segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Secretário da Igualdade defende mais políticas públicas para negros no País

Agência Brasil RP

O secretário de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Juvenal Araújo, disse hoje (20) que "precisamos cada vez mais de políticas públicas e da responsabilização dos gestores. Só venceremos essa barreira histórica de desigualdade por meio das políticas públicas". O secretário participou do programa Por Dentro Do Governo, transmitido pela TV NBR, data em que se comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil.
Durante a entrevista, o secretário respondeu perguntas sobre temas como preconceito racial, cotas, intolerância religiosa. Araújo falou ainda sobre a diferença que existe entre brancos e negros no Brasil: ” O povo negro se mobiliza há muito tempo no Brasil. Zumbi [dos Palmares] é um bom exemplo disso".
Com relação à intolerância religiosa, o secretário falou sobre o preconceito para com as religiões de matriz africana. “Hoje temos a Lei Nº 10.639 que determina que as escolas lecionem história da África e a história afro-brasileira, o que não vem sendo cumprido. Os professores defendem outra fé, se negam a cumprir a lei. Além disso, existe demonização das religiões de matriz africana. Não queremos ser tolerados, queremos o respeito da população!”, disse.
Mesmo que o Brasil seja formado por uma população miscigenada, e, segundo a Constituição, com direitos iguais, os dados mostram que a realidade está distante deste ideal. De acordo com números do Atlas da Violência de 2017, de cada 100 pessoas assassinadas no país, 70 são negras, 61,6% da população carceraria é constituída por pessoas de pele escura. Com relação ao número de desempregados, 63,7% são de negros e pardos. Para a classe alta, 1% da população rica do Brasil, apenas 2 em cada 10 tem a pele negra.
No caso das mulheres, as negras são vítimas em 58,8% dos casos de violência doméstica. Além disso, o analfabetismo é o dobro, em comparação com as mulheres brancas. Apenas 27% tiveram acompanhamento durante o parto. A estimativa sobe para 46,2% quando se trata das mulheres de pele clara, segundo o Ministério da Saúde. No mercado de trabalho, o cenário não é diferente. Segundo o Programa Nacional de Pesquisas Contínuas (PNAD), diante de mulheres brancas com a mesma instrução, na média salarial, as negras recebem 27% a menos.
“A palavra ‘miscigenação’ é usada para falar de democracia. Mas não existe isso no Brasil. A igualdade de oportunidades não existe entre negros e brancos no nosso país. Somos separados pela cor da nossa pele”, explicou Juvenal Araújo.
Para o secretário, além de todos esses problemas, a politicas para cotas vem sendo atacada c
om descriminação e as tentativas de fraudes na tentativa do ingresso à universidade. “As cotas raciais no Brasil são muito importantes, porque mostrou suas necessidades e eficiência. Hoje temos muito mais negros no ensino superior. As universidades federais devem criar mecanismos de verificação para coibir a tentativa de fraudes com relação a pessoas que se dizem negras, mas que de fato não são”, disse.
Além de um convite à reflexão sobre o racismo e suas consequências, o dia 20 de novembro é lembrado pelos 322 anos da morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência de negros e pardos brasileiros, parcela que representa, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 54% da população do país. A data não é um feriado nacional, mas os estados de Alagoas, do Amapá, Amazonas, de Mato Groso, do Rio de Janeiro e de Roraima, reconhecem a data como feriado estadual.
O Por Dentro o Governo é um programa produzido e coordenado pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República em parceira com a TV NBR.
Fonte: Midiamax

