sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A presença negra no rock, por Rubens Giaquinto


Chuck Berry - Gold
Do Mundo Negro
 
O rock explodiu na década de 50 nos Estados Unidos, porém sua ascendência traz elementos da cultura africana e europeia. Sua origem encontra-se no blues, gospel, jazz, folk e country. Curiosamente, os primeiros nomes que chegaram ao mainstream do rock eram predominantemente negros, como por exemplo, Fats Domino, Chuck Berry e Little Richard.
 
Rubens Giaquinto
 
Nesta fase do rock as letras retratavam o amor romântico, sexo, eram dançantes e a bateria constituía-se num elemento forte que predominava nas músicas. Na segunda geração do rock houve um certo branqueamento. Predominou Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Buddy Holly. Era um rock menos estridente, em comparação com o dos roqueiros da primeira geração. Ganhou um status mais comercial. Elvis era um galã que encantava as meninas da época.
 
Na década de 60 surgiram os meninos de Liverpool. Traziam o rock clássico, com elementos pops, mas apresentando uma música mais comportada. Os Stones trouxeram a rebeldia. Jagger era um tipo mais transgressor. Em meio a tudo isso, nasce a soul music, trazendo a negritude para o rock, novamente. A gravadora Motown lançou diversos artistas negros, dentre eles, Marvin Gaye, The Temptations e The Miracles. Michael Jackson, mais tarde, pertenceu a esta gravadora.
 
Num terceiro momento, importante na história do rock, foi o que até hoje virou mito: A GUITARRA. Surgiram dois grandes mitos da guitarra, Eric Clapton e Jimi Hendrix. Com a valorização da guitarra surgiram o rock progressivo, com seu maior expoente comercial, o Led Zeppelin, apresentando um som arrogante mas, bem trabalhado.
 
Na década de 70 o público do rock havia envelhecido e buscava novos ares. Neste momento apareceram no cenário artistas mais pop, que misturavam ao rock o piano e o violão, como os trabalhos de Elton John, Paul Simon e Neil Young. Nesta geração a tecnologia também era um elemento muito forte e, as letras preconizavam o amor romântico.
 
No final dos anos 70 surgiu o punk rock na Inglaterra, numa reação ao pop dos anos 70. Vestindo roupas rasgadas, apresentando uma música crua e com poucos acordes. Ofendendo a rainha e o capitalismo, surgiram os Sex Pistols e o The Clash. O que era para ser uma música anticomercial, foi ‘fagocitada’ pelo capitalismo e ganhou o show business mundial.
 
Falando um pouco sobre o rock ‘Brazuca’, nossa história tem um pouco a ver com o punk rock inglês, principalmente o rock de Brasília. As bandas Aborto Elétrico (primórdios da Legião Urbana), Plebe Rude, Capital Inicial e Paralamas, beberam na fonte do punk inglês. Mas, nosso rock tem certas particularidades, como por exemplo, é branco, machista, classe média e universitário. Principalmente no mainstream, a presença de negros e mulheres sempre foi muito raro.  Apesar destas características, o rock nacional sempre foi de alta qualidade. Todavia, é fato que as grandes bandas sempre sairão dos lugares mais abastados do Brasil, como os meninos da zona sul. Estou dizendo que, principalmente no mainstream, porque há diversas bandas na periferia e nos espaços ditos alternativos. Dois expoentes que levaram a negritude para o rock são as bandas Os Inocentes e Devotos do Ódio. Mas, infelizmente, apesar do excelente trabalho, não são bandas conhecidas do grande público. Na primeira fase, o rock nacional explodiu em Brasília, Rio de janeiro e São Paulo. Em seguida, veio o sul do país. Só na década de 90 Minas Gerais entra no cenário do rock nacional.
 
Atualmente o rock perdeu sua veia contestatória. Acredito que bateria, guitarra e baixo, ainda constituem um trio poderoso na disputa hegemônica por uma sociedade mais justa, igualitária, sem racismo e com mais terra para o povo do campo. Infelizmente, as bandas que representam, de forma satisfatória estas questões, muitas vezes não tem espaço nem para ensaiar. Porque são filhos da classe trabalhadora. Fica uma pergunta: Porque que as bandas de rock da classe trabalhadora sempre ficam no meio do caminho? Está tudo meio fora do eixo. Só para deixar claro, existe um produção imensa de rock nas periferias brasileiras de grandíssima qualidade de arranjos e letras.
 
E preciso um grande pacto com os movimentos sociais, sindicais, artistas populares e com os intelectuais progressistas, para rompermos com a lógica do capital excludente. Só assim será possível vislumbrarmos festivais, gravadoras e artistas populares engajados em amar e mudar as coisas . Porque, do contrário, virão outros Lobão!
Fonte: Geledes

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