segunda-feira, 31 de março de 2014

A história do samba: unindo brasileiros e africanos

A HISTÓRIA DO SAMBA: UNINDO BRASILEIROS E AFRICANOS


por Gláucia Quênia
Mesmo com o passar do tempo, o samba não deixa dúvidas da relação entre o Brasil e a África. Desde sua origem até hoje, brasileiros e africanos procuram enfatizar a semelhança que os dois têm quando o assunto é samba. Os dois continentes irmãos trabalharam juntos para terem hoje, em suas culturas, um dos gêneros mais apreciados pelo mundo, transformando o samba em um símbolo da cultura afro-brasileira.
Explicações são o que não faltam sobre a origem do termo “samba”. Enquanto uma linha de pesquisa afirma que o termo nasceu da língua árabe, sendo no início “zambra” ou “zamba”; outros afirmam que é originário de uma das diversas línguas africanas existentes, o quimbundo. Neste caso, morfologicamente, “sam” significa “dar” e “ba” significa “receber”, ou então, “coisa que cai”. Há, ainda, uma terceira versão, que afirma que o termo é de procedência angolana ou congolesa, que conta com a grafia “semba” (umbigada). Versão, que no Brasil, é a levada mais a sério.




A HISTÓRIA DO SAMBA: UNINDO BRASILEIROS E AFRICANOS




Carnaval de Quelimane, Moçambique
Considerado uma manifestação popular africana, o samba é estimado como um ritmo urbano característico do Rio de Janeiro, cidade capital do Brasil colônia. As primeiras canções do gênero foram associadas ao Carnaval, elas eram marchinhas arranjadas por compositores de peso, como Heitor Prazeres, Pixinguinha, João da Baiana, que compunham sambas-maxixe, e como Chiquinha Gonzaga, que marcou a história da música, com seus hinos carnavalescos como o inesquecível “Ô Abre Alas”. As marchinhas inicialmente eram criadas por esses reconhecidos compositores, que eram remunerados pelas escolas de samba. Ao longo do tempo, elas foram substituídas pelos sambas-enredo. Mais tarde, o gênero ganhou estruturas modernizadas; sendo dois grupos fundamentais para essa nova “cara” que o samba estava ganhando: os grupos carnavalescos dos bairros Estácio de Sá e os do bairro Osvaldo Cruz, com compositores dos morros da Mangueira, Salgueiro e São Carlos.


A HISTÓRIA DO SAMBA: UNINDO BRASILEIROS E AFRICANOS




Chiquinha Gonzaga
Em razão das deficiências imobiliárias, as pessoas com baixa renda passaram a se deslocar para os morros do Rio de Janeiro, O samba acompanhou o processo e dessa nova estrutura social surgiram novos talentos musicais. A consolidação do gênero vem com o surgimento das “tias baianas”, peças fundamentais na composição do samba urbano. Os instrumentos que formaram a base e foram essenciais para a composição do samba foram os de percussão, como pandeiros e chocalhos. Ao passar dos anos, outros instrumentos ganharam espaço, como cavaquinho e cuíca. Além disso, para que as escolas realizassem seus desfiles na passarela do samba com o tempo determinado pelo regulamento, um novo formato foi introduzido – o ritmo mais acelerado, aquele que hoje deixa qualquer um com vontade de dançar.
Fonte: Geledes

Livro retrata racismo no século XIX e relação entre feminista branca e garota negra

LIVRO RETRATA RACISMO NO SÉCULO 19 E RELAÇÃO ENTRE FEMINISTA E GAROTA NEGRA




Em seu segundo romance, a americana Sue Monk Kidd usa a relação entre Sarah Grimké —feminista que lutou pela abolição da escravidão no sul dos Estados Unidos— e a garota negra que lhe foi dada como servente na infância para traçar um panorama de como opressão de gênero e racismo andavam lado a lado na manutenção da ordem social do século 19.


A história se passa em Charleston, em 1803, quando Sarah recebe uma menina da mesma idade, Hetty, como presente de aniversário. Segundo a pesquisa de Kidd, apesar de ter sido criada no coração do sistema escravocrata, Sarah demonstrava repulsa a esse esquema desde os quatro anos.
“Sei que parece romantizado achar que uma menina branca de 11 anos poderia ter uma posição tão consistente contra a escravidão, mas Sarah foi uma personagem histórica e não há floreio nesse aspecto”, explica Kidd em entrevista à Folha.


“A Invenção das Asas” bebe na fonte de clássicos como “Amada”, de Toni Morrison, para dar materialidade ao tema do preconceito racial. “Meu objetivo era resgatar a figura de Sarah, varrida da história como a de tantas mulheres importantes, e pintar um retrato de como era a dinâmica social dos escravos em ambiente urbano, já que o público costuma associar a escravidão apenas ao trabalho rural, às fazendas de algodão”, conta Kidd.


Enquanto Sarah e sua irmã, Angelina, são figuras históricas se não conhecidas ao menos bem documentadas, a escrava Hetty não passa de um borrão documental. Tudo que Kidd sabe sobre ela é que foi de fato dada como presente aos 11 anos, que era rebelde e que aprendeu a ler e escrever com sua senhora.


No livro, no entanto, a personagem recebe contornos realistas ao não se conformar com um papel de gratidão em relação à Sarah. O romance será transformado em filme pela Harpo Filmes, da apresentadora Oprah Winfrey, que já tinha incluído o livro em seu clube de leitura. “Não vou trabalhar diretamente no roteiro, mas espero ler a versão final e opinar um pouco. Ver essa história ganhar as telas é maravilhoso para mim porque assegura o meu objetivo de resgatar a história dessas mulheres para o público.”


Kidd, que é uma escritora branca, conta que viveu em um sul pré-direitos civis e que demorou a erguer sua voz contra o racismo. “A opressão ainda é um fenômeno mais ou menos naturalizado nas sociedades ocidentais com histórico escravista e eu quis somar um pouco à essa discussão”, conta.
Em “A Invenção das Asas”, Hetty explica que cada um se rebela como pode. No caso de Kidd, sua rebelião foi abandonar uma vida convencional e um casamento para, aos 30 anos, decidir ser escritora.

Para escrever seu segundo livro, ela passou dois anos pesquisando a história das irmãs Grimké e o modo de produção escravista do século 19.
“Um dos momentos mais emocionantes para mim foi quando pude visitar a casa onde elas moravam. Hoje o que funciona lá é um escritório de advocacia. Achei simbólico porque Sarah queria estudar direito e não pode por ser mulher”, diz.


Foi pesquisando a casa que Kidd encontrou o sótão onde ambientou uma das cenas mais tocantes do livro, o piquenique secreto entre Hetty e Sarah. “Talvez isso explique bem como se compõe um romance histórico: as pessoas perguntam o que é real e o que é ficção e eu digo, me dê um sótão real que eu planejo todo um piquenique.”


Fonte: Geledes


História e Cultura Africana e Afro-brasileira na Educação Infantil

historia e cultura
Brasília: MEC, UFSCar, 2014.
O livro é uma ferramenta fundamental e disponibiliza tanto para os professores responsáveis e compromissados com a educação da primeira infância quanto para os interessados de modo geral em uma educação e em um país justo e igualitário, conteúdos sólidos para a formação e o conhecimento sobre a riqueza, as diferenças e a diversidade da história e da cultura africana e suas influências na história e na cultura do povo brasileiro, em especial, da população afro-brasileira. Por meio dos projetos pedagógicos presentes na publicação, os(as) professores(as), a comunidade e os demais profissionais envolvidos com a história, a vida e a educação das crianças, poderão construir atividades e desenvolver práticas pedagógicas promotoras da igualdade étnico-racial.

Download em

  •   http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002270/227009POR.pdf
  • Fonte: Geledes

  • Fonte: Unesco.org

    sábado, 29 de março de 2014

    Coldplay - Paradise (Peponi) African Style (ft. guest artist, Alex Boye)...

    SEPPIR lança Edital para implementação do Sistema de Promoção da Igualdade Racial

    Data: 27/03/2014
    Propostas podem ser inseridas no Siconv até 25 de abril de 2014, com foco no fortalecimento institucional e apoio a políticas voltadas para a juventude negra
    Visando à implementação do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade (Sinapir), a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR), lança hoje (27/03) a Chamada Pública N° 01/2014. Até 25 de abril, Estados e Municípios poderão apresentar propostas pelo Sistema de Convênios do Governo Federal (www.convenios.gov.br).