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Zumbi dos Palmares

A palavra Zumbi, ou Zambi, vem do africano zumbi. Em quimbundo “nzumbi”, significa, grosso modo, “duende”. No Brasil, Zumbi significa fantasma que, segundo a crença popular afro-brasileira, vagueia pelas casas a altas horas da noite.
• Mais ou menos em 1600: negros fugidos do trabalho escravo nos engenhos de açúcar, onde hoje são os estados de Pernambuco e Alagoas no Brasil, fundam na serra da Barriga o Quilombo dos Palmares. Os quilombos, eram povoados de resistência, seguiam os moldes organizacionais da república e recebiam escravos fugidos da opressão e tirania. Para muitos era a terra prometida, um lugar para fugir da escravidão. A população de Palmares em pouco tempo já contava com mais de 3 mil habitantes. As principais funções dos quilombos eram a subsistência e a proteção dos seus habitantes, e eram constantemente atacados por exércitos e milícias.
• 1630: Começam as invasões holandesas no nordeste brasileiro, o que desorganiza a produção açucareira e facilita as fugas dos escravos. Em 1644, houve uma grande tentativa holandesa de aniquilar com o quilombo de Palmares, que como nas investidas portuguesas anteriores, foi repelida pelas defesas dos quilombolas.
• 1654: Os portugueses expulsam os holandeses do nordeste brasileiro.
História
O Quilombo dos Palmares (localizado na atual região de União dos Palmares, Alagoas) era uma comunidade auto-sustentável, um reino (ou república na visão de alguns) formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Ele ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal e situava-se onde era o interior da Bahia, hoje estado de Alagoas. Naquele momento sua população alcançava por volta de trinta mil pessoas.
Zumbi nasceu em Palmares, Alagoas, livre, no ano de 1655, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Batizado ‘Francisco’, Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, e ajudava diariamente na celebração da missa. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, Zumbi escapou em 1670 e, com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte e poucos anos.
Por volta de 1678, o governador da Capitania de Pernambuco cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares, se aproximou do líder de Palmares, Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos se o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa; a proposta foi aceita, mas Zumbi rejeitou a proposta do governador e desafiou a liderança de Ganga Zumba. Prometendo continuar a resistência contra a opressão portuguesa, Zumbi tornou-se o novo líder do quilombo de Palmares.
Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, foi traído por Antonio Soares, e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros quase dois anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.
Em 14 de março de 1696 o governador de Pernambuco Caetano de Melo e Castro escreveu ao Rei: “Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal, para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os Palmares.”
Calvo
• 1670: Zumbi aos quinze anos de idade foge e regressa a Palmares. Neste mesmo ano de 1670, Ganga Zumba, filho da Princesa Aqualtune, tio de Zumbi, assume a chefia do quilombo, então com mais de trinta mil habitantes.
• 1675: Na luta contra os soldados portugueses comandados pelo Sargento-mor Manuel Lopes, Zumbi revela-se grande guerreiro e organizador militar. Neste ano, a tropa portuguesa comandada pelo Sargento-mor Manuel Lopes, depois de uma batalha sangrenta, ocupa um mocambo com mais de mil choupanas. Depois de uma retirada de cinco meses, os negros contra-atacam, entre eles Zumbi com apenas vinte anos de idade, e após um combate feroz, Manuel Lopes é obrigado a se retirar para Recife. Palmares se estendia então da margem esquerda do São Francisco até o Cabo de Santo Agostinho e tinha mais de duzentos quilômetros de extensão, era uma república com uma rede de onze mocambos, que se assemelhavam as cidades muradas medievais da Europa, mas no lugar das pedras haviam paliçadas de madeira. O principal mocambo, o que foi fundado pelo primeiro grupo de escravos foragidos, ficava na Serra da Barriga e levava o nome de Cerca do Macaco. Duas ruas espaçosas com umas 1500 choupanas e uns oito mil habitantes. Amaro, outro mocambo, tem 5 mil. E há outros, como Sucupira, Tabocas, Zumbi, Osenga, Acotirene, Danbrapanga, Sabalangá, Andalaquituche.
• 1678: A Pedro de Almeida, governador da capitania de Pernambuco, mais interessava a submissão do que a destruição de Palmares, após inúmeros ataques com a destruição e incêndios de mocambos, eles eram reconstruídos, e passou a ser economicamente desinteressante, os habitantes dos mocambos faziam esteiras, vassouras, chapéus, cestos e leques com a palha das palmeiras. E extraiam óleo da noz de palma, as vestimentas eram feitas das cascas de algumas árvores, produziam manteiga de coco, plantavam milho, mandioca, legumes, feijão e cana e comercializavam seus produtos com pequenas povoações vizinhas, de brancos e mestiços. Sendo assim o governador propôs ao chefe Ganga Zumba a paz e a alforria para todos os quilombolas de Palmares. Ganga Zumba aceita, mas Zumbi é contra, não admite que uns negros sejam libertos e outros continuem escravos. Além do mais eles tinham suas próprias Leis e Crenças e teriam que abrir mão de sua cultura.
• 1680: Zumbi assume o lugar de Ganga Zumba em Palmares e comanda a resistência contra as tropas portuguesas. Ganga Zumba morre assassinado com veneno.
• 1694: Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira de Melo comandam o ataque final contra a Cerca do Macaco, principal mocambo de Palmares e onde Zumbi nasceu, cercada com três paliçadas cada uma defendida por mais de 200 homens armados, após 94 anos de resistência, sucumbiu ao exército português, e embora ferido, Zumbi consegue fugir.
• 1695: 20 de Novembro: Zumbi foi traído e denunciado por um antigo companheiro, ele é localizado, preso e degolado aos 40 anos de idade. Zumbí ou “Eis o Espírito”, virou uma lenda e foi amplamente citado pelos abolicionistas como herói e mártir.
Atualmente, o dia 20 de novembro, feriado em mais de 200 cidades brasileiras, é celebrado como Dia da Consciência Negra. O dia tem um significado especial para os negros brasileiros que reverenciam Zumbi como o herói que lutou pela liberdade e como um símbolo de liberdade. Hilda Dias dos Santos incentivou a criação do Memorial Zumbi dos Palmares.
Várias referências nas artes fazem tributo a seu nome:
• Música composta por Edu Lobo e Vinicius de Moraes e popularizada por Elis Regina.
• Mencionado em diversas letras da banda Soulfly.
• Mencionado na música “Ratamahatta”, da banda Sepultura.
• Seu nome é dado a um lutador no jogo feito em Adobe Flash: Capoeira Fighter 2.
• Quilombo, 1985, filme de Carlos Diegues sobre o Quilombo dos Palmares, ASIN B0009WIE8E
• Gilberto Gil lançou um CD chamado “Z300 Anos de Zumbi”.
• A banda de nome Chico Science & Nação Zumbi (atualmente é chamada somente de Nação Zumbi, após a morte do vocalista Chico Science).
• Música de Jorge Ben também cantada por Caetano Veloso nos CDs Noites do Norte e Noites do Norte Ao Vivo.
• Música “300 anos” gravada por Alcione em 2007 (composta por Alty Veloso e Paulo César Feital).
• Nome do aeroporto de Maceió, Alagoas (Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares).
Referências bibliográficas
• CARNEIRO,Edison.O Quilombo dos Palmares, Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 3a ed., 1966, p. 35
• FONSECA Júnior, Eduardo. Zumbi dos Palmares, A História do Brasil que não foi Contada. Rio de Janeiro: Soc. Yorubana Teológica de Cultura Afro-Brasileira, 1988. 465 p.
• FREITAS, Décio. Palmares, a guerra dos escravos. Porto Alegre: Movimento,1973.
• LEAL, I.S. & LEAL, A. (1988). O menino de palmares. Coleção “Jovem do Mundo Todo”. Editora Brasiliense. 18ª Edição.
• MARTINS Souza, José.Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo.Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira,2007 p.99
• SANTOS, Joel Rufino dos. (1988). Zumbi. Projeto Passo à Frente – Coleção Biografias.Editora Moderna.
• SCISÍNIO, Alaôr Eduardo. Dicionário da escravidão. Rio de Janeiro: Léo Christiano, 1997.
• VAINFAS, Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
Ver também
O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: Zumbi dos Palmares.
• Escravidão
• Guerra dos Palmares
• Panteão da Pátria
• Quilombo
• Quilombo dos Palmares
Ligações externas
• Heróis negros no Brasil
• Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR
Fonte: Gèledes

