Negro é inteligente? Se sim cite um nome de uma cientista ou cientista negro?
Porque será que não vem nenhum nome na mente? Por que não aprendemos na
escola e na universidade a existência de cientistas como MeritPtah, Imothep, George Washington Carver, Jane CookeWight, André Rebouças e Teodoro Sampaio
dentre outros?
Por: Carlos Eduardo Dias Machado*
Todo o conhecimento que recebemos nas escolas e universidades nos
é ensinado que tem base greco-romana, como se antes de Grécia e Roma não
tivessem existido outras civilizações. O método científico é considerado como a
base da ciência moderna, utilizando os princípios da observação e da
experimentação. Existe um engano ao afirmar e ensinar que a moderna ciência têm
suas raízes na Grécia e Roma, como também é incorreto afirmar que o método
científico iniciou-se na Europa com Roger Bacon (1219-1292), o filósofo inglês
do século 13, Nicolau Copérnico (1473-1543) o astrônomo teuto-polonês do século
16, com o físico e matemático italiano Galileo Galilei (1564-1642) ou com o
filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), Descartes (1596-1650) ou Isaac
Newton (1643-1727).
Os africanos e descendentes produziram
grandes avanços para a ciência. O método científico é a via de acesso ao método
humano de desenvolver tecnologia? O cérebro humano foi e sempre será capaz de
atingir o processo científico. Nós não teríamos construído a civilização no
Egito, Etiópia, Congo e no Benin, assim como as artes e as ciências, sem o
processo científico. É necessário ensinar nas escolas e universidades a matriz
civilizatória dos povos africanos e afrodescendentes para a ciência, tecnologia
e inovação ao invés de privilegiar uma “história única” que coloca a ciência em
geral como um atributo essencialmente branco europeu, desconsiderando o fato de
que, assim como a humanidade, as primeiras civilizações, os primeiros passos da
ciência, foram dados no continente africano, ou seja, no Egito e não na Grécia,
conforme atestou o próprio “pai da História”, o grego Heródoto que ao visitar o
Egito Antigo nos legou duas informações que contrariam os eurocêntricos: os
egípcios tiveram a primazia da ciência e eles eram negros. Nesse sentido cito o
grande historiador burkinabe, Joseph Ki-Zerbo, “não vejo por que razão os
primeiros humanos que inventaram a posição ereta, a palavra, a arte, a
religião, o fogo, os primeiros utensílios, os primeiros habitat, as primeiras
culturas, deviam ficar fora da história!”
Avalio que a reversão desse quadro de
exclusão perpassa pela luta do aumento de qualidade da educação básica e a
adoção de políticas afirmativas que, por exemplo, concebam projetos de
popularização da ciência que levem em consideração as especificidades do
público afrodescendente, maioria da população. O que está posto não é a dúvida
quanto ao papel estratégico ou o valor das contribuições da ciência e
tecnologia ocidental, mas sim, os danos sociais do emprego do privilégio branco
e do sexismo, enquanto instrumentos de interdição à ampliação do número de
pessoas a atuarem nessas áreas. Para países como o Brasil, hoje a 7ª economia
mundial, que pleiteia se constituir em uma nação competitiva em termos de produção
científica e tecnológica, não cabe o desperdício de talentos das mulheres e
homens negros em função da manutenção de uma quase que exclusividade de brancos
e amarelos na gestão, produção e divulgação da ciência e tecnologia brasileira.
* Professor Mestre em História pela Universidade de São Paulo; Alumni do Programa Internacional de Bolsas de Pós-Graduação da Fundação Ford, professor de cursos de formação de docentes, organizador do curso EaD Introdução à História da Ciência e da Tecnologia Africana do Grupo Phorte, articulista e escritor do livro Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente (Ed. Bookess).
Fonte:http://www.phortetv.com.br/artigos_texto/834-ciencia-negra-uma-proposta-para-a-descolonizacao-do-conhecimento
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