domingo, 25 de outubro de 2015

Dez ações diretas de mulheres que mudaram o mundo

Desde que o mundo é desigual, e que os governos permitem que a desigualdade floresça, mulheres vêm protestando. Nós realizamos marchas de protesto e greves de fome, escrevemos cartas e propusemos leis, e deixamos de lado as vias convencionais para conscientizar e expressar nossa raiva.
Pouco mais de um século atrás, a campanha para conferir o direito de voto às mulheres no Reino Unido estava chegando a seu pico de radicalismo, e mulheres perturbavam reuniões públicas, se algemavam a grades e destruíam obras de arte e o patrimônio público.
No começo deste mês, na estreia do filme "Suffragette", manifestantes feministas protestaram no tapete vermelho em defesa do direito da mulher à provisão de refúgios.
Euan Cherry - 7.out.2015/Xinhua
Manifestantes protestam na tapete vermelho de estreia do filme "Suffragette"
Manifestantes protestam na tapete vermelho de estreia do filme "Suffragette"
A ação direta e os protestos das mulheres mudaram o mundo –como a greve das operadoras de máquinas pesadas na fábrica da Ford em Dagenham, Inglaterra, em 1968, que levou à histórica Lei de Igualdade no Salário de 1970. Eis alguns dos melhores exemplos, em um século de campanhas.
1. Sexta-Feira Negra, 18 de novembro de 1910
As ativistas que apelavam pelo sufrágio feminino marcharam até a Câmara dos Comuns do Parlamento britânico a fim de protestar contra a hostilidade do primeiro-ministro Herbert Asquith ao direito de voto para a mulher.
Em reação, dezenas de policiais as espancaram, agrediram, molestaram sexualmente e humilharam. A plena dimensão da violência sancionada pelo Estado dos homens contra a mulher foi explicitada, e as sufragistas retaliaram com uma campanha de quebra de vitrines e ataques ao patrimônio, pela qual terminaram encarceradas.
Suas táticas funcionaram e, depois de uma suspensão do ativismo durante a Primeira Guerra Mundial, as mulheres britânicas conquistaram o direito parcial de votar em 1918, e direitos plenos uma década mais tarde.
2. Miss América, 7 de setembro de 1968
Em Atlantic City, centenas de feministas norte-americanas se reuniram para protestar contra o mercado da carne dos concursos de beleza, o que resultou em um dos mais engraçados, mas também mais imprecisos, mitos fundadores da segunda onda do feminismo, o da queima dos sutiãs pelas mulheres para simbolizar sua emancipação do patriarcado.
Qualquer pessoa que tenha tentado queimar um sutiã –especialmente aqueles modelos pesados, opacos e cor da pele que existiam no pós-guerra– sabe que eles não queimam muito bem. As armações dos sutiãs foram arrancadas e jogadas nas Latas de Lixo da Liberdade, em companhia de sapatos de salto alto, cílios postiços, cópias das revistas "Cosmopolitan" e "Playboy", panelas, esfregões e frigideiras –itens que as manifestantes descreviam como "instrumentos de tortura à mulher".
O protesto deu origem a uma nova onda de críticas a uma série de coisas, como a objetificação da mulher e a feminilidade performática, os ideais de beleza e a exploração do trabalho caseiro, e essa visão da questão terminou incorporada à cultura.
3. Islândia, 24 de outubro de 1975
Estimuladas pelo ativismo do Meias Vermelhas, um grupo feminista radical, 90% das mulheres da Islândia fizeram greve nesse dia contra a exploração do trabalho doméstico gratuito da mulher pelos homens, e do trabalho feminino em geral –mal pago, mal reconhecido e mal recompensado com promoções.
Por um dia, elas não trabalharam e se recusaram a cuidar das tarefas domésticas e das crianças, e a limpar e administrar as casas. A Islândia ficou paralisada, como ficaria qualquer outro país em que isso acontecesse.
A greve demonstrou até que ponto a sociedade funciona com base em trabalho pelo qual as mulheres não recebem crédito. Passados mais de 30 anos, a Islândia é renomada como um dos países mais igualitários do planeta. Talvez todas nós devêssemos aprender com o Meias Vermelhas.
4. Willesden, Londres Norte, 1976-1978
Em um protesto que expôs preconceitos de raça e idade e a misoginia do movimento sindical, bem como a exploração da mão de obra imigrante pela indústria, Jayaben Desai liderou protestos das empregadas do laboratório fotográfico Grunswick Film Processing, em sua maioria mulheres, maduras e de origem leste-africana ou asiática.
As greves resultaram em violentos ataques pela polícia, mas em longo prazo a força das trabalhadoras asiáticas criou um desafio para o movimento sindical e promoveu maior diversidade, demonstrando ao governo e à mídia o poder dos trabalhadores unidos para defender seus direitos.