    As propostas deverão contemplar duas áreas temáticas: Fortalecimento institucional de Órgãos, Conselhos, Ouvidorias Permanentes e Fóruns voltados para a Promoção da Igualdade Racial; e Apoio às políticas transversais e de ações afirmativas voltadas à juventude negra. Para a primeira área temática serão disponibilizados R$ 2.746.398,00, divididos em recursos de capital e custeio. Para a segunda área temática, serão disponibilizados R$ 400.000,00, exclusivamente para custeio.

    Estados e Municípios deverão atentar para a necessidade de que todas as propostas estejam em conformidade com o “Manual de Orientação para Celebração de Convênios com Entidades Públicas”, disponibilizado pela SEPPIR/PR no Portal dos Convênios (www.convenios.gov.br). As propostas serão avaliadas segundo a qualidade técnica e a situação social da população negra da localidade onde a ação será implementada. A previsão é de que no dia 11 de junho todas as propostas já tenham sido avaliadas, possibilitando a celebração dos convênios.

    Segundo a Assessora de Assuntos Federativos da SEPPIR, Eunice Léa Moraes, o objetivo da chamada é a descentralização, o fortalecimento, a integração e a ampliação das políticas públicas de enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade racial no Brasil. “Esse Edital representa um importante passo para o fortalecimento da institucionalidade das políticas públicas destinadas à superação das desigualdades étnico-raciais no país”.

    Os entes federados que já aderiram ao Sinapir terão pontuação adicional em suas propostas, conforme previsto na Portaria SEPPIR/PR nº 8, de fevereiro de 2014, que regulamenta os procedimentos para a adesão dos Estados, Distrito Federal e Municípios ao Sistema.  A portaria traz ainda orientações e documentos necessários para o ingresso no Sinapir e define as modalidades de gestão para os participantes: Gestão Plena - somatório da pontuação obtida, multiplicado por 3; Gestão Intermediária - somatório da pontuação obtida, multiplicado por 2; Gestão Básica - somatório da pontuação obtida, multiplicado por 1,5.
    Fonte: Seppir

    PL de Cotas em concursos federais é aprovado na Câmara

    Em regime de urgência, o Projeto de Lei que propõe a reserva de cotas em 20% para negros em concursos públicos federais segue agora para o Senado Federal

    O Projeto de Lei 6.738/2013, que propõe a reserva aos negros de vinte por cento das vagas oferecidas nos concursos públicos federais, foi aprovado nesta quarta (26) pelo plenário da Câmara dos Deputados. O PL foi aprovado por 314 votos a 36 e seis abstenções à criação de uma reserva de pelo menos de 20% de vagas para negros em concursos públicos.

    A ministra Luiza Bairros comemorou a decisão da casa legislativa: “A aprovação no plenário da Câmara dos Deputados reafirma a vontade do poder público de não se omitir diante de desigualdades históricas. Por iniciativa do Executivo, demos mais um passo muito importante para a inclusão da população negra. Com isso, quem ganha é a sociedade brasileira como um todo”, disse a gestora, que se encontra em viagem oficial no Rio de Janeiro.

    Durante o debate, a maioria dos parlamentares defendeu as cotas como ação afirmativa eficaz para a reparação dos danos causados à população negra ao longo da história do Brasil. Durante os discursos, foi lembrado o sucesso das políticas de cotas nas universidades e das leis de cotas para concursos públicos já instaladas nos estados e municípios.  Os deputados rejeitaram as propostas de emenda que ampliavam para 30% a reserva de vagas destinada a negros e negras, incluindo indígenas, e a que ampliava o alcance da lei a cargos.

    O PL reserva vinte por cento das vagas oferecidas para cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União.  O projeto de lei propõe a vigência pelo prazo de dez anos e não se aplicaria aos concursos cujos editais já tiverem sido publicados antes de sua entrada em vigor. Segundo o projeto, os negros aprovados nas vagas gerais não serão computados como cotistas, dando espaço para um novo candidato preencher a vaga (saiba mais aqui).

    Pelo menos quatro unidades da Federação fazem uso desta política de ação afirmativa no país (Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) e 44 municípios já têm aprovadas leis correlatas.

    Senado – Para o secretário-exectutivo da SEPPIR, Giovanni Harvey, a expectativa era positiva em relação à aprovação do PL na Câmara e ainda agora quando será encaminhado ao Senado, devido à cobrança da sociedade em relação aos casos recentes de racismo. “Esse projeto é uma vitória de todos, da sociedade brasileira, do parlamento, que representa os interesses da sociedade brasileira”, disse, afirmando ainda que o projeto deve ter boa aceitação no Senado.

    “O presidente do Senado já deu declarações de que, assim que o projeto chegar ao Senado vai tomar providências para que ele seja submetido à apreciação e tramite com a maior brevidade possível”.

    CCJ – Pela manhã, o projeto passou por análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), sendo aprovada com apenas três votos contrários, provindos dos deputados Alexandre Leite (DEM/SP), Marcos Rogério (PDT/RO) e Marcelo Almeida (PMDB/PR). Os dois últimos chegaram a apresentar voto em separado com questionamentos sobre a constitucionalidade do projeto.

    O relator da pauta, Leonardo Picciani (PMDB), destacou a importância do PL como política de reparação e lembrou os números apresentados pelo Governo Federal no projeto em que explicita que a população negra representa 50,74% da população total do país, mas que no Poder Executivo federal a representação cai para 30%.

    “Nós não podemos negar a nossa história. Fomos o último país do mundo ocidental a abolir a escravatura. Se fizermos um corte, há uma prevalência da população branca. O projeto vem no sentido de corrigir esta distorção. É inegável que ela existe, os números não mentem, eles são exatos. Ocorre esta distorção, fruto da nossa história. E nós precisamos nos reencontrar para corrigir o futuro. O que se busca aqui é a correção do futuro”, disse Picciani na leitura final do parecer.  A CCJ analisou apenas a constitucionalidade do projeto e das emendas apresentadas.

    Cineasta argentina vem à próxima Flip para lançamento de romance

    Quando o temido oficial nazista Adolf Eichmann foi preso na Argentina, em 1960, após viver uma década escondido no país, Lucía Puenzo, 39, ainda não havia nascido.

    "O fato de termos acobertado aqueles criminosos assombrou minha infância e me fez pensar nos ecos que isso tinha em diferentes períodos da história argentina, como na ditadura dos anos 1970, quando eu cresci", diz a cineasta e escritora, que virá para a próxima Festa Literária de Paraty (Flip), em julho.

    Em razão de um diabólico acordo entre o governo do general Juan Domingo Perón (1895-1974), a Igreja e a cúpula nazista, a Argentina foi refúgio para mais de 300 oficiais nazistas após a derrota da Alemanha a Segunda Guerra Mundial (1945).

    Divulgação

    Os atores Alex Brendemühl e Florencia Bado em cena do filme 'O Médico Alemão'
    Os atores Alex Brendemühl e Florencia Bado em cena do filme 'O Médico Alemão'
    A trajetória de um deles chamou mais a atenção de Puenzo. O médico Josef Mengele (1911-1979), o "Anjo da Morte", responsável por levar a cabo inúmeras experiências genéticas usando os prisioneiros do complexo Auschwitz-Birkenau.

    "Uma das coisas que mais me intriga sobre o nazismo é como essa ideologia conquistou tantos médicos. Posso entender como contaminou outros oficiais, mas os médicos estudam para salvar vidas. E, de repente, durante a Guerra, havia tantos como Mengele, fazendo mal às pessoas e operando aparatos mortais", diz Puenzo.

    MÉDICO ALEMÃO

    Mengele é a inspiração para o protagonista de seu mais recente romance, "Wakolda" (ed. Emecé), que será lançado na Flip, e do filme "O Médico Alemão", que está previsto para estrear aqui na semana que vem.

    De maneira ficcionalizada, Puenzo reconstrói uma possível passagem de Mengele pela Patagônia, antes de ele instalar-se no Brasil, onde morreria afogado numa praia de Bertioga, em 1979.

    Na história de Puenzo, Mengele conhece uma família argentina que o acolhe ao instalar-se numa hospedaria em Bariloche.

