quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Érico Brás interpreta Orfeu da Conceição em obra de Vinicius de Moraes


Por Luciane Reis
Admito, falar de Érico Brás é sempre um orgulho pois não estamos falando somente de um ator, mas acima de tudo de um parceiro que não foge a batalha quando convocado a contribuir com a luta social e racial deste país. Érico Brás é baiano, soteropolitano e uma das pratas da casa do Bando de Teatro Olodum, que o tem e teve entre seu elenco artistas conhecidos como:  Lazaro Ramos, Sérgio Laurentino e Jorge Washington. O Bando, como é carinhosamente chamado pelo público baiano, tem em seus espetáculos temas e questões sociais com recorte racial que vem contribuindo para desconstruir situações de discriminação e racismo no estado da Bahia. Sua carreira como ator se consagra nacionalmente como o taxista Reginaldo na baianíssima série Ó Paí, Ó e ganha destaque como Jurandir na série “Tapas e Beijos”.
No ano de 2013, Érico Brás foi convidado pela Secretaria Nacional de Juventude da Secretaria Geral da Presidência da República (SNJ)  para ser o porta-voz dos artistas brasileiros pela vida da Juventude Negra e de periferia. Na ocasião, foi entregue a presidenta Dilma uma carta dos artistas em favor da vida destes. Em seu discurso durante a sanção do Estatuto da Juventude, Érico lembrou que a carta era a “solicitação máxima de parcelas de artistas brasileiros que não suportam ver ceifada todos os dias a vida de possíveis cientistas, juízes, atores e até mesmo presidentes da república". Ao final de sua fala, juntamente com o Rapper Gog,  estes ouviram da presidenta um compromisso de construção de ações que possa ter estes como ponto central das políticas públicas no País.
Durante os dias  23, 24, 30 e 31 de janeiro, como parte do projeto Verão com Bossa, Érico mostrará todo seu talento como cantor no espetáculo 'Orfeu Canta para Vinicius'  projeto musical, que estará em cartaz durante curta temporada no Café-Teatro Rubi em Salvador. Neste projeto Orfeu da Conceição, reencarnado por Érico Brás, mostra um repertório que Vinicius cantou e que, talvez, cantasse até hoje. Assim, além de canções e histórias deste, Érico também interpreta obras de outros compositores brasileiros conhecido do grande público.
Para o ator, "é uma oportunidade para o público de várias gerações ter contato com a obra de um dos maiores artistas que o Brasil já teve". Nessa entrevista, Érico fala sobre este espetáculo aguardado pelo público baiano e de seus projetos para 2014. Com vocês, Érico Brás.
Correio Nagô -  CN- Como foi a sua infância em Salvador? Como é se descobrir cantor depois de tanto tempo como ator ?
Erico Brás-   A minha infância foi como a de uma criança de origem pobre mas que viu nos pais a dignidade, justiça e esforço para criar os filhos. Principalmente minha mãe que viveu muito tempo como mãe solteira. Comecei a cantar na igreja, num grupo de teatro na Fazenda Coutos 3. Logo depois fui para o Bando de teatro Olodum e sai para o mundo. Durante um tempo em Salvador cantei samba de roda como ouvia nos terreiros de candomblé e nas esquinas da comunidade onde morei minha adolescência toda. Hoje morando no Rio de janeiro me deparei com o samba que sai dos terreiros de Salvador e ganha características urbanas no Rio de Janeiro daquela época. Confirmado Ogan de Xangô me sinto a vontade pra cantar o que eu quiser quando eu quiser.
CN- Você tem uma carreira como ator há bastante tempo, mas só nos últimos anos ganhou reconhecimento nacional. Como você está lidando com o sucesso desde então?
ER- Ainda encaro como inicio de uma nova jornada. O reconhecimento por um trabalho ou outro vale como força para continuar  e com isso criar novas oportunidades, novas historias, novas interpretações das historias, novas versões etc...O artista tem que saber o que o povo quer ouvir e ver, e até mesmo o que esse povo nunca ouviu falar. E com isso “atuar”. Toda essa história de reconhecimento e sucesso tem que ser alimentada, bombeada...Não dá pra ficar parado achando que é tudo seu. Isso reflete na minha família. Eu tenho a sorte de ter uma mulher forte, Kenia Maria, madura, inteligente que decide a maioria das coisas até mesmo na minha carreira. E os filhos, Gabriela, Matheus e Érica que servem de termômetro.
CN- Como é para você fazer Tapas e Beijos?
ER-O Tapas é um projeto ímpar na minha vida. É um programa de sucesso que empresta ao telespectador a alegria que a gente comunga nos bastidores. Lembro-me de Andréa Beltrão me dizendo nos primeiros dias de gravação :"relaxe, rapaz...” aí ficou mais tranqüilo.  Criamos um grupo que se diverte e diverte o telespectador. 
CN-Você participou de filmes que relatam diferentes formas de discriminação racial e social. Já sentiu esses problemas na pele?
ER-Sempre sinto esses problemas na pele e acho que esta realidade está um pouco distante de ser mudada totalmente. Reconheço todos os avanços que tivemos ao longo do tempo, mas desconfio da sociedade brasileira quando ela se refere e trata de  Negros, gays, mulheres e adeptos das religiões de matriz africana. Acho uma “ cafonisse” do Brasil  não reconhecer os seus negros como construtores da sociedade brasileira e com direitos a serem reparados,quando na Europa decadente isso já não faz tanto sentido.
CN- Atualmente você tem um Canal no YouTube que retrata cenas do cotidiano que a publicidade  nunca mostrou, qual a repercussão?
ER-O “Tá Bom pra Você?” tem um publico fã. E isso nos deixa com vontade de fazer mais. A nossa temporada em 2013 foi ótima. As pessoas identificavam os atores nas ruas e paravam pra falar dos vídeos e pedir pra gente contar as historia delas. Estamos com planos pra 2014 de continuar e ampliar o leque do canal. É um projeto que vai dar muito o que fala ainda.
CN- O que o público pode esperar deste novo trabalho?
ER- Diversão, boa musica e um Érico Brás cantando com prazer. Estou me esforçando para levar boa musica para a platéia. Por conta disso, escolhi estrear o show “Orfeu canta para Vinicius” em Salvador, porque aqui comecei a minha carreira no Bando e fui aprovado como artista. É um repertório escolhido a dedo. Chamei Mauricio Lourenço e Nei Sacramento para serem meus parceiros na direção musical. São baianos que entendem de música popular brasileira, inclusive samba. Espero que gostem.
CN- Como surgiu a idéia de cantar Vinicius a partir de Orfeu?
ER- Comecei a viajar com Kenia Maria como seria se “a obra mostrasse ao seu autor, se estivesse vivo, o que ele não viu?”. Pensando em Vinicius que adaptou Orfeu para os morros cariocas, começamos a desenhar essa descida do morro de Orfeu para encontrar Vinicius e apresentar compositores como Zeca Pagodinho, João Nogueira, Beto sem Braço, dentre outros que se Vinicius estivesse vivo com certeza seria parceiro. Uma das coisas que o Orfeu mostraria é a nova garota de Ipanema que pode ser do Rio Vermelho, da Barra  ou de outro lugar.

CN- O que podemos esperar de Érico Brás em 2014. O que Você já tem em mente?

(risos) Muito trabalho, já estou correndo para os ensaios do espetáculo....
Luciane Reis, Publicitária.
Fonte: correionago

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