Após a experiência, reagrupou o que viu, ouviu e apurou numa reportagem bombástica que deu origem a um livro de sucesso em seu país.
A publicação resultou na prisão dos principais líderes da máfia da agiotagem e lhe rendeu prestígio e prêmios, mas aborrecimentos com o mercado editorial local, que começou a censurar palavras e frases de suas obras.
João Batista
Murong Xuecun, pseudônimo de Hao Qun, durante evento na Bienal do Livro de Brasília
"Na China, todas as editoras, jornais, revistas, televisões pertencem ao governo. Tudo. O fato é que ninguém gosta de censura. A liberdade de imprensa é muito importante", disse ele em entrevista à Folha, durante a 2ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura, em Brasília.
Hoje colunista do "New York Times", ele lançou no seu livro de estreia no Brasil, "Deixe-me em Paz" (Geração Editorial), escrito há 12 anos. "Aqui tem democracia. Quando faço comparação com o meu país parece piada".
Quando, em 2010, foi impedido de discursar contra a censura ao receber um prêmio literário, não titubeou. Tomou a mesma decisão feita com todos os seus romances submetidos ao escrutínio dos censores: publicou o texto na internet sem corte.
Ele conta ter 8,5 milhões no Weibo, o Twitter chinês. O escritor será bolsista da Biblioteca Nacional de Nova York, num programa que beneficia escritores perseguidos em seus países de origem.
Nas tramas que edita sob pseudônimo na internet, desnuda o submundo dos homens de negócios, autoridades corruptas, sexo, bebedeira e violência. "Eu quero que os estrangeiros vejam a China de verdade", diz.
Em novembro do ano passado, por exemplo, Murong teve sua conta do Weibo cancelada pelo governo, numa ação da censura, que vem cancelando milhares de assinaturas do microblog.
"A política do novo presidente tem intensificado o controle sobre a internet, nos últimos anos mais 3.000 blogueiros foram preso na China", lamentou em debate na quarta, na Bienal. "Hoje, na China, só as vozes do governo podem falar, o povo não."
SENSAÇÕES
O chinês Murong Xuecun foi uma das sensações do encontro literário, ao lado da norte-americana de origem nigeriana Nnedi Okorafor.
Autores da África e da Ásia despertaram atenção do público para a realidade de seus países mas também para como a literatura que fazem serve a vocalizar os problemas.
Entre outros convidados da festa literária, que segue até dia 21, estiveram o moçambicano Mia Couto —bastante assediado— e o angolano Gonçalo Tavares, além do cubano Leonardo Padura.
Movimentada —segundo organizadores até o meio da semana contava cerca de 250 mil visitantes—, a bienal teve grande estrela o uruguaio Eduardo Galeano. Tietado, o autor de "As Veias Abertas da América Latina" respondeu à recepção dizendo-se "sufocado de tanto carinho".
O orçamento de R$ 11 milhões não dotou o evento de infraestrutura suficiente. O público afluiu em massa, mas enfrentava problemas como a falta de estacionamento na Esplanada dos Ministérios, palco do evento, falta de água nos banheiros e despreparo de monitores. Um dos incômodos mais visíveis era o piso colado sobre a grama.
Fonte: Folhauol
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