    A filha do casal tem problemas de crescimento e isso fascina o médico, que passa a oferecer-lhe tratamento. Tanto a menina como sua mãe, grávida de gêmeos, sentem-se atraídas pelo estrangeiro. "Há uma tensão sexual todo o tempo, mas atravessada pelo que nós, espectadores, sabemos que há por trás do personagem", diz Puenzo.

    Dessa maneira, a cineasta retoma sua atração pela perversão e o mistério dos corpos humanos, presente em outras produções.

    Em "XXY", de 2007, a cineasta explorava a relação de um rapaz com uma menina hermafrodita. "Sempre me interessa esse lado psicológico, humano e incômodo das relações. Creio que os momentos históricos ficam mais palpáveis se você os conta a partir dos desejos e sentimentos das pessoas."

    OSCAR

    Lucía é filha de Luis Puenzo, diretor de "A História Oficial" (1985), o primeiro dos dois Oscar de filme estrangeiro ganhos pela Argentina (o Brasil não possui nenhum).

    "Há um paralelo óbvio. Meu pai também se interessa pelo que está por trás dos acontecimentos políticos. Na 'História' era o caso da mãe que descobre que sua filha era um bebê roubado pela ditadura", conta.

    Recentemente, os Puenzo produziram também "Infância Clandestina", filme sobre a luta armada dos anos 1970 contada por meio do olhar de um menino.

    "O Médico Alemão" foi exibido no Festival de Cannes, e escolhido pela academia argentina para representar o país no Oscar.
    SYLVIA COLOMBO
    Fonte: Folhauol

    sexta-feira, 21 de março de 2014

    Exposição sobre cultura africana - Campo Grande MS

    Mayara Sá
    De notável qualidade plástica, as 170 fotografias que compõem a exposição “Nos Caminhos Afro” revelam a proximidade de povos de origem afrodescendente com o continente matriz – a África.
    Os registros sobre o cotidiano, a cultura e a religiosidade de descendentes de africanos no Brasil e em mais de 20 países são um verdadeiro convite a uma viagem no tempo com destino às sutilezas e às peculiaridades do universo interpretado por um fotógrafo-viajante. 
     
    Pierre Verger realizou longas expedições entre 1932 e 1970, e de suas andanças nasceu a exposição que será apresentada em quatro estados brasileiros que nunca receberam mostras do fotógrafo francês. 
     
    A mostra que acontece em Mato Grosso do Sul até fim de junho continua um ciclo de itinerância que vai até o fim de 2014. Com patrocínio da Petrobras, através do seu Programa de Incentivo Petrobras Cultural. 
     
    Além da exposição, o projeto de itinerância abrange a realização de uma oficina pedagógica sobre História e Cultura Afro-brasileira, ministrada por Luis Nicolau Páres, professor de Antropologia Visual da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
    Serviço 
    • Lugar: Museu de Arte Contemporânea de MS
    • Período: 13 de março a 1º de junho de 2014
    • Visitação : terça à sexta (12h às 18h) / Sábado e domingo (14h às 18h)
    • Endereço: Antônio Maria Coelho, 6000 - Parque das Nações Indígenas
    • Fonte: midiamax

    21 de março - Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial

    sharpeville-collage
    21 de março é o Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em referência ao Massacre de Shaperville. Na mesma data, em 1960, em Gauteng, na África do Sul, no bairro de Shaperville, cerca de 5.000 pessoas faziam um protesto pacífico contra a Lei do Passe, que na época, obrigava os negros a portarem um cartão que indicava os locais onde era permitida sua circulação. Seguindo o Apartheid, regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994, a polícia sul-africana abriu fogo sobre a multidão desarmada deixando 69 mortos e 186 feridos.
    Fonte: Geledes



    Clubes Sociais Negros serão mapeados em todo o País

    Foto: -Jornal-Agora/RS


    Os clubes sociais negros existentes no Brasil serão mapeados através de um acordo de cooperação técnica entre o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e Fundação Cultural Palmares (FCP).  Um levantamento inicial e preliminar já foi feito pelo Iphan, SEPPIR e FCP e, a partir de agora, o mapeamento será iniciado. Serão realizadas entrevistas com representantes dos clubes para reunir informações sobre a situação dos locais, os sentidos e significados atribuídos a eles, suas áreas de atividades, histórico de atuação, entre outros temas.

    Os clubes sociais negros existentes no Brasil serão mapeados através de um acordo de cooperação técnica entre o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e Fundação Cultural Palmares (FCP).  Um levantamento inicial e preliminar já foi feito pelo Iphan, SEPPIR e FCP e, a partir de agora, o mapeamento será iniciado. Serão realizadas entrevistas com representantes dos clubes para reunir informações sobre a situação dos locais, os sentidos e significados atribuídos a eles, suas áreas de atividades, histórico de atuação, entre outros temas.

    O acordo de cooperação prevê a realização de um evento com os representantes dos Clubes Sociais Negros no Brasil, quando será apresentada a proposta de mapeamento e os resultados alcançados. A apresentação também poderá ser feita durante o III Encontro Nacional dos Clubes Sociais Negros, que está sendo organizado, entre outras instituições, pela Fundação Cultural Palmares. O acordo contempla ainda a publicação dos resultados do mapeamento em um livro com um evento para lançamento com a participação dos Clubes Sociais Negros no Brasil e de intelectuais.

    A função inicial dos clubes, entre outras, era reunir os negros que não tinham possibilidade de frequentar outros locais. Eram espaços associativos de sociabilidade e lazer para as comunidades. Hoje, é um local de convivência e de preservação das práticas culturais dos afro-brasileiros, assim como espaço de resistência e mobilização do movimento negro. Os Clubes Sociais Negros mais antigos do País em atividade são do século XIX. A estimativa atual é que existam mais de cem clubes, principalmente nos estados das regiões Sul e Sudeste.

    O Iphan tem interesse na realização desse mapeamento devido à solicitação de Registro dos Clubes Sociais Negros do Brasil. O pedido foi entregue ao instituto em 2009 pela Comissão Nacional de Clubes Sociais Negros – criada no I Encontro Nacional de Clubes e Sociedades Negras.
    Fonte: Iphan

    25 de julho - Angela Davis

    No dia 25 de julho, o Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha (Latinidades Afrolatinas) receberá a legendária ativista negra Angela Davis. Sua vida registra lances decisivos da radicalização da luta negra dos séculos XX e XXI. Suas ideias e seus projetos políticos voltam-se para a afirmação e o respeito à nossa humanidade. Não por acaso, suas análises sobre a necessidade de uma emancipação plena passam pela crítica veemente do sistema capitalista que se sustenta mediante o encarceramento em massa dos chamados sujeitos indesejados, ou seja, negros, latinos e outras minorias políticas não brancas. O Festival tem assumido o lugar de um espaço de formação política cada vez mais estruturado. Certamente, teremos uma grande oportunidade de aprofundar nossas reflexões e potencializar nossas ações!


    #‎venhamtodas‬ ‪#‎latinidades2014‬ ‪#‎griôsdadiásporanegra‬ ‪#‎angeladavis‬Ver mais







    sexta-feira, 14 de março de 2014

    2014 centenário de Abdias do Nascimento

    Nascido em 1914 no município de Franca, Estado de São Paulo, Abdias foi filho de Dona Josina, a doceira da cidade, e Seu Bem-Bem, músico e sapateiro. Embora de família pobre, conseguiu se diplomar em contabilidade em 1929. Aos 15 anos alistou-se no exército e foi morar na capital São Paulo, onde anos depois se engajou na Frente Negra Brasileira e se envolveu na luta contra a segregação racial.
    Dramaturgo, poeta e pintor, atuou também como deputado federal, senador e secretário de Estado onde desenvolveu aspectos dessa luta. Autor das obras SortilégioDramas para Negros e Prólogo para Brancos e O Negro Revoltado, relatou em seus livros as realidades quilombolas e levantou temas como o pensamento dos povos africanos, combate ao racismo, democracia racial e o valor dos orixás nas religiões de matriz africana. 
    Com uma trajetória marcada pelo ativismo, Abdias teve como resultado de suas iniciativas importantes desdobramentos na defesa e na inclusão dos direitos dos afrodescendentes brasileiros. Conquistas de suas lutas foram a contemplação da natureza pluricultural e multiétnica do país na Constituição de 1988, a criminalização do racismo e os primeiros processos de demarcação das terras de quilombos.
    Fonte: FCP

