quarta-feira, 10 de setembro de 2014

À FILHA A CADA 11 DE SETEMBRO - José Luiz Tavares

E teu nome — irina —
verde azul de hialina
transparência,
que nem é mistura
que se ensina,
alquimia de que se conhece
a exacta ciência —

apenas esse riso de menina,
semovente correnteza,
água pura da mina
que lava as angústias
do pai rezinga.

Pomba de alvura
que ao tiro da matina adeja,
céu de boa sina seja a estrela
que te ilumina, tu mesma
primavera alevantada no fluxo
em que toda a vida se anima.

E vai e deixa sobre a terra
o lume de ser lava; e tenhas
sombra e paz ao calor do dia a pino,
ou nos nevoeiros em que por vezes
a tarde finda.

E a mão da honra te seja
cajado na subida, e ainda que pela
selva do mundo deambulando,
como grão catado na algibeira
a alegria tenhas por medida,
que o que o arrojo furta à sina
é sal de toda a humana aventura.


José Luiz Tavares - é cabo-verdeano, nascido na ilha de Santiago. Seu primeiro 
livro, Paraíso Apagado por um Trovão, recebeu o Prêmio Mário António de Poesia 2004, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian. Em 2005, seu segundo livro Agreste Matéria Mundo foi contemplado com o Prêmio Jorge Barbosa. Atualmente trabalha na tradução de poemas de Fernando Pessoa e Camões.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...