quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Movimento negro no caminho certo da longa jornada
O movimento negro tem aprimorado sua participação no debate eleitoral em todos os níveis, desde as contribuições de Abdias do Nascimento no governo Brizola (RJ) e no Parlamento (Câmara e Senado), logo após a Ditadura Militar aos dias atuais. Registro como marco importante da questão eleitoral e luta antirracismo a formulação do caderno “Brasil Sem Racismo”, que compôs o vitorioso “Programa de Governo 2002 Coligação Lula Presidente”, estabeleceu as bases da “Política de Igualdade Racial”, em processo de implantação em todo país desde 2003. Assim, verificamos a importância da eleição no processo político de superação do racismo, por isso deve ser a agenda prioritária para o movimento em 2014.
Devemos trabalhar para que o voto negro vá para candidaturas negras e/ou de esquerda, comprometida com a plataforma do movimento negro, com o desenvolvimento nacional, com os interesses dos trabalhadores, dos movimentos sociais e do povo. Não devemos estimular a ideia de que qualquer negro pode representar os anseios do movimento negro ou qualquer branco não pode representar.
A prioridade do movimento negro nessa eleição deve ser eleger um grande número de negros e progressistas para as assembleias estaduais, câmara federal, senado, governos de estados e Dilma para Presidência da República; acumular força para exigir a execução da plataforma antirracismo; introduzir o debate sobre a dificuldade de negros votarem em candidaturas negras e de esquerda; abrir espaço político para incluir negros e negras nas composições dos futuros governos; e consolidar lideranças negras nos cenários estaduais.
A atual pauta política do movimento negro deve está presente no debate eleitoral, devemos denunciar e propor medidas contra o genocídio que tem dizimado a juventude negra; dar consecução na agenda quilombola; instituir o SINAPIR; qualificar as estruturas governamentais de igualdade racial; prevê um volume de recursos digno para implantação das políticas de igualdade racial, ajustar a implantação das cotas nas universidades e incluir negras e negros em todos os escalões dos serviços públicos; e implementar definitivamente o estatuto da Igualdade Racial.
Movimentos sociais são atores políticos relevantes
A grata surpresa em 2013 foi as mobilizações populares de junho, marco de um novo levante de massa, dessa vez se caracterizou pelo caráter espontâneo, logo, sem o controle dos Partidos e dos movimentos sociais brasileiro. Desde os eventos das “Diretas Já” e “Fora Collor” não ocorria no país manifestações de massas na proporção das que iniciaram em junho de 2013. Apesar de ainda não estar completamente estabilizado esse processo e de não ter posições definitivas e peremptórias sobre causas, impactos e significados desse histórico levante popular, um resultado legou: fortaleceu o caráter político dos movimentos sociais e sua condição de interferir na agenda nacional.
No Brasil o movimento negro sempre teve projeto de minoria, focado na resistência dos agravos do racismo, isso tem dificultado maiores avanços, visto que as ações de minorias marginalizadas geralmente são introspectivas, ou seja, de domínio exclusivo do campo. Prova disso é o desconhecimento do senso comum dos movimentos sociais da pauta antirracismo, só tem conhecimento das cotas.
Considero que para o movimento negro ajustar sua política a altura das exigências que uma maioria populacional impõe, tem que investir mais na unidade e ampliação de sua base social, propor também para além da esfera do racismo, pensar mais integralmente o Brasil. Para isso tem que construir mais pontes com outros segmentos dos movimentos sociais e inserir as reivindicações voltadas a superação dos impactos do racismo no processo da luta popular pelas mudanças. Por isso é fundamental compor espaços de articulação local e nacional como a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), Fórum Social Mundial (FSM), agendas como as pautadas pelas Centrais Sindicais, movimentos de juventude, feminista, LGBT, comunitário, ambiental, dentre outros.
Não vislumbro saídas isoladas para o movimento negro, parte fundamental das reivindicações de todos os segmentos dos movimentos sociais é econômica, diz respeito a quem se destina a maior fatia dos recursos públicos e a grande concentração de riquezas nas mãos de poucos. O movimento negro, de forma organizada, deve se fazer presente na luta para mudança na política econômica, substrato de todas as batalhas, e ajudar construir um país justo e sem racismo.
Édson França
Fonte: Lista Racial/ABPN
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