A escritora norte-americana Harper Lee em asilo de sua cidade natal, em maio de 2010
A escritora Harper Lee, que ganhou o prêmio Pulitzer de ficção em 1961 por seu livro "O Sol É para Todos", morreu aos 89 anos, informou o "The New York Times" e outras publicações americanas nesta sexta-feira (19).
A autora nasceu em 1926, em Monroeville, no Alabama. Se mudou em 1949 para Nova York, onde trabalhou como auxiliar em companhias aéreas enquanto seguia com a carreira de escritora.
Oito anos mais tarde, apresentou o manuscrito do romance sobre o racismo e a injustiça no sul dos Estados Unidos para a editora americana J. B. Lippincott & Co., que lhe pediu para reescrevê-lo.
Lançada em 1960, a obra foi um sucesso comercial —vendeu mais de 40 milhões de cópias— e de crítica.
Já no ano seguinte, o romance recebeu o Pulitzer, principal prêmio literário americano, transformando-a em uma celebridade literária. Reclusa, sempre fez poucas aparições —mas nas poucas entrevistas que deu costumava se dizer surpresa com o sucesso de "O Sol...".
O livro conta a história de Atticus Finch, um advogado de uma cidadezinha que vai defender um homem negro acusado injustamente de estuprar uma mulher. O livro é narrada por Scout, filha do advogado.
O romance se tornou filme em 1962, com Gregory Peck no papel do advogado engajado Atticus Finch. Foi adaptado para o teatro em várias cidades norte-americanas e em Londres e ganhará versão na Broadway na temporada 2017-2018.
Até ano passado, Lee era considerada autora de livro só —até que um manuscrito inédito com alguns do mesmos personagens de "O Sol..." ser encontrado e publicado no ano passado. No Brasil, a obra recebeu o título de "Vá, Coloque Um Vigia" (José Olympio).
O novo romance não chegou às prateleiras sem controvérsias. Como Harper Lee costumava garantir que nunca mais publicaria um novo livro, os advogados da autora começaram a ser acusados de publicar a obra à sua revelia —uma vez que, com a idade avançada, a escritora não poderia mais decidir sobre si.
Alguns críticos apontaram que a obra não passava de um rascunho de "O Sol é Para Todos". Um dos motivos é o fato de Atticus Finch, advogado que defende os negros no livro mais famoso da autora, surgir em "Vá, Coloque Um Vigia" como um racistas que apóia a segregação dos negros.
Harper Lee era amiga de infância de outro escritor crucial nas letras americanas, Truman Capote. O pai dele chegou a presentear a dupla com uma máquina de escrever —e eles começaram a ditar narrativas um ao outro. Não à toa, Capote escreveu a orelha de "O Sol É Para Todos" —e ela foi assistente do autor na apuração da reportagem que virou o livro "A Sangue Frio".
Na faculdade, a Huntingdon College, a escritora começou escrever artigos para jornais literários. Depois de lá, ela foi estudar direito na Universidade do Alabama, para agradar seu pai, que também era advogado. Ali, ela chegou a editora-chefe de uma revista de humor do campus.
Depois de uma temporada no Reino Unido, ela se mudou para Nova York, em 1949. Chegou a trabalhar como livreira e em uma companhia aérea.
No começo, Harper Lee escrevia contos, mas recebeu conselho de um agente literária que escrevesse um romance. "Vá, Coloque Um Vigia", era o primeiro nome da obra, que só mais tarde ganhou o título "O Sol É Para Todos".
CRONOLOGIA
1926 Nelle Harper Lee nasce em 28 de abril, em Monroeville, pequena cidade do Alabama (EUA). É a caçula dos quatro filhos de seu pai, um advogado e dono de um jornal local. Ainda na infância, torna-se amiga do escritor Truman Capote.
1949 Formada em direito pela Universidade do Alabama, muda-se aos 23 anos para Nova York decidida a se tornar escritora. Enquanto isso, trabalha como agente de passagens em uma companhia aérea. Na cidade, reecontra Capote, então um nome em ascensão no meio literário.
1956 Tira um ano para se dedicar à escrita, graças ao apoio financeiro de um casal de amigos, compositores da Broadway. Começa a trabalhar no manuscrito de uma história ambientada no interior do Alabama, base de "O Sol é Para Todos".
1959 Acompanha Truman Capote durante a apuração sobre o assassinato da família Cluster em Holcom, no Kansas, que se transformaria no livro "A Sangue Frio".
1960 Lee volta a Nova York e termina "O Sol é Para Todos", que chega com um sucesso estrondoso às livrarias e logo se torna um clássico da literatura americana. O livro é narrado por Scot, alter-ego da autora. Ela conta uma história de sua infância, quando o pai, advogado, defendeu um homem negro acusado de estuprar uma mulher branca, em uma cidade no interior do Alabama segregada pelo racismo.
1961 "O Sol é Para Todos" vence o Prêmio Pulitzer, um dos mais importantes da literatura, de ficção.
1962 Estreia a adaptação de "O Sol é Para Todos" no cinema. A versão contou com a colaboração de Lee e venceu quatro estatuetas no Oscar.
1966 "A Sangue Frio" é publicado. Há relatos de que Lee trabalhava em um novo romance, enquanto colaborava com Capote. Ele dedicou o livro à amiga, mas jamais reconheceu a colaboração da autora como ela acreditava merecer. "Ela me fez companhia durante a viagem. Ficamos uns dois meses juntos. Ela foi a uma série de entrevistas, tomou suas próprias notas, com que eu pude checar as minhas. Sua ajuda foi de extrema importância no começo, quando não conseguíamos nos aproximar da população local, ficando amiga das esposas dos homens que eu queria encontrar. Ela ficou próxima de muitos fiéis das igrejas. Um jornal do Kansas disse recentemente que todo mundo [em Holcomb] colaborou porque eu era um escritor famoso. Na verdade, nenhuma só pessoa na cidade havia ouvido falar de mim", disse Capote ao "New York Times", pouco depois da publicação de seu "romance de não ficção".
1970-1980 Vive reclusa, entre Nova York e sua cidade natal, trabalhando em um livro sobre um serial killer do Alabama que jamais foi publicado.
2007 Recebe de George W. Bush a Medalha Presidencial da Liberdade, condecoração por sua contribuição com a tradição literária americana em uma cerimônia na Casa Branca.
2013 Processa seu agente literário, que acusa de tentar enganá-la na venda de direitos autorais, e um museu em sua cidade natal, por vender produtos licenciados de "O Sol É para Todos" sem autorização.
2014 Lee permite a publicação de seu romance em versão digital.
2015 A advogada da escritora diz ter encontrado os manuscritos de um romance inédito, "Vá, Coloque um Vigia", dado como perdido. O livro foi rejeitado por uma editora em 1957 e seria uma primeira versão de "O Sol é Para Todos". Em fevereiro, a editora HarperCollins anuncia que irá publicar o título, lançado em junho do ano passado com recordes de venda nos EUA. No Brasil, foi editado pela José Olympio poucos meses depois.
No entanto, pairam dúvidas sobre o consentimento de Lee com a nova edição: ela, em idade avançada, só teria se manifestado sobre a publicação em carta divulgada por meio de sua representante.
Fonte: Folhauol
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