O apelo à mudança, o perfil e o carisma aproximam o único presidente afro-americano de John Kennedy, o primeiro líder católico do país
Por: Renata Tranches
Sasha (E) se esconde do pai, o presidente Barack Obama, no Salão Oval da Casa Branca; John F. Kennedy Jr. (D) fez o mesmo, em 17 de outubro de 1963
Em 12 de fevereiro deste ano, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, antevendo dias de embate em Washington, recorreu a John F. Kennedy para falar de reconciliação. Ao iniciar seu discurso do Estado da União, Obama repetiu a frase de 50 anos atrás de seu predecessor: "A Constituição não nos torna rivais pelo poder, mas parceiros pelo progresso". Ele argumentou que essa era a missão de todos. Foi apenas mais uma ocasião em que Kennedy cruzava o caminho do presidente. Desde que sua carreira política começou a chamar a atenção nacional, em 2004, as comparações entre o então senador de Illinois e o mais famoso dos democratas foram inevitáveis e acabaram reforçadas com a chegada à Casa Branca, quatro anos mais tarde.
O misto de político e celebridade, o sex appeal, os ineditismos, os perfis pragmáticos e a mensagem de mudança compõem alguns dos paralelos entre JFK — ou Jack, como era chamado — e Obama. Ainda que atualmente algumas dessas características já não sejam uma unanimidade, o início do primeiro mandato do presidente fez boa parte da sociedade americana acreditar estar vivendo um bom déjà vu. Para historiadores e especialistas ouvidos pelo Correio, o fato de a popularidade de Kennedy ser tão alta até hoje pode ser explicado, em parte, pela ausência de um líder como ele. Em 2008, Obama despertou a esperança de que isso pudesse ocorrer. "(Com Kennedy), foi a última vez que os EUA tiveram uma imagem positiva de um presidente na Casa Branca", reforça Graham Dodds, pesquisador americano sobre o legado de Kennedy pela Universidade de Concordia (Montreal, Canadá).
Nascido dois anos antes do assassinato de Kennedy, Obama pertenceu a uma geração influenciada por seus ideais, em uma sociedade marcada pela perda do democrata. Como primeiro e único presidente católico dos EUA, Kennedy rompeu com a tradição de líderes protestantes. "Na época, as pessoas pensaram que, como o país elegeu um presidente católico, talvez outros grupos de fora das classificações tradicionais pudessem ter chance nas urnas", lembra Thomas Whalen, especialista em presidência americana da Boston University (Massachusetts), acrescentando que Obama, o primeiro presidente negro do país, é fruto dessa esperança. As iniciativas que levaram à aprovação de uma lei de direitos civis destinada a acabar com a segregação racial nos EUA abriram caminho para a eleição do primeiro presidente negro, 44 anos mais tarde.
Reforçar essas associações nunca foi um problema para Obama. Assim que ele e a família se mudaram para a Casa Branca, a presidência divulgou uma foto na qual a filha mais nova, Sasha, aparece escondida atrás de um sofá, observando o pai trabalhar em sua mesa, no Salão Oval. A imagem foi imediatamente remetida à fotografia capturada em 1963 de John F. Kennedy Jr. brincando debaixo da mesa em que o pai lia documentos. Sasha, então com 8 anos, e a irmã, Malia, com 10, foram as mais jovens crianças a viverem na Casa Branca desde a família Kennedy, nos anos 1960.
Fonte: Correio Braziliense
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