    quarta-feira, 12 de março de 2014

    Personalidades Negras – Mestre Bimba


    Mestre_BimbaMestre Bimba (Manuel dos Reis Machado) filho de Luiz Cândido Machado e Maria Martinha do Bonfim, nasceu no bairro de Engenho Velho, em Salvador (BA) no dia 23 de novembro de 1900. Foi estivador, e começou a praticar Capoeira aos 12 anos de idade, aos 18 já era professor. Como não existiam academias, treinava-se nas esquinas, nas portas dos armazéns e até no meio do mato. Mestre Bimba desenvolveu um estilo de capoeira direto, inspirando-se no antigo “Batuque”, luta na qual seu pai era campeão. Em 1928, mestre Bimba criou a”Capoeira Regional Baiana”.
    A partir do Estado Novo, na década de 1930, o Brasil atravessou uma fase de transformações políticas e culturais, com ideais nacionalistas e de modernização. É nesse contexto que surge a oportunidade de Mestre Bimba divulgar seu trabalho. Em 1937 foi convidado pelo então governador da Bahia, o General Juracy Magalhães, para fazer uma apresentação com a presença do Presidente da República. A partir deste evento, Mestre Bimba foi reconhecido como professor de educação física pela Secretaria de Educação e Assistência Pública do Estrado, sua academia foi a primeira no Brasil  a ser legalmente reconhecida.
    Mestre Bimba se destacou pelo seu método de ensino, com técnicas de defesa Pessoal até mesmo contra armas . Preocupado em manter sempre a imagem positiva da Capoeira, não permita o treino em sua academia daqueles que não trabalhavam nem estudavam.

    segunda-feira, 10 de março de 2014

    Entrevista: Melita Matsinhe





    No âmbito das celebrações do 8 de março, Dia International da Mulher, a pianista moçambicana defende que a formação é um dos elementos-chave para que as moçambicanas lutem pelos seus direitos.
    A artista defende que para além da capacitação, a mulher deve ter coragem de questionar a cultura e os hábitos que coloca em desvantagem outros seres humanos pelo facto de serem de sexo feminino.
    Em entrevista a Rádio ONU em Maputo, Melita Matsinhe, lançou o apelo dos artistas para através do uso da palavra, do trabalho para abordar questões sobre os direitos da mulher.

    Moçambique festeja 8 de março sob o lema “Mulheres Inspirando Mudanças”


    ONU Mulheres afirma que igualdade e empoderamento são prioridades
    absolutas para a organização que dirige;  país ocupa a 14ª posição global 
    em termos de representação política feminina no parlamento.

    A pianista Melita Matsinhe. Foto: Ouri Pota.



















    Ouri Pota, Rádio ONU em Maputo.
    Moçambique celebra o Dia Internacional da Mulher, neste 8 de março,
    sob o lema Mulheres Inspirando Mudanças.
    A Rádio ONU, em Maputo, ouviu homenageadas de vários setores sobre o
    que deve mudar para que esta tenha maior dignidade.
    Atenção e Reflexão
    Para a representante da ONU Mulheres em Moçambique, Valéria de Campos
     Mello, a data deve chamar atenção e ajudar a refletir sobre a igualdade do
     género além da necessidade de incluir o assunto no topo da agenda política.
    "Nosso lema nossa mensagem é que a igualdade das mulheres na verdade
    significa progresso para todos. Ela traz benefícios económicos, ela traz benefícios
     em termos de uma sociedade mais coerente, mas justa, mais democrática,
     mas sólida, ela traz comunidades mais unidas, então é um benefício para
     toda humanidade. Então essa é a mensagem que queremos trazer".
    Direitos
    A representante também enumerou os desafios para a mulher moçambicana com vista
    a que esta possa usufruir os seus direitos.
    "A mulher moçambicana infelizmente na sua maioria ainda é uma mulher que sofre
    muita descriminação, é mais pobre, é mais vulnerável, enfrenta desafios desde menina,
    desde pequena no acesso a educação, saúde, em questões como casamento forcado,
     casamento precoce em seguida em termos de acesso ao mercado, na igualdade em
    remuneração e depois para que sua opinião seja levada em consideração nos meios
     de tomada de decisão".
    A comunicadora da Rádio Moçambique, Fárida Costa, considera que ser mulher
    no país vem acompanhado do que chama de responsabilidade de educar a nação.


    Fárida Costa. Foto: Ouri Pota.
    Desafios
    Já a pianista moçambicana Melita Matsinhe associa o estatuto da mulher local 
    tanto ao sofrimento como à felicidade."Uma das coisas muito importantes é que a
    mulher tem que educar uma nação. Quando digo educar uma nação é que a cada
     pessoaque nos educamos, nos estamos a contribuir para esta nação, então ser mulher em 
    Moçambique significa ter muita responsabilidade. Um dos desafios é a mulher conseguir 
    chegar no topo em estrutura de decisão, parecendo que não, mas isso é verdade, as 
    mulheres tem outra sensibilidade de tomar decisão."
    "Vivemos numa sociedade patriarcal um pouco machista em que muitas das vezes os
     nossos direitos e as nossas obrigações são determinados segundo as necessidades e
    interesses dos homens. E nesse contexto nem sempre o que é melhor para nos é tida
    em consideração é por isso que eu associo o ser mulher com sofrer. Temos visto várias
    situações em que as mulheres não estão a vontade na pele que elas vestem porque
    a vida não gira ao redor delas, mas ao redor de princípios já definidos segundo
    interesses masculinos".
    Deficientes
    Questionada sobre a prioridade dos direitos da mulher para os vários desafios,
     a presidente da Associação dos Deficientes de Moçambique, Fárida Gulamo, 
    Ademo, a pianista moçambicana Melita Matsinhe defendem que o elemento chave 
    é a o acesso à formação.
    "Uma mulher que vá a escola e estude e comente o seu nível de conhecimento
    científico contribui bastante para que ela possa ter uma outra visão das coisas
    e possa em pé de igualdade discutir e mostrar os eu ponto de vista.
    O maior desafio é o direito de informação e a formação, porque a pessoa
    fica empoderada,tanto homem como a mulher pode tomar decisões que 
    seja mais sábias, mais conscientes segundo os seus interesses e da
     sua comunidade".

    Parlamento
    Apesar dos desafios , Campos Melo frisou que Moçambique está no
    bom caminho. Como exemplo citou a participação das mulheres no parlamento. 
    Recentemente, o país foi colocado em 14º lugar no ranking da representação 
    política das mulheres no órgão.

    Desafios desde menina. Foto: UN Photos.


















    Rapariga
    "Moçambique está em décimo quarto lugar no mundo, por exemplo, a França
    está na posição 47 e o Brasil que é meu pais de origem apesar de ter uma
    presidenta mulher esta na posição 124. Então nessa área da representação
    política das mulheres no parlamento o pais obteve resultados excelente.
    Então nesse momento eleitoral qual a reflexão necessária para que esse resultado
    se mantém e para que ele até venha a ser melhorado?"
    Numa mensagem para o Dia Internacional da Mulher, a subsecretária-geral das
    Nações Unidas e diretora executiva da ONU Mulheres disse que o século 21
     deve ser diferente para cada mulher e rapariga no mundo.
    Para Phumzile Mlambo-Ngcuka  é importante saber que o nascer de uma menina
     não é o início de uma vida de dificuldades e de desvantagens.
    Fonte: radioonu

