O racismo na cultura brasileira
O preconceito racial escondido nos ditados populares, músicas e poemas
Fábia Carla Rossoni
Nos séculos de exploração do trabalho escravo dos negros, o racismo era expresso de maneira aberta, pois eram considerados seres inferiores e dotados de baixo nível de inteligência. Na sociedade escravocrata, o preconceito e a cultura da época reduziram o negro à condição de “coisa”, privado de seus direitos civis e sujeito ao poder, ao domínio e à propriedade do branco. Em liberdade, esses fatores justificaram a exclusão do negro dos direitos concedidos aos brancos.
Segundo Sartre, “o racismo é um estado de espírito patológico, uma forma de irracionalidade, um tipo de epidemia.” Há quem diga que não existe preconceito racial contra o negro no Brasil. Para Gilberto Freyre “o Brasil resolveu a questão racial com a miscigenação”. Porém mesmo 119 anos após a libertação dos escravos, o racismo e a mentalidade colonial persistem. Em uma pesquisa feita por Lilia Schwartz, 98% das pessoas entrevistadas diziam que não eram preconceituosas, mas 99% dos entrevistados afirmavam conhecer alguém que era.
As manifestações do racismo não acontecem de forma tão evidente como costumavam ser, o racismo hoje é disfarçado, passando, às vezes, de maneira despercebida, escondido em letras de música, piadas, aforismos e ditados populares. Conhecidos como “sabedoria popular”, os ditos populares e expressões são ingenuamente difundidos e usados por todos, muitos deles têm sua origem ainda no Brasil colônia.
Frases inocentes, passadas através de gerações, usadas pela mídia, esses ditos populares possuem postura que incita o menosprezo às pessoas de cor. No Brasil, essas expressão são muito usadas, como uma espécie de “racismo velado”. Como na expressão “preto de alma branca”, que é usada como um “elogio”, mas na verdade é uma afirmação muito racistas, pois sugere que o negro pra ser aceito, pra ter qualidades deve portar-se como o branco. O negro “preto de alma branca” é tolerado, é uma exceção pois nega sua própria alma e aceita a superioridade do branco. Assim como o seu oposto “branco de alma negra” é usado para pessoas brancas que se portam mal, ou seja, se portam como“negros”,ditos inferiores e desonestos.
Uma característica comumente atribuída aos negros é a da incapacidade de realizar bem uma tarefa, a de fazer um bom trabalho de tal maneira que seja “digna de um branco”, ou seja, a de fazer um “serviço de preto” ou de sua variante: “só podia ser preto”. Esses ditados usados ,quando alguém faz um trabalho mal feito ,também têm sua origem na época da escravidão, quando os negros eram obrigados a realizar tarefas diversas debaixo da chibata. Como eram punidos sempre, eles se voltavam contra seus senhores e muitas vezes sabotavam a produtividade do branco. O “serviço de preto” era uma forma de resistência e protesto, uma forma de se opor ao poder senhorial, por isso os escravos não realizavam nada além do necessário, e ganharam a fama de serem “preguiçosos”, “incompetentes” e “incapazes”. Quando os escravos tinham a iniciativa de fazer algo além do que lhe fora pedido, era comum ouvirem a repreensão “quem mandou”, que podava o espírito empreendedor diante da primeira falha e que impedia a aprendizagem por tentativa e erro, provocando baixa estima, conformismo e submissão, o que fazia com que os escravos se restringissem apenas ao que lhes era pedido e assim não desenvolviam outras habilidades, ficando restritos sempre aos mesmos trabalhos e principalmente sob o poder do seu dono.
Quando um branco não faz um trabalho à altura das expectativas, além de fazer um “serviço de preto”, ele pode estar fazendo esse serviço “nas coxas”. De origem colonial esse dito popular é usado para designar um trabalho imperfeito ou sem cuidado. Imperfeitas como as telhas de formas arredondadas das casas do Brasil colonial que, para fabricá-las , os escravos tinham que modelá-las em suas coxas, para dar um formato de canal. Como ficavam irregulares e pouco uniformes, o telhado ficava torto e mal feito.
Outra expressão sobre a “incapacidade” do negro é: “preto quando não suja na entrada suja na saída”. Imaginava-se que o escravo acabaria fazendo algo errado, devido a sua “incompetência”, por ser “inferior” ou “preguiçoso”. E também por serem considerados sujos, até mesmo devido às condições em que viviam. Então o seu erro era esperado antes ou depois de terminar sua tarefa. Após conseguirem suas alforrias, os negros continuavam a trabalhar para os brancos, mas nem todos conseguiam trabalho e algumas vezes viam, nos pequenos furtos, uma maneira de sobrevivência. É dessa época o ditado “Um negro parado é suspeito, um negro correndo é ladrão”. Infelizmente essa expressão é ainda muito usada, tendo sido encontrada cem anos após a libertação dos escravos pintada nas paredes da Escola de Polícia de São Paulo, como registrou a revista Afinal , de abril de 1988.
