O espaço a céu aberto da Fundação Fernando Leite Couto (FFLC) ficou
pequeno para acolher tanta gente que queria ouvir e interagir com dois
escritores de peso da língua portuguesa: o moçambicano Mia Couto
e o angolano José Eduardo Agualusa. Apesar da distância geográfica – Mia
está mais para o Índico e Agualusa para o Atlântico –, os dois escritores
têm mais semelhanças do que diferenças: além de serem referências
da literatura portuguesa, são mais lidos além-fronteiras do que nos seus próprios
países e as suas obras estão publicadas em dezenas de países, traduzidas
para várias línguas. Mas há outras semelhanças: são filhos de pais ferroviários,
foram jornalistas e têm formação em áreas ligadas a plantas e animais.
Agualusa não concluiu nem Agronomia nem Silvicultura, mas declara-se um
apaixonado pelo ambiente. Mia é biólogo e diz que a Biologia ajudou-o a
traduzir o mundo em histórias. “Gosto de traduzir sonhos e silêncios”, declara
Com moderação do crítico literário Nataniel Ngomane, os dois escritores
sentaram-se, na noite de ontem, na FFLC para falar das tendências
e dinâmicas das literaturas de Moçambique e de Angola. Sobre o tema,
os dois têm ideias quase semelhantes: Agualusa é crítico em relação
à crença que se criou no Ocidente segundo a qual o escritor africano
deve escrever sobre África, sobretudo o seu lado exótico. “Os escritores europeus e
norte-americanos podem escrever sobre o mundo, pois isso é considerado sinal
de abertura intelectual. Mas se um africano escrever sobre Europa, é alienação”,
denunciou. Na mesma linha, Mia Couto acrescentou que o escritor africano é
o único que deve apresentar, aos olhos do Ocidente, o passaporte de autenticidade.
Elcídio Bila
Fonte: http://opais.sapo.mz/
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