Montagem, roteiro e direção aliados a competentes atuações são os destaques de Estranhos, filme baiano de Paulo Alcântara, produção de Simone Lima e Carla Guimarães. Personagens que de estranhos não tem nada. E se deixam reconhecer através de tipos bem baianos, pontualmente, baianos de Salvador. Uma Salvador mais próxima de quem vive nessa cidade de contrastes sociais, com uma condução diferente daquela narrada pelo consagrado Ó pai, Ó(2007).
Ambientado em diferentes regiões da capital baiana, como o Subúrbio Ferroviário, a Estação da Lapa e a Vila Brandão, logo se vê nas imagens aéreas que iniciam o filme -, que o enredo principal gira em torno de cinco relações intensas. Talvez seja esse o motivo do nome Estranhos. Tendo como ponto de partida a paixão platônica do sonhador Luiz (Jackson Costa) por Flor (Mariana Muniz), uma ex-prostituta casada com o violento Valmir (Caco Monteiro). Os núcleos vão se cruzando entre coincidências e relações intensas. Uma dessas relações é a transformação de Tonho, vivido pelo ator Ângelo Flávio, em objeto de desejo de Geraldão (Nelito Reis),o seu parceiro de crimes. E o vínculo entre Antônio Fagundes (Heduen Muniz) e Neusinha (Larissa Libório), duas crianças descobrindo o primeiro amor, alunos da solitária Amparo (Cyria Coentro), uma professora alcoólatra que perdeu a guarda das filhas para o marido e se vê dividida entre a paixão de dois homens.
A narrativa é rápida, porém nos primeiros minutos do longa algumas histórias se prolongaram muito. Os movimentos do uso de câmera na mão causam aflição com a constante trepidação, mas o ângulo bem próximo do rosto dos atores facilita perceber as expressões aflitivas nas situações de tensão constante que os personagens se encontram. Além de engraçado, o texto é humano porque fala sobre pessoas enfrentando dificuldades e buscando uma vida mais feliz.
A direção de Alcântara transportou os atores para performances mais leves e naturais, diferente do modelo mais teatral comum no cinema baiano. E caras ainda pouco conhecidas dão relevo a essa construção. É o caso de personagens de Ângelo Flávio, Tonho, que prende a atenção pela consciência realista e pé no chão nas situações difíceis que a vida de bandido impõe. Em contraponto ao apaixonado Antônio Fagundes (Heduen Muniz) que se entrega ao amor, ignorando as regras impostas pela idade e pela família. Atuações aliadas ao afinado roteiro, com sacadas que conseguem surpreender e render boas risadas. Quem for assistir ao filme ainda vai encontrar as contribuições especiais de Tânia Toko, Luiz Pepeu, Jussara Matias, Joilson Oliveira e grande elenco.
por Fabiana Guia, da Redação do Correio Nagô
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