em 2005 pela Assembleia Geral da ONU, tem como objetivo incentivar a sociedade civil a promover a memória do Holocausto para que as gerações futuras não repitam os erros do passado. O Dia lembra também a libertação do campo de concentração nazista Auschwitz Birkenau, pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Por isso, o evento deste ano tem como foco principal a homenagem aos 200 mil prisioneiros que, 70 anos atrás, conseguiram sobreviver às terríveis condições do campo de concentração.
O ano de 2015 marca o 70° aniversário do final da Segunda Guerra Mundial e a fundação da Organização das Nações Unidas (ONU). Os princípios de direitos humanos e de dignidade para todos foram consagrados na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos Humanos e ressaltam o quão profundamente a ONU foi moldada pela tragédia do Holocausto.
Na ocasião também será inaugurada a exposição organizada pela Embaixada da Polônia em homenagem a Jan Karski, herói da resistência polonesa, que fugiu da Polônia ocupada e apresentou um relatório sobre o Holocausto.
O evento é aberto somente para convidados.
Credenciamento para a imprensa: enviar nome do veículo, dos profissionais, RG e telefone para o email lianegz@terra.com.br
Outras informações sobre as atividades das Nações Unidas em relação ao Holocausto podem ser encontradas em:www.un.org/holocaustremembrance
Informações para a imprensa
Liane Gotlib Zaidler
E-mail:lianegz@terra.com.br
Tel: (11) 3862.8258 / (11) 9.8277.0606
Valéria Schilling
Assessora de Comunicação
Centro de Informação da ONU
21-2253-2211
21-98202-0171
valeria.schilling@unic.org
Fonte: http://nacoesunidas.org/evento-no-rio-de-janeiro-relembra-as-vitimas-do-holocausto/

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

FILMES DE MOÇAMBIQUE, GUINÉ-BISSAU E ANGOLA SÃO EXIBIDOS NO BRASIL

Filmes de Moçambique, Guiné-Bissau e Angola são exibidos no Brasil

Cena do filme moçambicano "Virgem Margarida" do realizador Licínio de Azevedo
De 11 a 16 de fevereiro, o Centro Cultural do Banco do Brasil celebra o cinema dos países africanos de língua portuguesa, com a exibição gratuita de produções vindas de Moçambique, Guiné-Bissau e Angola, por exemplo. A selecção integra nove filmes, divididos em três sessões por dia.


“Vidas em Português: Mostra de Filmes Africanos Lusófonos” traça um panorama da filmografia africana que utiliza a língua portuguesa como idioma e faz uma reflexão sobre os laços entre o Brasil e estes países.
Filmes premiados figuram na selecção, como “O Grande Bazar”“Hóspedes da Noite”,“Nha Fala” e “Virgem Margarida”.
Os filmes descrevem desde o feminismo, visto nas cenas de “O Jardim do Outro Homem”, em que as mulheres enfrentavam dificuldades para construir um futuro melhor por meio da sua educação, até actos de corrupção cometidos por um jovem angolano em “O Grande Kilapy” - estrelado pelo brasileiro Lázaro Ramos.

Fonte: http://www.rm.co.mz/index.php/artes-letras/item/9630-filmes-de-mocambique-guine-bissau-e-angola-sao-exibidos-no-brasil.html

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Literatura, Conhecimento e Política: diálogos entre Brasil e África -