Calendário Internacional da Cultura Negra


NOVEMBRO
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foto Divulgação

Dia 01
– Criado o bloco afro Ilê Aiyê, uma das primeiras agremiações carnavalescas a agregar negros no Brasil. Salvador/BA (1974).
Dia 10
– Retrocesso: Governo Médici proíbe a imprensa de publicar notícias sobre índios, Esquadrão da Morte, guerrilha, movimento negro e discriminação racial (1969).
Dia 19
– Nasce Paulo Lauro, que viria a ser o primeiro prefeito negro de São Paulo/SP (1907).
– Retrocesso: Rui Barbosa manda queimar todos os papéis, livros de matrícula e registros fiscais relativos à escravidão existentes no Ministério da Fazenda (1890).
– Lançado o primeiro volume de Cadernos Negros. São Paulo/SP (1978).
Dia 20
– Dia Nacional da Consciência Negra.
Dia 20
– Morre Zumbi dos Palmares, principal representante da resistência negra à escravidão e líder do Quilombo dos Palmares. Alagoas/AL (1695).
Dia 22
– Revolta da Chibata. Rebelião liderada por João Candido, o “Almirante Negro”, contra os maltratos sofridos na Marinha Mercante. Rio de Janeiro/RJ (1910).
Dia 24
– A Organização das Nações Unidas para Educação Ciência e Cultura (Unesco) reconhece o Samba do Recôncavo Baiano como Patrimônio da Humanidade. (2005).
Dia 25
– Dia Nacional das Baianas.
Fonte: FCP

Governador lança projeto para comunidade quilombola nesta quarta-feira

Projeto “Geração de Renda e Eficiência Energética” em Jaraguari



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http://www.acritica.net/

O governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), estará em Jaraguari, distante 50 km de Campo Grande, na manhã desta quinta-feira (9), onde lança o projeto “Geração de Renda e Eficiência Energética” na comunidade quilombola de Furnas de Dionísio. O evento tem início às 9h.
A iniciativa tem o objetivo de contribuir para o desenvolvimento local e agregar valor à produção de rapadura, melado de cana e açúcar mascavo, produzidos na comunidade.
São diversas frentes de apoio à comunidade que englobam desde investimentos na profissionalização da venda de produtos artesanais à reforma estrutural da sede da Associação dos Pequenos Produtores Rurais e substituição de instalações elétricas, lâmpadas e equipamentos como geladeiras, freezers e ar condicionado antigos.
Cerca de 90 famílias que residem na comunidade terão seus produtos artesanais vendidos em supermercados locais e da Capital dentro dos padrões exigidos.
A ação é uma parceria da Energisa, concessionária de energia elétrica de Mato Grosso do Sul, com a UCDB (Universitária Católica Dom Bosco).
Fonte: Midiamax

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Griots - uma breve história

"Numa cultura oral como a africana, o griot conserva a memória coletiva. Por isso, é costume dizer-se que «quando na África morre um ancião é uma biblioteca que desaparece». A figura do griot tem uma enorme importância na conservação da palavra, da narração, do mito. Na prática, eles funcionam como escritores sem papel nem pena. Ortografam na oralidade aquilo que deve permanecer embutido na memória e no coração dos seus familiares e conterrâneos, no sentido de manter incrustada a identidade do seu ser e das suas raízes, fundamentada, em grande parte, no seu passado e nos seus predecessores. 



Os griots são os guardiães, intérpretes e cantores da História oral de muitos povos africanos. Na língua mandinga são conhecidos como jali e na África Central como mbomvet. Todos eles possuem uma função social bastante semelhante e de grande relevância. 

Os griots cantam a história épica da África e os mitos dos diferentes povos, ou elogiam os méritos dos heróis e personagens do passado, geralmente acompanhados por instrumentos musicais, como a kora ou o xilofone. 

No passado, os griots eram contratados por reis e príncipes para enaltecerem as suas qualidades com cânticos durante as cerimônias sociais da corte (num evidentíssimo atentado à humildade…!). Todavia, por vezes, também sabiam criticar os seus mecenas com fina ironia (que nem todos, certamente, compreenderiam…). Pelo papel social que desempenhavam na corte, os griots gozavam de grande prestígio entre a sociedade tradicional africana. Eram imensamente estimados pelas suas capacidades musicais e poéticas, recebendo boa retribuição pelo seu trabalho. Mas também eram temidos, porque se pensava que dominavam certos poderes ocultos (para alguns, a inteligência e a mordacidade ainda hoje são “ciências” desconhecidas, não só na África como em todos os recantos do mundo!). Por esse motivo, quando morriam, não eram sepultados, sendo o seu cadáver colocado dentro do tronco oco de uma árvore e coberto com ramos, para que os seus restos não contaminassem a terra com os poderes mágicos. (Será que a árvore não poderia, então, começar a falar ou a ter qualquer outro comportamento estranho e inesperado?...). 

Massa Makan Diabaté, um dos griots mais importantes do nosso tempo, compara o griot à kora, instrumento de 21 cordas: as sete primeiras tocam o passado; outras sete o presente; e as últimas sete o futuro. Por isso, o griot é testemunha do passado, cantor do presente e mensageiro do futuro."


