CORSINO FORTES
Corsino António Fortes (São Vicente, 1933-2015) é um escritor e político
cabo-verdiano. É licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa (1966). Integrou vários governos na república de Cabo Verde, país de que foi Embaixador em Portugal. Presidiu à Associação dos Escritores de Cabo Verde (2003/06). Autor de obras como Pão e Fonema (1974) ouÁrvore e Tambor (1986), a sua obra expressa uma nova consciência da realidade cabo-verdiana e uma nova leitura da tradição cultural daquele arquipélago.
Não há fonte que não beba da fronte deste homemINas rugas deste homemCirculamestradas de todos os pés que emigramQuebram-sevivas! as ondas de todas pátriasAnulam-sede perfil! as chinas de todas muralhasNa mão bíblicaNo humor bíblico deste homemcrepitam de joelhosDesertos & catedraisOndedeus & demóniojogamnoite e diaa sua última cartadaE do pó da ilha à mó de pedraNão há relâmpagoQue não morda a nudez deste homemNudez de liberta!Que a dor germinaE o espaço exultaE pela ogivaogiva do olhoNão há poenteQue não sejaUma oração de sapiênciaSobre a face deste homemo povo ergueu a praça públicaE os tambores transportamo rosto deste homemAté à boca das ribeirasE ao redoros vulcões respeitamo silêncio deste homemI INão há chuvaQue não lamba o osso de tal homemÀ porta da ilhaDiz o sal de toda a salivaO sol ondula oceanos no sangue deste homemOh cereal altivo! vertical & proboAinda ontemantes do meio-diaO vento punha velas na viola deste homemHoje!A violaDe tal dor é sumarentaE projectasobre as almasa seivaDe uma árvore imensaOh oceanos! que ladram à boca das tabernasSe o sangue deste homemé tambor no coração da ilhaO coração deste homemé corda no violão do mundoE os joelhosrodas que vão! hélices que sobemcom ilhas no interiorI I ISombras sobre a colina Rosto sobre o povoadoQuandopastor & gado jogam à cabra-cegaE chifres de solprojectamcidadelas no ocidenteO poente galopa a maré-altaE ergue"À taça da noiteSobre as têmporas deste homem"Oh noite verde! oh noite violadaQue a noite não apagueA memória das cicatrizesE cicatrizes de ontemSejamSementes de hojePara sementeira E floresta de amanhã
Fonte: http://www.antoniomiranda.com.br/
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