brasil-africa

por Remo Mutzenberg1 e Eliane Veras Soares Revista UFPE
Resumo
Neste artigo os autores fazem uma breve contextualização do crescente interesse no Brasil pelo continente africano. Partindo do pressuposto de que tal interesse se insere no quadro de redefinições geopolíticas globais, os autores destacam questões e desafios que se colocam no campo da produção de conhecimento, particularmente no âmbito das ciências sociais. O argumento desenvolvido destaca o modo como a intensificação e as novas formas das relações Sul-Sul tem levado a se repensar não só as sociedades, mas também formas e modelos de conhecimento. Aspecto este central do que vem se denominando relações Sul-Sul.
Palavras- chave
África. Brasil. Conhecimento. Relações Sul-Sul.
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Abstract
In this paper the authors briefly discuss the context of the increasing interest on the African continent in Brazil. Assuming that such interest is framed by global geopolitical repositioning, the authors highlight issues and challenges related to the production of knowledge, particularly, in the field of social sciences. Their main argument focuses on the manner in which the intensification and the new forms of south-south relations have led to new thinking not only about societies, but also about knowledge models and forms, a central aspect of the south-south relations.
Keywords
Africa. Brazil. Knowledge. South-south relations
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A pergunta que nos mobiliza é interrogar a razão do crescente interesse sobre o continente africano no contexto brasileiro e identificar questões que daí emergem, relacionando-as ao conhecimento produzido sobre o Brasil e sua inserção no debate contemporâneo. Para situar este debate, levantamos alguns pontos que, a nosso ver, merecem ser explorados.

A primeira proposição diz respeito ao lento alargamento de conquistas dos movimentos sociais referentes à luta por direitos e à afirmação do direito à diferença, no seio do qual se situam as demandas do movimento negro. Esse processo ganhou impulso com a Assembleia Constituinte, instaurada em 1986, e a promulgação do Carta Magna em 1988. 

Naquela altura os movimentos sociais vivenciavam uma intensa mobilização em torno da redemocratização, participação e luta por direitos. Embora na década de 1990 tenha ocorrido, em certo nível, uma institucionalização daquelas demandas, é preciso lembrar que isto ocorreu paralelamente à virada neoliberal que caracterizou os governos de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Nos anos 2000, com a posse de Luís Inácio Lula da Silva, verificou-se um duplo movimento. De um lado, foram criados novos instrumentos de institucionalização das demandas dos movimentos sociais, neste processo alguns dirigentes foram “cooptados”, pois ao assumir cargos administrativos na esfera estatal, já não podiam agir como militantes de uma causa específica. De outro lado, aquelas demandas dos anos 1980 foram atualizadas pelos próprios movimentos sociais (DAGNINO, 2004; POLETO 2009; MUTZENBERG, 2012). Este processo de incorporação de alguns movimentos sociais à esfera do estado e a adoção de medidas voltadas para os seus interesses não significou uma ruptura com o modelo político e econômico levado à prática na década anterior, marcado por uma hegemonia neoliberal. Nesse quadro, uma das ações que provocou grande impacto sobre sociedade brasileira foi a adoção de políticas de ação afirmativa que resultou, entre outras coisas, numa intensificação da disputa em torno da identidade nacional (SOARES, 2011). Esta, antes assentada nos ideais da mestiçagem e da harmonia racial, passou a ser fortemente identificada e questionada como instrumento de dominação. Ainda que este questionamento já tivesse sido elaborado pelo movimento negro e por intelectuais desde a década de 1950, só veio a atingir a esfera pública na primeira década do século XXI, marcada pela radicalização da pluralização das identidades políticas (indígenas, quilombolas, gays, lésbicas, transexuais etc.), quando um dos espaços privilegiados de produção, reprodução e contestação do status quo, a universidade, começou, por meio de políticas públicas efetivas, a ser ocupada por parcelas da população negra brasileira.

À política de cotas raciais e sociais somaram-se outras, como a Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da história da África e da história e cultura afro-brasileira na educação básica. Tal lei provocou a premência de reescrever a história nacional baseada na construção de um novo conhecimento, até então preterido na narrativa da nossa formação social – o conhecimento sobre o continente africano e o (re)conhecimento do destino histórico da população negra no Brasil. De modo que as consequências políticas da (re)afirmação racial tem proporcionado uma atualização do interesse de estudiosos e leigos em relação à África e africanos, tanto do ponto vista histórico quanto de sua inserção na contemporaneidade.