Os Griots

Depois de um bom jantar, com a lua brilhando, as pessoas de uma aldeia na África antiga podem ouvir o som de um tambor, chocalho, e uma voz que gritava: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Esses foram os sons do griot, o contador de histórias.

Quando eles ouviram o chamado, as crianças sabiam que estavam indo para ouvir uma história maravilhosa, com música e dança e música! Talvez hoje a história seria sobre Anansi, a aranha. Todo mundo adorava Anansi. Anansi podia tecer as teias mais bonitas. Ele foi quem ensinou o povo de Gana como tecer o pano de lama bonito. Anansi teve uma boa esposa, filhos fortes, e muitos amigos. Ele entrou em muita confusão, e usou sua inteligência e poder do humor de escapar.

Houve outras histórias que o povo gostava de ouvir mais e mais. Algumas histórias eram sobre a história da tribo. Alguns eram grandes guerras e batalhas. Algumas eram sobre a vida cotidiana. Não havia linguagem escrita na África antiga. Os narradores acompanhavam a história do povo.

Havia geralmente apenas um contador de histórias por aldeia. Se uma vila tentava roubar um contador de histórias de outra aldeia, era motivo de guerra! Os contadores de histórias foram importantes. Os griots não eram as únicas pessoas que podiam contar uma história. Qualquer um poderia gritar: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Mas os griots eram os "oficiais" contadores de histórias. O griot aldeia não tem que trabalhar nos campos. Sua tarefa era contar histórias.

Mil anos mais tarde, novas histórias sobre novos triunfos e novas aventuras ainda estão sendo informados pela aldeia pelos Griots.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Lenda da Girafa


Há muito, muito tempo, a girafa era um animal igual aos outros, com um pescoço de tamanho normal.
Houve então uma terrível seca. Os animais comeram toda a erva que havia até mesmo as ervas secas e duras, e andavam quilômetros para ter água para beber.
Um dia, a Girafa encontrou o seu amigo Rinoceronte. Estava muito calor e ambos percorriam lentamente o caminho que levava ao bebedouro mais próximo e lamentavam-se.
– Ah, meu amigo – disse a Girafa, – vê só… Tantos animais a escavar o chão à procura de comida… Está tudo seco, mas as acácias mantêm-se verdes.
– Hum, hum – disse o Rinoceronte (que não era – e ainda não é – muito falador).
 – Seria tão bom – disse a Girafa – poder chegar aos ramos mais altos, às folhas tenras. Há muita comida, mas não conseguimos lá chegar porque não conseguimos subir às árvores.
O Rinoceronte olhou para cima e concordou, abanando a cabeça:
– Talvez devêssemos ir falar como o Feiticeiro. Ele é sábio e poderoso.
– Que bela ideia! – disse a Girafa. – Sabes onde fica a casa do Feiticeiro?
O Rinoceronte acenou afirmativamente e os dois amigos dirigiram-se para a casa do Feiticeiro após matarem a sede.
Depois de uma caminhada longa e cansativa, os dois chegaram à casa do Feiticeiro e explicaram-lhe ao que vinham.
Depois de ouvi-los, o Feiticeiro deu uma gargalhada e disse:
– Isso é muito fácil. Voltem amanhã ao meio-dia e eu dar-vos-ei uma erva mágica. Ela fará com que os vossos pescoços e as vossas pernas cresçam. Assim, poderão comer as folhas tenras das acácias.
No dia seguinte, só a Girafa chegou à cabana na hora marcada.
O Rinoceronte, que não era lá muito esperto, encontrou um tufo de erva ainda verde e ficou tão contente que se esqueceu do compromisso. Cansado de esperar pelo Rinoceronte, o Feiticeiro deu a erva mágica à Girafa e desapareceu.
A Girafa comeu sozinha uma dose preparada para dois. Sentiu imediatamente uma sensação estranha nas suas pernas e pescoço e viu que o chão estava a afastar-se rapidamente.
 “Que engraçado!” pensou a Girafa, fechando os olhos, pois começava a sentir-se tonta.
Passado algum tempo abriu lentamente os olhos. Como o mundo tinha mudado!
As nuvens estavam mais perto e ela conseguia ver longe, muito longe. A Girafa olhou para as suas longas pernas, moveu o seu pescoço longo e gracioso e sorriu. À sua frente estava uma acácia bem verdinha…
A Girafa deu dois passos e comeu as suas primeiras folhas.
Após terminar a sua refeição, o Rinoceronte lembrou-se do compromisso e correu o mais depressa que pôde para a casa do Feiticeiro.
Tarde demais! Quando lá chegou já a Girafa comia, regalada, as folhas da acácia.
Quando o feiticeiro lhe disse que já não havia mais ervas mágicas, o Rinoceronte ficou furioso, pois pensou que tinha sido enganado e não que fora o seu enorme atraso que o tinha prejudicado.
Tão furioso ficou que perseguiu o Feiticeiro pela savana fora.
Diz-se que foi a partir desse dia que o Rinoceronte, zangado com as pessoas, as persegue sempre que vê uma perto de si.
Fonte: Encantos da África – Lenda da Girafa

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Calendário Internacional da Cultura Negra



Dia 01
– Fundado o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAFRO). São Paulo/SP (1980).
Dia 07
– Dia de Nossa Senhora do Rosário, patrona dos negros.
Dia 10
– Morre Francisco Lucrécio, Secretário da Frente Negra Brasileira, em São Paulo (2001).
Dia 11
– Nasce Agenor de Oliveira, o Cartola. Cantor e compositor negro, figura entre os maiores representantes da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro/RJ (1908).
Dia 12
– Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, considerada protetora dos negros. São Paulo/SP (1717).
Dia 13
-Criação do Teatro Experimental  do Negro (TEN). Rio de Janeiro /RJ (1944)
Dia 15
– Nasce Grande Otelo, ator de cinema e TV e um dos ícones da cultura negra. Rio de Janeiro/RJ (1915).
Dia 24
– Morre Rosa Parks, líder do Movimento dos Direitos Humanos. América do Norte/EUA (2005).

