quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Poesia africana - Amélia Dalomba


AMÉLIA DALOMBA

AMÉLIA DALOMBA
Poetisa e jornalista angolana, Amélia Dalomba, nome literário de Maria Amélia Gomes Barros da Lomba do Amaral (Tichinha), nasceu no dia 23 de Novembro de 1961, no enclave de Cabinda, no Norte de Angola.
Estuda Psicologia Geral e simultaneamente desenvolve a sua actividade profissional na área do jornalismo, nomeadamente o jornalismo radiofónico e de imprensa. É colaboradora do Jornal de Angola , tendo publicado alguns dos seus textos poéticos na sua página cultural.
Obras publicadas: "Ânsia" (1995), "Sacrossanto Refúgio" (1996), "Espiga do Sahel" (2004) e "Noites ditas à chuva" (2005).

A Canção do silêncio

A canção do silêncio é um poema ao suspiro
Mergulhado
Na profundeza do Índigo

O olhar de uma santa de barro

A linha do equador à deriva do pensamento
Gelo e sal e larva e mel

A canção do silêncio

Na milésima de tempo

A inversão do mundo nos cabelos do infinito
Uma lua apagada de prazer
A razão é um jardim florido pela ilusão
Na milésima de tempo de uma entrega

Frases feitas

Difícil é cantar comum pensamento
Sombras em frases feitas onde nada é tão antigo
Como chegar e partir

Herança de morte

Lírios em mãos de carrascos
Pombal à porta de ladrões
Filho de mulher à boca do lixo
Feridas gangrenadas sobre pontes quebradas
Assim construímos África nos cursos de herança e morte
Quando a crosta romper os beiços da terra
O vento ditará a sentença aos deserdados
Um feixe de luz constante na paginação da história
Cada ser um dever e um direito
Na voz ferida todos os abismos deglutidos pela esperança

Mãos
Mãos desenham raízes dos cânticos da terra
Geram vida na identidade da flor entre o espírito da letra
Engendram salmos na inserção da cruz às preces das dores
Mãos são séculos de páginas aos joelhos de Fátima
São lágrimas ao altar do desespero

Extraídos de TODOS OS SONHOS - Antologia da Poesia Moderna Angolana. Org. Adriano Botelho de Vasconcelos. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2005. 

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