Estas transformações não tem se processado meramente de modo idiossincrático, como um traço específico da sociedade brasileira. Elas estão também relacionadas, no plano global, a mudanças verificadas nos modos de conceber o estado nacional, na tentativa de superar a sua concepção como um todo homogêneo – que o caracterizou desde a sua formação – e inaugurar uma nova abordagem fundamentada no respeito à diferença e à diversidade. Parece evidente que este processo se caracteriza como um campo de disputas e tensões no qual novos desafios são colocados aos pesquisadores. Reconhecer o continente africano como inserido na história mundial e compreender as suas dinâmicas constituem parte importante deste desafio.

A segunda proposição refere-se à tônica dada à política internacional brasileira, nomeadamente, a partir do Governo Luís Inácio Lula da Silva, em especial, na gestão do Chanceler Celso Amorim como Ministro das Relações Exteriores do Brasil (2003-2010). Nesta nova fase das relações internacionais, além de manter as relações já estabelecidas com o eixo norte-sul, o Estado brasileiro passou a atuar nos eixos horizontal, sul-sul, e diagonal, sul-leste (MUTZENBERG, 2014). Podemos considerar a política externa voltada aos países africanos como uma reaproximação, uma vez que as relações entre o Brasil e países do continente africano já haviam sido experimentadas momentos de maior contiguidade (como, por exemplo, por ocasião das lutas de libertação das colônias portuguesas, nos anos 1960 e 1970, e no período pós-independência destas nações) e momentos de distanciamento (como, por exemplo, no período pós-independência do Brasil, no século XIX, e grande parte do século XX, incluindo-se as décadas de 1980 e 1990). Em 2003, na primeira viagem do presidente Luís Inácio Lula da Silva ao continente africano, o chanceler Celso Amorim afirmou que “a África constitui para o Brasil uma obrigação política, moral e histórica” (AMORIM, 2003), indicando, desse modo, a relevância que o continente africano assumiria doravante nas relações diplomáticas e comerciais brasileiras.

A partir daí observou-se a acentuação de um discurso de cooperação entre o Brasil e alguns países da África, notadamente os integrantes da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), que no plano oficial apresentou-se com a seguinte linguagem: “uma política estimulada por solidariedade, afinidades histórico-culturais, econômicas e políticas e pelo interesse no conhecimento produzido pela troca e pela experimentação mediante parcerias” (POCHMANN, 2011). É assim que, a partir de 2003, ensaiam-se políticas de cooperação Sul-sul em diversas áreas – agricultura, saúde, educação e formação profissional, governo eletrônico, administração pública, meio ambiente, tecnologia da informação, desenvolvimento urbano, saneamento básico, biocombustível, transporte aéreo, turismo, justiça, cultura, direitos humanos e esportes – bem como efetiva-se a presença de empresas transnacionais brasileiras naquele continente (MUTZEMBERG, 2014).

No plano acadêmico esta cooperação tem se materializado mediante editais das agências de fomento destinados à pesquisa no e sobre o continente africano, incremento do intercâmbio de pesquisadores, apoio à formação de estudantes em nível de graduação e pós-graduação (a exemplo dos programas PEC-G e PEC-PG dos ministérios da Educação e Relações Exteriores), e outros mecanismos de realização de mobilidade acadêmica nos dois lados do Atlântico. Se, por um lado, este intercâmbio pode ser percebido de forma potencialmente positiva, por outro, há que se indagar os interesses políticos, econômicos e acadêmicos que estão efetivamente em jogo. Afinal, por mais que as políticas de cooperação Sul-Sul contenham uma justificativa baseada em ideais de solidariedade e suposta horizontalidade, não se pode desconsiderar as motivações e as limitações destes empreendimentos no âmbito mais largo das dinâmicas e contingências da economia política no mundo globalizado e acentuadamente desigual. Em todo caso, podemos afirmar que nunca antes se pesquisou a respeito das sociedades africanas como ocorre atualmente nas universidades e centros de pesquisa do Brasil.

