sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Evento reúne escritores da periferia de SP

 Fotos: Leandro FonsecaFotos: Leandro Fonseca
Fotos: Leandro Fonseca
Escritoras representaram a força da mulher na literatura contemporânea

Produtores culturais, educadores, leitores e escritores das várias periferias de São Paulo se reuniram no I Congresso de Escritores da Periferia, que aconteceu no último fim de semana no Jardim São Luís, Zona Sul da cidade. Temas como o incentivo à produção literária e a literatura negra como formas de inclusão social foram abordados nas mesas de debate. O evento também contou com atrações musicais, exposições de artes plásticas e uma feira de livros.
O congresso foi organizado pelo blog Desenrola e Não me Enrola, que divulga as manifestações culturais das periferias paulistas e é mantido por jovens moradores do Jardim Ângela, também na Zona Sul.
Um dos mentores do evento, Raphael Poesia, 20 anos, conta que a ideia foi levantar a discussão sobre temas que estão em evidência e dar visibilidade à produção literária periférica: “Tem diversos movimentos acontecendo e pessoas lançando seus livros, mas, muitas vezes, elas não têm a oportunidade de se reunir”.
 
O escritor Marcio Ricardo participou como debatedor

O congresso teve início com a apresentação do Poetas Ambulantes, coletivo que realiza intervenções poéticas com saraus e distribuição de poemas em transportes públicos da cidade.
A primeira mesa de debate teve como tema “Incentivos à Produção Literária”. Estiveram presentes os escritores Michel Yakini, Fuzzil, Serginho Poeta e Márcio Ricardo.
O encontro foi mediado pelo rapper Robsoul. Para ele, a resistência da arte e da cultura das periferias são vitórias que devem ser festejadas: “Isso tem que ser celebrado principalmente neste espaço, que é o espaço da periferia”.
 
A educadora Maria Vilani discutiu literatura contemporânea

A crescente participação da mulher na produção cultural da periferia e da literatura contemporâneas foi tema da segunda mesa de debate, composta pela produtora cultural Rose Dórea, pela poeta e educadora Maria Vilani e pela escritora Luciene Santos.
A feminista Alessandra Tavares mediou o debate. Segundo ela, a vida pública, assim como a literatura, é um espaço ainda dos homens e que deve ser adentrado pelas mulheres: “O que faz com que existam menos mulheres na literatura? É o que faz com que existam menos mulheres em espaços públicos. Não é na literatura em si”.
Luciene Santos, 53, expôs na feira de livros seu primeiro trabalho Marcela – Pela Outra Metade da Árvore, que aborda a questão da ausência paternal. Ela afirmou que é “fundamental” haver espaço para divulgar esse tipo de trabalho.
 
A escritora Luciene Santos exibe seu primeiro trabalho

“Sou da periferia de São Mateus, sou mulher, sou negra, e, no entanto, nunca tinha ouvido falar em literatura marginal. Eu estava dentro dela e não sabia. Produzi meu livro e procurei a editora sozinha, e esse evento aqui é um marco para que se divulgue mais este movimento, que ainda está em um cantinho, em um grupo, e que tem que se espalhar. Depois que eu escrevi, passei a acreditar que todo mundo pode escrever”, conta.
A terceira mesa de debate foi mediada por Vanessa Delfino e teve a presença das escritoras Débora Garcia e Jenyffer Nascimento, do poeta e cineasta Akins Kintê e da atriz e educadora Priscila Preta, que discutiram a literatura negra como forma de inclusão social.
 
A literatura negra vai além da luta contra o racismo

“A literatura negra que se produz vai além da briga contra o racismo”, diz Akins. “Também tem uma preocupação com o amor negro, com a relação de ser humano, com o sorriso das crianças”, explica.
O Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca de São Paulo (PMLLLB) foi discutido na quarta mesa de debate. Entre os objetivos do plano, destacam-se: “realizar o diagnóstico das ações de leitura, em equipamentos de acesso público e privado, para o Município” e “elaborar eixos temáticos de atuação, com inspiração no Plano Nacional do Livro e da Leitura  (PNLL)”. Já a quinta e última mesa abordou questões sobre o mercado editorial.
Raphael Poesia admite que alguns alunos não se interessam pela escola e acabam abandonando os estudos e o gosto pela leitura, mas que a literatura produzida por moradores de periferia pode mudar essa realidade: “Os próprios moradores da periferia estão fazendo literatura e indo às escolas conversar com os estudantes. Assim, os jovens acabam querendo ler estes autores que estão perto deles e vivem na mesma realidade”, conclui.

Fonte: http://vivafavela.com.br/

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