segunda-feira, 14 de julho de 2014

Prêmio Nobel de Literatura Nadine Gordimer morre aos 90 anos

A escritora sul-africana Nadine Gordimer, Prêmio Nobel de Literatura em 1991 e engajada na luta contra o apartheid, morreu no domingo (13), aos 90 anos.

De acordo com um comunicado da família divulgado pelo escritório de advocacia Edward Nathan Sonnerbergs, Gordimer morreu durante o sono, em sua residência em Johannesburgo, ao lado dos filhos Hugo e Oriane.

"Seu maior orgulho não foi apenas ganhar o Prêmio Nobel de Literatura em 1991, mas também ter testemunhado (no julgamento), em 1986, ajudando a salvar o vida de 22 membros do ANC (Congresso Nacional Africano), todos acusados de traição", dizem os filhos no comunicado. "Ela se importava profundamente com a África do Sul, sua cultura, seu povo, e sua atual luta para perceber sua nova democracia".

Guillermo Arias/Associated Press
A vencedora do Prêmio Nobel Nadine Gordimer, em novembro de 2006
A vencedora do Prêmio Nobel Nadine Gordimer, em novembro de 2006
Nascida em 20 de novembro de 1923, Gordimer era filha de imigrantes judeus oriundos da Europa Oriental. Ela cresceu em um bairro rico da pequena cidade de Springs, ao leste de Johannesburgo. Sua mãe, convencida de que ela sofria de uma doença cardíaca, retirou-a da escola.

Frequentou regularmente bibliotecas e começou a escrever aos nove anos de idade. Publicou o primeiro romance aos 15 anos em uma revista local.
"Anos mais tarde, eu percebi que se eu fosse negra, eu provavelmente não me tornaria uma escritora, uma vez que as bibliotecas que eu frequentava eram proibidas a eles", disse ela ao receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1991.

Ela sempre se negou a deixar o país, mesmo nos momentos mais sombrios do apartheid, o regime de segregação racial que durou entre 1948 e 1994.

Autora de de 15 romances e inúmeros contos, teve três de seus livros censurados pelas autoridades do regime, além de uma antologia de poemas de escritores negros sul-africanos, que ela mesma havia reunido e publicado.

No livro "O Conservador", ela imagina o desconforto de um rico afrikaner que se vê com o cadáver de um de seus empregados negros nos braços. Em "July's people", de 1981, ela descreve o estado emocional de uma família branca obrigada a refugiar-se na casa de sua empregada doméstica por causa de uma revolução.

Próxima de Nelson Mandela (1918-2013), a escritora foi uma das pessoas que o líder sul-africano pediu para ver quando saiu da prisão, em 1990.
Em 1991, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura por seus romances sobre as tensões do apartheid. Na ocasião, ela foi chamada de uma das "maiores guerrilheiras da imaginação" pelo poeta irlandês Seamus Heaney (1939-2013), e de uma "magnífica escritora épica", pelo comitê do Prêmio Nobel. "Ela torna visível as condições de vida extremamente complicadas e completamente inumanas de um mundo de segregação racial", disse a secretária da Academia Sueca Sture Allen quando entregou o prêmio.

Com a introdução da democracia em 1994, Gordimer não hesitou em apontar os erros dos sucessores de Nelson Mandela no poder e falou sem piedade dos males de sua sociedade. Ela criticou o atual presidente Jacob Zuma por um projeto de lei que limitaria a publicação de informação considerada "sensível", pelo governo.

"Chamam-na lei para 'proteção da informação' –um outro jeito de dizer censura. Uma espécie de tribunal para a imprensa. Afeta também gente que escreve ficção, pois se você criar personagens que sejam parte do governo pode estar sujeito a uma condenação por supostamente revelar segredos de Estado", disse à Folha em 2012.

Ela esteve no Brasil em 2007, participando da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). O encontro foi lembrado por uma das fundadoras do evento, a inglesa Liz Calder, como um dos mais marcantes do festival. "Lembro sempre de dois momentos: Nadine Gordimer e Amós Oz (em 2007), dois grandes escritores que não só tinham muitas coisas interessantes a dizer, mas que são grandes amigos. Aquela mesa foi emocionante. Era palpável a emoção do público", disse.

Nadine Gordimer se casou duas vezes e teve um filho de cada matrimônio.

Fonte: http://tools.folha.com.br/print?site=emcimadahora&url=http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/07/1485624-premio-nobel-de-literatura-sul-africana-nadine-gordimer-morre-aos-90-anos.shtml

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