    A 3 meses da Copa, racismo é mais um 'fantasma' no futebol brasileiro



    As bananas colocadas no carro do árbitro Márcio Chagas da Silva, em Bento Gonçalves (RS), e os gritos de "macaco" ouvidos pelo volante santista Arouca, em Mogi Mirim (SP), trouxeram à tona e colocaram em pauta um problema ainda "oculto" no futebol brasileiro.
    Até a última semana, o racismo no esporte mais popular do país era considerado uma questão abominável, mas exclusivamente "estrangeira". Agora, virou assunto nas mesas de bar, nos escritórios e também nas arquibancadas.
    O país sempre lidou com o problema do ponto de vista de "vítima", pelos casos de ofensas racistas em campos europeus ou sul-americanos. De repente, o fantasma apareceu no quintal de casa.
    A discussão sobre o que é "válido" ou não dizer em um estádio de futebol ganhou contornos ainda mais intensos após o clássico entre Corinthians e São Paulo, no último domingo, pelo Campeonato Paulista. Cânticos e palavras de ordem de caráter homofóbico sempre fizeram parte da trilha sonora dos duelos entre os times.
    Mas a agressividade no Pacaembu fez com que muitos, nas redes sociais, levantassem a questão: afinal, há tanta diferença assim entre os gritos racistas e outros de natureza distinta, mas ainda assim preconceituosos?
    Repúdio
    Antes do jogo, uma faixa foi exibida no gramado com a mensagem "O Futebol Paulista repudia o racismo". Em outros lugares do Brasil, o mesmo aconteceu.
    A menos de 100 dias da Copa do Mundo, o chamado "país do futebol" parece parar para pensar no que nunca havia pensado. Os estádios estão sendo palco de manifestações que ultrapassam o nível de aceitação popular.
    Além dos constantes problemas de violência, os públicos reduzidos e a ameaça de greve por partes dos jogadores, agora o futebol brasileiro ganha um "fantasma" com o qual não esperava ter de lidar.
    Os dois casos de racismo que ocorreram em território nacional expuseram só agora algo que é mais frequente do que se imagina.
    Jogadores, técnicos ou árbitros negros ouvem constantemente ofensas racistas dentro de campo ou na ida ao vestiário, mas, ao contrário do que aconteceu na semana passada, os casos dificilmente tornam-se públicos.
    "É frequente. Aqui no Rio Grande do Sul acontece sistematicamente, principalmente na região da serra", contou o árbitro Márcio Chagas.
    Questionado sobre o motivo que levaria os árbitros ou jogadores a não relatarem as ofensas racistas que recebem, ele explicou: "As pessoas já veem isso com conformismo, acham que vai ser sempre assim. Mas eu sempre relato na súmula, não deixo passar batido."
    Medo
    Outro fator que ainda "cala" as vítimas de racismo no futebol brasileiro é o medo de sofrerem alguma retaliação. "As pessoas ficam com receio de ter represália, de não ser escalado mais e aí não se pronunciam", disse o juiz gaúcho.
    Para o cientista social Marcel Diego Tonini, pesquisador da USP que tem trabalhos de mestrado e doutorado sobre o tema "negros no futebol", o fato de os negros conviverem com "piadas" e brincadeiras racistas desde crianças acaba levando-os a "se acostumar" com o problema.
    "Os negros são desencorajados a enfrentar casos de racismo. Esse não foi o primeiro que o Arouca, por exemplo, deve ter sofrido na vida dele", explicou. "Todos esses pequenos episódios que aconteceram na trajetória dos negros no Brasil, as brincadeiras, os pequenos insultos, levam a pessoa a falar: ‘não vai dar nada, então vou me calar’", acrescentou Tonini.
    Márcio Chagas ouviu gritos de "macaco", "seu lugar é no circo" e "volta pra selva" quando entrou e saiu do campo para apitar a partida entre Esportivo e Veranópolis, pela 12ª rodada do Campeonato Gaúcho, na última quarta-feira. Na hora de deixar o estádio, ele encontrou as portas do seu carro amassadas e bananas colocadas no capô.
    O árbitro, então, relatou tudo o que aconteceu na súmula, e a procuradoria já denunciou o Esportivo, clube mandante da partida, pelos insultos racistas. O caso será julgado pelo Tribunal de Justiça Desportiva nesta semana.
    Já o episódio com o volante Arouca aconteceu após a goleada do Santos por 5 a 1 sobre o Mogi Mirim, no estádio Romildão, quando alguns torcedores passaram por ele na saída do gramado e o chamaram de "macaco". O estádio foi interditado e o caso também será julgado no Tribunal. O volante soltou um comunicado oficial no dia seguinte, dizendo-se orgulhoso de sua origem e cor.
    Punição
    Para o presidente da Federação Gaúcha, Francisco Noveletto, enquanto não houver uma punição severa para as atitudes racistas no futebol, elas continuarão sendo frequentes nos estádios brasileiros.
    "Não é a primeira vez que a gente fica sabendo de casos assim, mas não fizeram relato oficial. Ouço de terceiros ou até das pessoas que sofreram, mas elas falam ‘nem dei bola, são dois ou três abobados’ e aí fica por isso mesmo”, disse Noveletto.
    "Teria de colocar uma punição específica no regulamento para dar mais força. Tem que tirar ponto, rebaixar, aí os caras vão pensar dez vezes antes de fazer uma coisa dessas. É só a CBF pôr no regulamento. Tem que vir de cima, presidente da Federação não pode fazer muita coisa", relatou.
    Até agora, a CBF ainda não se manifestou oficialmente sobre os casos. Ao contrário do que fez em fevereiro, quando o meio-campista Tinga sofreu ofensas racistas jogando pelo Cruzeiro uma partida da Libertadores contra o Real Garcilaso, no Peru. Na ocasião, a entidade lançou rapidamente uma campanha pela rede social Instagram postando uma imagem do símbolo da seleção brasileira metade preto e a outra metade branca contendo a frase: "Brasil, somos iguais".
    O país todo se revoltou diante do incidente no Peru. A torcida do Atlético Mineiro, arquirrival do Cruzeiro, chegou a cantar palavras de apoio a Tinga. Agora, com o problema escancarado no quintal de casa, parece haver um misto de desprezo e surpresa.
    O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, chegou a entrar em contato com as autoridades de São Paulo e do Rio Grande do Sul para pedir punições aos casos envolvendo Arouca e Márcio Chagas e repudiou as atitudes racistas dos torcedores. "A Justiça deve punir exemplarmente esse comportamento inaceitável. Não são torcedores, são criminosos", disse.
    Para o cientista social Marcel Diego, os dois casos recentes seriam uma boa oportunidade para o Brasil dar o exemplo para o mundo na luta contra o racismo no futebol. Para ele, é o momento de o país acabar com o mito de ser uma "democracia racial" e tomar uma atitude efetiva para coibir as ofensas racistas nos estádios.
    "A sociedade brasileira acha que isso é um problema estrangeiro, mas isso sempre aconteceu, no mínimo todo mês acontece. É um problema maior, social, mas, dentro da esfera esportiva, se o Brasil quiser se destacar do resto do mundo, tem que punir, não ficar só no discurso."
    Homofobia
    Se o racismo ainda é "velado" nos estádios brasileiros, outro tipo de preconceito - menos frequente na Europa - tem se tornado cada vez mais explícito nas arquibancadas: o da homofobia. É comum ouvir as torcidas "atacarem" jogadores de times adversários durante o jogo com os gritos de "veado" ou "bicha". E esse tipo de manifestação, ao contrário do que ocorre com o racismo, nem mesmo aparece nas discussões. É simplesmente considerado "normal".
    Os gritos homofóbicos têm se tornado cada vez mais comuns nos estádios.
    Para o cientista social e pesquisador da USP, Marcel Diego, há uma explicação para o fato de a homofobia ser "escancarada" nos estádios de futebol e o racismo ser "escondido".
    "O racismo é menos aceitável do que a homofobia. Nenhum dos dois é aceitável, mas o racismo é menos aceitável, então a homofobia acontece de forma mais explícita. O futebol é um espaço extremamente masculinizado e não se permite nada fora disso ali", explicou.
    "Mas era assim também com relação ao racismo no passado. Era extremamente comum ouvir gritos ofensivos. Aí quando os negros ‘invadiram’ o espaço que era só de brancos no futebol, o racismo virou velado, escondido."
    Até hoje, ainda não houve nenhuma denúncia feita por jogadores de futebol ou árbitros relatando insultos homofóbicos ouvidos na profissão.
    Mas em outro esporte nacional já houve um caso de homofobia que acabou em punição. No vôlei, o Sada Cruzeiro teve de pagar uma multa de R$ 50 mil em 2011 pelas manifestações homofóbicas da sua torcida contra o central Michael, do Vôlei Futuro, em uma partida da Superliga (principal competição nacional) daquele ano.
    BBC
    Torcedores do Cruzeiro repudiam racismo depois que Tinga foi ofendido em jogo no Chile
    Fonte: midiamax