A terceira proposição a ser considerada situa-se no plano das transformações no campo teórico. Nesse aspecto é importante considerar as diferentes fontes de crítica em relação às tradições teóricas construídas – particularmente a partir do século XIX e que marcaram grande parte do século XX – e que serviram de base para a intervenção econômica, política e social em todo o globo (MACAMO, 2002). Entre estas fontes podemos mencionar, as perspectivas pós-modernas, o feminismo, a virada linguística e cultural, todas elas de algum modo implicadas no desenvolvimento das chamadas perspectivas pós-coloniais. Estas perspectivas tem colocado em questão o legado da modernidade e suas implicações no campo da produção do conhecimento, isto é, na eleição dos temas, dos problemas e dos enfoques pertinentes à pesquisa no chamado Sul Global (DUSSEL, 2000; MIGNOLO, 2000 e 2008; SANTOS e MENESES, 2009; ROSA, 2014). No caso das análises das “sociedades periféricas” têm se destacado as perspectivas pós-coloniais. Segundo estas perspectivas, as narrativas construídas pelo ocidente impuseram um lugar negativo e subordinado para os povos “colonizados”, garantindo assim a sua supremacia para além do período de exploração colonial e definindo também os padrões epistemológicos do campo da análise social. Os “tropos” produzidos e difundidos por este sistema de dominação foram sistematicamente internalizados pelas sociedades que passaram por processos de colonização e, agora, precisam ser radicalmente questionados (MATA, 2014; RIBEIRO, 2014).

Neste campo, autores africanos têm se posicionado de modo diverso em termos de análise e apresentado diferentes caminhos para enfrentar os desafios que se colocam face ao conhecimento e às interpretações das realidades africanas. Há nesses posicionamentos uma reafirmação das críticas às noções de progresso, racionalidade, desenvolvimento e concepções de História que estiveram no centro dos debates das ciências e da filosofia ocidental, e a partir das quais se construiu também um discurso da africanidade, como, por exemplo, aqueles formulados no seio dos movimentos da Negritude e do Pan-africanismo (APPHIAH, 1997). A questão da pretensa universalidade e do estatuto epistemológico das ciências é o que vem sendo enfrentado neste momento, numa árdua tentativa de afirmação de um campo plural da produção de conhecimento, que se caracteriza como uma arena de diálogos e disputas.

O filósofo do Benin, Paulin Hountondji, por exemplo, sem negar a filosofia ocidental, acentua a necessidade de sair de uma situação de “extraversão”, na qual a colônia é fornecedora de matéria prima, cabendo à metrópole a produção de teorias, para uma afirmação de temáticas que emergem a partir da realidade africana. Neste sentido, propõe um duplo movimento: “a moviment critical apropriation of the scientific and technological heritage available internationally, and at the same time, a no less critical effort of reapropriation of endogenous knowledges and know-how” (HOUNTONDJI, 2002, p. 257).
Valentin Mudimbe, filósofo de origem congolesa, busca reconstruir as condições da construção de um discurso sobre a África como construto europeu num contexto ideológico e epistêmico, restringindo, ou, colocando limites metodológicos para o estudo de culturas não ocidentais. Segundo o autor, The book [The invention of Africa] attempts, therefore, a sort of archaeology of African gnosis as a system of knowledge in which major philosophical questions recently have arisen: first, concerning the form, the content, and the style of “Africanizing” knowledge; second, concerning the status of traditional systems of thought and their possible relation to the normative genre of knowledge (MUDIMBE, 1988, p.10).
O filósofo e cientista político camaronês, Achile Mbembe, parte da crítica à noção de “alteridade absoluta” – que assume, em relação à África, sua forma mais extremada e que serviu, e serve, como argumento para a construção da autoimagem do Ocidente e de seu caráter apologético que fundamentou a exclusão do outro – para constatar que, a partir daqueles parâmetros, “sabemos o que a África não é” e “não sabemos absolutamente nada” sobre o que são as sociedades africanas. Da mesma forma, argumenta, a teoria social não teria dado conta do tempo vivido, das suas multiplicidades e da simultaneidade do tempo. Desta forma o autor coloca em questão a utilidade das estruturas conceituais do ocidente para uma leitura das realidades africanas:
There thus arises the purely methodological question of knowing whether it is possible to offer an intelligible reading of the forms of social and political imagination in contemporary Africa solely through conceptual structures and fictional representations used precisely to deny African societies any historical depth and to define them as radically other, as all that the West is not (MBEMBE, 2001, p. 11).

