O serviço de alfândega francês confiscou na sexta-feira (31), em um barco na ilha de Córsega, um quadro de Pablo Picasso declarado "inexportável" pelas autoridades espanholas. A tela pertence ao banqueiro Jaime Botín e é avaliada em mais de 25 milhões de euros (cerca de R$ 95 milhões).
Os funcionários franceses receberam na quinta-feira (30), no posto alfandegário de Bastia (norte da Córsega), um pedido de "exportação à Suíça" do quadro do Picasso, "Cabeça de Mulher Jovem", propriedade de Botín. No dia seguinte, os oficiais de Calvi (noroeste da ilha mediterrânea) "compareceram a bordo de um barco que transportava a obra, atracado em um porto de esportes" da cidade e cobraram "os documentos relativos à situação do quadro", segundo comunicou a alfândega francesa.
Imagem divulgada pela alfândega francesa do quadro 'Cabeça de Uma Mulher Jovem', de Pablo Picasso
O capitão do barco só conseguiu apresentar um documento de avaliação da obra e um documento redigido em espanhol, de maio de 2015, da Justiça espanhola, que confirmava se tratar de um tesouro nacional que "em hipótese alguma" poderia sair da Espanha.
O dono do quadro, Jaime Botín, é irmão de Emilio Botín, que presidiu o banco Santander desde 1986 até a sua morte, em setembro de 2014.
Jaime, 79 anos, foi vice-presidente do Santander entre 1999 e 2015 e atualmente é o acionista majoritário do Bankinter. O banqueiro não estava a bordo do barco, de procedência britânica e propriedade de uma sociedade da qual Botín é acionista, informou à AFP um porta-voz da alfândega.
Essa mesma fonte indicou que o pedido de exportação registrado em Bastia não levava o nome de Jaime Botín.
Em dezembro de 2012, a filial espanhola da casa de leilões Christie's apresentou na Espanha um pedido para exportar o quadro a Londres e colocá-lo à venda, mas o Ministério da Cultura espanhol declarou a tela "inexportável, já que era uma das poucas obras de Picasso em uma etapa histórica", afirmou nesta terça (4) um porta-voz da pasta.
A obra pertence ao período do pintor malaguenho, quando ele tinha 24 anos e vivia no povoado de Gósol, no noroeste da Catalunha, onde pintou uma centena de quadros no verão de 1906. Foi uma época decisiva para o posterior desenvolvimento do cubismo.
"Não existe obra semelhante na Espanha, o que justifica que ela não possa ser exportada", afirmo ainda o ministério. Os advogados de Botín recorreram da decisão judicial, alegando que o quadro não era de sua propriedade, mas de uma empresa da qual ele era acionista. Além disso, afirmaram que a tela não estava em território espanhol, pois foi encontrada em um barco de origem britânica no porto de Valencia (leste da Espanha).
No entanto, em 2015 a Justiça confirmou que a obra não poderia deixar o país por ser "um bem de interesse cultural" e que o fato de ela ser encontrada em um barco em um porto espanhol habilita as autoridades espanholas a decidir o melhor destino da tela.
"O grupo de patrimônio histórico da Guarda Civil está investigando o tema há algum tempo", disse uma fonte do órgão espanhol, sem dar, porém, maiores detalhes. Baseando-se na decisão judicial espanhola, a saída do quadro da Espanha poderia ser considerada um indício de tráfico ilícito de bens culturais. As autoridades francesas esperam agora uma eventual reclamação da Espanha para recuperar a obra.
Fonte: Folhauol
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