CONTO POPULAR DA GUINÉ-BISSAU –



Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco.

 Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. 


Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a ideia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.


 Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua.


 Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. 


A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. 


O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.


 A lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio. 


O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. 


Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. 


O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. 


A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido. 


Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Na 2ª Guerra e no Haiti, soldado brasileiro usou música como 'arma'


Vinicius Mariano de Carvalho

Uma das imagens mais marcantes da participação brasileira na Segunda Guerra Mundial com a Força Expedicionária Brasileira, a FEB (1943-1945), não é de nenhum combate, mas de um "pracinha" desembarcando em Nápoles, na Itália, com seu saco na cabeça e empunhando, muito garboso, o estojo do seu violão.

Outras tantas fotografias daquela que foi a primeira campanha brasileira fora de seu território desde a Guerra do Paraguai (1864-1870) retratam soldados com violões, cavaquinhos, pandeiros, agogôs, trompetes e outros instrumentos.

Encontrei recentemente, em arquivos da BBC, gravações das músicas cantadas pelos pracinhas brasileiros na Itália1. As gravações foram trabalho do correspondente de guerra da emissora para o Brasil, Francis Hallawell, também conhecido como "Chico da BBC".

Equipado com um gravador de discos, ele acompanhou a campanha durante a Segunda Guerra e legou documentação radiofônica extremamente rica. Algumas dessas músicas já circulavam por sites sem tanta visibilidade, enquanto outras se mantinham completamente desconhecidas, sem estudos sobre tais produções.

São sambas, marchas, emboladas, baladas: registros da diversidade e da riqueza musical brasileira, reflexo da diversidade da FEB —com pracinhas de todo o Brasil. Essas canções são marcas da maneira como os soldados viveram e expressaram suas experiências na guerra.

Situação semelhante ocorreu com a música brasileira na Guerra do Paraguai. Pouco se conhece sobre o que tocavam e cantavam os soldados em campanha.

Em outra pesquisa, descobri manuscritos de obras compostas pelo mestre de banda do Corpo de Voluntários da Pátria do Pernambuco, Fillipe Neri de Barcelos.

Eram músicas populares de então: um galope, uma marcha e até mesmo uma polca; mais sobre esse material estará no livro "A Música Militar na Guerra da Tríplice Aliança - Notas Documentais e Manuscritos Revelados", com um texto sobre a música militar na Guerra do Paraguai e a edição contemporânea dos manuscritos, bem como com acesso à gravação contemporânea das obras restauradas.

Já no século 21, um novo contingente brasileiro seria acionado novamente, mas por outro motivo: uma missão de paz em solo haitiano. O ano era 2004, e o Brasil aportaria na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) para ficar por 13 anos.
om mais de 37 mil militares brasileiros durante toda a missão, foi a operação internacional mais longa de nossas Forças Armadas, findada no último dia 15, com a saída do contingente final de tropas.

Apesar de tantas diferenças entre a Minustah, a Guerra do Paraguai e a Segunda Guerra Mundial, há um ponto em comum para as forças brasileiras: a presença da música popular e viva executada pelos soldados, transportada e apresentada como um patrimônio nacional valioso —e que deve ser cultivado e praticado pelos militares.

LÁ NO HAITI

Essas observações são fruto de minha experiência como pesquisador de música militar e também como pesquisador do Brasil em Operações de Paz. Não pretendo aqui ter a palavra final sobre a música entre as tropas da Minustah. Apenas chamo a atenção para este recurso peculiar do soldado brasileiro empregado com eficácia e eficiência, seja em combate, seja na caserna.

Estive pela primeira vez no Haiti em 2013. A pesquisa em si não era necessariamente relacionada à música, porém esta não me passou despercebida.

Em uma das atividades, num sábado, acompanhei um grupo de militares da companhia de engenharia brasileira em uma visita a um orfanato de Porto Príncipe. O objetivo era levar sopa bem nutrida para as crianças lá residentes.

Poderia ser apenas um ato simples de solidariedade: chegar, deixar a sopa, retornar à base. Afinal, era um dia livre para aqueles militares que, voluntariamente, se propuseram a participar da atividade.

Chamou-me a atenção um cabo, de violão em punho, que embarcou na viatura. A imagem remeteu-me imediatamente àquela do pracinha desembarcando em Nápoles.

Vinicius Mariano de Carvalho

Cabo da Minustah empunha violão ao desembarcar no Haiti

Enquanto parte dos militares preparava a distribuição da sopa no orfanato, o cabo reunia-se com as crianças em uma sala e, com seu violão, cantava e brincava com os pequenos. Cantava em português, incluía algumas palavras em "créole" haitiano, tocava algumas canções completas na língua que, desconfio, não era de seu domínio e fluência.

A cena foi inesquecível. Em poucos minutos, estávamos também eu e meus outros colegas pesquisadores cantando e brincando com as crianças, que já arriscavam algumas palavras em português —tanto como nós algumas em "créole".

Nesta mesma viagem, acompanhei uma ação cívico-social em Cité Soleil; lá, a música esteve outra vez presente. De um lado, alguns soldados já formavam um grupo de pagode. Com cavaquinho, violão, atabaque, pandeiro e tamborim, cantavam com crianças e adultos os mais recentes sucessos de grupos de pagode populares no Brasil.

Ao cair da tarde, uma grande roda de capoeira se formou no centro da praça em frente à base brasileira da Minustah naquele bairro e, por horas, as ladainhas e refrães da capoeira ecoaram com os berimbaus e atabaques, envolvendo haitianos e brasileiros.