Assim, a sua perspectiva propõe olhar para o “mundo vivido” caracterizado pelo entrelaçamento de tempos e um conjunto de práticas, símbolos, ficções etc. No entanto, há que se considerar que esse voltar-se para o “mundo vivido” implica não só considerar o local e sua inserção no global, assim como o já estar inserido num campo conceitual e teórico a partir do qual se constrói a crítica e busca-se a sua superação. Quais conceitos e/ou reconceituações seriam apropriadas ao desenvolvimento do conhecimento, já que é através dos conceitos que pensamos e construímos o conhecimento? Nesse sentido Inocência Mata chama a atenção para o fato de que a adoção de determinadas formulações e categorias – como crioulidade, hibridismo, hibridez, mestiçagem, “identidades sem fronteira” (quando não desindentidades), universal/universalidade, global/local, cosmopolitismo, pós-colonial/pós-moderno, modernidade (em regra a opor-se a tradição) – para enquadramento teórico e compreensão das culturas e produções de países ex-colonizados ou de espaços periferizados, por estudiosos do Terceiro Mundo em instituições do “centro” ou em diálogo com ele, revela uma dependência teórica consentida dos académicos desses países, e de africanistas…(MATA, 2014, p. 33).

Isto nos remete ainda à questão de saber se é possível estar fora desse círculo, vez que é nesse campo que se processam as disputas acadêmicas, políticas, a afirmação e o reconhecimento de outras formas de conceber a alteridade. Nesse sentido, poderíamos fazer a mesma pergunta em relação ao campo da ciência, aquela colocada por Macamo se “é possível ver de fora da modernidade? Existe um lugar crítico que não esteja comprometido com a própria modernidade?” (MACAMO, 2004, p. 268)

É a partir deste contexto e deste conjunto de questionamentos que se coloca o problema do locus do Brasil na relação com outros países da América Latina e com países africanos em suas diferentes dimensões. Quais são os conceitos, preconceitos, noções e pré-noções que orientam tais relações? Em que consiste o interesse das pesquisas em relação à África? Quais as questões que emergem para repensar e estabelecer novos horizontes para a produção do conhecimento sobre a sociedade brasileira, como sociedade periférica?

1Remo Mutzenberg é doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco, pós-doutorando no Centro de Estudos Africanos – ISCTE/IUL, em Lisboa, com o apoio da CAPES, e professor do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, PE, Brasil.
2Eliane Veras Soares é doutora em Sociologia pela Universidade de Brasília, com pós-doutorado no Centro de Estudos Africanos – ISCTE/IUL, em Lisboa, professora no Departamento de Sociologia e no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, PE, Brasil.
Referências
AMORIM, C. L. N. O Brasil e o “renascimento africano”. Folha de S. Paulo, p. A3, 25/ mai./ 2003. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2505200308.htmAcesso em: mar./2013.
APPIAH, K.A. 1997. Na casa de meu pai: a África na filosofia da cultura. Rio de Janeiro, Contraponto.
DAGNINO, E. 2004 “¿Sociedade civil, participação e cidadania: de que estamos
falando?” In Daniel Mato (coord.), Políticas de ciudadanía y sociedad civil entiempos de globalización, Caracas: FACES, Universidad Central de Venezuela, pp. 95-110.
DUSSEL, E. 2000. Europa, modernidad y eurocentrismo. In: LANDER, E. (org.) La colonialidad del saber: eurocentrismo y ciencias sociales. Perspectivas Latinoamericanas. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, Buenos Aires, Argentina. Disponível em: http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/ar/libros/lander/dussel.rtf. Acesso em 15/fev/2014.
HOUNTONDJI, P. J. 2002. The struggçe fpr Meaning: Reflections on Philosophy, Culture, and Democracy in Africa. Athens/Ohio, Ohio University Press.
MATA, I. 2014. Estudos pós-coloniais: desconstruindo genealogias eurocêntricas. Civitas, Volume 14, número 1, janeiro-abril 2014, p. 27-42.
MACAMO, E. 2002. A constituição de uma sociologia das sociedades africanas. Estudos Moçambicanos,Maputo, n. 19, p. 5-26.
MACAMO, E. 2004. À procura do ponto de Arquimedes. O descontentamento e a sua modernidade. In: Sousa Santos, Boaventura de; Cruz e Silva, Teresa (Orgs.). Moçambique e a reinvenção da emancipação social. Maputo; Centro de Formação Jurídica e Judiciária, p. 267-276.
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MUDIMBE, V. Y. 1988The Invention of Africa: Gnosis, Philosophy, and the Order of Knowledge. Bloomington: Indiana University Press, 1988.
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Leia a matéria completa em: Literatura, Conhecimento e Política: diálogos entre Brasil e África - Geledés 
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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Boko Haram: os massacres na Nigéria e o silêncio do Ocidente