    VII Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe / Zózimo Bulbul

    Cinemanegro-post



    O VII Encontro acontece no Rio de Janeiro, de 21 a 30 de março de 2014, no Cinema Odeon e no Centro Cultural da Justiça Federal, no Centro Afro Carioca de Cinema e pela primeira vez, com seminários no Teatro da livraria Cultura, na Cinelândia.  E ampliando o seu público para a Baixada Fluminense, no município de São João de Meriti.
    No Cinema Odeon, entrada a preço popular de R$ 4,00 e no Centro Cultural Justiça Federal e na Baixada Fluminense, senha uma hora antes da programação.
    Os Encontros de Cinema, que a partir desta edição leva o nome de Zózimo Bulbul, tem em 2014 a curadoria do cineasta Joel Zito Araújo e conta com a participação de Mansour Sora Wade, doSenegal, Rigoberto Lopez de Cuba. E a Direção de Arte é de Biza Vianna. A curadoria está sendo feita visando a continuação da influência marcante do olhar de Zózimo Bulbul que ao criar este projeto acreditava no poder transformador do cinema que para ele era capaz de mudar a concepção de um país.  Zózimo realizou um grande trabalho de aproximação com o cinema de países africanos e incentivou o cinema realizado por cineastas afrobrasileiros, africanos e da Diáspora, fortalecendo uma ponte de parceria com o continente africano.
    Nesta 7ª edição, iremos homenagear: no Brasil, Zózimo Bulbul; na África, o diretor do Mali Cheik Omar Sissoko.
    Para Joel Zito Araújo, três eixos orientam a realização do Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe / Zózimo Bulbul.
    1) valorizar e o incentivar o protagonismo juvenil na área de cinema apresentando uma nova geração de realizadores/as negros/as que emergem em vários pontos do Brasil.
    2) dar visibilidade para um cinema criativo que se beneficia do desenvolvimento tecnológico audiovisual e produz ficções e docs em múltiplas plataformas, a baixo custo, pelas mãos da juventude brasileira, africana e da diáspora negra de várias partes do mundo.
    3) assegurar a exibição de um cinema da diversidade cultural e racial, destacando o cinema negro como um dos aspectos fundamentais deste cenário.
     Para Biza Viannaos Encontros de Cinema pretendem atuar na Preservação e Memória da obra de Zózimo Bulbul, que se tornou referência para a cultura negra através do cinema.
     Neste ano 2014, temos vários filmes realizados por cineastas de ponta e premiados no FESPACO 2013 – Festival Panafricano de Cinema Ouagadougou: “One Men Show”, Newton Aduaka (Nigéria);“Moi – Zaphira”, Apoline Traore (Burkina Faso); “Toiles d’araignées”, Ibrahim Touré (Mali).
    Outra novidade é a inclusão de vários filmes dirigidos por mulheres: “Noire ici Blanche Las Bàs”, Claude Haffner (República do Congo); “Calipso Rose”, Pascalle Óbolo (Camarões); “Um filme de Dança”Carmem Luz (Brasil); “Dialemi”, Nadine Otsobogo (Gabão).
    Também faremos um mapeamento de diversos pontos do Brasil, trazendo jovens cineastas com seus filmes de: Maceió, Sergipe, Minas Gerais e São Paulo. Os filmes são: “Outros Carnavais”, Luiz Paulo Lima (São Paulo); “O que lembro tenho”, Rafael Barbosa (Maceió); “Qui_lombo é esse?”, Everlane de Moraes (Sergipe).
    Os diretores destes filmes serão convidados especiais e estarão presentes durante o 7º Encontro. E estarão disponíveis para eventuais coletivas com os jornalistas.

    Produção do 7º Encontro:
    Biza Vianna – Diretora-Executiva do Centro Afro Carioca de Cinema conta com a colaboração de Cátia Cruz Ângelo, que realiza o trabalho de relações institucionais e políticas com patrocinadores e apoiadores, que viabilizam a realização do evento.
    Equipe de produçãoSílvia de Mendonça, Neide Diniz, Marina Alves, Ana Maria Alves.
    Equipe de divulgação: Naira Fernandes, Adriana Baptista, Janaína Refém.
    Assessoria de Imprensa: Bia Saldanha e Rozangela Silva

    Patrocínio:
    Prefeitura do Rio

    Apoios:
    Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro
    SUPIR – Superintendência de Igualdade Racial
    Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos
    Cinema Odeon Petrobras
    Livraria Cultura
    Cine Maison
    Embaixada da França no Brasil
    Centro Cultural da Justiça Federal

    ESTRUTURA 2014
    O VII Encontro, Zózimo dizia que seria o maior!!!
    Não sei se é o maior, mas ele vem com uma FORÇA GRANDE DE TRANSFORMAÇÃO – DE CONTINUIDADE através das análises da importância e do pioneirismo deste projeto e também como os Encontros fortificaram a existência de outros projetos pelo Brasil que enfocam o cinema negro como prioridade. Segundo Zózimo, o cinema que privilegia o olhar do realizador negro.
    Deste 21 de março, data que Zózimo tanto valorizava, até o dia 30 do mesmo mês, o Encontro terá características interessantes.
    1)    Desta vez estará presente o Diretor-Geral do FESPACO, Michel Ouedreogo – já convidado outras vezes. Tenho certeza que sua presença é política, no sentido de reforçar o trabalho que Zózimo desenvolveu pela valorização do cinema africano no Brasil. Esta atitude nos dá esperança que através do Centro Carioca de Cinema possamos manter viva esta ponte levando mais pessoas à África.
    2)    Temos o nosso convidado de honra, que é o Cheick Oumar Sissoko, do Mali, que é um dos mais importantes realizadores africanos – um militante como Zózimo – que faz do seu cinema um meio político de diálogo com o mundo.
    3)    Temos o protagonismo feminino demonstrado através de cinco filmes realizados por mulheres africanas, onde três são premiados no último FESPACO.
    4)    Pela primeira vez temos cineastas nigerianos do cinema de Nollywood, que virão falar deste movimento e da realidade do cinema da Nigéria.
    5)    Quanto ao nosso Brasil, a Mostra Nova Geração é uma novidade (Viviane Ferreira, Rafhael Barbosa, Ceci Alves, entre outros).
    6)    E com muito prazer, apresentamos os filmes de: Carmem Luz, Luís Antônio Pilar, Luis Paulo Lima, Flávio Leandro, Dudu Fagundes, entre outros.
    7)    Todos estes itens sob a regência impecável de Joel Zito Araújo, que assina a curadoria do 7º Encontro.

    O Encontro de Cinema Negro Brasil, África e Caribe / Zózimo Bulbul está recheado de boas oportunidades para desenvolver e seguir a luta e o sonho que Zózimo realizou e que nos deixou como herança de continuidade.
    Biza Viannna

    quarta-feira, 5 de março de 2014

    Mia Couto - O rico contador de histórias


    Bruno Garcia, Cristiane Nascimento e Joice Santos
     
    • “Quem não sabe contar uma história é uma pessoa pobre”. Foi esta a lição que António Emílio Leite Couto, ou melhor, Mia Couto aprendeu com Samora Machel, o grande herói da independência de Moçambique. Em todos os seus mais de 20 livros, entre poesias, crônicas, contos e romance, o escritor parece revisitar distantes regiões do seu país de onde tira personagens, hábitos e fábulas fantásticas.
      Militante de primeira hora, o escritor conta que foi a atuação no movimento estudantil durante a luta de independência em relação a Portugal que o levou ao jornalismo. Hoje, como escritor, ele prefere fazer política de outra maneira: “a escrita é uma forma em que a política aparece porque está distraída”. Nenhuma surpresa, pois como confessa o autor, “a política é essa intervenção para despertar a consciência, o espírito crítico, tornar vivo esse sonho de que é possível mudar o mundo”.
      Em visita ao Rio de Janeiro, Mia Couto conversou com a equipe daRevista de História sobre a infância, a história do seu país e os prêmios literários. Em 2013, ele recebeu dos presidentes de Brasil e Portugal o Prêmio Camões, o mais importante em língua portuguesa. O sucesso e o reconhecimento internacional, contudo, não parecem alterar o tom sereno e humilde do escritor, que continua se embrenhando nos rincões de Moçambique como biólogo. De lá ele retorna com novas histórias, personagens e expressões, coisas que só descobertas por alguém com sensibilidade mostram que o mundo das coisas e dos seres forma um único todo.

