Noite tem cheiro, sim. Pelo menos aqui em Luanda, na minha casa, com este jardim, noite tem cheiro. Eu já vi na televisão umas plantas que só abrem de noite, eu chamo-lhes planta-morcego, e eu não sei se aqui neste jardim tem planta-morcego mas, que a noite traz outros cheiros para esta varanda, lá isso traz.
Se isto que eu vou dizer existe, então aquela noite tinha um cheiro quente, que pode ser uma coisa, imaginem, onde se ponha rosas muito encarnadas, folhas de trepadeira com um bocadinho de poeira, muita relva, barulho de grilos, barulho de lesmas a andar em cima da baba, barulho de gafanhotos, um só barulho de cigarra, um cacto pequeno, fetos verdes, duas folhas grandes de bananeira e um tufo enorme de chá de caxinde, assim tudo bem espremido, eu acho que ia sair o cheiro desta noite.
– Cheira tão bem aqui... – a minha tia disse.
– São as plantas-morcego...
– Que plantas são essas?
– São plantas que gostam mais de existir de noite, assim como os morcegos...
– Ahn... – ela cheirou o ar. – E aqui também há mosquitos-morcego... são aqueles que gostam muito de morder de noite... – rimos juntos, ela teve piada.
– Tia...
– Diz, filho.
– Tu sabes porquê que os mosquitos picam tanto?
– Não, filho, porquê que eles picam tanto?
– É porque têm sede! – olhei para ela. – E sabes porquê que têm sede?
– Porquê?
– Porque, como deves saber, os mosquitos nascem nos charcos de água...
– Sim... E?
–Então como eles nascem na água quando estão a voar lembram-se sempre de casa, quer dizer, dessa primeira casa, a água... então eles mordem-nos à procura de água...
– E não encontram...
– Sim, mas se não há melhor, bebem sangue... – expliquei, sério.
– Quem te contou isso, filho?
– Ninguém me contou tia, eu é que sei...
(...)
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