quarta-feira, 13 de novembro de 2013

"É uma espécie de botequim, um espaço de terapia e trabalho"

A aposentada Rita Couto, 60, transformou sua casa, próxima ao Complexo do Alemão, no Rio, em uma grande oficina de criação. E o trabalho que desenvolve com um grupo de mulheres artesãs em uma espécie de sessão de terapia. Ela é o cérebro das Meninas Prendadas, grupo que reúne 12 artesãs, de 45 a 75 anos, que, além de retalhos, utilizam revistas e jornais em suas criações.
Baleia que segura porta e bolsinhas são alguns dos produtos criados por elas para o catálogo da Rede Asta, organização criada por Alice Freitas, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2013, que, com a venda porta a porta e a criação de brindes personalizados feitos à mão com sobras de produção das empresas, fortalece grupos produtivos formados por mulheres de baixa renda, em dez Estados do Brasil.
Na Lata
A aposentada Rita Couto faz parte da Rede Asta
A aposentada Rita Couto faz parte da Rede Asta
Leia seu depoimento:
"Moro num sobrado de vilinha, com vista para os teleféricos do Alemão, mas só uso a parte térrea da casa. Os quatro cômodos vivem sempre cheios de gente, aqui em Ramos [zona norte do Rio]. É uma espécie de botequim, um espaço de terapia e trabalho, onde gargalhadas se misturam a lamentos, embaralhados pelo barulho constante das nossas máquinas de costura. Um ambiente em que se misturam terapia e trabalho.
Aqui funciona a sede das Meninas Prendadas, grupo que reúne 12 'meninas' artesãs, de 45 a 75 anos, viúvas, separadas, que, além de retalhos, utilizam revistas e jornais em suas criações.
Desde junho de 2010, é em casa onde essas senhoras animadas se reúnem para trabalhar e conversar. Dino, Dina e baleia [pesos de porta], cravos, bolsas e bolsinhas são alguns dos produtos que a gente cria para a Rede Asta. São pelo menos 50 peças por mês só para a rede, fora o que a gente produz para vender em outros locais.
Aqui, entra quem quer e sai quem deseja. Instituí uma regra: não se pode falar de quem não está presente, mas, acima de tudo, tem que gostar de falar muita abobrinha.
Entre as meninas, tem gente que sabe costurar, bordar, fazer crochê. Mas tem dias em que a gente se reúne só para desabafar, chorar e dar risada.
Com um olho, supervisiono a produção. Com o outro, acompanho a câmera de entrada da vila. Tudo isso eu faço numa cadeira de rodas. Um mês depois de completar 18 anos, cai de um pé de abacate. Fiquei sete meses internada. O médico disse que eu iria vegetar pelo resto de sua vida numa cama. E, hoje, olha eu aqui.
Depois que as meninas vão embora, eu vasculho a internet atrás de referências e modelos para aprimorar o artesanato. Duas vezes por mês, a gente faz reunião para discutir criação de produtos e estratégias de vendas em feiras, traçar metas. E, é claro, jogar muita conversa fora."
ROBERTO DE OLIVEIRA/ folhauol

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