      Revista de História – Como criou seu próprio nome?
      Mia Couto – O que mais me espanta não é ter feito essa invenção enquanto criança, todas as crianças inventam. Foi a maneira séria como meus pais encararam aquela brincadeira. Ao escreverem aquele nome, acabei por ser autorizado a ter uma infância dentro de mim. Eu tinha um nome, quer dizer, que fica para quando adulto, mas era um nome dado por mim enquanto criança. Então, acho que isso me permitiu certa liberdade, uma autorização para que eu guardasse em mim um estágio de infância.
      RH – Existe uma ligação entre infância e literatura?
      MC – Penso que sim. Acho que o escritor volta sempre ao território da infância, que é o território do desejo de contar história. O desejo de ver o mundo convertido numa história é absolutamente vital, quer dizer, tão vital quanto comer ou dormir.
      RH – A profissão de biólogo é complementar a de escritor?
      MC – Para mim é uma única coisa. A biologia me dá uma forma de ver o mundo... Eu estou olhando para este coco agora e vejo o resultado de uma espécie de imaginação que tornou isso algo fantástico. Nós, com a tecnologia toda que temos, não seríamos capazes de fazer isso. Isso está feito para viajar, flutua, não apodrece, tem essa casca que acredito ser o isolamento perfeito... É um ventre orgânico, vivo, tem água, tem tudo para sobreviver e para viajar. É como aquela garrafa que leva uma mensagem poética dentro.
      RH – Você também foi militante. Como foi esse período?
      MC – Meu pai é um imigrante à força, por assim dizer. Teve que fugir de Portugal porque tinha um envolvimento na luta contra a ditadura de Salazar que não permitia que continuasse no país. Fugiu muito cedo. Ele nos educou para que tivéssemos consciência de que a realidade que vivíamos era insuportável.
      RH – Além de jornalista, seu pai era poeta. Isto te influenciou?
      MC – Tudo vem daí. Aquela casa era uma nação à parte. Minha mãe nos amarrava a terra, mas de uma maneira muito encantada, ela contava histórias também. Nós pedíamos para contar histórias que tinham sempre um sabor diferente. Mas, sobretudo, meu pai me influenciou, por uma via da gentileza, da delicadeza com que ele tratava tudo, com a importância que ele dava à coisa que aparentemente para todos os outros eram secundárias e marginais. Meu pai era capaz de interromper os estudos para que víssemos um flamingo voando, e aquilo não era apenas uma visão. Tínhamos que ser ocupados por aquele pássaro, viajar com aquele pássaro. Havia ali uma educação para o mundo da poesia que nos marcou muito.
      RH – Ele falava sobre política com você?
      MC – Meu pai nunca teve um discurso abertamente político conosco. Era por via de outras coisas que ele nos fazia pensar e perceber que tínhamos algo a fazer. Isso aconteceu naturalmente, porque percebíamos a falsidade do discurso sobre o colonialismo português, que dizia não ser tão grave quanto os outros, que havia uma aceitação inter-racial muito particular. Na verdade, na terra onde eu vivia, na minha cidade, eu via exatamente o contrário: o racismo, a violência contra o outro, uma sociedade muito hierarquizada que não aceitava ser África, como se tivesse uma necessidade de expurgar a África. A ideia era construir não apenas uma colônia, mas construir um Portugal. Tudo isso levou a mim e aos meus irmãos muito cedo – desde que eu me lembro, desde que eu tenho consciência – a um desejo de lutar contra isso. Quando eu saí da Beira, minha cidade natal, para ir para Maputo, eu já sabia o que eu ia fazer. Aparentemente era para estudar, mas eu ia fazer outro trabalho. Juntei-me ao movimento estudantil e por conta disso me uni à Frente de Libertação; nessa altura o regime ainda era o regime colonial, tudo isso era feito na clandestinidade e foi a Frelimo que disse para eu sair da universidade para me juntar ao jornalismo, para eu me infiltrar em um órgão de informação.
      RH – Qual foi o peso de ser um branco dentro da Frelimo?
      MC – Estudantes universitários eram quase todos brancos. A maior parte deles era de portugueses. Os moçambicanos eram minoria. E uma minoria dentro dessa minoria era de negros. Quando me juntei, tinha uma ideia um pouco ingênua de que a Frelimo estava liberta de racismo, que não havia nenhuma exclusão. Em grande parte a Frelimo até venceu isso depois de muitas lutas internas. Eu sonhava ser guerrilheiro, aquela coisa da imagem do Che Guevara, era isso que eu queria ser. Eu queria era ter uma arma e uma faca e ir pra luta. Era uma coisa incrível, mas acho que nunca imaginei realmente o que era isso. O quanto isso é duro e só ter que pensar se vamos matar alguém.  Felizmente isso nunca aconteceu na minha vida e eu nunca mexi em uma arma. Na Frelimo os brancos podiam participar, mas por pressão de uma linha racista, foi preciso encontrar um equilíbrio. Eles podiam fazer política, mas não ação militar. Um militante branco da Frelimo não poderia pegar em armas. Havia uma justificativa, digamos, para suavizar isso. Se por acaso um guerrilheiro branco fosse abatido, isso poderia confirmar a ideia de que eram russos que estavam guiando a Frelimo. Mas acho que isso não era sério.
      RH – O que mudou em Moçambique depois da independência?
      MC – É um outro mundo. A grande questão era de natureza colonial. Com tudo o que a condição colonial acarreta. Racismo, a definição da identidade pela raça, as hierarquias que são fundadas nessa pertença. Mesmo os portugueses em Moçambique eram segregados. Os que já nasciam em Moçambique eram portugueses de segunda, e se eram de segunda ou terceira geração, eram de terceira, e isso tinha uma marca, porque um português de segunda ou terceira não podia, por exemplo, ascender na função pública. Era uma obsessão classificar as pessoas e fazer disso uma espécie de uma pirâmide que atingia os próprios brancos. Dentro dos negros havia discriminações diversas, havia os assimilados e os indígenas... Bom, tudo isso mudou. Os moçambicanos, que são majoritariamente negros, assumiram o controle do seu país e iniciaram a construção de um país completamente novo. Naquele momento, na independência, houve também rupturas de natureza política. Como se sabe, o regime implantado era de natureza socialista e, portanto, havia ali uma espécie de duplo salto. Uma ruptura com o colonialismo e, por outro lado, uma ruptura completa com o resto do mundo. Foram tempos épicos, muito conturbados, cheios de erros que nós cometemos. Agora, como se sabe, isso foi revisto e eu acho que grande parte dos erros era não só de natureza política, mas também cultural. Quem construiu esse discurso marxista não avaliou quão complexa era aquela sociedade.
      RH – Você participou da composição do hino?
      MC – Samora Machel, nos anos 80, no tempo do partido único, teve a percepção de que alguma coisa tinha que mudar, mas ele não conseguia fazer isso porque estava rodeado pelo aparelho partidário. O próprio hino nacional na altura que começava: “Viva, viva a Frelimo!”. Enfim, era um hino da Frelimo. Ele sugeriu que se fizesse um hino de todos os moçambicanos, e à maneira muito militar, já que a Frelimo era um movimento de guerrilha, designou cinco músicos e cinco poetas para ficarem em uma casa, dizendo que só saíssem quando tivessem várias propostas de hinos. Foi muito engraçado, porque era uma casa que tinha muito privilégio em uma altura de guerra. Não posso descrever como a guerra era uma coisa dura. Nós saíamos de casa de manhã sem saber o que havíamos de comer. Existiam filas e em qualquer fila que encontrássemos na rua, ficávamos, mesmo sem saber o que seria distribuído. No meio disso, estávamos em uma casa de luxo, com bebida, comida, empregados, piscina. Ninguém trabalhou, e só à noite é que saía qualquer coisa. De fato, meia dúzia de músicas foi produzida, e aquilo ficou por isso mesmo e ninguém mais tocou no assunto. Depois da entrada do regime pluripartidário, o Parlamento sugeriu a criação de um novo hino, mas todas as propostas estavam sendo reprovadas em concursos públicos muito curiosos. Havia coisas inacreditáveis, como hinos com refrão: “lutemos contra o ciúme”Até que alguém se lembrou de que houve um grupo de poetas e músicos que já havia produzido hino. Então foram buscar o hino que, com algumas emendas, foi adotado.
      RH – Quem era Samora Machel?