Finalmente, ecoou no sistema de som montado para a ocasião o "Ohrwurm" —aquela melodia que não sai da nossa cabeça— de Michel Teló, "Ai, se eu te pego", e o coro era uníssono entre haitianos e soldados brasileiros, um verdadeiro vínculo harmônico provocado pela canção de sucesso.

Nestes 13 anos de missão, com 26 contingentes, militares de todo o Brasil tiveram a oportunidade de passar seis meses no Haiti. Nesta transposição (também cultural), levaram consigo suas práticas musicais locais e, principalmente, as canções mais populares no Brasil à época. Os soldados atuaram, então, como genuínos embaixadores culturais do país.

Ainda é cedo para notar o reflexo que isso teve (e terá) para a música haitiana. A presença desses contingentes, porém, de forma tão ativa no território, criou uma possibilidade de que influências brasileiras tenham ido muito além do contato superficial.

Estou certo de que muitos outros visitantes e, principalmente, militares brasileiros que atuaram nestes 26 contingentes têm dezenas de experiências semelhantes para relatar, seja como espectadores, seja como participantes dessas partilhas musicais.

TRADIÇÃO

O soldado é criativo e bem-humorado. Quando se trata de fazer música, essas características são ainda mais marcantes. Nos sambas e marchas dos pracinhas da FEB, o que se nota é sempre uma descrição irônica das agruras da vida em campanha: uma leitura cômica de fatos trágicos que deixaram marcas profundas.

Um exemplo desse despojamento vem da Segunda Guerra: a metralhadora alemã MG-42, terror das tropas brasileiras, ganhou o apelido de "Lourdinha" nas canções dos soldados brasileiros à época.

Isso porque o som da cadência de fogo da arma remetia à maneira de falar de Lourdinha, a namorada de um pracinha. E ela ganhou mais que um samba em sua homenagem.

Mesmo se refletirmos sobre a insígnia e o lema da FEB —a cobra fumando—, enxergamos um marco da maneira divertida e bem-humorada do soldado brasileiro ao refletir a experiência da guerra.

Na FEB, muitas dessas gravações sobreviveram graças às transmissões da BBC, em que os soldados imitam instrumentos musicais como trompetes e trombones, usando a própria voz, já que nem sempre dispunham de instrumentos.

Dito isso, posso especular que pagodes, forrós, sertanejos e funks entoados pelos soldados da paz no Haiti surgiram ironizando, interpretando humoristicamente, a experiência na missão. Afinal, mesmo no Brasil, durante seu serviço militar obrigatório, o militar assim se expressa.

Por meio das mídias sociais, especialmente o YouTube, encontra-se parte da produção musical dos soldados, filmadas com celulares e postadas na internet. São funks e pagodes nos quais se interpreta de forma irônica a escala de serviço, a hora como sentinela, a faxina etc.

Outro aspecto muito interessante do intercâmbio cultural do soldado brasileiro em campanha é a incorporação de elementos linguísticos.

Assim como nos sambas e marchas dos pracinhas na Itália o medo virou "paura", o alemão virou "tedesco" e a loira virou "bionda", o veterano brasileiro da Minustah incorporou o "créole" haitiano —e não há quem não se refira a um "bom bagai", que poderia ser traduzido em português como o "gente boa".

Não será surpresa se outros tantos termos da língua venham a se incorporar no linguajar da caserna e, consequentemente, nas músicas daí nascidas.

IMPROVISO

Em uma última visita de pesquisa à Minustah, em agosto, pude perceber outro aspecto peculiar da música entre os soldados do 26º Contingente do Batalhão Brasileiro de Força de Paz (Brabat). Observei que a experiência de agente de pacificação era motivo de inspiração para o graduado que puxava as canções na corrida do treinamento físico.

Muitas destas canções denotavam que a inspiração já vinha desde o período de preparação da tropa ainda no Brasil —pois remetiam a eventos anteriores à chegada ao Haiti. De todo modo, as canções "improvisadas" pelo sargento Malheiros confirmavam muitas das hipóteses que levanto neste texto. Cantava ele com a tropa:

"Aqui em Caçapava
Eu mal falava português
Mas lá em Porto Príncipe
Eu vou gastar o meu inglês

Hello, good morning
How are you
I'm fine, thank you

Aqui no Brabat
Eu já falo até inglês
Mas lá no Haiti
Eu vou testar o meu francês

Bonjour,
Comment allez-vous
Ça va bien
Merci beaucoup"

Nota-se a ironia, o bom humor e o jogo com as línguas, resultado do convívio com outros idiomas na missão.

A realidade operacional da tropa também encontrou versos nas canções do sargento Malheiros. Na monotonia melódica típica das canções de corrida —nas quais o ritmo do verso é o fator relevante, combinado com seu conteúdo, que deve necessariamente ser de motivação moral—, encontrar a palavra certa e a familiaridade do conteúdo para o soldado é o cerne da arte poética.

Isso se vê com maestria nesta canção de corrida:

"Patrulha a pé, motorizada
Check-point, escolta armada
Ações cíveis, humanitárias
A tropa está bem preparada
Manter estável o ambiente
A segurança, conte com a gente"

Além da finalidade motivacional e irônica, essas canções também têm um caráter formativo interessante, já que, na repetição dos versos em coro, os procedimentos, os valores, os objetivos e as táticas são repassados e reforçados, como podemos ver abaixo:

"Peacekeeper foi chamado
Para mais uma missão
Check aos pares, cobertura
Double Tap, tá na veia
Peacekeeper tá na área
Acabou a brincadeira
Capacete azul, colete
E com meu fuzil na mão
Armamento de backup
Estou pronto para ação
Inimigo à direita, à esquerda
E retaguarda
Saio da visão de túnel
Estou sempre na vanguarda
Mão forte ou mão fraca
Já domino a posição
Um, dois, três e sul
e até retenção
Peacekeeper é um soldado
Ele luta pela paz
Agora eu vou contar
Pra você o que ele faz"

Em um texto especulativo como este, cheio de conjecturas sobre a possível música que surgiu dessa convivência de 13 anos, o que se tem mais ao certo é que a música brasileira esteve presente de forma intensa e viva no Haiti: não apenas através de gravações e discos, mas praticada e estimulada pelo soldado brasileiro.

