domingo, 27 de maio de 2012

Conceição Lima


                                                             Quando o luar caiu
Quando o luar caiu e
tingiu de escuro os verdes da ilha 
cheguei, mas tu já não eras.
Cheguei quando as sombras revelavam 
os murmúrios do teu corpo 
e não eras.
Cheguei para despojar de limites o teu nome.
Não eras.
As nuvens estão densas de ti 
sustentam a tua ausência 
recusam o ocaso do teu corpo 
mas não és.
Pedra a pedra encho a noite 
do teu rosto sem medida 
para te construir convoco os dias 
pedra a pedra 
no teu tempo consumido.
As pedras crescem como ondas 
no silêncio do teu corpo. 
Jorram e rolam 
como flores violentas.
E sangram como pássaros exaustos 
no silêncio do teu corpo 
onde a noite e o vento se entrelaçam 
no vazio que te espera.
Súbito e transparente chegaste 
quando falsos deuses subornavam o tempo, 
chegaste sem aviso 
para despedir o defeso e o frio, 
chegaste quando a estrada se abria 
como um rio,
chegaste para resgatar sem demora o principio.
Grave o silêncio agarra-se ao teu corpo, 
hostil o silêncio agarra-se ao teu corpo 
mas já tomaste horas e caminhos 
já venceste matos e abismos
já a espessura do obô resplandece em tua testa.
E não me bastam pombas dementes no teu rosto 
não bastam consciências soluçante em teu rasto 
não basta o delírio das lágrimas libertas.
Cantarei em pranto teu regresso sem idade 
teu retorno do exílio na saudade 
cantarei sobre esta terra teu destino de rebelde.
Para te saudar no mar e no palma 
na manhã dos cantos sem represas 
saudarei a praia lisa e o pomar.
Direi teu nome e tu serás. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Mulheres Pretas

    Conversar com a atriz Ruth de Souza era como viver a ancestralidade. Sinto o mesmo com Zezé Motta. Sua fala, imortalizada no filme “Xica...