quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Literatura cabo-verdiana - Dina Salústio


DINA SALUSTIO

 

Dina Salústio (pseudônimo de Bernardina Oliveira), escritora e poetisa cabo-verdiana nascida em 1941, em Santo Antão, em Cabo Verde, com o nome de Bernardina Oliveira.
Publicou em 1994 uma colectânea de 35 contos, Mornas Eram as Noites, que lhe valeu a obtenção do Prêmio de Literatura Infantil de Cabo Verde.
A Louca de Serrano assinalou a sua estréia no romance, em 1998.
Dina Salústio foi uma das fundadoras da Associação dos Escritores Cabo-verdianos, assim como de diversas publicações literárias.
Paralelamente à sua atividade de escritora, foi professora, assistente social e jornalista em Cabo Verde, assim como em Portugal e em Angola. Dirigiu também um programa de rádio dedicado a assuntos educativos e foi produtora de rádio.
Trabalhou ainda para o Ministério dos Assuntos Exteriores de Cabo Verde.
Fonte da biografia: www.infopedia.pt



Toco os teus campos de neve
e entrego-me aos fantasmas da minha infância

Religiosamente bebo a gota esquecida na palma
da minha mão.

Brisas subtis deixam em arcos tensos
as pétalas que me enfeitam.

E estupidamente me trazem ruas empedradas
veias do meu mundo
onde a bússola e o desejo se confundem
confundindo o destino de nós.

Na ternura das vozes que me envolvem
há um convite ao poema que não consigo.

E as tuas montanhas sacodem
lembranças de outras cavernas
gemendo a noitinha estórias
de aves fugindo e picaretas cantando,
murmúrios de piratinhas,
sussurros de prazeres dolorosamente cambiados em
                                               mercado negro.

Pouco a pouco lês no meu olhar ausente
a existência de outra ilha
E sentes a minha fé
e o braço se afrouxa
perante o adeus que adivinhas
no silêncio do meu corpo.


ÉRAMOS TU E EU

Éramos eu e tu
Dentro de mim
Centenas de fantasmas compunham o espectáculo
E o medo
Todo o medo do mundo em câmara lenta nos meus olhos.

Mãos agarradas
Pulsos acariciados
Um afago nas faces.

Éramos tu e eu
Dentro de nós
Suores inundavam os olhos
Alagavam lençóis
Corriam para o mar.
As unhas revoltam-se e ferem a carne que as abriga.

Éramos tu e eu
Dentro de nós.

As contracções cada vez mais rápidas
O descontrolo
A emoção
A ciência atenta
O oxigénio
A mão amiga
De repente a grande urgência
A Hora
A Violência
Éramos nós libertando-nos de nós.
É nossa a dor.

São nossos o sangue e as águas
O grito é nosso
A vida é tua
O filho é meu.

Os lábios esquecem o riso
Os olhos a luz
O corpo a dor.

A exaustão total
O correr do pano
O fim do parto.

 Fonte: antoniomiranda.com.br

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