O peso diplomático desempenhado por essa prática é muito relevante. Além do engajamento militar em seu aparato de força, da presença marcante de agentes vários nos momentos de maior trauma humanitário (como no terremoto de 2010) e dos grandes esforços diplomáticos formais, o Brasil também teve uma atuação diplomática de outra ordem.

Ela foi executada com sensibilidade pelo soldado por meio de um típico exercício de diplomacia cultural: simplesmente cantando, tocando seus instrumentos, praticando capoeira com a população local.

Esse exercício de diplomacia cultural tem fortes impactos: reforça laços de camaradagem, reafirma um soft power sem pretensões impositivas, facilita o diálogo e a compreensão e demonstra que, espontaneamente, estruturas pacificadoras podem ser estabelecidas e implementadas.

Alguns estudos acadêmicos acerca da participação brasileira em operações de paz —e no caso do Haiti em particular— tratavam de um diferencial cultural comum entre os soldados brasileiros que os colocava em situação privilegiada quando na necessidade de resolver situações de conflito ou de evitar essas mesmas situações.

Um suposto "jeito brasileiro de fazer operações de paz" foi sempre muito relacionado ao aspecto cultural. Sem dúvida, a música é uma das ferramentas para esse diferencial cultural.

Aqui, talvez a "arma secreta" brasileira nas operações de paz seja levada pelo soldado dentro do estojo de um violão. "Arma" que, quando acionada, ajuda-o a evitar conflitos, pacificar situações, filtrar suas experiências mais duras de combate e traduzir o que ele vivenciou para aqueles que não compartilharam de sua vivência.

*

VINICIUS MARIANO DE CARVALHO, 43, doutor em literaturas românicas pela Universidade de Passau, na Alemanha, é professor de estudos brasileiros no King's Brazil Institute e no Departamento de Estudos de Guerra, no King's College London. Sua mais recente obra é "A Música Militar na Guerra da Tríplice Aliança - Notas Documentais e Manuscritos Revelados" (no prelo 2017).


Este texto é uma adaptação de artigo que integra o livro "A Participação do Brasil na Minustah (2004-2017): Percepções, Lições e Práticas Relevantes para Futuras Missões", uma parceria entre o Instituto Igarapé e o Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB). O lançamento será nesta quarta (18), em Brasília, em evento organizado pelo Exército para celebrar o término da missão no Haiti. A íntegra pode ser lida aqui.

Fonte:Ilustríssima - Folhauol

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Lendas Africanas: Jabulani e o Leão



Há muitas e muitas luas, no tempo em que as pessoas conversavam com os animais, vivia um menino chamado Jabulani. Ele fazia parte dos suázipovo muito corajoso que mora em uma região da África cheia de altas montanhas e florestas.

Na língua do seu povo, Jabulani significa “aquele que traz felicidade”. E foi exatamente isso que sua mãe e seu pai sentiram quando ele chegou ao mundo, em uma manhã quente de janeiro: Jabulani seria alguém especial que traria muito amor a todos.

Desde pequeno, Jabulani gostava de ajudar todo mundo. Sentia uma felicidade imensa no coração quando isso acontecia. Para ele, era como se uma pequena mágica ocorresse: ajudar fazia a outra pessoa se sentir melhor, possibilitava que algo bom acontecesse, tornava Jabulani e o mundo mais felizes. Seu avô dizia que esta era uma das mágicas mais poderosas que o ser humano sabia e podia fazer.

Um belo dia, Jabulani andava contente da vida pela floresta, depois de brincar com seus amigos. Quando atravessava uma pequena clareira, ouviu uma voz muito triste, pedindo:

- Socorro, alguém me ajude, por favor... Preciso sair daqui!
Depois de muito procurar de onde vinha aquela voz tão chorosa, Jabulani descobriu. Ali, no meio do mato, havia uma velha armadilha escondida por um caçador. Dentro, quem estava? Um leão enorme, muito chateado.

- Senhor leão, eu sou Jabulani – apresentou-se com prontidão o menino.

- O que aconteceu com o senhor?

- Oh, até que enfim alguém apareceu neste triste lugar – o leão suspirou aliviado. – Menino, estou preso aqui quase um dia inteiro. Tenho muita sede e fome. Por favor, me ajude a sair – e fez uma cara de dar dó.

Jabulani gostava muito de ajudar, mas não era bobo não. Sabia que tinha de tomar cuidado e, se soltasse o leão, ele poderia atacá-lo e comê-lo com uma dentada só.

- Senhor leão, entendo sua situação, mas tenho medo. Como me disse que está com muita fome, quem me garante que o senhor não vai sair da armadilha e me comer?

- Eu não faria uma coisa dessas com você, meu rapaz! Como eu poderia atacar o meu salvador? Isso não seria certo. Eu prometo que não farei mal a você.

Jabulani pensou, pensou e pensou, e decidiu confiar no leão.

Afinal, ele havia prometido. E promessa é promessa!

- Ta bom, ta bom! Eu vou confiar na promessa do senhor – Jabulani chegou perto da armadilha e puxou a corda que mantinha a porta fechada.