Em meio à comoção gerada pelos atentados terroristas em Paris, 

um arcebispo nigeriano acusou países ocidentais de ignorarem 

as ameaças do grupo Boko Haram.

European Commission DG ECHO / Flickr
Em meio à comoção gerada pelos atentados terroristas em Paris, na França, um arcebispo nigeriano acusou países ocidentais de ignorarem a ameaça representada pelo grupo extremista Boko Haram.

O Arcebispo da cidade de Jos, Ignatius Kaigama, ainda pediu que a mesma atenção dada aos atentados na França seja dada aos militantes que atuam com cada vez mais violência no nordeste do país africano.
Segundo ele, o mundo precisa agir de forma mais determinada para conter o avanço do Boko Haram na Nigéria.
No último fim de semana, 23 pessoas foram mortas por três mulheres-bomba, uma das quais tinha apenas 10 anos de idade.
A reportagem é publicada por BBC Brasil, 12-01-2015.
Outras centenas de mortes foram registradas na semana passada, segundo relatos, durante a captura pelo Boko Haram da cidade de Baga, no Estado de Borno, no nordeste do país.
Em entrevista ao programa Newsday, da BBC, o arcebispo nigeriano disse que o massacre em Baga é a prova de que o Exército do país não consegue conter o grupo extremista.
"É uma tragédia monumental. Deixou a todos na Nigéria muito tristes. Mas parece que estamos desamparados. Porque, se fôssemos capazes de deter o Boko Haram, já o teríamos feito. Eles continuam a atacar, matar e a tomar territórios impunemente", disse Kaigama.
Segundo ele, a luta contra o extremismo no país requer o mesmo apoio internacional e espírito de unidade que foi demonstrado após os ataques de militantes na França.
"Precisamos que este espírito se multiplique, não apenas quando isso ocorre na Europa, mas também na Nigéria, no Níger ou em Camarões."
Mulheres-bomba
No domingo passado, duas mulheres-bomba mataram quatro pessoas e deixaram mais de 40 feridas na cidade de Potiskum.
Um dia antes, uma menina realizou outro ataque suicida em Maiduguri, a principal cidade do nordeste do país, matando ao menos 19 pessoas.
No último mês, mais de 30 pessoas foram mortas em ataques suicidas simultâneos na cidade de Jos, que tem cristãos e islâmicos em sua população.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, condenou os ataques do Boko Haram, que classificou como "atos depravados".
Em junho, o Reino Unido disse que intensificaria sua ajuda ao país nas áreas militar e de educação, para conter o Boko Haram.
Essa ajuda também inclui treinamento das tropas do país, assim como vêm fazendo os Estados Unidos.
No entanto, a Nigéria criticou o governo americano por sua recusa de vender armas ao país alegando que as tropas nigerianas estavam cometendo abusos de direitos humanos.
Uma iniciativa liderada pelo governo francês pediu que Nigéria, Níger, Camarões e Chade contribuíssem com 700 soldados cada para uma força internacional contra o Boko Haram, mas nenhum país implementou o plano.
Violência chocante
O Exército nigeriano informou que está tentando retomar a cidade de Baga, que está sob o controle de militantes, mas não deu detalhes da operação.
Também disse que, no último sábado, conseguiu impedir que o Boko Haram assumisse o controle de Damaturu, outra grande cidade do nordeste nigeriano.
Will Ross, correspondente da BBC News em Lagos, a principal cidade da Nigéria, diz que a violência no país não tem fim e é cada vez mais chocante, citando o uso de uma criança em um dos ataques do último fim de semana.
"As Forças Armadas nigerianas tiveram algumas vitórias, mas têm uma tarefa muito difícil, de proteger civis de homens-bomba e atiradores que estão espalhados por uma grande área no nordeste do país. Por isso, com frequência, são dominadas pelos militantes e falham em sua missão. As autoridades do país não gostam de ouvir isso, mas é verdade", afirma Ross.
"O mundo está lentamente começando a manifestar indignação com a recente violência, mas, além disso, e de uma ajuda limitada, não parece haver vontade de se envolver mais profundamente no conflito."


