A escritora Alice Munro no consulado do Canadá em Nova York
A escritora canadense Alice Munro foi anunciada na manhã desta quinta (10) como vencedora do Prêmio Nobel de Literatura de 2013. Ela receberá R$ 2,72 milhões como premiação.
Aos 82 anos, ela foi saudada pela Academia Sueca como "mestre contemporânea do conto". "Suas histórias se desenvolvem geralmente em cidades pequenas, onde a luta por uma existência decente gera muitas vezes relações tensas e conflitos morais, ancorados nas diferenças geracionais ou de projetos de vida contraditórios", destacou a Academia Sueca.
É a primeira vez que um escritor baseado no Canadá ganha a principal honraria literária mundial --o escritor Saul Bellow nasceu no Canadá, mas se naturalizou e fez sua carreira nos Estados Unidos. Em 2012, o Nobel de Literatura foi vencido pelo romancista chinês Mo Yan.
Apesar de os ganhadores do prêmios serem tradicionalmente notificados por telefone antes do anúncio oficial, a Academia Sueca, responsável pelo prêmio, não pôde localizar Munro, segundo o Twitter oficial do prêmio Nobel. A instituição acabou deixando uma mensagem em sua secretária eletrônica.
O nome dela foi recebido com sorrisos, mas sem empolgação, na sala de imprensa da Feira do Livro de Frankfurt, onde jornalistas de vários países esperavam o anúncio do prêmio, olhando para um telão.
Munro é a primeira mulher a conquistar o prêmio desde 2009, quando ganhou a romena-alemã Hertha Müller (veja relação abaixo).
Na manhã de ontem, a bielorrussa Svetlana Alexievich despontou como principal favorita nas casas de apostas britânicas, desbancando o japonês Haruki Murakami, que pelo terceiro ano seguido lidera as listas mas não leva.
Munro aparecia em segundo lugar nos últimos dias, mas caiu para a quarta posição pouco antes de ser consagrada.
Nos últimos 30 anos, 19 dos vencedores tinham nacionalidade europeia (63%) --o índice salta para 75% se considerado só o século 21.
O inglês também é o idioma dominante, sendo a língua de 33% dos últimos 30 agraciados.
MESTRE DA INTIMIDADE
Nascida em 10 de julho de 1931, em Wingham, Munro já revelou que desde os 14 anos soube com certeza que queria ser escritora. "Mas, naquela época, você não saía anunciando uma coisa dessas", disse recentemente. "Você não chamava a atenção. Talvez fosse por ser canadense, talvez por ser mulher. Talvez ambos."
Em entrevista à "Paris Review", ela falou sobre as dificuldades do começo da carreira. "O 'New Yorker' me mandava notas interessantes [sobre os contos que ela enviava]-- mensagens informais escritas à caneta. Eles nunca as assinavam. Elas não eram terrivelmente encorajadoras. Eu ainda me lembro de uma delas: "a escrita é muito boa, mas o tema é um pouco familiar demais". E era mesmo. Era um romance sobre duas pessoas envelhecendo --uma solteirona de meia-idade que sabe que a hora é aquela quando recebe uma proposta de casamento de um fazendeiro de meia-idade. Eu tinha um monte de solteirões de meia-idade nas minhas histórias. Eu me pergunto por que escrevia sobre eles. Eu não conhecia nenhum", disse.
A canadense, que já foi chamada pela escritora Cynthia Ozick de "a Tcheckhov dos norte-americanos", tem 14 livros publicados e já tinha prêmios internacionais de prestígio, como o Man Booker Prize de 2009.
No Brasil, Alice Munro tem quatro livros publicados: "Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento" (2004), pela Editora Globo, "A Fugitiva" (2006), "Felicidade Demais" (2010) e"O Amor de uma Boa Mulher" (2013), todos editados pela Companhia das Letras.
Sobre "O Amor de uma Boa Mulher", o crítico Luiz Bras escreveu na Folha : "Em todos os oito contos desta coletânea vencedora do National Book Critics Circle Award, a sordidez da sociedade moralista abraça forte essas heroínas [personagens das narrativas].
Ou ainda: "Alice Munro certamente pertence à linhagem de escritores como Tchekhov e Virginia Woolf, mestres da intimidade doméstica, da elipse e do desenlace indefinido. A única diferença é que em suas histórias o niilismo e o puritanismo jamais triunfam".
A cidadezinha onde nasceu e foi criada e a região rural ao redor do condado de Huronfazem parte do mundo da ficção de Munro: comunidades isoladas onde a ambição é malvista --especialmente nas mulheres--, onde os desejos são mantidos em segredo e onde todo mundo sabe, ou pensa que sabe, da vida dos outros.
Ela ficou conhecida por sua reclusão e aversão à publicidade. Sua obra foi produzida enquanto criava três filhas e ajudava seu primeiro marido, James Munro, a dirigir uma livraria. Ela persistiu no ofício apesar de não ter muito reconhecimento no início. Sua primeira coletânea foi publicada somente em 1968.
Munro começou a conquistar reputação com seu quinto e seu sexto livro, "The Moons of Jupiter" (1982) [As luas de Júpiter] e "The Progress of Love" (1986) [O progresso do amor]. Lentamente, então, ela ascendeu ao que a escritora Margaret Atwood chamou de "santidade literária internacional".
Em 2009, a escritora Munro revelou que se submeteu a uma cirurgia de ponte de safena e foi tratada de câncer. Em abril deste ano, enfrentou a morte de seu segundo marido, Gerald Fremlin. Ela mora atualmente em um chalé do século 19, onde Fremlin foi criado.
Em julho, a contista havia anunciado que se aposentaria. Segundo Luiz Schwarcz, editor da Companhia das Letras, sua última obra, "Dear Life", com quatro histórias autobiográficas, já está traduzida, pronta para ser publicada.
Fonte: Folhauol
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