O leão saiu da armadilha, suspirou, espreguiçou-se e esticou as patas, afinal, ele havia ficado muito tempo preso em um lugar pequeno e as pernas estavam dormentes.

Depois disso, virou-se lentamente e olhou bem fundo nos olhos do menino.

- Jabulani, preciso beber um bom gole de água no rio antes de comer você!

Jabulani não acreditou no que o leão falava, achou que ele estava mangando.

Não podia ser verdade.

- O senhor está brincando? Só pode ser isso, não é? – perguntou o menino com um sorriso de medo no cantinho da boca.

O leão olhou bem sério:

- Não, não estou não. Você vai beber água comigo e depois vou te comer.

Estou com muita fome.

- Mas o senhor prometeu que não faria isso comigo! O senhor prometeu – gritou Jabulani.

O leão coçou a cabeça e respondeu:

- Prometi, sim, você tem razão. Mas promessa feita por alguém que está com muita fome, na hora do desespero, não conta. Por isso, acho que é justo comer você!

Assustado, Jabulani tomou coragem e falou bem alto, com toda a força dos seus pequenos pulmões:

- Não é justo, não! Eu ajudei o senhor! Não se pode fazer isso com alguém que nos ajuda. Vamos perguntar a opinião dos outros animais da floresta e saber quem tem razão.

O leão estava com fome, mais não queria ser injusto. Não queria ficar com dor na consciência. Por isso, era melhor ouvir a opinião dos outros.

- Tudo bem, tudo bem. Se algum deles achar que minha decisão não é correta, eu o deixarei partir. Mas façamos a coisa rapidamente, porque minha barriga está roncando demais.

Quando estavam subindo a ladeira, depois de beber água no rio, Jabulani e o leão encontraram um velho burrinho magro e sem dente, tentando arrancar um capim seco.

- Senhor burro, boa tarde! Precisamos ouvir sua opinião sobre um caso de vida ou morte.

- Pois não. Diga menino!

Então Jabulani contou toda a história para o burro: como havia encontrado e salvado o leão e como agora ele, muito ingrato, queria comê-lo.

- O senhor acha justo?

O burrinho ficou em silêncio, pensando no que iria responder. 

Depois de um tempo que pareceu grande, mas tão grande para Jabulani, o burrinho tossiu, limpou a garganta e respondeu:

- Acho justo sim, muito justo que o leão coma você. Afinal, ele está com fome e vocês, seres humanos, não pensam duas vezes antes de sacrificar um animal quando assim o desejam – e olhou para Jabulani com uma mistura de raiva e tristeza. – Vejam a minha situação. Trabalhei a vida toda para um homem que cuidou de mim enquanto fui útil para ele. Eu carregava dia e noite nas minhas costas tudo o que ele precisava. Mas depois que fiquei velho e mal consigo me alimentar sozinho ele me abandonou aqui na floresta para que eu morra de fome. Você acha isso justo?

Jabulani abaixou a cabeça e disse um “não” bem baixinho. Ele não achava justo o que tinham feito contra o burrinho, mas por que ele tinha de morrer por causa dos erros de outros homens? Então o leão se virou para Jabulani e falou:

- Veja, ele me deu razão. Vamos acabar logo com isso – e levantou as garras para atacar o menino.

- De jeito algum, o burro é somente “um” animal. Vamos perguntar para outros.

Contrariado, o leão concordou resmungando e Jabulani suspirou de alívio.

Depois eles encontraram uma vaca pastando. Jabulani e o leão a cumprimentaram e o menino logo contou a ela o caso todo da armadilha. A vaca fez um “Mmuu” bem bravo e falou:

- Os seres humanos são muito egoístas, só pensam neles. Para mim, são todos iguais! Nós, vacas, damos o nosso melhor leite para vocês. Puxamos o arado para que vocês possam plantar as sementes. E o que vocês fazem quando chegamos á velhice? Nos matam, nos comem e usam o nosso couro para a roupa. Por isso, acho que o leão está correto em te comer. Nada mais justo do que um animal com fome comer sua presa. Vocês, seres humanos, agem da mesma forma ou até muito pior conosco, animais.

Jabulani pensou: “Acho que estou perdido e nunca mais vou voltar para minha casa, nunca mais vou ver meu pai, minha mãe, meus irmãos, meus amigos...

Nunca mais!”

Sem esperanças, Jabulani ainda contou a história da armadilha para um grupo de veados, depois para dois pássaros, uma hiena e três coelhos. E todos concordaram que o leão devia comê-lo!

Quando o leão já estava se preparando para saborear o garoto, eis que aparece, como quem não quer nada, um pequeno chacal.

- Deixe-me perguntar para ele, senhor leão. Só para ele.

- Pois será o último e não insista mais – decretou o leão.

Então, Jabulani chegou perto do chacal e contou toda a história. O chacal fez várias perguntas e, com cara de bobo, disse para os dois:

- Não sei se entendi direito. Para dar minha opinião, precisaria ver melhor como as coisas aconteceram. Levem-me até a armadilha!
E foi assim que Jabulani e o leão fizeram. Quando chegaram ao lugar o chacal perguntou:

- Sei não – coçou a cabeça. – Não consigo entender com o leão entrou nesta armadilha. Ela parece tão pequena para um leão tão grande e forte.

Cansado e com muita fome, o leão nem pensou:

- Ta bom, ta bom... Vamos logo com isso. Eu vou entrar lá para você ver – e de um pulo entrou na armadilha.

Então, Jabulani correu e com um único movimento soltou a corda. A grade da armadilha se fechou rapidamente. Confuso, o leão não entendeu o que havia ocorrido.

Com o coração apertado, Jabulani deu uma última olhada para o leão presto e foi embora para cara. E o chacal desapareceu como um fantasma na mata.
Fonte: lendasafricanas33c.blogspot.com.br

Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...