segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Poesia africana


ANTONIO BATICÃ FERREIRA
António Baticã Ferreira nasceu em Canchungo (Guiné-Bissau) em 1939.  Fez os estudos liceais em Paris e licenciou-se em Medicina na Universidade de Lausana- Suíça.  

A FONTE

I

Eis-me perto da Fonte, muito perto.
Vejo brotar a água,
Uma água clara e límpida,
Boa, amável!

Eis a Fonte:
Fica perto de Badiopor.
Junto dela nasci:
Eis a Fonte da minha infância.

Sim, eu amo essa Fonte,
Admiro-a,
Brinco,
Eu e meus irmãos, à sua beira.

Fica, fica perto de Badiopor,
Desse lugar quase sagrado,
Desse lugar ensombrado;
Badiopor, fonte de nossas almas.

A sua água nos atrai,
E acarinha-nos.
Vemo-la noite e dia;

E a Fonte que está mais perto.

Olha: a água a brotar da nascente,
Como de fonte,
Como um regato!

(Sim, parece-se mais com um regato.)


II

Mais pequena ainda que a Fonte,
É a nascente onde tudo vem beber.
A nascente, nossos pais, amamo-la.
Nossa.

A nascente é fonte das árvores e das folhas.
Olhamos a nascente, o ribeiro,
Manancial de nossos pais.

É verdade:

Esta Fonte é mui antiga,

Nascente da Tradição,
Fonte da Historia; eis
O manancial do Reino,
Tão perto de Badiopor!

Bem me lembro:
Ha muito que ela se conserva no mesmo lugar,
Manando água cristalina.
Eis, eis a Fonte do Reino.

Ela protege-nos,
Ela é a alma das crianças;
Fonte do Reino, força nossa,
Ela é a nossa protectora.

As chaves do Reino onde estão?

Nessa Fonte,
Onde meus irmãos e eu vemos às vezes monstros
E trememos então de medo,
Ou choramos.

(Nós, filhos do Reino,
Nos, príncipes desse seu Reino.)


III

É verdade, como príncipes,
De tudo cantamos,

Nos, príncipes de Baboque
Bem amados,
Pelo sangue
Oriundos daquele Rei,

Daquele que é Rei dos Reis;
Nos que vimos do seu Reino,
De todos o mais poderoso e vasto,
Como o Reino de Baçarel.

(E Baçarel é um grande Reino,
Onde príncipes vêm a luz;
Baçarel, terra bem nobre,
Seu lugar de nascimento.)



O MAR

Olhai: o Mar tem influência singular
Sobre mim. Os animais aquáticos são tantos
Valia a pena persegui-los no mar alto;

Valia a pena vê-los saltar através das ondas.

O Mar, esse mundo que os homens não habitam,
É imenso, tão belo e tão perfeito!
O Mar tem influência singular
Sobre mim. Eu bem queria ir ver as ondas;

Valia a pena olhá-las a correr
Loucamente; valia a pena
Ver qual delas primeiro entrava na baía.

Ah!, o Mar vasto, no entanto, aqui nos fala
Sim, fala-nos interiormente,
E nos compreendemos a sua língua:
E uma língua que se entende.

(Ah!, que impressão nos faz o Mar!)



INFÂNCIA

Eu corria através dos bosques e das florestas
Eu corno o ruído vibrante de um bosque desvendado,
Eu via belos pássaros voando pelos campos
E parecia ser levado por seus cantos.

Subitamente, desviei os meus olhos
Para o alto mar e para os grandes celeiros
Cheios da colheita dos bravos camponeses
Que, terminando o dia, regressavam à noite entoando

Canções tradicionais das selvas africanas
Que lhes lembravam os ódios ardentes
Dos velhos. Subitamente, uma corça gritou
Fugindo na frente dos leões esfomeados.

Aos saltos, os leões perseguiram a corça
Derrubando as lianas e afugentando os pássaros.
A desgraçada atingiu a planície
E os dois reis breve a alcançaram

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