Os presidentes da American Express, Merck e Xerox são
negros. Os prefeitos de Washington, Denver e Filadélfia, de maioria branca, também o são, tal como o governador de Massachusetts.
Também são negros cerca de 10% dos deputados e senadores do Congresso americano, pouco abaixo da porcentagem da população negra no país, que é de cerca de 13% (no Brasil, o equivalente seria se quase 40% do Congresso brasileiro fosse de negros ou mulatos). E o ocupante da Casa Branca é, desde 2009, Barack Obama.
Nesta quarta-feira 21/08, os EUA celebram os 50 anos da Marcha sobre Washington, quando o jovem pastor Martin Luther King (1929-68) fez seu mais famoso discurso, "Eu tenho um sonho", diante de 250 mil pessoas.
Estarão presentes em um evento Obama e os ex-presidentes Bill Clinton e Jimmy Carter. Ontem, milhares de pessoas se reuniram no mesmo local, aos pés do Memorial de Lincoln, num ato cívico para marcar a data.
A marcha de Luther King foi a maior cobrança por direitos civis --dez meses depois, o presidente Lyndon Johnson assinou lei que, na prática, proibiria segregação em locais públicos e privados e, em 1965, a lei de direito ao voto, que derrubou artimanhas que dificultavam registro de negros como eleitores.
Em 1964, Luther King, aos 35 anos, seria o mais jovem premiado com o Nobel da Paz. Em 2008, com a eleição de Obama, analistas se apressaram a anunciar que o país vivia uma fase pós-racial. Apesar do salto econômico, político e cultural da minoria negra, a disparidade com a maioria branca (63% da população) continua grande.
Em 1955, 60% dos negros no país viviam abaixo da linha da pobreza (hoje o mesmo número é de negros de classe média). Naquele ano, a costureira Rosa Parks se negou a ceder seu lugar a um passageiro branco em um ônibus segregado em Montgomery, Alabama, e foi presa --o que detonou a luta dos movimentos civis.
Apenas 4% dos negros tinham diploma superior então (hoje 38% dos negros chegam à universidade). Em 1967, quando finalmente a Corte Suprema invalidou leis estaduais que proibiam o casamento inter-racial, o número de casais mistos era minúsculo --hoje, 24% dos homens negros são casados com mulheres de outras raças.
A discriminação na Justiça ainda é acentuada.
Proporcionalmente, o número de presos negros é seis vezes maior que o de brancos. Apesar de o uso de maconha ser similar entre jovens brancos e negros, estes têm um índice quatro vezes maior de detenção pelo uso da droga.
Mesmo com o sucesso de ações afirmativas em incluir mais negros nas universidades, o sistema escolar ainda é financiado localmente --bairros brancos têm escolas melhores (e mais ricas) que as comunidades negras.
A desagregação familiar é bastante maior: 72% dos bebês negros são nascidos fora do casamento (entre os brancos, 29%). Mais da metade será criada apenas pela mãe.
O próprio Obama criticou hábitos enraizados na minoria. "Em muitos lugares, quando um jovem negro tem um livro ente as mãos, seus amigos dizem que ele está 'se fazendo de branco'.
Essa é uma atitude derrotista", criticou ele, que, recentemente atacou o sistema legal do país pela absolvição de um hispânico que matou o adolescente negro Trayvon Martin, 17, achando que fosse ladrão.
Os negros continuam liderando em popularidade na música e nos esportes --Beyoncé, Jay Z e Kanye West são os astros mais populares do país e o seriado de maior audiência da TV aberta, "Scandal", é estrelado pela atriz negra Kerri Washington.
Mas a percepção do racismo ainda é bem diferente: 46% dos negros acham que há muito racismo; entre os brancos, só 16% concordam.
O simbolismo do poder está se adaptando. Ao chegar à Presidência, Obama devolveu o busto do ex-primeiro-ministro Winston Churchill, emprestado pelo governo britânico após o 11 de Setembro.
Em seu lugar, pôs bustos de Lincoln (em cuja Presidência se aboliu a escravidão, em 1865) e Luther King.
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