      MC – Uma pessoa fascinante. Ele tinha um caráter magnético, uma força, um vulcão permanente. O que me impressionava era que ele era muito inconformado, um homem à procura de respostas. Apesar de ele ter adotado uma doutrina, uma ideologia, ele nunca ficou preso inteiramente a ela. Ele achou que aquilo tinha que ser casado com a cultura moçambicana. Cometeu erros terríveis, mas ao mesmo tempo eu acho que foi o grande pai da nação moçambicana, e meu também. Quando a ditadura em Portugal já havia caído e não sabíamos muito bem o que iria acontecer, nós fomos encontrá-lo, e ele era meu herói, nosso Che Guevara. Nós queríamos muito que ele gostasse de nós, fomos lá em romaria. Quando eu o vi, foi um choque. Era muito baixinho e um herói deveria ser um homem muito alto. Cada um tinha se preparado, sabia um pedaço de um verso ou de um discurso para dizer para ele, para ele ficar encantado. Mas ele não quis saber de nada disso e disse: “vocês sabem cantar alguma canção da vossa adolescência?”. Eu pensei: uma canção? Um intelectual naquela altura não cantava. Era uma vergonha cantar. Então perguntou: “sabem contar alguma história dos vossos lugares?”. Dissemos que não. Daí disse ele: “mas vocês são pessoas pobres!”. Aquilo bateu na minha cabeça. Quem não sabe contar uma história é uma pessoa pobre.
      RH – Quando fez a escolha de escrever?
      MC – Acho que o primeiro sinal foi quando meu pai me roubou um poema que eu tinha feito para ele e o publicou, sem eu saber, em um jornal. Aquilo foi para mim um choque terrível. Fiquei muito zangado com ele, aquilo era pra mim uma violação de intimidade. Nessa noite mesmo, uma declamadora que vinha de Portugal, uma senhora muito famosa em Lisboa, foi fazer um espetáculo e disse: hoje vi num jornal aqui em Moçambique um poema de um menino. E eu estava naquela sala! Naquela altura eu queria matar o meu pai. Mas acho que foi importante porque uma coisa é escrever, a outra, publicar. Eu era muito tímido e recatado e achava que aquilo tudo que eu fazia era uma coisa só pra mim. Mas acho que aquilo fez uma ruptura. Eu escrevia com a ideia de me relacionar com aquilo, como uma parte de mim, mas só por conta da guerra. Meu primeiro livro só saiu quando eu tinha 30 anos, e eu escrevia desde os 14, sobretudo poemas. Meu primeiro livro era de poesia.
      RH – Como é a recepção de sua obra em Moçambique?
      MC – Acho que eu, junto com outros autores como Paulina Chiziane, somos os mais lidos em Moçambique, mas isto não basta. Eu acho que a nossa percepção é de que não podemos ficar dependentes só do livro, temos que escrever em jornais, rádios, televisão, temos que ir a escolas, fazer intervenção em seminários, enfim, ocupar espaços públicos.
      RH – Você já afirmou que sua literatura é política.
      MC – Eu disse isso? (Risos) Eu digo cada bobagem!
      RH – Mas ela é mesmo política?
      MC – É. Quer dizer, toda literatura é política. Já que eu disse isso, agora eu tenho que me salvar (risos). Obviamente, quando eu quero fazer política, eu faço de várias maneiras. Mas a escrita é uma forma em que a política aparece porque está distraída. Já abandonei a política partidária, e acho que a política é essa intervenção para despertar a consciência, o espírito crítico, tornar vivo esse sonho de que é possível mudar o mundo, de que é possível sonhar.
      RH – Para que servem os prêmios literários?
      MC – Eu acho que os prêmios deveriam ser dados a autores, sim, mas de outra forma. Quer dizer, ao invés de darem a mim o prêmio em forma de um valor monetário, acho que deveriam dar ao autor também (risos), senão vão me tomar ao pé da letra... Mas acho importante darem também algum apoio para aquilo que é divulgação, para o conhecimento do livro, acesso à leitura para gente que não tem acesso ao livro. Acho que se podia pensar nisso.
      RH – Como funciona a divulgação cultural e literária em Moçambique?
      MC – Até 1994 havia só uma editora, a Associação de Escritores. Depois nasceram, como em qualquer sociedade capitalista, várias editoras e, bom, funciona como qualquer outro mercado. A única coisa é que as condições nas quais um livro é produzido em Moçambique são tão precárias que tornam o livro muito caro. Muito mais caro, por exemplo, que no Brasil. Para salvar isso, o que acontece é que as editoras precisam de patrocínios de empresas privadas ou apoios como este. O acesso é dificultado por razões de natureza econômica.
      RH – A produção hoje é concentrada?
      MC – Sim, muito! Em duas ou três cidades, especialmente na capital. No momento está mudando, há mais livrarias sendo abertas em cidades menores, mas ainda assim, muito pouco. Acho que 90% da circulação de livros no país ainda estão em Maputo, a capital.
      RH – Há uma visível e reconhecida influência de Guimarães Rosa no seu trabalho, mas você tem falado bastante sobre Jorge Amado.
      MC – Ah, sim, há uma razão para isso. Fui convocado a falar dele (risos). É verdade, fui convocado para falar dele em uma homenagem ao Jorge Amado aqui no Brasil e era suposto que eu lesse algo dele. Mas eu leio tão mal, tenho um sotaque que aqui no Brasil soa tão estranho! Pensei que talvez fosse mais interessante se eu falasse como o Jorge Amado foi importante para os países africanos de língua portuguesa do que eu chegar aqui e ler um texto. Eu fiz uma fala e recolhi aquilo que não era a minha experiência. Jorge Amado é um escritor interessante, foi pra mim um encontro mágico, menos do ponto de vista do que me marcou na procura de um estilo próprio, mas pelo encantamento de ver no Brasil aquilo que nos era tão próximo. Os livros dele trazem uma espécie de África. O que eu quis nesses textos foi mostrar que provavelmente o Brasil não sabe quanto esta personagem, este escritor, desencadeou em todos esses países um despertar. O que eu fiz foi coletar depoimentos de escritores de Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique que mostravam porque esse foi um encontro mágico.
      RH – Então, para sua formação, Guimarães Rosa foi mesmo mais importante?
      MC – Muito mais. Mas, primeiro, os poetas, antes de Guimarães. Meu pai, como poeta, sempre teve uma ligação muito forte com o Brasil. Para ele, eram importantes Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Drummond, João Cabral de Melo Neto... Estes todos tiveram uma marca muito importante naquilo que eu fazia. O Brasil havia empreendido sobre a língua portuguesa alguma coisa que estávamos à procura. Os brasileiros não têm um tipo físico específico, acho que onde vocês operaram em primeiro lugar essa marca de identidade própria foi na língua, que era a língua de um outro. Nessa coisa que era similar, nesse veículo que era comum, foi preciso inscrever desde logo essa marca de diferença. E isso era o que estávamos procurando. Esse percurso foi muito sugestivo para nós.
      RH – E quais foram os autores africanos importantes para a sua formação?
      MC – Nós temos uma distribuição tradicional. Angola fazia prosa e nós fazíamos poesia. Dos poetas, em primeiro lugar, o nosso grande mestre foi José Craveirinha, Rui Nogar que, entre português e africano, se assumia tendo uma dupla condição, além de vários poetas que vocês não conhecem por aqui. De resto, chegava muito pouca literatura africana em Moçambique. Não era traduzida, não circulava e também não faziam questão de lembrar que essa literatura existia, mas Nadine Gordimer era alguém que foi importante, assim como a existência de nigerianos, como Wole Soyinka, era simbólica para nós de como africanos estavam tendo destaque no mundo. Como o Chinua Achebe, que ganhou um prêmio Nobel, mais tarde. Todos estes me marcaram de alguma maneira.
      RH – Essa nova geração de africanos indica que o mundo está descobrindo uma literatura que antes era ignorada, ou de fato há uma geração privilegiada de grandes nomes surgindo?
      MC – As duas coisas. Eu acho que a primeira literatura africana era de grande qualidade, mas era uma literatura muito marcada, muito datada. Era uma literatura de afirmação, e eu acho que agora os escritores novos africanos estão mais empenhados em serem escritores, independentemente da identificação africana. Muitos moram fora da África. Como essa escritora, Chimamanda Adichie, que é para mim uma das grandes vozes da África hoje. A impressão é de que esses escritores querem ficar mais livres; proclamarem-se africanos deu-lhes mais liberdade. Por outro lado, eu acho que o resto do mundo tem se interessado mais pela África. O Brasil, por exemplo, está se reencontrando melhor com aquele seu lado africano, conhecendo o que está dentro e o que está fora do Brasil. Portanto, acho que estas são as duas coisas que estão acontecendo.

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