Créditos da foto: European Commission DG ECHO / Flickr
Fonte: Carta Maior

Não matarás! Uma lembrança de Dostoievsky sobre a pena de morte

Onde reside a razão da nossa repugnância frente à pena de morte?, 

questiona o italiano Norberto Bobbio em um ensaio sobre o tema.

Marco Aurélio Weissheimer
Arquivo

O brasileiro Marco Acher foi executado, por fuzilamento, sábado, na Indonésia. Ele foi condenado à morte por tráfico de drogas. Há outro brasileiro, Rodrigo Goularte, que também está no corredor da morte na Indonésia, pelo mesmo crime. Arrisquei mencionar o ocorrido para um taxista aqui em Porto Alegre na tarde deste sábado. Já imaginava qual seria a reação e minha expectativa não foi frustrada. O taxista defendeu a execução, a introdução da pena de morte no Brasil e sua aplicação a milhares de “bandidos e políticos”. “Vai ter uma fila quilométrica para as execuções”, emendou. Essa seria, para ele, a imagem de um Brasil decente: um país com filas de condenados aguardando para serem executados. Além disso, criticou a presidente Dilma Rousseff por ter pedido clemência ao presidente da Indonésia. Fiquei calado, ouvindo e pensando como é doloroso e difícil enfrentar esse debate.

Em um ensaio sobre a pena de morte, Norberto Bobbio faz uma retrospectiva histórica sobre o debate em torno da pena de morte, elencando argumentos favoráveis e contrários à prática. Não se trata de uma mera lista. Bobbio tem posição a respeito, que fica explicitada logo no título do ensaio, “Contra a pena de morte” (publicado no Brasil no livro “A Era dos Direitos”, Editora Campus). Logo no início ele adverte que o debate sobre a abolição da pena de morte, de uma perspectiva histórica, mal começou. “Durante séculos, o problema de se era ou não lícito (ou justo) c0ndenar um culpado à morte sequer foi colocado. Jamais se pôs em dúvida que, entre as penas a infligir a quem violou as leis da tribo, ou da cidade, ou do povo, ou do Estado, estivesse também a pena de morte (...)”, escreve Bobbio.

Será apenas no século XVIII que encontraremos pela primeira vez um debate aprofundado sobre a licitude ou conveniência da pena de morte, com a obra de Beccaria, “Dos Delitos e das Penas” (1764). “Trata-se da primeira obra”, assinala Bobbio, “que enfrenta seriamente o problema e oferece alguns argumentos racionais para dar-lhe uma solução que contrasta com uma tradição secular”. O debate sobre a pena de morte e, em particular, contra a pena de morte, tem, portanto, cerca de 250 anos de vida, um período muito pequeno diante de uma história de milhares de anos de mortes, crimes, punições e execuções.