5. Afeganistão, maio de 2007
A líder política Malalai Joya recebeu todo o peso da condenação patriarcal ao denunciar os líderes de milícias e criminosos de guerra com os quais precisava dividir o espaço político do Legislativo afegão, e se pronunciou contra o apoio dos aliados ocidentais à liderança do então presidente Hamid Karzai.
17.dez.2003/Associated Press
Malalai Joya, delegada na Loya Jirga, discursa contra os chefes de guerra do Afeganistão
Malalai Joya, delegada na Loya Jirga, discursa contra os chefes de guerra do Afeganistão
Por sua bravura, ela foi privada de seu papel político, apesar do apoio de ativistas de todo o mundo. Ainda assim, o fato de que ela tenha se pronunciado colocou em questão a aprovação ocidental tácita a Karzai e desafiou a imagem ocidental da mulher afegã como passiva e simpática ao regime. Isso fez de Joya um exemplo para a dissensão política em seu país.
6. Mangalore, Índia, fevereiro de 2009
Depois que diversas mulheres que estavam se divertindo em um bar no dia dos namorados foram perseguidas, espancadas e chutadas por uma gangue de homens, alguns dos quais gravaram em vídeo o ataque, um grupo intitulado Consórcio das Mulheres Fáceis e Avançadas que Vão a Bares descobriu uma nova maneira de expressar apoio às mulheres e ridicularizar os agressores e aqueles que os defendiam.
A campanha "Pink Chaddi" enviou como presente de dia dos namorados milhares de enormes calcinhas cor de rosa ao movimento conservador Sri Ram Sena, ao qual alguns dos agressores afirmavam pertencer. O objetivo era voltar contra os agressores toda a vergonha sexual, humilhação e menosprezo que eles desejavam instilar em suas vítimas. Quando palavras de protesto não funcionam, às vezes uma calcinha gigante e cor de rosa diz o necessário.
7. Kampala, Uganda, fevereiro de 2014
A lei do governo ugandense para culpar as vítimas ao proibir "roupas indecentes", conhecida em tom de zombaria como "lei da minissaia", submeteu mulheres a agressões de homens que as despem na rua, e ainda as culpam pela violência que sofrem.
Os protestos das mulheres contra isso incluíram canto, dança, minissaias e cartazes que proclamavam "meu corpo, meu dinheiro, meu armário, minhas regras". A despeito do governo repressivo, responsável por novas leis homofóbicas e misóginas, a resistência das ativistas de base está crescendo.
8. Lima, Peru, 7 de março de 2014
As feministas do Peru se vestiram de vermelho e se deitaram na rua diante do Ministério da Mulher.
A manifestação era uma celebração dos corpos das mulheres abusadas no país, que não recebem justiça ou reconhecimento, e simbolizava que o governo estava espezinhando os direitos da mulher. A linha formada pelas mulheres a um só tempo parecia uma linha simbólica de limite –não aceitaremos mais– e também uma exposição da vulnerabilidade das mulheres quando o direito a proteção contra a violência não é honrado pelos líderes políticos.
9. Pequim, China, março de 2015
O movimento feminista vem realizando jogadas astutas na capital chinesa, a despeito da repressão policial e da sabotagem. Este ano, um grupo de cinco "guerrilheiras terroristas" foi detido antes de protestos planejados para o Dia Internacional da Mulher.
O foco do protesto era a atitude do país quanto à violência do homem contra a mulher, assédio sexual e violência sexual, e a manifestação mais notável foi uma parada de mulheres usando vestidos de noiva brancos e ensanguentados.
Além da defesa desses direitos humanos fundamentais, também existe um florescente movimento "fazer acontecer", inspirado pelo livro de Sheryl Sandberg e liderado por mulheres jovens e ambiciosas que pela primeira estão tendo de enfrentar o sexismo empresarial e do mercado de trabalho.
10. Londres, 7 de outubro de 2015
Joel Ryan - 7.out.2015/Associated Press
O grupo Sisters Uncut na estreia de "Suffragettes"
O grupo Sisters Uncut na estreia de "Suffragettes"
No começo do mês, na estreia do filme "Suffragette", ativistas do grupo Sisters Uncut atravessaram as barreiras de segurança e protestaram contra o corte de serviços do governo às sobreviventes da violência doméstica e da violência sexual masculina.
Espero que elas atinjam seus objetivos imediatos de serviços adequados e protegidos, e dotados de verbas suficientes, para as vítimas e sobreviventes. E espero que a longo prazo, em todo o mundo, consigamos nossos objetivos de um mundo livre de desigualdade, exploração e violência masculina.

BIDISHA
DO "GUARDIAN"
Tradução de PAULO MIGLIACCI 

Fonte: Folhauol

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