Eu nessa minha parcimônia,
vestida com escancarada elegância,
jamais hei de ocultar tão evidentes,
a tribo, o atabaque, o axé,
o orixá, o ori, o ancestral.
Eu e a minha carapinha cheia de bochicho,
minha erva de guiné, minha aroeira,
meu samba no pé e outras literaturas.
Eu nessa parcimônia vestida com toda a vida
e seus acontecimentos,
nem só por um momento quero me perder dessa cor.
O não eu, o outro. Tão fino, tão delicado,
chega a me deixar tonto, encabulado,
com seu vampirismo, seus diabos, suas taras...
Tão racional e exótico nas cerimônias,
esse outro, estranho outro,
faz buracos no céu da Terra,
sente prazer, se lambuza com as guerras,
pensa que respirar é um estorvo,
prende os gestos ao corpo, e berra, e berra, e berra.
Tudo por falta de melanina.
Fonte: http://elesemog.com.br/w/poemas/racismo
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