sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Negra - Noémia de Sousa

Gentes estranhas com seus olhos cheios doutros mundos 
quiseram cantar teus encantos 
para elas só de mistérios profundos, 
de delírios e feitiçarias... 
Teus encantos profundos de Africa. 

Mas não puderam. 
Em seus formais e rendilhados cantos, 
ausentes de emoção e sinceridade, 
quedas-te longínqua, inatingível, 
virgem de contactos mais fundos. 
E te mascararam de esfinge de ébano, amante sensual, 
jarra etrusca, exotismo tropical, 
demência, atracção, crueldade, 
animalidade, magia... 
e não sabemos quantas outras palavras vistosas e vazias. 

Em seus formais cantos rendilhados 
foste tudo, negra... 
menos tu. 

E ainda bem. 
Ainda bem que nos deixaram a nós, 
do mesmo sangue, mesmos nervos, carne, alma, 
sofrimento, 
a glória única e sentida de te cantar 
com emoção verdadeira e radical, 
a glória comovida de te cantar, toda amassada, 
moldada, vazada nesta sílaba imensa e luminosa: MÃE 

Disponível em: http://www.astormentas.com/PT/poemas/No%C3%A9mia%20de%20Sousa/1

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