Por: Claudia Hammond
As mulheres falam, em média, 20 mil palavras por dia, em comparação com meras 7 mil pronunciadas pelos homens, pelo menos segundo um livro de um neuropsiquiatra americano lançado em 2006.
Citada por um cientista aparentemente especializado no assunto e amplamente disseminada pela internet, a declaração reforça o estereótipo de que o "sexo fraco" passa seus dias fofocando, enquanto os homens, "trabalhadores", estão fazendo algo de produtivo.
Mas até que ponto o dado corresponde à verdade?
A loquacidade pode ser medida de várias maneiras. Uma das técnicas é levar as pessoas para um laboratório, dar-lhes um tema de discussão e registrar suas conversas. Outro recurso seria tentar gravar as conversas diárias em casa. Por esse procedimento, se contaria o número total de palavras faladas, o tempo que a pessoa gasta falando, a quantidade de vezes que um indivíduo participa de uma conversa ou palavras faladas a cada vez.
A loquacidade pode ser medida de várias maneiras. Uma das técnicas é levar as pessoas para um laboratório, dar-lhes um tema de discussão e registrar suas conversas. Outro recurso seria tentar gravar as conversas diárias em casa. Por esse procedimento, se contaria o número total de palavras faladas, o tempo que a pessoa gasta falando, a quantidade de vezes que um indivíduo participa de uma conversa ou palavras faladas a cada vez.
Combinando os resultados de 73 estudos em crianças, um grupo de pesquisadores americanos descobriu que as meninas falavam mais palavras do que os meninos, mas a diferença foi insignificante. Além disso, essa pequena diferença só era aparente quando elas falavam com os pais, não com seus amigos.
Talvez o ponto mais importante desse estudo tenha sido a conclusão de que isso só ocorreu até os dois anos e meio, o que poderia significar simplesmente as diferentes velocidades com as quais as crianças, meninos e meninas, desenvolvem habilidades de linguagem.
Mas se a diferença é insignificativa entre as crianças, o mesmo se aplica aos adultos?
Por muito tempo, se pensou que as mulheres falavam mais do que os homens
Quando Campbell Leaper, psicólogo da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, autor da pesquisa, realizou uma análise mais aprofundada sobre o tema, descobriu que os homens eram mais tagarelas.
Mas, novamente, a diferença foi pequena. E o estudo constatou que as diferenças eram maiores em testes realizados em laboratórios do que em ambientes sociais mais próximos à vida real, indicando, segundo os pesquisadores, que os homens talvez se sintam mais confortáveis do que as mulheres em ambientes pouco comuns como um laboratório.
As descobertas de Leaper incentivaram uma revisão de 56 estudos realizados pela pesquisadora linguística Deborah James e pela psicóloga social Janice Drakich, transformada em um livro em 1993.
Apenas dois dos estudos conduzidos pelas pesquisadoras constataram que as mulheres falam mais do que os homens, enquanto 34 deles mostraram que os homens falavam mais do que as mulheres, pelo menos em algumas circunstâncias. Por outro lado, diferenças de metodologia dificultam uma comparação mais exata sobre o assunto.
Fora do laboratório
Estudos constataram que homens também falam muito
As conversas da vida real têm sido tradicionalmente mais difíceis de estudar por causa da necessidade de os participantes gravarem todos os seus diálogos.
No entanto, o psicólogo James Pennebaker, da Universidade do Texas, desenvolveu um dispositivo que grava 30 segundos de fragmentos de som a cada 12,5 minutos. Como os participantes da pesquisa não podem apagar os registros, o resultado é significativamente mais confiável.
Em uma pesquisa publicada na revista Science em 2007, Pennebaker constatou que, durante as 17 horas por dia em que o aparelho funcionava, as mulheres que participaram do estudo nos Estados Unidos e no México falavam uma média de 16.215 palavras e os homens, 15.669. Mais uma vez, uma diferença considerada residual.
Em uma pesquisa publicada na revista Science em 2007, Pennebaker constatou que, durante as 17 horas por dia em que o aparelho funcionava, as mulheres que participaram do estudo nos Estados Unidos e no México falavam uma média de 16.215 palavras e os homens, 15.669. Mais uma vez, uma diferença considerada residual.
Uma análise de 100 encontros públicos realizada por Janet Holmes, da Universidade Victoria de Wellington, na Nova Zelândia, mostrou que os homens faziam, em média, 75% das perguntas, embora constituíssem apenas dois terços da audiência.
Mesmo quando as plateias eram divididas por gênero em quantidade iguais, os homens formularam quase dois terços das perguntas.
Os resultados das pesquisas já realizadas apontam, portanto, que a afirmação de que as mulheres falam mais do que os homens não passa de um falso mito, sem qualquer comprovação científica.
Os resultados das pesquisas já realizadas apontam, portanto, que a afirmação de que as mulheres falam mais do que os homens não passa de um falso mito, sem qualquer comprovação científica.
O assunto voltou a ganhar destaque recentemente quando cientistas descobriram que meninas de até quatro anos de idade tinham 30% a mais de uma determinada proteína em uma área do cérebro importante para a aquisição da linguagem.
Imediatamente, as redes sociais foram inundadas de brincadeiras, associando o resultado da pesquisa ao fato de as mulheres falarem mais do que os homens.
Mito
Mas, então, de onde vem a ideia de que os homens pronunciam 7 mil palavras por dia, em comparação com as 20 mil das mulheres?
A afirmação apareceu pela primeira vez na capa do livro O Cérebro Feminino, escrito em 2006 por Louann Brizendine, neuropsiquiatra da Universidade da Califórnia em San Francisco, e vem desde então sendo amplamente citada.
Quando Mark Lieberman, professor de linguística da Universidade da Pensilvânia, questionou os dados, que pareciam vagamente baseados em números que aparecem em um livro de autoajuda, Brizendine concordou com ele e prometeu retirá-los de futuras edições.
Lieberman tentou rastrear a origem das estatísticas, mas teve pouca sorte: só encontrou uma declaração semelhante em um folheto de 1993 de aconselhamento matrimonial, que está longe de servir como base científica.
Fonte: BBC
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