Devido a esse preconceito de que os negros não fazem o trabalho direito e que precisam sempre de um branco para “mandar” neles é raro ver um negro ocupando altos cargos em empresas ou no governo. O Supremo Tribunal Federal só teve seu primeiro ministro negro, o mineiro Joaquim Benedito Barbosa Gomes, em 2003. A maioria dos brancos estranha quando vê um negro frequentando o mesmo shopping, a mesma escola particular dos filhos, o mesmo clube, e até mesmo que eles usem o elevador social. "Preto não pode entrar na gaiola!”, ou seja, para os brancos racistas, os negros não podem pertencer ao grupo seleto de brancos ricos, capazes e trabalhadores, pois são social e intelectualmente inferiores, incapazes. Por se sentirem à margem da sociedade, algumas vezes os negros se conformam com sua situação e deixam muitas questões de lado, afinal “eles que são brancos que se entendam”. A versão mais aceita do surgimento desse ditado é do século XVIII, quando um capitão de regimento, mulato, teve uma discussão com um de seus comandados, também mulato, e fez queixa a seu superior, um oficial português branco. O capitão reivindicava uma punição ao soldado que o desrespeitara. Seu superior português respondeu com a seguinte frase “vocês que são pardos que se entendam”. O oficial recorreu ao vice-rei do Brasil na época, dom Luís de Vasconcelos, que mandou prender o oficial português. Sendo essa uma das primeiras punições contra o racismo no Brasil. Ao longo do tempo a expressão se transformou no que é usada hoje “eles que são brancos que se entendam”, quando alguém não quer tomar partido em alguma situação.
Quando um branco não faz um trabalho à altura das expectativas, além de fazer um “serviço de preto”, ele pode estar fazendo esse serviço “nas coxas”. De origem colonial esse dito popular é usado para designar um trabalho imperfeito ou sem cuidado. Imperfeitas como as telhas de formas arredondadas das casas do Brasil colonial que, para fabricá-las , os escravos tinham que modelá-las em suas coxas, para dar um formato de canal. Como ficavam irregulares e pouco uniformes, o telhado ficava torto e mal feito.
Outra expressão sobre a “incapacidade” do negro é: “preto quando não suja na entrada suja na saída”. Imaginava-se que o escravo acabaria fazendo algo errado, devido a sua “incompetência”, por ser “inferior” ou “preguiçoso”. E também por serem considerados sujos, até mesmo devido às condições em que viviam. Então o seu erro era esperado antes ou depois de terminar sua tarefa. Após conseguirem suas alforrias, os negros continuavam a trabalhar para os brancos, mas nem todos conseguiam trabalho e algumas vezes viam, nos pequenos furtos, uma maneira de sobrevivência. É dessa época o ditado “Um negro parado é suspeito, um negro correndo é ladrão”. Infelizmente essa expressão é ainda muito usada, tendo sido encontrada cem anos após a libertação dos escravos pintada nas paredes da Escola de Polícia de São Paulo, como registrou a revista Afinal , de abril de 1988.
Devido a esse preconceito de que os negros não fazem o trabalho direito e que precisam sempre de um branco para “mandar” neles é raro ver um negro ocupando altos cargos em empresas ou no governo. O Supremo Tribunal Federal só teve seu primeiro ministro negro, o mineiro Joaquim Benedito Barbosa Gomes, em 2003. A maioria dos brancos estranha quando vê um negro frequentando o mesmo shopping, a mesma escola particular dos filhos, o mesmo clube, e até mesmo que eles usem o elevador social. "Preto não pode entrar na gaiola!”, ou seja, para os brancos racistas, os negros não podem pertencer ao grupo seleto de brancos ricos, capazes e trabalhadores, pois são social e intelectualmente inferiores, incapazes. Por se sentirem à margem da sociedade, algumas vezes os negros se conformam com sua situação e deixam muitas questões de lado, afinal “eles que são brancos que se entendam”. A versão mais aceita do surgimento desse ditado é do século XVIII, quando um capitão de regimento, mulato, teve uma discussão com um de seus comandados, também mulato, e fez queixa a seu superior, um oficial português branco. O capitão reivindicava uma punição ao soldado que o desrespeitara. Seu superior português respondeu com a seguinte frase “vocês que são pardos que se entendam”. O oficial recorreu ao vice-rei do Brasil na época, dom Luís de Vasconcelos, que mandou prender o oficial português. Sendo essa uma das primeiras punições contra o racismo no Brasil. Ao longo do tempo a expressão se transformou no que é usada hoje “eles que são brancos que se entendam”, quando alguém não quer tomar partido em alguma situação.
Fonte: Afrokut
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