Durante 23 horas de seu dia, Albert Woodfox, 67, fica confinado numa cela de 2 metros x 3 metros em uma prisão na Louisiana, nos EUA. Nessas condições, segundo o relator especial sobre tortura da ONU, o detento pode começar a desenvolver distúrbios psicológicos irreversíveis após 15 dias. Mas Woodfox está na solitária há 42 anos.
Preso por roubo no fim da década de 1960, Woodfox fundou uma unidade do movimento Panteras Negras, grupo radical de defesa dos negros americanos, na prisão de Angola, na Louisiana. Ele pretendia lutar contra as violações dos direitos humanos que ocorriam na prisão.
Em abril de 1972, o guarda penitenciário Brent Miller, 23, foi morto a facadas enquanto fazia a ronda em um dos complexos de Angola. Woodfox e outro Pantera, Herman Wallace, foram acusados da morte e colocados na solitária no mesmo dia –condição em que Woodfox está até hoje, mesmo após transferido para outra prisão em 2010.
Em 1973, os dois foram condenados à prisão perpétua. Woodfox e Wallace nunca assumiram a autoria do crime e dizem ter sido perseguidos por causa da militância dentro da prisão.
"Em primeiro lugar, nenhum ser humano deve ser mantido em confinamento solitário indefinidamente", afirma Jasmine Heiss, membro da Anistia Internacional, que faz campanha pela libertação de Woodfox.
A defesa afirma que a principal testemunha do caso, um homem condenado por estupro chamado Hezakiah Brown, foi subornado pela diretoria da prisão para prestar seu depoimento –ele foi perdoado e libertado mais tarde.
Entre os presos que testemunharam contra os Panteras também está um cego que disse em depoimento ter visto Woodfox saindo do local do crime e outro diagnosticado com esquizofrenia.
Desde então, a condenação de Woodfox foi revogada por três vezes na Justiça, sob o argumento de que houve discriminação racial nos julgamentos. Em todas as ocasiões, no entanto, o procurador-geral da Lousiana, Buddy Caldwell, recorreu das decisões –ele já se referiu a Woodfox como "o homem mais perigoso do planeta."
Em novembro, um tribunal federal de apelações manteve a decisão de soltar Woodfox. Mas, novamente, o Estado recorreu, impedindo, por enquanto, sua libertação.
"Nossa posição é a de que já é o bastante. Woodfox já serviu 42 anos em tempos difíceis dentro do confinamento solitário", diz Carine Williams, do escritório de advocacia Squire Patton Boggs, que representa Woodfox.
Até mesmo a viúva do guarda assassinado, Teenie Rogers, já declarou que não acredita na culpa dos dois homens condenados.
OS TRÊS DE ANGOLA
Woodfox, Herman Wallace e um outro preso, Robert King, também membro dos Panteras Negras, ficaram conhecidos como "Os Três de Angola" por terem passado, juntos, mais de um século no confinamento solitário.
Wallace foi solto em outubro de 2013, após 42 anos na solitária. Ele morreu três dias depois, vítima de um câncer no fígado. King teve sua condenação revogada em 2001 e foi libertado, após 29 anos.
Woodfox sofre de hipertensão, insuficiência renal crônica, diabetes tipo 2 e insônia. "Se a causa é nobre o suficiente, você pode carregar o peso do mundo nas costas. E, então, eles nunca conseguirão me quebrar", afirmou Woodfox em declaração ao documentário "In the Land of the Free", de 2008.
Fonte: Folhauol
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