Em seu ensaio, Bobbio resume algumas das principais teses utilitaristas, retributivistas e abolicionistas, a favor e contra a pena de morte.  Como defensor da extinção da pena de morte, gostaria apenas de destacar a passagem final do artigo de Bobbio onde ele lembra uma passagem de Dostoievsky e aponta o que considera ser o postulado ético central que embasa a posição contra a pena de morte. Ele identifica esse princípio a partir de uma limitação da tese utilitarista contra a pena de morte: “o limite da tese está numa pura e simples presunção, a de que a pena de morte não serve para fazer diminuir os crimes de sangue. Mas se se conseguisse demonstrar que ela previne tais crimes?” – indaga.

Neste caso, observa, teríamos de recorrer a outra instância de caráter moral, a um princípio posto como absolutamente indiscutível. E esse argumento, defende, só pode ser derivado do imperativo moral “não matarás”, que deve ser acolhido como um princípio de valor absoluto. Bobbio antecipa uma objeção a essa posição:

“Mas como? Poder-se-ia retrucar: o indivíduo tem o direito de matar em legítima defesa, enquanto a coletividade não o tem?”

Não, a coletividade não tem esse direito, responde Bobbio:

“A coletividade não tem esse direito porque a legítima defesa nasce e se justifica somente como resposta imediata numa situação na qual seja impossível agir de outro modo; a resposta da coletividade é mediada através de um processo, por vezes até mesmo longo, no qual se conflitam argumentos pró e contra. Em outras palavras, a condenação à morte depois de um processo não é mais um homicídio em legítima defesa, mas um homicídio legal, legalizado, perpetrado a sangue frio, premeditado. Um homicídio que requer executores, ou seja, pessoas autorizadas a matar. Não é por acaso que o executor da pena de morte, embora autorizado a matar, tenha sido sempre considerado como um personagem infame (...)”.

E acrescenta:

“O Estado não pode colocar-se no mesmo plano do indivíduo singular. O indivíduo age por raiva, por paixão, por interesse, em defesa própria. O Estado responde de modo mediato, reflexivo, racional. Também ele tem o dever de se defender. Mas é muito mais forte do que o indivíduo singular e, por isso, não tem necessidade de tirar a vida desse indivíduo para se defender. O Estado tem o privilégio e o benefício do monopólio da força. Deve sentir toda a responsabilidade desse privilégio e desse beneficio”.

Bobbio admite que esse raciocínio pode ser tachado de “moralismo ingênuo, de pregação inútil.” Mas onde reside, então, a razão da nossa repugnância frente à pena de morte? – questiona. Ele responde:

“A razão é uma só: o mandamento de não matar. Não vejo outra. Fora dessa razão última, todos os demais argumentos valem pouco ou nada; podem ser contraditos por argumentos que têm, mais ou menos, a mesma força persuasória. Dostoiévski o disse magnificamente, quando pôs na boca do Príncipe Michkin as seguintes palavras: “Foi dito: ‘Não matarás.’ E, então, se alguém matou, por que se tem de matá-lo também? Matar quem matou é um castigo incomparavelmente maior do que o próprio crime. O assassinato legal é incomparavelmente mais horrendo do que o assassinato criminoso.”

Na mesma direção, Bobbio cita duas passagens do escritor francês Victor Hugo (outro defensor da extinção da pena capital), em Os Miseráveis:

“O patíbulo, quando está lá, erguido para o céu, tem algo de alucinante. Alguém pode ser indiferente quanto à pena de morte e não se pronunciar, não dizer nem sim nem não; mas isso só enquanto não viu uma guilhotina. Quando vê uma, o abalo é violento: ele é obrigado a tomar partido a favor ou contra.”

A segunda passagem narra uma experiência de Victor Hugo, quando tinha dezesseis anos e viu uma ladra que um carrasco marcava com ferro em brasa:

“Ainda conservo no ouvido, quarenta anos depois, e sempre conservarei na alma, o espantoso grito da mulher. Era uma ladra; mas, a partir daquele momento, tornou-se para mim uma mártir.”

A distância que existe entre essas palavras e o desejo de filas de execuções manifestado pelo taxista dá bem uma ideia da distância que ainda precisa ser percorrida para que o “Não matarás!” deixe de ser um princípio contra intuitivo e estranho à nossa vida cotidiana.

Créditos da foto: Arquivo
Fonte: Carta Maior

Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...